25 maio 2014


Eu realmente não tenho preconceito. Nenhum mesmo. Quando acho que vou agir de forma preconceituosa, falo pra mim mesmo: “Ei, mais respeito rapaz!” E tudo certo! Considero-me alguém à frente do meu tempo e até suporto certas novidades. Baseado nisso, me acho tolerante e respeito muito às diferenças. Como bom brasileiro que sou, faço da cidadania um lema sagrado, algo que todos deveriam fazer também em suas vidas. Acredito na paz, na natureza, no amor ao próximo e outras baboseiras do gênero. Violência P**** nenhuma! Sou calmo demais, qual é? Vai encarar? Tá achando que não sou homem? Deu para sentir que sou a versão mais próxima dos direitos humanos em pessoa. Cheio de virtudes e temente a Deus, penso que só a fé salva o homem e eu, que vou a igreja assiduamente, para garantir meu lugar no céu. Mas, mesmo com tantas qualidades, cá entre nós, têm coisas que não dá para acreditar.

Nada contra os negros, mas garantir cotas por causa da cor da pele deles é um pouco demais, não acham? Sei que eles sofreram um pouquinho no período da escravidão, e tal. Porém, daí oferecer certas regalias a eles é um pouco forçado. Nada contra, mas como branco, desejo preservar o meu espaço de direito nessa sociedade multifacetada e heterogênea, entende?! (Ainda não compreendo como Barack Obama assumiu o maior cargo do mundo) Acho que com tantos privilégios, esses negros estão ficando cheios de direitos. Vai chegar um dia em que eles vão controlar esse país. Nada contra, mas se isso acontecer, seremos obrigados a seguir a macumba deles. Sei que cada um tem sua fé, mas esses cultos satânicos não podem dominar o país, não podem! Sem contar que seremos ainda mais escravizados pela cultura desse povo, desde o samba até o acarajé. Deus nos livre disso acontecer!

Nada contra também as mulheres. Gosto muito delas. Quando as vejo na TV, fico excitado. Nos comerciais, elas sempre aparecem exuberantes. Os publicitários sempre acertam nas modelos. Corpulentas, cheias de curvas, sinuosas e vestidas como o diabo gosta. Nossa, suo toda vez que as vejo. Quando aparecem com uma cerveja gelada, a combinação fica mais que perfeita. porém, nada contra aquelas mais moderninhas e tal, mas ser mulher sozinha, ganhar mais que o marido a ainda assumir a presidência do país,  acho isso demais, sabe! Lembro-me da minha mãe, Amélia, que Deus a tenha. Ela sim era uma grande mulher. Cozinhava de forno a fogão. Lavava, passava e, ainda, costurava como ninguém. Obediente, servia ao meu pai numa devoção invejável. Suportava dores como ninguém. Infelizmente, se foi cedo demais. Espero encontrar uma companheira como ela. Mas, nesse mundinho de intelectuais e popozudas, tá difícil encontrar alguém ideal.

Nada contra os gays. Eu até acho eles legais. Na época do colégio, lembro-me do Fernando (que depois eu e a galera começamos a chama-lo de “nandinha”). Sempre alegre, junto das meninas, ele não gostava muito de andar com a macharada. Logo a minha turma percebeu algo estranho nele. Muito delicado, cheio de mi mi mi, só podia ser veado, tava na cara! Meus amigos tiravam onda da cara dele. Apelidos, então, vieram aos montes. Eu não fazia nada.  Até falava com ele, mas de longe para não dar motivos para chacota. Como falei, não tenho preconceito contra veados, mas cresci como homem e quero que isso seja o futuro para meus filhos (ah, se algum deles virar para o outro lado, eu nem sei...deixa pra lá!). então, como vou explicar para os meus filhos que dois homens podem se beijar? Se casar? Isso não é normal! Vai contra as leis divinas. Não é preconceito pensar assim, é o certo.

Nada contra a pobre. Ninguém tem culpa por ter nascido na miséria. Mas, tem coisa pior do que favelado. Eh, gente feia! São sujos, maltrapilhos. Por mais que se arrumem, nada os deixam mais apresentáveis. E o vocabulário? Minha nossa, é de chorar. Com tanto auxílio governamental disso e daquilo, tantas bolsas, tantas cotas, nada parece melhorar o linguajar e a vida dessa gentinha. Não é de se espantar por que são tão miseráveis. Sequer falam a nossa língua. E os gostos? Se é na música só escutam funk, pagode e outras barulheiras do gênero. Como não pensam feito nós, são levados a gostar desses estilos menos literários. O mau gosto também se estende para as comidas. É churrasco, com direito a muita farofa e fumaça. Quando não, aquela feijoada super insalubre cozinhada com carne de porco e condimentos além do limite permitido pelo nosso estômago. Sem contar a marginalidade desses locais, onde boa parte tem ficha suja, mas prefiro me calar por aqui, para não ser mal interpretado.

Nada contra o nordestino. Esse povo “arretado de bom” do nosso Brasil. Porém, já perceberam que o nordestino é atrasado em tudo? Pois, se olharmos direitinho, vamos notar que tudo no nordeste está em último lugar. As piores escolas do país ficam lá, consequentemente, os índices mais baixos em educação. Por essa razão, são uns completos ignorantes. A população passa fome. Água lá é um artigo de luxo, já que a seca domina boa parte dessa região. O calor é de rachar. Eles falam arrastado, como se estivessem cantando. Tenho um conhecido que veio de lá para morar aqui no sul do Brasil. Seu nome é Francisco, seu Chico para os íntimos. Toda vez que falamos sobre o nordeste, ele enche os olhos de saudade de sua terra. Eu, do outro lado, fico imaginando do que ele sente tanta falta. Será que é da seca? Da fome? Da miséria? Acredito que não, se não ele não deveria ter ficado por lá. Numa região que nada tem a oferecer, é melhor ficar por aqui na cidade grande e tentar mudar de vida.

Os preconceitos acima são alguns dos muitos que listam a ironia de se morar no Brasil. As pessoas não percebem quando estão cometendo algum preconceito, porque olham para o outro a partir de um ponto de vista confortável, geralmente assegurado pelos grupos majoritários da sociedade. Enquanto isso, do outro lado, estão aqueles que desejam ser respeitados para além das suas “diferenças”. Felizmente, muita coisa tem mudado com relação aos negros, mulheres, gays, pobres, nordestinos e tantos outros grupos estigmatizados socialmente. Porém, a estrada para assegurar a dignidade a esses grupos ainda é longa. Lamentavelmente, o negro ainda é discriminado pela sua cor e sua cultura. A mulher é vista por muitos como “sexo frágil” e submissa ao homem. Os gays são tratados como aberrações e morrem aos montes, pois falta uma legislação que os ampare nesse sentido. Os pobres, então, vivem de assistencialismo, enquanto os seus reais problemas não são, de fato, solucionados. E, por fim, morar no nordeste é viver à margem de tudo.


Enquanto isso, fingimos que não temos preconceito contra nada, nem ninguém, mas basta uma análise mais apurada para ver que não é nem assim. Mesmo sabendo que todos nós possuímos algum preconceito, é sempre bom pontuar que há muitas pessoas que lutam para corrigir os seus, no intuito de buscar um maior entendimento da vida e do ser humano em si. Na verdade, a frase “nada contra” deveria ser substituída por “sou contra”. Ser contra a violência deflagrada pelo racismo, a qual não entende que o caráter de uma pessoa não é medido pela melanina de sua pela. Ser contra ao machismo herdado pelo patriarcado, que insiste que mulher é objeto em todos os sentidos. Ser contra ao preconceito contra os gays e essa insistente violência em torno da pluralidade sexual deles. Ser totalmente contra a pobreza que marginaliza as pessoas que mais precisam, tirando delas a chance de ter um futuro melhor. Ser contra também ao preconceito regional social, religioso e cultural. Então, quando unirmos forças contra tudo isso, o nada contra deixará de ser ironia e se tornará uma piada.

                                   De perto ninguém é perfeito

         Em um mundo onde valoriza-se mais o que o próximo tem a oferecer  em vez de quem ele é, a aparência ganhou papel fundamental no dia a dia. A sociedade vive hoje a cultura da beleza. Quem não possui o corpo padrão é excluído e ridicularizado de forma direta ou indiretamente pela população. Essa vontade de ser perfeito vem moldando a sociedade de maneira maléfica.

            O modelo de corpo ideal sempre existiu na massa populacional. Na Grécia
Antiga, as mulheres mais formosas eram aquelas volumosas, pois transmitiam saúde e fertilidade. Durante as décadas de 40 e 50, atrizes como Marilyn Monroe eram exemplo de um corpo gracioso. Foi na década de 60, com o surgimento da modelo Twiggy,que a magreza passou a ser considerada padrão de beleza.

 Segundo o filósofo Gilles Lipovetsky, a magreza foi uma maneira das mulheres se libertarem daquela imposição de fertilidade que o século passado estabelecia. Hoje, homens estão tão vaidosos quanto elas. Academias, casas de depilação deixaram de ser coisas para mulheres. Então, a sociedade inteira aderiu ao estilo de vida que sempre está a procura da perfeição.

 Assim, muitas pessoas recorrem a cirurgias e plásticas a fim de acabar com alguma imperfeição na pele. Porém, esse é um caminho perigoso a se seguir, além dos riscos do resultado não ser como o esperado, há casos de pessoas que acabam se viciando em tais métodos. Como o caso do cantor Michael Jackson que faleceu totalmente diferente de como era na infância.

Portanto, o culto ao belo, é uma maneira de viver totalmente sufocante e fracassada. Deixar de se divertir, de comer algo que gosta e se deixar dominar por um padrão inexistente fisicamente é privar-se dos verdadeiros prazeres da vida. Afinal, como disse Saint-Exupéry em O Pequeno Príncipe: ''Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos.''

Aluna: Marahma
Professor: Diogo Didier
Xuxa

Toda vez que apresentadora Xuxa Meneghel defende alguma questão polêmica, entre os que discordam de seu ponto de vista há sempre algum para utilizar Amor, Estranho Amor, o suposto filme "pornográfico" que a Rainha dos Baixinhos teria feito no início de sua carreira, para desclassificar sua opinião. Esta semana, ao defender a proibição do castigo físico e humilhante contra crianças, Xuxa foi hostilizada na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara pelo deputado Pastor Eurico (PSB), tendo como base justamente este detalhe "sombrio" em sua filmografia.

Quem usa esse tipo de argumento para desqualificar a apresentadora incorre em pelo menos dois erros: a desinformação e o machismo. O polêmico filme de 1982, dirigido por Walter Hugo Khouri (facilmente encontrado ilegalmente na internet), não é nem nunca foi pornográfico.

Estrelado por Tarcísio Meira e Vera Fischer, dois medalhões das telenovelas, a fita sequer é uma pornochanchada, gênero apimentado popular nos anos 1970. O filme é um drama político sobre um rapaz que rememora sua infância vivida num bordel, tendo como pano de fundo a implantação do Estado Novo no Brasil. Dentre as várias memórias está a sua iniciação sexual com uma das jovens do local, interpretada por Xuxa. 

As polêmicas cenas de sexo são, na verdade, algumas sequências onde Xuxa aparece seminua ao lado do garoto e, na mais explícita delas, deita em sua cama, passa a mão sobre seu peito e lhe dá um beijo. Vale lembrar que quando o filme foi rodado, por volta de 1980, Xuxa tinha 16 anos, e o garoto, o ator Marcelo Ribeiro, 11. Ambos menores de idade. Se Marcelo - que já havia feito dois anos antes Eros, o Deus do Amor (1980), outro filme de temática sexual - é uma vitima do cinema irresponsável, a jovem Xuxa também é. 

O filme passa tão longe da pornografia (e principalmente da pedofilia) que foi selecionado para o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, a mais tradicional mostra da sétima arte no país. Vera Fischer recebeu o Candango de Melhor Atriz Coadjuvante por sua atuação no longa que, quando lançado, não deu atenção alguma para Xuxa. Seu nome só foi para o topo do cartaz, e sua imagem passou a aparecer em destaque, quando a loira começou a namorar Pelé, alguns anos depois.

Àquela altura o Brasil ainda vivia sob a ditadura militar, onde filmes considerados demasiadamente eróticos eram barrados. Último Tango em Paris, de Bernado Bertolucci, estrelado por Marlon Brando e Maria Schneider, ficou sete anos proibido no país por causa de sua famosa cena de sexo. Os tempos eram outros. Não existia o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e aos 16 anos garotas já eram mães de família, enquanto não era incomum que pais levassem seus filhos para perderem a virgindade em bordéis. A noção de amadurecimento e sexualidade era diferente.

Na história do cinema, grandes atrizes interpretaram cenas de descoberta da sexualidade, como as de Amor, Estranho Amor. O premiado Malèna (2000), de Giuseppe Tornatore, segue um caminho semelhante, mas ninguém questiona a integridade de Mônica Bellucci, mesmo após ela ter seu corpo nu acariciado pelo jovem Renato, interpretado por Giuseppe Sulfaro, então com 14 anos.

Essa polêmica toda em torno de Xuxa seria machismo? Há quem diga que não, mas é no mínimo curioso como o linchamento moral que ela sofre, especialmente entre alguns grupos religiosos, não se aplica ao protagonista do filme, Tarcísio Meira, o galã da família brasileira. Mauro Mendonça e Otávio Augusto também estão no longa e, até onde me consta, nunca foram classificados como "desrespeito às famílias do Brasil", como fez o parlamentar-pastor em relação a Rainha dos Baixinhos. Walter Hugo Khouri seguiu sua premiada carreia de diretor e roteirista, sem nunca ser recriminado publicante pelo filme.

Xuxa errou em relação a Amor..., não em fazê-lo, mas por barrar a sua distribuição. Há mais de 30 anos a apresentadora paga os direitos de exibição e distribuição do filme temendo que a polêmica possa atrapalhar sua carreira com o público infantil. Censurando seu próprio passado, ajudou a criar um fantasma e, a mentira sobre o tal "filme pornô" já se tornou verdade, até mesmo para nossos competentes parlamentares brasileiros.

Visto no: Brasil Post

O dilema de ir e vir 

            Em meados do século XVIII, com o surgimento da Revolução Industrial, ficou cada vez mais evidente o ascendente número de motoristas nas estradas do país. No Brasil, paulatinamente o direito de transitar é um desafio, sobretudo nas área metropolitanas. Atualmente, o quantitativo de transportes públicos e a estruturação das estradas, infelizmente não acompanha a evolução da sociedade que utiliza desse meio; partindo do princípio que não há uma proposta voltada especificamente para o problema. 

            Hoje, trabalhadores, estudantes e pessoas especias diariamente passam por enormes dificuldades do início ao término das suas viagens. Super lotação, ausência na qualidade dos transportes públicos, assédio e roubo, tudo isso regido por empresas de transportes que cobram altos preços pelas passagens. Tornando-se válvula de escape para o começa das inquietações da população. Desta forma, fica difícil entender como o país que a menos de 35 dias antes da Copa do Mundo irá suprir as necessidades existentes do Brasil. 

            De acordo com o (IBGE), cerca de 49,8%da sociedade possui um veículo de locomoção particular, hoje o mesmo instituto de pesquisa também ressalta que a capacidade estrutural para o deslocamento dos transportes não chega a 30% do esperado. Tudo isso sendo guiado pelas políticas públicas que ao invés de se preocupar primeiramente com a estruturação das vias do país, preocupou-se em reduzir o (IPI), agravando ainda mais a problemática e lucrando cada vez mais com os acontecimentos.

            Portanto, é necessário que as redes governamentais se conscientizem que o direito de ir e vir seja de qualidade para todos que desfrutam dos meios de locomoção quando precisar. Que os tributos sejam investidos, de fato, as necessidades da população, não perpetuando assim a ideia de pão e circo que diariamente e propagada a sociedade brasileira.   


                                                                                                                                                                     Aluna: Juliana da Silva Cavalcanti.
                                                                                                                                                                       Professor: Diogo Didier.     





"Eu estou sempre aqui, olhando pela janela. 
Não vejo arranhões no céu nem discos voadores.
Os céus estão explorados mas vazios. 
Existe um biombo de ossos perto daqui. 
Eu acho que estou meio sangrando. 
Eu já sei, não precisa me dizer. 
Eu sou um fragmento gótico. 
Eu sou um castelo projetado. 
Eu sou um slide no meio do deserto. 
Eu sempre quis ser isso mesmo. 
Uma adolescente nua, que nunca viu discos voadores, 
e que acaba capturada por um trovador de fala cinematográfica. 
Eu sempre quis isso mesmo: armar hieróglifos 
com pedaços de tudo, restos de filmes, gestos de rua, 
gravações de rádio, fragmentos de tv.
Mas eu sei que os meus lábios são transmutação 
de alguma coisa planetária. 
Quando eu beijo eu improviso mundos molhados. 
Aciono gametas guardados. 
Eu sou a transmutação de alguma coisa eletrônica. 
Uma notícia de saturno esquecida, 
uma pulseira de temperaturas, um manequim mutilado, 
uma odalisca andróide que tinha uma grande dor, 
que improvisou com restos de cinema e com seu amor, 
um disco voador..." 

(Fausto Fawcet)

O estereótipo ideal

            Existente desde a Grécia Antiga, a perfeição é procurada assiduamente, com o objetivo de permanecer no padrão de beleza. Hoje, no Brasil, não é muito diferente. A era da beleza vem influenciando cada vez mais a vida da sociedade, fazendo com que sua estética corporal não tenha defeitos e seu estereótipo não seja criticada.

 A estrutura corporal, em ambos os sexos, vive sobre bastante pressão. Para as mulheres, os corpos ideais são baseados nos das modelos, cantoras, atrizes. Para os homens, os músculos bastante desenvolvidos são motivos de orgulho, muitos se depilam totalmente e almejam o homem do corpo divino. Com isso, a procura por academias está acontecendo gradativamente, o que por um lado é a demonstração de cuidado e bem estar como próprio corpo, tendo a sensação de satisfação com o próprio consigo mesmo.

Por outro lado, o físico ideal geralmente ocasiona bastante consequência como doenças, distúrbios mentais por causa da obsessão pela beleza, quando não ocorrem problemas em cirurgias estéticas. Ultimamente é apresentado em torno de 90% a 95% dos casos de anorexia ocorrem em mulheres, porém acontecem casos crescentes em homens, ambos com receio em engordar e se sentir excluído socialmente.

A mídia tem papel bastante influenciável em relação ao padrão estético, mostrando sempre pessoas definidas, mesmo que não estejam completamente saudáveis, mostram aquilo que está na moda, resultando no aumento do consumo. Segundo pesquisas de mercado, o Brasil é um dos países que mais gasta dinheiro pelo belo. Dessa maneira, a sociedade esquece sua personalidade e o seu natural.

Portanto, o ser humano se torna escravo do padrão estético e é perceptível que as pessoas estão dando valor a coisas desnecessárias. É preciso que a sociedade aceite o próprio corpo, e não deixem ser influenciados pelo mundo da mídia e o que a indústria deseja. O necessário é que o caráter seja mais aparente que o externo.


Aluna: Maysa Andrade
Professor: Diogo Didier
E se o abuso verbal deixasse as mesmas cicatrizes de um abuso físico? Será que eles seriam levados mais a sério? Isso é o que o fotógrafo Richard Johnson espera conseguir com o seu novo projeto, o “Weapons of Choice” (armas de escolha).

Um maquiador foi convidado por ele para transformar xingamentos em hematomas e cicatrizes. Em meio às marcas de violência, foram expostas algumas palavras de ódio, como “estúpido”, “burro”, “lixo” e outras ainda piores.

“Eu acho que o objetivo [do projeto] é colocar luz sobre o fato de que, quando falamos sobre bullying, nós estamos falando de abuso físico real”, disse Johnson em entrevista ao The Huffington Post. “Chama muita atenção quando um pai abusa de seu filho, filha ou esposa, mas eu acho que o buraco é mais embaixo. Antes de ele decidir colocar efetivamente a mão em alguém, rola muito abuso verbal.”

Johnson disse ainda que o abuso verbal que acontece entre pares é, sim, um problema da nossa sociedade, mas que, por experiência própria, o abuso verbal, que envolve figuras de autoridade ou pais, costuma ser sub-representado. E é nesse tipo de problema que ele pretende se concentrar mais.

Ele também lembra que existem três pessoas envolvidas em cada situação de abuso: o agressor, as vítimas do abuso e a testemunha.

“É maior do que eu”, disse ele. “Não é um trabalho sobre fotografia ou sobre o fotógrafo. Trata-se de um problema maior, que precisa estar na mente das pessoas.”

  • 1
    Estúpido
  • 2
    Idiota
  • 3
    Lixo
  • 4
    Feio
  • 5
    Imbecil
  • 6
    Pentelho
  • 7
    Gorda
  • 8
    Aberração
  • 9
    Babaca
  • 10
    Puta
  • 11
    Bichinha
  • 12
    Vadia
  • 13
    Seu preto
  • 14
    Puta
  • 15
    Inútil
  • 16
    Covarde
  • 17
    Medíocre
  • 18
    Menininha
  • 19
    Retardada
  • 20
    Seu erro

*Traduções livres e contextualizadas

Visto no: Brasil Post

18 maio 2014


Casas noturnas, restaurantes, taxis. Seja no primeiro encontro, um jantar romântico ou numa balada, é comum vermos casais em tais ambientes, geralmente em comemoração a algo comum a ambos. Tão comum também nesses eventos casuais é a pessoa que paga a conta. Numa cultura altamente machista como a nossa, aqui no Brasil muitos são os casos ainda em que o homem é que deve fazer as honras da noite. Isso acontece, porque muitas mulheres guardaram a herança patriarcal, da qual diz que ele deve ser o cavalheiro em todas as instâncias e ela, como boa acompanhante, deve apenas aguardar que ele exerça seu papel como manda o figurino. Com isso, a discussão em torno da igualdade de gênero perde força, visto que enquanto uns buscam teorias para igualitar os seres humanos, na prática outros caminham na direção inversa a isso.

E por que mulher não paga? Este questionamento é antigo e suscita antigas questões em torno dos fadados temas, feminismo e machismo. O dito popular, de forma ambígua, responde tal questão dizendo que, em muitos casos, a mulher não precisa pagar. Essa não precisão decorre de uma cultura que apregoou nelas uma passividade em todos os sentidos, até na hora de dividir a conta. A rigor, porém, o “cavalheirismo” masculino trata de assumir o papel de pagante, para cumprir uma conduta, uma regra social. Tal atitude guarda intrinsecamente mensagens perversas em torno dos papéis de gênero na sociedade, a partir do momento que confere poder a ele e subserviência a ela. Além disso, ressuscita na sociedade o patriarcado outrora adormecido, quando as fêmeas submissas dependiam completamente dos seus tutores, inclusive no quesito financeiro.

Com isso, muitos estabelecimentos oferecem entrada franca às mulheres, principalmente quando estas são solteiras. É uma forma de atrair rapazes, que possam consumir entre tantas coisas, também as mulheres presentes. Essa objetivação feminina, muito comum em nosso país, não é percebida, pois naturalizamos a postura de muitas baladas e casas de shows que simplesmente dizem que ela não paga e quando paga é um valor inferior ao dele. Nisso, há outra mensagem perigosa que ratifica as perdas e ganhos dos gêneros no Brasil. Infelizmente, mesmo com a ascensão feminina em vários setores, muitas ganham bem menos do que os homens, sobretudo quando exercem funções semelhantes. Ora, então quando ele paga para ela fica claro o poder masculino no quesito financeiro, já que como elas recebem menos devem pagar menos, ou melhor, não pagar.

E essa passiva postura feminina é seguida à risca por muitas. Basta ir a vários ambientes badalados para verificar que elas se submetem a serem iscas dessa cultura machista. Evidentemente que muitas vão, mas por pura inconsciência, exercem esse papel passivo sem ao menos se darem conta disso. Por reproduzir os ditames historicamente estabelecidos, elas se deixam ser pagas por homens que começam oferecendo um drinque, que desemboca num jantar e pode acabar na cama. Neste momento, a questão não se relaciona com a prostituição, pois esta guarda em seu íntimo outras definições e contextos específicos. A mulher em voga não é a promíscua, mas a interesseira moderna, aquela que sai na noite em busca do homem que além de lhe dar carinho, atenção, deve bancar todos os gastos oriundos desse encontro.

Nessas horas, o ditado popular em torno delas ganha múltiplas explicações. “Mulher bonita não paga, mas também não leva”. Realmente, não leva, em partes, pois muitas levam sim: um assovio debochado, uma cantada vulgar, uma alisada no cabelo, uma tapinha na bunda, uma noite de prazer, entre tantas outras atitudes mais ousadas. O que elas não levam para casa é o respeito necessário para sair na noite sem o rótulo de objeto estampado nos olhos de muitos homens e nos letreiros de diversos clubes. Não levam também a autonomia conquistada com muita luta, para pagar suas próprias contas sem precisar da carteira masculina para isso. Sem contar que reforçam nestes locais o machismo operante na sociedade, o qual aparece sempre nessas pequenas trivialidades do cotidiano. O dito popular é perigoso, ainda, por destacar que as “mulheres bonitas não pagam”, ou seja, e as feias? Quem paga por elas? A resposta é simples: ninguém paga, pois não há ninguém disposto a custear a “feiura” de uma mulher.

Entre as casadas, ou com relacionamentos firmes, há coisa caminha de forma semelhante. Muitas não dividem a conta do restaurante, não pagam a entrada dele na balada, nem cogitam a possibilidade de financiar a maior parte do taxi, mesmo que em alguns casos ganhem bem mais que seus cônjuges. Elas foram ensinadas a pagarem menos, quiçá nada. Orientadas pela família a pela sociedade a serem a parte frágil também neste quesito. Sem contar que, do outro lado da moeda, há muitos homens educados de forma semelhante. Eles também são preparados para serem responsáveis por todos os gastos oriundos de uma relação. Não lhes foi ensinado a partilhar, mas sim a pagar. E isso não se resume apenas aos primeiros contados de um determinado casal. Esta conduta se perpetua ainda nos papeis homem e mulher após o casamento, quando ele fica responsável pelo provimento do lar e ela amarga a alcunha de dona do lar.

Felizmente, muitas mulheres subvertem esse papel e custeiam suas saídas na noite, quando são solteiras, sem nenhuma vergonha. Outras dividem sem problema a conta com o companheiro e, em alguns casos, até pagam a parte dele sem constrangimento nem ar de superioridade por isso. Eles, cientes de que é uma divisão e dotados de mente aberta, não se importam em partilhar com elas as contas, até porque se relacionar é compartilhar, desde os sentimentos até as dívidas. Conscientes de que não há uma obrigatoriedade nessa questão, mas sim relatividade, muitos casais conseguem modelar uma rotina menos pesada para ambas as partes no quesito financeiro. No país, por exemplo, já tem muitas residências, onde as mulheres trabalham e os homens, sem tabus, assumem as tarefas domésticas. Isso só é possível quando não se delimita os papéis de gênero, naturalizando a postura de cada um dos elementos envolvidos, sem os ditames impostos pela sociedade.

Por tudo isso, entendemos que homens e mulheres têm capacidade suficiente de se auto sustentarem sem precisar se ancorar no outro para financiar seus prazeres. Elas, em especial, precisam se desapegar dessa cultura submissa que volta e meia insistem que elas são inferiores a eles e, por isso, devem se submeter a determinadas regras impostas pelo sexo alfa. Numa sociedade onde a ascensão feminina ganha mais espaço, é de se esperar que assumam também as rédeas de suas finanças, sem a sombra masculina. Logo, é incoerente encontrarmos mulheres que acham “elegante” a ideia de que eles sempre devem pagar e elas não. O que deve estar em foco é o consenso nessa questão e não a obrigatoriedade. Pois, a partir do momento que homens e, sobretudo mulheres, entenderem seus reais papeis na sociedade, talvez as palavras machismo e feminismo se tornem, enfim, palavras arcaicas em nossos anais.

Pode parecer um contrassenso, mas nós gays podemos ser tudo o que quisermos, somos cada vez mais aceitos nas mais diversas esferas da sociedade, estamos presentes desde as novelas ao Congresso Nacional, mas dentro da nossa própria comunidade não podemos ser... gays.

Quem frequenta os libertários aplicativos de encontros (aka. pegação) já conhece a cartilha de cor: "macho atrás de igual", "não sou nem curto afeminados", "procuro alguém com jeito e atitudes de homem" são algumas das sentenças mais frequentes por lá.

De repente o mundo gay, de um lugar colorido e alegre, virou uma convenção de lenhadores grosseirões hostilizando qualquer um que não tenha o mesmo estilo de vida. De uma hora pra outra, o vizinho homofóbico passou a se incomodar menos com o nosso jeito de ser do que o cara com quem flertamos em um aplicativo de encontros entre homens.

Esse fenômeno não se restringe aos apps. Nas festas, nos grupos de amigos, nos lugares gays é sempre a mesma coisa. Dá pinta? Tem "cara de gay"? É delicado? Pronto, se tornou um párea, não pega ninguém, recebe até mesmo entre os amigos alcunhas como "a passiva", "a viada", "viado que mia". Todo o bulliyng que muitos de nós sofremos na escola e em casa agora cresce justamente entre quem, teoricamente, deveria entender esse sofrimento.

Também por isso, aos poucos, voltamos ao tempo em que ninguém que ser tachado de gay. Grupos de homossexuais -- sim, porque por mais que neguem é isso que eles são, H.O.M.O.S.S.E.X.U.A.I.S. -- decidiram negar essa identidade e cunhar novos termos para definir algo que existe desde os tempos das cavernas: homens que se relacionam com outros homens. Como se mudar a palavra fosse mudar a realidade.

Primeiro surgiu o bromance, uma coisa meio lá, meio cá, que muitos vão dizer que não é exatamente ser gay quando, por definição, é exatamente a mesma coisa: afetividade entre dois homens.

Depois vieram os gouines, que se declaram menos gays por não se penetrarem -- ignorando o fato de que a penetração já não é obrigatória no sexo gay há séculos, de que fomos os primeiros a assumir as maneiras mais criativas e variadas de dar e receber prazer.

Agora vieram os g0ys. Estes romperam totalmente com os homossexuais. São uma variação mais hard dos gouines, já que nem sequer se consideram gays embora, em teoria, façam exatamente a mesma coisa que eu e meus amigos viados: se relacionam com outros homens.

Nada contra o surgimento de novas identidades, ainda mais dentro de um movimento que durante séculos foi sufocado e que, lentamente, está conseguindo se libertar. O problema é quando o oprimido vira opressor e ao invés de uma cor a mais no arco-íris, estes grupos se tornam um dedo a mais a nos apontar na rua.

Embora por um lado isso seja um sinal positivo, de que mais pessoas -- com seus valores, conceitos e preconceitos -- estão se sentindo confortáveis para assumir seus desejos, também é um sinal de que nós, homossexuais (ou a palavra da moda que estiverem usando pra nos definir) precisamos olhar mais pra nós mesmos, pra dentro de nossa "comunidade".

Respeito começa em casa, e a nossa está uma bagunça.

Visto no: Brasil Post

O voto deturpado pela corrupção

        O sufrágio universal foi instituído na constituição de 1988, que é a usada atualmente.Com ela, o Brasil voltou a ser um Estado democrático e findou a ditadura. No entanto, a maior parte do povo, ainda, não vota de forma consciente e a política utiliza a corrupção para defender seus interesses, o que deturpa a democracia.
        Apesar de ilegal, a compra de votos no Brasil é muito comum. Isso ocorre, porque o povo não sabe o poder que esse artifício tem, logo, preferem ganhar migalhas ao invés de escolher seu candidato. Na verdade, é difícil acreditar na melhora do país, pois os problemas sociais só aumentam, assim, as pessoas desvalorizam o voto por causa do descaso de seus representantes.
      Existem também as campanhas políticas financiadas por empresas que fazem com que os candidatos eleitos sejam os de interesse de grandes empresários e não do povo. Isso será extinto nas eleições de 2016, pois o STF aprovou a proibição. Entretanto, o dinheiro que vai para os partidos agora é o público, isso beneficiará aqueles que têm mais representantes no poder.
        É em virtude da corrupção que o Brasil sofre arbitrariedades, como a carga tributária que sufoca os brasileiros e não é aplicada em benefício da sociedade. Portanto, observar as propostas, o histórico e as demais qualidades dos candidatos em que se votará é o dever de todo cidadão para erradicar a corrupção e construir uma sociedade justa e eficiente.
Aluno: Mateus Hermínio
Professor: Diogo Didier 

A intolerância religiosa e os preconceitos em relações ao candomblé e à umbanda sempre infiltraram os poderes da República e as instituições do Estado que se pretende laico. E talvez pelo fato de essa infiltração ter sido sempre negligenciada, apesar dos seus efeitos nocivos, ela tenha feito desabar um cômodo do Judiciário: a Justiça Federal do Rio de Janeiro definiu que umbanda e candomblé “não são religiões”. Tal definição – que mais se parece com uma confissão pública de ignorância – se deu em resposta a uma decisão em primeira instância do  Ministério Público Federal que solicitou a retirada, do Youtube, de vídeos de cultos evangélicos neopentecostais que promovem a discriminação e intolerância contra as religiões de matriz africana e seus adeptos, já que o Código Penal, em seu artigo 208, estabelece como conduta criminosa, “escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso”.

Em vez de reconhecer a existência da ofensa – e não há dúvida para qualquer pessoa com um mínimo de discernimento e senso de justiça de que a ofensa existe – a Justiça Federal do Rio de Janeiro desqualificou os ofendidos; considerou que não “há crime se não há religião ofendida”. Para tanto, a Justiça Federal do Rio conceituou umbanda e candomblé como cultos a partir de dois motivos absolutamente esdrúxulos (ou seria melhor dizer a partir de dois preconceitos?): 1) candomblé e umbanda deveriam ter um texto sagrado como fundamento (aqui a Justiça Federal ignora completamente que religiões de matriz africana são fundadas nos princípios da transmissão oral do conhecimento, do tempo circular, e do culto aos ancestrais); e 2) candomblé e umbanda deveriam venerar a uma só divindade suprema e ter uma estrutura hierárquica (aqui a Justiça Federal do Rio atualiza a percepção dos colonizadores do século XVI de que os indígenas e povos africanos não tinham fé, não tinham lei nem tinham rei). Pergunto: Há, na decisão da Justiça Federal, pobreza de repertório cultural, equívoco na interpretação da lei ou cinismo descarado?


A decisão judicial fere claramente dispositivos constitucionais e legais, além de violar tratados internacionais como a Convenção Americana sobre Direitos Humanos, conhecida como Pacto de San Jose da Costa Rica, ratificada pelo Brasil em 1992 e que dispõe sobre a garantia de não discriminação por motivo de raça, cor, sexo, idioma, religião, opiniões, políticas ou de qualquer outra natureza, origem nacional ou social, posição econômica, nascimento ou qualquer outra condição social. Esse pacto diz ainda que o direito à liberdade de consciência e de religião implica na garantia de que todos são livres para conservar sua religião ou suas crenças, ou de mudar de religião ou de crenças, bem como na liberdade de professar e divulgar sua religião ou suas crenças, individual ou coletivamente, tanto em público como em privado. A Convenção Americana sobre Direitos Humanos afirma que ninguém pode ser objeto de medidas restritivas que possam limitar sua liberdade de conservar sua religião ou suas crenças, ou de mudar de religião ou de crenças. A liberdade de manifestar a própria religião e as próprias crenças está sujeita unicamente às limitações existentes em leis e que se mostrem necessárias à proteção da segurança, da ordem, da saúde ou da liberdade.

Ou seja, se há uma liberdade religiosa a ser limitada é a daquelas religiões que usam dos meios de massa para difamar e promover a intolerância contra outras religiões e divulgam práticas que põem em risco a saúde coletiva, como pedir que pessoas abandonem tratamento de câncer ou aids em nome de orações!

Ao ratificar esse Pacto, o Brasil assumiu desde 1992 o papel de um país que tem a obrigação de respeitar direitos. Infelizmente, o Poder Judiciário, que tem a função de “dizer o direito”, de aplicar as leis, assim não o fez, simplesmente negando a interpretação dos ditames constitucionais e disposições supranacionais de direitos humanos.

Já foi noticiado que o Ministério Público Federal recorreu dessa decisão, mas precisamos ficar atentos a essas manobras que perseguem, acuam e tentam destruir o que não está de acordo com o que o fundamentalismo religioso determina como correto. E não resta dúvida de que essa decisão judicial é fruto do fundamentalismo religioso que avança sobre os poderes da República. Não podemos nos esquecer de que todos estamos sob a garantia de que podemos promover reuniões livremente para realizar cultos de qualquer denominação – um direito individual e coletivo previsto na Constituição Federal, artigo 5º, inciso VI.

O ataque à umbanda e ao candomblé é também um ataque de viés racista por se tratar de religiões praticadas sobretudo por pobres e negros. Mas é, antes, uma disputa de mercado. O que os fundamentalistas pretendem com os ataques à Umbanda e ao Candomblé é atrair os adeptos – e, logo, o dinheiro deles – para suas igrejas. E como vivemos sob uma cultura cristã hegemônica, que se fez na derrisão e repressão das religiões indígenas e africanas, é óbvio que as igrejas fundamentalistas levam a melhor nessa disputa de mercado e em suas estratégias de difamação.

O que esperamos do Judiciário é o mínimo de justiça que possa colocar freios à intolerância e à ganância dessas igrejas e seus pastores; e possa assegurar a pluralidade religiosa pautada no respeito e sem hierarquias entre as religiões.

 Fonte: Carta Capital

Ideal de beleza Parnasiana

Desde a Grécia Antiga, o ideal de beleza era obtido de forma matemática, baseada na famosa proporção áurea. Atualmente, o modelo de beleza parnasiana disseminado pelos meios midiáticos mostra homens e mulheres que passam por procedimentos estéticos e cirúrgicos que são concebidos como o protótipo ideal de beleza moderna, quando geralmente a realidade de quem presencia ou aprecia é distinta desses padrões.

Seja nos filmes ou em novelas o(a) mais belo(a) é sempre o(a) que tem o final feliz. As crianças são bombardeadas com essas informações desde cedo resultando em uma busca incessante pelo padrão de beleza pré-estabelecido. Advindo a isso, tem-se conseqüências como os distúrbios alimentares. Segundo o IBGE aproximadamente 47,8% das jovens entre 12 e 16 anos no país sofrem ou já sofreram algum tipo de distúrbio alimentar por não gostarem de seus corpos.

Apesar dessa busca existir entre homens e mulheres, elas são as mais influenciadas. Segundo pesquisa realizada pelos meios midiáticos, o número de cirurgias plásticas em mulheres no país entre 2009 e 2012 cresceu 120%. A busca pelo corpo perfeito nas academias, pelo rejuvelhecimento ou pelo certo número no manequim são reflexos disso. No contexto social moderno, não há a ideia de aproveitar o transcorrer dos anos, mas sim lutar contra eles e estar no mesmo patamar de beleza das pessoas emanadas pela mídia.

Portanto, é necessário que a sociedade consiga conceber que essa beleza propagada não é um modelo obrigatoriamente a ser seguido, que esse ideal é individual; o que pode ser considerado belo para uma pessoa talvez não seja para outra. Partindo desse princípio, será possível deixarmos de ser marionetes dos meios midiáticos e passarmos a nos aceitar como realmente somos.



Aluna: Débora Raiane
Professor: Diogo Didier


O linchamento de Fabiane Maria de Jesus nos denuncia pela palavra. Há um horror, o linchamento. E há o horror por trás do horror, que é a exacerbação da inocência da vítima. É preciso que este também nos espante, porque ainda mais entranhado, suas unhas cravadas fundo numa forma de pensar como indivíduos e de funcionar como sociedade. Nem todos são capazes de pegar um pedaço de pau para bater na cabeça de uma mulher até a morte por considerá-la culpada de um crime, mas é grande o número daqueles que, ao contarem o caso na última semana, enfatizaram: “Ela era inocente”. Não como uma informação a mais no horror, mas como a mais importante. Essa também foi a frase escolhida para ilustrar as camisetas dos que protestavam contra a sua morte: “A dor da inocência”. Mas talvez seja na exaltação da inocência que nossa violência se revele em sua face mais odiosa. O que pensamos ser luz, prova de nossa boa índole, é feito da matéria de nossas trevas mais íntimas. É a exacerbação da inocência que mostra o quanto nós – mesmo os que não lincham pessoas na rua – somos perigosos.

E se ela fosse culpada?, como provoca o título da matéria de Marina Rossi, aqui no El País Brasil. E se ela fosse uma mulher que praticasse magia negra com crianças? Seu assassinato por um bando de pessoas na rua estaria justificado? Então alguém poderia agarrá-la, outro arrastá-la e um terceiro passar com a roda da bicicleta sobre a sua cabeça? É isso o que estamos dizendo quando nos espantamos mais com a inocência de Fabiane do que com o seu assassinato?

O linchamento de Fabiane produziu uma narrativa fragmentada, que revela mais sobre os autores do discurso do que sobre a vítima. O suspeito V. B., eletricista, 48 anos, justificou-se, ao ser preso: teria golpeado Fabiane com um pedaço de madeira porque achou que o boato era “verdade”. O suspeito L.L., ajudante de pedreiro, 19 anos, que teria passado com a bicicleta sobre a cabeça de Fabiane, explicou: “Diante da gritaria das pessoas que tinham reconhecido a mulher, não tive dúvidas de participar do tumulto”. O suspeito C.J., pintor de paredes, 22 anos, teria puxado Fabiane pelos cabelos para se certificar de que era ela mesma, antes de ajudar a matá-la.

Em nenhum momento apareceu o choque por ter espancado uma pessoa com um pedaço de pau, passado sobre a cabeça de alguém com a bicicleta, agarrado uma mulher pelos cabelos. Passada a explosão da hora, a questão que motivou até um pedido de desculpas à família, por parte de um dos suspeitos, era o erro. Mas o erro não seria assassinar – e sim assassinar a pessoa errada. Se havia razões para o arrependimento era a inocência de Fabiane – não o ato de matar. “Não é ela, não é ela”, teria avisado alguém em um dos vídeos de sua morte. Não arrebente porque não é ela. E se fosse?

Se a exaltação da inocência estivesse restrita aos assassinos – e a quem assistiu ao assassinato sem nada fazer para impedi-lo – seria mais fácil. Mas foi a inocência de Fabiane que motivou, nos mais variados espaços, perguntas retóricas como: “onde estamos?” ou “que país é este?”. Entre os tantos comentários sobre o caso, lamentando a morte de Fabiane, talvez o do governador do estado de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), seja o mais revelador.

Fabiane foi linchada no sábado (3/5), no bairro de Morrinhos, na periferia do Guarujá, no litoral paulista, e morreu, no hospital, na segunda-feira (5/5). Tinha 33 anos. Na quarta-feira (7/5), o governador, que pretende tentar a reeleição, foi ao Guarujá para, entre outros compromissos, reinaugurar a maternidade do Hospital Santo Amaro – o mesmo onde, segundo o jornal O Estado de S. Paulo, Fabiane teve de esperar um dia para conseguir vaga na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Durante a cerimônia, Alckmin manifestou-se sobre a morte de Fabiane, nos seguintes termos: “É inadmissível um ato de barbaridade como esse, tirando a vida de uma pessoa que não tinha nada a ver com a desconfiança da população, até porque tudo não passou de um boato”.

Uma boa questão de interpretação para a prova de língua portuguesa do próximo vestibular. O que, exatamente, o governador está dizendo ao povo do estado que governa? Qual é, para ele, a questão central no linchamento? O que é inadmissível, segundo Alckmin? Linchar uma pessoa, qualquer pessoa, ou linchar uma pessoa inocente?

A exaltação da inocência de Fabiane revela a não inocência da sociedade brasileira na série de linchamentos que vem atravessando o país. As palavras revelam o que também alimenta o espancamento e a morte de pessoas por cidadãos nas ruas. É no discurso, às vezes subliminar, às vezes explícito, que é reeditado cotidianamente o pacto histórico de que há uma categoria de brasileiros que podem ser mortos – ou que ao menos seu assassinato seria justificável. É esta mesma lógica que tolera – quando não deseja – a tortura e a morte de presos nas delegacias e nos presídios do Brasil. Encarar os linchamentos como algo que só pertence ao bárbaro, que é sempre o outro, é ocultar a nossa responsabilidade, a de cada um, com uma máscara de inocência. Fabiane era inocente. Nós, ao exaltarmos a sua inocência como principal razão para que ela não fosse assassinada, somos culpados.

A barbárie não deveria nos surpreender, como se fosse nova entre nós. A sociedade brasileira historicamente a tolera, quando não a estimula. Como já foi dito mais de uma vez, também aqui, ela está nas raízes da formação do Brasil. A barbárie chegou junto com os que se anunciavam como civilizados diante dos povos indígenas que aqui estavam – os bárbaros. E foram também os chamados civilizados que promoveram uma força de trabalho escravo, alimentada por negros trazidos da África (e também por índios). Nem a escravidão nem o extermínio indígena foram superados no Brasil – e as marcas de uma e a reedição do outro fazem parte do cotidiano do país, hoje.

Fingir que a barbárie é surpreendente não vai nos ajudar a combatê-la. No Brasil atual, indígenas, ribeirinhos e quilombolas têm sido expulsos de suas terras por atos do próprio governo federal – e muitos deles têm sido mortos por pistoleiros, a mando de fazendeiros. É assustador o número de moradores de rua assassinados no Brasil nos últimos tempos, assim como o de crimes por homofobia. A retirada de pessoas de suas casas para a construção de estádios da Copa do Mundo é conhecida – ou deveria ser – por todos. A violência nos presídios e as execuções nas favelas e periferias tornaram-se uma banalidade só interrompida por espasmos. Mesmo os linchamentos estão longe de nos ser estranhos, o que em nada diminui o seu horror e a necessidade de combatê-los.

Se há algo de novo é talvez a forma como as palavras encarnaram para tornar Fabiane uma pessoa para o linchamento. A internet não criou – nem piorou – o humano. Ela apenas o revelou como nunca antes. Ela deu-nos a conhecer. Antes não sabíamos o que pensava o vizinho ou o caixa do banco ou o sujeito que nos cumprimentava na padaria. Agora, ele grita na internet – e, mais do que grita, exibe todo o seu inferno. Passeia o time completo, com titulares e reservas, de seus ódios e preconceitos. Na internet, o humano perdeu o pudor de suas vísceras. Ao contrário, em vez de ocultá-las, passou a exibi-las como um troféu de autenticidade.

É nesse contexto que o dono do perfil no Facebook “Guarujá Alerta” postou, em 25 de abril, a seguinte “notícia” – que jamais poderia ser chamada de notícia porque sequer foi apurada antes de ser publicada: “Boatos rolam na região da praia do Pernambuco, Maré Mansa, Vila Rã e Areião, que uma mulher está raptando crianças para realizar magia negra... Se é boato ou não devemos ficar alertas”. Nenhum pudor de postar um boato. Zero pudor. Ao contrário, a internet nos mostra que há um orgulho no despudor, no “assumir” a falta de princípios, confundindo-a com o que é apresentado como “coragem de denunciar”.

Alguns dos comentários de homens e mulheres, postados na sequência, mostra a disseminação do ódio, travestida como defesa do bem: “Mata essa filha da puta. Quem achar, sem dó”/ “Se vir pro Morrinhos vai tomar só rajada essa cachorra”/ “Vamos fazer uma magia de revolta com ela, ‘botando fogo nela’”. Logo surgiu um retrato falado, que seria descrito pela imprensa como o de uma mulher “negra e gorda”, em seguida a foto de uma loira.

Dias depois da publicação do boato, Fabiane, com pouca ou nenhuma semelhança com qualquer uma das imagens, foi linchada. Inclusive crianças participaram do seu espancamento. O retrato falado tinha sido feito em 2012 pela polícia carioca e referia-se a uma suspeita de ter sequestrado uma criança na zona norte do Rio. Nenhum menino ou menina desaparecera na região do Guarujá nos últimos tempos, o crime não existia. Mas as “bruxas” começaram a ser vistas em toda parte – e também em outras regiões do país, na qual o boato foi reproduzido. Fabiane foi a única morta, mas várias mulheres podem ter corrido o risco de ser assassinadas. De novo, as mulheres e a bruxaria, como nas fogueiras da Inquisição.

(Só um parêntese. Vale pensar sobre o peso da palavra escrita nessa tragédia. Sobre o quanto a palavra escrita, agora na internet, é decodificada ainda por muitos, em especial por aqueles que ao longo da história tão pouco tiveram acesso a ela, como “verdade”. A frase “está no jornal” ou “li no jornal”, usada para assegurar a veracidade de algo diante de outros, é agora também “está (ou li) na internet”. É o que mostra a quantidade de spams com boatos os mais estapafúrdios que atravancam todos os dias as caixas de e-mail e também as redes sociais, porque muitos os replicam, sem apurar a fonte ou sequer duvidar, para alertar seu circuito de conhecidos, familiares e amigos sobre ameaças terríveis. Falta muito para que a leitura crítica, tanto da imprensa tradicional quanto da mídia alternativa, como de qualquer outra produção narrativa, se estabeleça para a maioria, tão carente de educação no país.)

Quando Fabiane foi agarrada naquele sábado, carregava um livro de capa preta. Quem passava por ela, viu nele uma obra de magia negra. Quando ela ofereceu uma fruta a uma criança na rua, o gesto foi interpretado como uma tentativa de sedução. Foi só alguém gritar “é ela, é ela”, para o linchamento começar. É importante compreender como Fabiane tornou-se bruxa. Mas também é fundamental entender como ela deixou de ser bruxa.

O feitiço ao contrário é revelador. O livro de magia negra era uma Bíblia. A fruta oferecida era um gesto de generosidade. Fabiane era branca, era religiosa, era mãe de duas filhas, era dona de casa e gostava de crianças. Sua única “mácula”, para o senso comum, seria um diagnóstico de “transtorno bipolar”, relacionado nos relatos “ao parto da primeira filha”. Mas, mesmo neste caso, ela foi poupada do preconceito costumeiro, associado às doenças mentais, por depoimentos como este, de uma amiga: “(Nas crises) ela saía abraçando as pessoas, falando que amava todo mundo, nunca fez mal a ninguém”.

Fabiane, portanto, não só era inocente, como era a imagem da inocência. Era o retrato idealizado do feminino ligado à maternidade. Não tenho como aferir o quanto essa imagem, desfeito o feitiço, colaborou para a comoção do país. Mas suspeito que bastante. E isso também revela o quanto nós não somos inocentes.
E se Fabiane fosse “negra e gorda”, como descrita no retrato falado? E se Fabiane exibisse piercings e tatuagens pelo corpo? E se Fabiane fosse lésbica? E se Fabiane fosse agressiva? E se Fabiane fosse do candomblé ou do batuque ou de outra religião afro-brasileira, as quais os pastores evangélicos neopentecostais tanto relacionam nos templos e nos programas da TV com satanismo, uma atitude criminosa pouco ou nada combatida? E se Fabiane fosse bruxa? E se Fabiane fosse o oposto da idealização feminina? Será que tantos hoje chorariam por ela?
E Fabiane seria, por isso, menos inocente?
Talvez, se sua imagem não correspondesse ao estereótipo da mãe de família, ouviríamos coisas como: “Também, com aquela aparência, era fácil confundi-la”. Ou: “Essa história está mal contada, boa coisa ela não era”. Talvez então o feitiço jamais fosse desfeito e Fabiane continuasse na lista não escrita das pessoas “lincháveis”. É possível? Ou estou exagerando? Gostaria de estar exagerando, mas me arrisco a suspeitar que não.
Vale a pena prestar atenção ao comentário de L., ao ser preso e pedir desculpas à família de Fabiane. “Peço desculpas à família, estou muito arrependido. Desculpa mesmo. A gente vê a nossa mãe em casa, nossa tia, e imagina que poderia ter sido com elas”. De repente, o algoz percebe que sua vítima não é mais uma “bruxa”, uma diferente, uma outra, mas sim semelhante às mulheres da sua família que ocupam um lugar materno. E, como filho, sobrinho, dessas mulheres, semelhante a ele mesmo. Pela lógica imediata, se a conversão em bruxa pela turba enlouquecida, da qual ele fez parte, aconteceu com Fabiane, por que não aconteceria com sua mãe, com sua tia? Com ele, com cada um de nós? Será também um medo novo que faz aumentar a comoção por Fabiane? E agora, que a barreira dos “lincháveis” foi rompida e uma mãe de família, uma devota, morreu a pauladas?

Um dos suspeitos disse à polícia que dois outros autores do linchamento de Fabiane foram executados pelo tráfico. A informação foi publicada na imprensa. Se queremos de fato enfrentar a barbárie, precisamos saber se essa afirmação é verídica. E, se for verídica, precisamos exigir que os assassinos dos assassinos sejam investigados, julgados e punidos, no rito da lei. Do contrário, somos só bárbaros que acreditam que linchadores devem ser mortos, no olho por olho, dente por dente. Como aqueles bárbaros que salivam em suas casas quando assistem à notícia de que estupradores foram violados na cadeia, onde estão sob proteção do Estado.

Chorar pelos inocentes é fácil. O que nos define como indivíduos e como sociedade é a nossa capacidade de exigir dignidade e legalidade no tratamento dos culpados. O compromisso com o processo civilizatório é árduo e exige o melhor de nós: respeitar a vida dos assassinos. Fora isso, é só demagogia.

Há vários apelos circulando na internet sobre as palavras “justiceiro” e “justiçamento”. Quero trazer a reflexão para cá, porque já descobrimos há muito – e também agora – que as palavras são poderosas. E andam. E encarnam. E revelam. E autorizam. Linchamento não é “justiçamento”. É crime. Linchador não é “justiceiro”. É criminoso. Seja uma pessoa ou uma turba, quem mata é assassino. Quem lincha e mata não quer justiça, quer vingança – às vezes sem nem mesmo saber do quê. Se queremos superar a barbárie, talvez seja necessário jamais confundir “justiça” e “vingança” – também nas palavras.

Eliane Brum é escritora, repórter e documentarista. Autora dos livros de não ficção Coluna Prestes - o Avesso da Lenda, A Vida Que Ninguém vê, O Olho da Rua, A Menina Quebrada, Meus Desacontecimentos e do romance Uma Duas. Email:elianebrum.coluna@gmail.com. Twitter: @brumelianebrum

Visto no: El País

11 maio 2014


De todas as artes existentes, talvez a música seja a que mais toca a alma humana. Por retratar dilemas sentimentais e sociais, ela emociona, choca, nos faz pensar na vida e, em alguns casos, até nos aliena. A partir deste último ponto, poderíamos mencionar diversos estilos musicais, atuais e de outrora, que foram responsáveis pela alienação de grande parte da sociedade brasileira. A rigor, no entanto, é importante destacarmos um gênero musical que tem ganhado extrema visibilidade no país atualmente, o funk ostentação. Nele, pessoas de comunidades carentes assumem o papel de poderosos endinheirados e propagam em suas letras uma vida bem distinta da vivida por alguns deles mesmos fora das luzes da ribalta. Com isso, uma perigosa mensagem é perpassada por esses artistas que, talvez, inconscientes e inofensivamente estejam propagando um modelo de vida, do qual ostentar, a todo custo, é a palavra de ordem.

Segundo a definição dicionarizada, a palavra ostentação significa “ação ou efeito de ostentar, afetação na ação de exibir riquezas ou dotes”. Numa sociedade onde a pobreza ainda não foi erradicada nem minimizada, soa contraditório encontrar indivíduos que esbanjem bens, enquanto outros vivem à míngua. Mais incoerente ainda é quando pessoas que se enquadram nos grupos mais miseráveis da escala social fazem de tudo para ostentar benesses superficiais, como se quisessem incluir-se em um mundo onde o ter é mais importante do que qualquer coisa. É o que acontece hoje com o chamado funk ostentação. Nele, os Mcs, como são conhecidos, incorporam os personagens dos quais o poder brota do exibicionismo monetário, na tentativa de inserir-se na atmosfera daqueles que na sociedade só tem valor se tiverem posses. Isso acontece, porque, infelizmente numa nação apartada pela pobreza, muitos indivíduos procuram se refugiar no ilusório mundo onde o sonho de ser rico passa a ser realidade por alguns instantes.

Casarões, carros importados, joias, bebidas, mulheres bonitas e, claro, muito dinheiro, é o que enfatiza as letras e clipes desse gênero musical. Uma mega produção é criada para retratar o onirismo desses cantores, com direito até da participação de famosos. Entretanto, falta em algumas letras à ideia de como um jovem, que vive à margem da sociedade, irá conquistar tantas riquezas da noite para o dia. Fora do subjetivismo musical, sabemos que para enriquecer num país como o nosso é preciso nascer em berço de ouro, herdar milagrosamente alguma herança, ganhar na mega sena, virar celebridade instantaneamente, fazer parte da política corrupta do país, jogar futebol ou cometer atos ilícitos. De todos estes, talvez seja o último que leve muitos adolescentes a esbanjar o que não podem, sobretudo através do submundo do crime, controlados nas favelas pelas armas e pelas drogas.

Cercados pela pobreza e, muitas vezes sem perspectiva de vida, muitos jovens se encantam com esse universo de faz de conta da ostentação e acabam fazendo de tudo para se incluir nele. Evidentemente que nem todos ingressam na marginalidade para mudarem de vida. Muitos são os casos em que os indivíduos, através da música como os Mcs, conseguem ascensão social de forma honesta. Agora, o público, incipiente e facilmente manipulado, nem sempre absorve de forma correta a mensagem das letras do funk que tem como foco ostentar um modelo de vida discrepante do grande público. Como explicar, por exemplo, a uma criança de oito ou dez anos de idade, fã desse gênero musical e moradora das grandes favelas do país, que ostentar só é válido se, e unicamente se, o indivíduo for capaz de adquirir suas riquezas através de muito suor? Além disso, como, a partir do funk atual, minimizar a marginalização desses infantes que, vivendo hipnotizados nesta sociedade de consumo, não veem outra alternativa, a não ser melhorar de vida, custe o que custar?

Essas questões parecem ter sido tangenciadas por alguns Mcs, preocupados apenas em retratar seus sucessos pessoal e profissional através de suas músicas. Muitos deles nem sequer vivem uma vida de luxo. Ao contrário disso, boa parte ainda não saiu da comunidade onde mora e sobrevive dos shows que fazem nos famosos bailes funks. Nessa Neverland periférica, é compreensível a priori, a atitude desses rapazes. Como não sonhar com um mundo de luxo, onde não haja mais fome, miséria nem violência. Um lugar maravilhoso com fartura em alimento, casas confortáveis, um carro e, se possível dinheiro extra para gastar. Uma favela imaginária, recriada a partir do desejo desses indivíduos que nasceram num país onde ser favelado é ser desfavorecido de todos os direitos mais básicos da cidadania.

É por isso que, a posteriori, fica fácil entender o fenômeno do rolezinho que causou, e ainda causa, polêmica no Brasil. Nada melhor do que o shopping, epicentro do consumismo e, por isso, da ostentação, ser o palco para os protagonistas das regiões mais pobres do país estrelarem. Nele, os rolezinhos invadiram e foram marginalizados, pois não houve um entendimento por parte da sociedade sobre o porquê desses jovens, repentinamente, terem invadido um espaço destinado a outras classes sociais. A multidão de renegados representava a revolta de um grupo social cansado de ser esquecido pela outra grande metade da sociedade acostumada a tratar os favelados como marginais. Ao mesmo tempo, no contexto musical, não podemos esquecer que na cultura do funk ostentação, estes jovens podem tudo para realizar seus desejos de consumo, inclusive invadir espaços públicos como o shopping, para deleite deles e desesperos dos presentes.

Os perigos do funk ostentação residem, portanto, na ausência de explicação das letras musicais, das quais o ter está nitidamente acima do ser. Também é perigoso, em qualquer escala social, difundir o consumismo a todo custo sem explicar como o indivíduo deverá conseguir tanto dinheiro para viver uma vida regrada a luxo. Sabemos que a música quer passar uma mensagem e, no caso do funk ostentação, a palavra de ordem é superação. E isso é valido, pois não há nada mais significativo do que buscar alternativas para mudar de vida. Porém, o hedonismo dessas canções não pode ser tomado como regra por uma sociedade ainda cerceada pela pobreza e controlada pelo crime organizado. O prazer, de que todos buscam e tem direito, deve vir com muito trabalho e não do “nada”. Se isso não ficar bem marcado em nossas mentes, muito em breve veremos indivíduos diversos fazendo de tudo para ostentar o que não têm. Se é que isso já não esteja acontecendo.