23 agosto 2011


Nunca se falou tanto em garantia de direitos para a comunidade gay do Brasil. Isto porque, diferente de outras épocas, os homossexuais de hoje estão lutando pelo seu espaço na sociedade, reivindicando que ela os reconheça do mesmo modo que aceitam a heterossexualidade. Ao lado dessa problemática, porém, também cresce a brutalidade de um país conservador, intolerante e, consequentemente violento. Nesse cenário paradoxal acontece um duelo desigual do qual os gays têm sido brutalmente vitimados por uma população desprovida de conhecimento necessário para entender a sexualidade alheia; impondo através da selvageria seus valores na tentativa primitiva de transformar aqueles considerados diferentes.

A matança de gays, travestis, lésbicas entre outros do mesmo segmento, tiveram uma acentuada elevação durante esse ano. E não precisa estar respaldado por nenhuma estatística para comprovar essa informação, basta apenas ligar a televisão, ou ler um jornal para constatar que esse fato já está se tornando corriqueiro nas manchetes atuais. São jovens, adultos e até idosos sendo vitimados pelo simples ato de assumir publicamente a sua homossexualidade. E nessa batalha ninguém está imune de ser uma vítima da fúria da intolerância dos denominados homofóbicos. Pai não pode mais abraçar o filho na rua, sob o risco de ser confundido com um casal gay. Mãe e filha, bem como duas irmãs ou duas amigas não podem mais andar de mãos dadas, pois podem ser atacadas por algum troglodita dono dos mais “sensatos valores”.

A sociedade está caminhando numa direção que, se não for mudado, o afeto logo deixará de existir. Tudo isso porque grupos conservadores ainda insistem um disseminar a ideia de que a homossexualidade é uma abominação, uma epidemia, uma moléstia, ou qualquer coisa pestimaniosa que deve ser banida da sociedade. Tal prática expõe o perfil de um povo hipócrita e repleto de preconceitos pequenos. Tanta coisa mais importante para se resolver no país, do que se preocupar com as práticas sexuais dos outros.

Enquanto a sociedade preocupa-se em exterminar a homossexualidade, nossos políticos, aqueles que muitos de nós erroneamente colocamos no poder, estão roubando o nosso dinheiro. Enquanto somos contra a adoção de crianças por casais homossexuais, esquecemos que estes infantes muitas vezes não terão uma nova chance de ter um lar, uma família e, talvez por isso entrem na marginalidade. E, enquanto muitos lutam para impedir a consolidação dos direitos garantidos pela constituição a todos, inclusive aos gays, estes estão diretamente criando uma distinção entre os seres humanos, com aqueles considerados superiores e os inferiores.

Será que é pedir demais ter as mesmas garantias de sociais que qualquer outra pessoa? O que, ou quem, define o grau de dignidade entre os indivíduos, ao ponto de ofertar privilégio a alguns à custa do sofrimento de outros? O terrorismo impelido aos homossexuais do Brasil não é fundamentado em nenhuma ideologia convincente que possa coerentemente justificar tamanha barbárie presenciada dia após dia. Nada, nenhum argumento pode ser plausível, no intuito de justificar que as práticas homossexuais sejam inferiores de quaisquer outras, ou que ser gay esteja ligado a algum tipo de patologia. Pelo contrário, a ciência já entende a sexualidade dos gays como tão natural como a de qualquer hétero. O que falta é a proliferação de um modelo educacional que penetre nas mais profundas raízes da discriminação, extraindo-a de uma vez por todas da nossa sociedade.

Se o Brasil, que já se configura como um dos países mais violentos do mundo, ainda não conseguiu enxergar os crescentes casos de violência contra os homossexuais como algo preocupante é porque, igual ao caso das crianças de Realengo, está esperando que um massacre de verdade ocorra, para então tomar uma posição. Enquanto isso não acontece, o governo e a sociedade preferem ignorar a existência de ameaças, torturas e até morte contra os gays do Brasil. Mesmo com tal omissão, é bom que saibam que, diferente de outras eras, hoje a comunidade gay está mais forte e unida e não permitirá que o descaso contra essa classe se perpetue durante muito tempo. A era da mudança é agora. O momento de revolucionar é o hoje. Então, não baixaremos a guarda para o desrespeito, a desunião e o desamor, nem agora e nem nunca.

Encontrar um elixir para prolongar a vida e, consequentemente, garantir uma aparência mais jovem e saudável, sempre fez parte dos anseios da humanidade. Esse desejo, muitas vezes ensandecido, no intuito de retardar as marcas do tempo, na modernidade ganha uma nova significação. Isto porque, as pessoas, mesmo oprimidas pela indústria da moda a qual metralha ferozmente a sociedade com um perfil parnasiano de beleza, querem mesmo é ter uma vida mais saudável, longe do sedentarismo e de alimentos que possam acarretar problemas de saúde. Tudo isso porque as pessoas desejam chegar à tão temida terceira idade esbanjando a mesma ou similar vitalidade de quando gozavam do rubor das suas juventudes. Para isso, recorrem a uma nova perspectiva de vida, com comidas naturais mais regradas e, principalmente acompanhada de novas rotinas físicas.

É indiscutível que os padrões de beleza mudaram rapidamente com o passar do tempo. Entretanto, na atualidade, as pessoas querem mais do que plastificar um perfil estético. Elas querem viver com qualidade de vida. E nessa hora não importa se é homem ou mulher. Os tabus são rompidos para garantir uma sobrevida longa e salubre. Essa nova realidade social tem trazido bons resultados no Brasil, uma vez que a expectativa de vida dos cidadãos mudou consideravelmente. Palavras como: caminhada, frutas, legumes, academia, tornaram-se ferramentas cruciais dessa mudança. Hoje, além de estarem em consonância com ditadura da moda, as pessoas almejam permanecer vivendo por cada vez mais tempo e da melhor forma possível.

Tal fenômeno, não poderia passar em branco pela nossa sociedade. Nos dias de hoje, proliferam-se academias voltadas a públicos diversos, estes que cada vez mais cedo se preocupam com o bem-estar físico. A mídia também, sobretudo a televisiva, tem dado a sua contribuição para a demanda dessa nova sociedade. São programas que ensinam receitas rejuvenescedoras, dicas de alimentos que ajudam a viver mais e até exercícios que podem ser feitos sem que a pessoa saia de casa. Tudo para ajudar na somatória de alguns anos a mais na vida das pessoas que buscam esse novo modelo de sobrevivência. Não se pode deixar de mencionar nesse contexto as academias das cidades, que atuam de forma autônoma e gratuita, oferecendo para pessoas de classes distintas a mesma possibilidade de ampliar a sua qualidade de vida.

Sem poção mágica, o homem moderno tem conseguido viver mais e melhor, se comparado há outras épocas. Isto porque, a sociedade descobriu que para permanecer vivendo era preciso mudar drasticamente alguns hábitos e aderir a uma nova rotina, com noites bem dormidas, alimentação rica em nutrientes e a prática constante de exercícios físicos. O resultado disso pode ser constatado no Índice de Desenvolvimento Humano – IDH, o qual destaca que a expectativa de vida do brasileiro pulou de 66 para 71 anos em menos de três décadas. Tamanha transformação mexeu com a estrutura da pirâmide etária nacional, ampliando não só a perspectiva de vida dos cidadãos, mas também o conceito de juventude, que antes estava fadado a limitação.

Seja da forma que for, independente da condição social, as pessoas estão buscando viver com qualidade e por mais tempo. Isso é a máxima da sociedade atual. Para uns, tudo pode ser reflexo de um modismo disfarçado, imposto pelo mundo da moda. Para outros, apenas um procura saudável de um grupo social preocupado em viver mais. Qualquer que seja a razão, a necessidade do homem em se manter vivo não é um incidente da modernidade. Sempre existiu essa luta contra o tempo, em retardá-lo, ou prolongá-lo. O que se deve ter cuidado é que esse fenômeno continue nessa linha de vida saudável e não acabe perpassando ao exagero, alienando-se, ou seja, sendo contaminado pelo veneno mortífero do mundo da moda. Enquanto todos os esforços forem para uma ampla e segura qualidade de vida, então a humanidade estará caminhando na direção certa.

07 agosto 2011

Numa sociedade marcada pela insegurança, pelo domínio e expansão do tráfico de drogas e, sobretudo pela histórica cultura de enriquecimento ilícito, bandidos e mocinhos se misturam no meio da multidão. Aliado a isso, cresce a impunidade respaldada, principalmente pela ambígua legislação brasileira. Esta, cheia de caminhos sinuosos, favorecendo apenas uma pequena parcela da sociedade. Nessa realidade, a população padece, carregando nas costas o peso da irresponsabilidade de um país que peca no quesito igualdade.

O Brasil atualmente vive numa estratificada dicotomia: de um lado está à pequena massa absurdamente rica e, do outro, a grande parcela da população que luta para permanecer existindo, porque viver com dignidade já é quase impossível. Acima de tudo isso, estão aqueles que deveriam equalizar as divisões de bens entre a população, ao ponto de cada pessoa ter o necessário para viver bem e conseguir manter certa qualidade de vida. Falo dos políticos, os governantes desse país, os “representantes” máximos do povo, aqueles que têm o poder, dado por nós, para defender nossas causas, mas que, por alguma ou várias razões, não o fazem.

Se o slogan disseminado pela mídia fala de um “país de todos”, logo, ele deveria abarcar igualitariamente todos os grupos sociais que ocupam esse país. Entretanto, como se sabe, na prática não é bem assim que acontece. Enquanto, por um lado, uma pequena minoria usufrui de todo um conjunto de conforto com moradia, saneamento, água encanada, educação de qualidade, segurança e bom atendimento de saúde, por outro, a grande massa da sociedade não tem acesso a metade de tudo isso. Nessa linha, nada tênue, onde estão os políticos para tentar desfazer essa divisão abissal existente na economia brasileira?

A resposta é simples. Muitos estão ocupados preparando projetos de lei desnecessários, ou pensando numa forma de aumentar os seus salários altamente imorais, se comparados com os recebidos pela grande parcela da população. Ou, estão desviando dinheiro público, para os seus já pomposos bolsos, enquanto a maioria dos cidadãos faz malabarismos com o mísero salário que recebem. Em outras palavras, os nossos escolhidos, aqueles que deveriam mudar a problemática social existente, fazem parte da fina fatia de sociedade que goza da boa qualidade de vida, esbanjando bens e ampliando as suas fortunas, enquanto o restante do povo vive apenas com a esperança de um dia conseguir ter uma vida de verdade.

Alguns poderiam dizer que esse quadro desalentador, vivido por muitas das famílias desse Brasil, é o reflexo de um povo que não sabe escolher bem os seus governantes. Outros diriam também que é o resultado cultural da corrupção impregnada na essência de um povo, como legado deixado pelos colonos que aqui chegaram. No entanto, penso que a causa de tudo isso está relacionada à ausência de informação, esta que anda lado a lado de outra chamada “conhecimento” e que faz parte de um todo denominado educação.

As pessoas só são manipuladas como são, pois elas, muitas vezes, são carentes de conceitos básicos que permitiriam o discernimento do próprio pensamento, o que resultaria numa posição crítica sobre o mundo do qual fazem parte. Sabendo disso, os detentores do poder usam essa lacuna contra essas próprias pessoas, perpetuando um discurso desonesto que acaba segregando classes, ampliando o desnivelamento social, aumentando, consequentemente os índices de violência, elementos esses responsáveis não só pela separação econômica do homem, mas também e, sobretudo, pela desunião da espécie humana.

É evidente que a desigualdade social não tem dia e nem hora para acabar. De fato, ela sempre existiu e, infelizmente sempre existirá. Ou seja, haverá sempre o grupo dos que mandam e dos que obedecem. Porém, o que deve terminar de uma vez por todas é a ideologia de estratificação que, intrinsecamente impede a ascensão de um grupo sobre o outro. Também temos que por fim a essa jogatina com o dinheiro público, tendo mais cautela na hora de entregar o nosso voto a determinados candidatos.

E não se esquecer de lutar, para que todas as crianças desse Brasil tenham direito a escolas de qualidade, que primem pelo ensino qualitativo e revolucionário e reivindicar que todas as famílias tenham acesso a um emprego digno, bom atendimento de saúde pública, uma casa com estrutura salutar para se viver e, principalmente uma ampla perspectiva de um futuro melhor para os atuais e futuros cidadãos desse país. Nada disso é utópico, inalcançável ou impossível. Pelo contrário. Tudo isso pode acontecer o quantos antes, para reverter o sofrimento causado pela atual e desonesta desigualdade social. O problema é que o povo está cansado de esperar e de ouvir promessas. O povo quer sair desse mar de mentiras e ver a sua vida transformada.


Debora Diniz - O Estado de S.Paulo

Minhas visitas à Índia são recheadas de descobertas culturais. Uma das que mais me fascina é a cena de homens de mãos dadas nas ruas. Ao contrário de nós, a expressão pública de afeto entre amigos é socialmente autorizada. Assim como meninas escolares no Brasil, os indianos de qualquer idade andam abraçados com seus colegas. A mesma intimidade entre homens, vi em vários países de tradição árabe. Aos homens, é permitido o toque como sinal de amizade. O curioso é que esse traço cultural não elimina a homofobia. Ao contrário, a homofobia é uma prática de ódio que convive com essas redescrições culturais sobre o corpo e o encontro entre os sexos. Entre nós, a novidade parece ser a de que nem mesmo o afeto entre pais e filhos será permitido pela patrulha homofóbica.

Um pai de 42 anos e um filho de 18 se abraçaram. De madrugada, cantavam juntos em uma festa ao ar livre no interior de São Paulo. Consigo imaginá-los felizes, razão para demonstrarem afeto mútuo. Foi o sinal para que dois homens desconhecidos perguntassem se eram gays. Insatisfeitos com a resposta negativa, saíram em busca de outros homens para iniciar a agressão. O pai teve parte da orelha decepada e o filho teve ferimentos leves. Pai e filho têm medo de represálias, pois os agressores estão pelo mundo, talvez orgulhosos da façanha ou, quem sabe, ainda sem entender por que não se pode agredir gays. Se tiverem algum senso de vergonha pelo ato, talvez seja o de ter confundido homens heterossexuais com gays.

A violência foi praticada com um ritual de confissão em dois atos: no primeiro, pai e filho deveriam declarar suas práticas sexuais para homens desconhecidos. Os homens homofóbicos são os inquisidores da heteronormatividade. Pai e filho negaram ser gays. Por alguma razão, a performance de gênero do pai e do filho não convenceu o grupo de homófobos. Eles buscaram reforço e retornaram com mais homens para silenciar aqueles que imaginavam ser representantes dos fora da lei heterossexual. No segundo ato, foram exigidas demonstrações de práticas homossexuais: pai e filho deveriam se beijar na boca para que os agressores vivenciassem a fantasia gay.

O primeiro ato do ritual homofóbico me leva a imaginar quais teriam sido as consequências de um "sim, somos gays" - uma autoafirmação entranhada em dois homens que não suportassem mais o tribunal homofóbico. Com essa resposta, talvez não estivéssemos diante de uma imagem de uma orelha parcialmente decepada, mas de dois cadáveres. Pai e filho foram vítimas da violência homofóbica. O curioso é que os dois não se apresentam como gays, mas como representantes da ordem heterossexual. Para os vigias homofóbicos, não importavam as práticas sexuais dos dois homens, mas a manutenção da ordem pública em que homens não devem se tocar. O interdito homossexual é tão poderoso que deveria impedir, inclusive, o contato físico entre pais e filhos.

Há outro ponto intrigante nessa história que é sobre como os homófobos se formam. Essa é uma inquietação a que qualquer aspirante a sociólogo responderia com uma tautologia: os fenômenos sociais não têm causa única. Mas aqui quero arriscar um caminho de compreensão. Os homófobos deste caso foram incapazes de diferenciar uma expressão de carinho paterno de uma prática erótica entre dois homens. Como hipótese, especularia que os agressores pouco receberam afeto de homens, seja de seus pais ou de outros homens de suas redes afetivas. Uma hipótese alternativa é a de que, se houve afeto paterno, esse foi mediado pelo temor homofóbico. Essa ausência levou os agressores a desconfiar do corpo de outros homens. Ao primeiro sinal de aproximação física, a defesa é a repulsa homofóbica.

Sei que essa explicação pode parecer reducionista para um fenômeno tão complexo e dependente da cultura patriarcal como é a homofobia. Mas é intrigante o erro do radar homofóbico dos agressores, o que sugere haver um equívoco de ponto de partida: eles parecem não ter sido capazes de identificar sinais corporais de algo tão fundamental quanto o amor paterno. Mesmo que não sejam ainda pais, não conseguiram se deslocar para o lugar de filhos que já foram ou ainda são. Aos guardiões da moral heterossexual, esse é um erro de diagnóstico que denuncia uma perturbação simbólica ainda mais fundamental.

Se minha hipótese for razoável, a mediação homofóbica na relação entre pais e filhos ou entre homens que se relacionam por vínculos de amizade ou convivência perpassa a socialização de gênero dos meninos. Os homens seriam treinados para evitar expressões de afeto e carinho por outros homens. Aqui volto à imagem da Índia para lembrar que o desejo de aproximação física entre homens não está inscrito nos corpos sexuados, mas é compartilhado pela cultura em que os homens vivem. Os homófobos se formam em casa, na rua, na escola. Em todos os espaços em que a fantasia homofóbica mediar a relação entre os corpos e afetos dos homens, a violência e a injúria contra os fora da lei heterossexual irão crescer.

DEBORA DINIZ É ANTROPÓLOGA, PROFESSORA DA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA E PESQUISADORA DA ANIS - INSTITUTO DE BIOÉTICA, DIREITOS HUMANOS E GÊNERO

Desde a pré-história, o homem vem buscando convenções e relações sociais que visam atingir o estado de bem estar social, tão caro aos enciclopedistas do século dezoito. No entanto, no Brasil, percebe-se que os alicerces da organização políticoeconômica não são efetivos, fato que é bem compreendido quando as questões são a educação de base e as políticas públicas voltadas à garantia das condições de trabalho e lazer; itens que ficam apenas previstos na carta de direitos universais, por exemplo. E o problema ganha dimensões outras se levadas em conta as consequências desse descaso, que se repete por décadas e governos.

Na esfera da educação brasileira, o notório problema do analfabetismo é galante. Em simples análise sobre este, não inédito, mas velho, infortúnio nacional; as palavras do poeta João Cabral de Melo Neto nos trazem a reflexão de que se mudam as lamparinas, mas o querosene é o mesmo. Nesse sentido, os cidadãos brasileiros sentem uma constante realidade: entram e saem políticos e a educação no Brasil continua em absoluto descaso. Apesar disso, as estatísticas que “medem” o nível de aprendizagem e aproveitamento escolar dos jovens brasileiros, à revelia do real quadro em que se vive, cresce a cada ano aos olhos da comunidade internacional.

Não só para literatos como João Cabral, o livro, palavra-chave para a realização da aprendizagem, parece manter consenso entre os educadores de todo o país. Isto porque, sem investimento do governo nesse sentido, não há chances reais de reverter as mazelas sociais que também acompanham o déficit da educação no Brasil. Além disso, agravantes como as falhas do serviço de saúde e da inoperante segurança públicas, paralelas ao desemprego, fecham o ciclo vicioso que remete a contextos de governos da segunda metade do século passado. É sabido que, por outro lado, os recentes investimentos como o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e o projeto federal “Mais Educação” significam tentativas de mudança por parte dos gestores , todavia o Brasil ainda está longe de ser um país modelo em termos de funcionamento politicoeconômico e cultural.

A garantia dos direitos universais como saúde, educação e segurança públicas não devem ser perdidas de vista por nação alguma. Portanto, o Brasil, enquanto país emergente, não pode perdê-las de foco, pois estas devem ser, primeiro, garantidas a todos com igualdade e, segundo, como válvulas de escape do lamentável histórico de negligências nesse sentido. Em linhas gerais, seja através da Literatura ou a partir de exemplos mundiais como o da China, o ensino de base é a chave de acesso à melhoria ampla e igualitária da vida dos brasileiros.


*Victor Ricardo é professor de Língua Portuguesa, Literatura e Redação


Maria Berenice Dias - O Estado de S.Paulo

Todas as pessoas têm iguais direitos. Qualquer um pode conduzir sua vida da forma que melhor lhe aprouver. Pode amar quem desejar, contanto que não cause prejuízo a ninguém. Essa é a essência do princípio da liberdade.

Não é outro princípio que rege o direito de cada um acreditar no que quiser, professar qualquer credo ou religião, tanto a que admite o casamento homoafetivo como a que recuse a prática homossexual. Essas garantias, que dispõem de assento constitucional, precisam conviver de forma harmônica e respeitosa, pois é indispensável assegurar o respeito à dignidade humana, base de um Estado que se quer democrático de direito.

No entanto, em nome da liberdade de crença, se está tentando justificar posturas discriminatórias contra a população de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais. Ou seja, ninguém pode desrespeitar ninguém. Pelo jeito, se está olvidando do direito à liberdade, que nada mais é do que direito de respeito à diferença.

Com certeza esse é o embate que vem impedindo a criminalização da homofobia. Sob a justificativa de preservar a liberdade religiosa, se está pretendendo chancelar o direito de discriminar, de incitar o preconceito e deixar impune manifestações de ódio. Será que o direito de professar uma fé vale mais do que o direito de amar? Crer é mais importante do que viver?


É ADVOGADA, MESTRE EM DIREITO CIVIL, ESPECIALIZADA EM DIREITO HOMOAFETIVO


Luar do Sertão

Maria Bethânia

Composição: João Pernambucano e Catulo da Paixão

Ai, que saudade do luar da minha terra
Lá na serra branquejando
Folhas secas pelo chão
Este luar cá da cidade tão escuro
Não tem aquela saudade
Do luar lá do sertão

Se a lua nasce por detrás da verde mata
Mais parece um sol de prata
Prateando a solidão
E a gente pega na viola que ponteia
E a canção e a lua cheia
A nos nascer no coração

Não há, oh gente, oh não
Luar como esse do sertão

Coisa mais bela nesse mundo não existe
Do que ouvir um galo triste
No sertão, se faz luar
Parece até que a alma da lua que descanta
Escondida na garganta
Desse galo a soluçar

Não há, oh gente, oh não
Luar como esse do sertão

Ai, quem me dera que se eu morresse lá na serra
Abraçada à minha terra
E dormindo de uma vez
Ser enterrado numa grota pequenina
Onde à tarde a surunina
Chora a sua viuvez

Azulão, azulão, companheiro
Vai, vai ver minha ingrata
Diz que sem ela o sertão não é mais sertão
Ah! voa azulão, vai contar companheiro vai
Azulão, azulão...




03 agosto 2011


Mesmo a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmando desde 1990 que a homossexualidade não é doença, alguns grupos no Brasil preferem ignorar a resolução e continuam promovendo a “cura” da homossexualidade.

Como exemplo, a organização cristã Exodus Brasil, que tem por objetivo prestar apoio aos líderes evangélicos que ainda não sabem como tratar os homossexuais que estão dentro das igrejas.
O trabalho da Exodus consiste em preparar a igreja para trabalhar com a questão da homossexualidade, oferecendo treinamento e orientação, com bases bíblicas, para a formação de ministérios que orientam pessoas que querem “deixar esse tipo de prática”. Além dos seminários, com mais ou menos três dias, a organização promove um congresso anual no Brasil. Neste ano, o evento será em Curitiba.

“É um trabalho mais complexo do que se imagina, e é lamentável que as igrejas tenham errado mais do que acertado nesse sentido, expondo de maneira grotesca a vida dessas pessoas”, observa o diretor do núcleo de São Paulo da Exodus Brasil, Denis Ferreira. “Nenhum discurso humano é capaz de converter um homossexual, alguém pode falar por horas, por mais bonito que seja, mas não vai resolver. Precisa acolhê-lo, para que Deus faça a obra de conversão em seu coração. O discurso de Jesus para o homossexual é o do amor. Se o amor de Deus não puder convencer o homem de seus erros, ninguém mais pode fazê-lo”, fala Denis.
Para a missionária Maria Domingos, a psicologia entende que a homossexualidade é uma orientação sexual tal como é a heterossexualidade e um dos maiores erros das igrejas é tratar a questão da homossexualidade apenas sob a ótica da espiritualidade. “Não é uma questão meramente espiritual. Se fosse assim oraríamos e tudo estaria resolvido. Também não se pode dizer que é apenas psicológica. Se assim fosse, bons psicólogos tratariam da questão sem dificuldades”.

Maria, que trabalha como conselheira cristã há 8 anos, disse perceber que a homossexualidade é um processo de construção, que tem as suas bases na infância e que o problema não é demoníaco. “As pessoas erram quando dizem que o problema é sem-vergonhice ou demoníaco. O demônio se submete ao nome de Jesus, mas o comportamento não. E, como já foi dito, homossexualidade é um comportamento aprendido durante toda a vida”, fala Maria.


“Por que é que, culturalmente, nós nos sentimos mais confortáveis vendo dois homens segurando armas do que dando as mãos?”
Ernest Gaines

Texto recebido por email:
Roni Rodrigues - Executivo Nacional - Combate a Homofobia