20 maio 2012



A capacidade de sentir emoções é algo inerentemente humano. Nossa espécie carrega essa dádiva sensorial, a qual se configura nas múltiplas representações dos nossos sentimentos, sejam eles bons ou ruins. De fato, esse diferencial fez com que a humanidade evoluísse e conseguisse se distinguir dos outros animais, já que possuímos o dom da racionalidade, do pensar, e com este mecanismo foi possível transformamos o mundo num local habitável. No entanto, parece que o homem esqueceu sua essência e não consegue mais olhar para sua própria espécie com igualdade. Atos de caridade, compaixão, fraternidade, hombridade, são escassos das nossas práticas sociais, uma vez que estamos muito ocupados pensando nos bens que queremos armazenar, ou nos sonhos, geralmente matérias, que desejamos concretizar.

Esse comportamento animalesco é notável em várias ocasiões, principalmente quando a realidade salta aos nossos olhos, cobrando uma posição, exigindo que algo seja feito com rapidez. Quando ouvimos os alertas dos cientistas dizendo que o planeta está morrendo, devido ao aquecimento global, logo ficamos apreensivos e muitas vezes até duvidamos se isso é realmente verdade. Entretanto, continuamos com a cultura do consumismo, a qual vem paulatinamente destruindo o ecossistema e talvez afetando o habitat das próximas gerações. Também manifestamos sentimentos repulsivos contra a fome, à miséria, causadas pelo leviatã da desigualdade social.  No entanto, quanto mais ricos ficamos, mais ampla fica a distância entre nós desses problemas, já que é mais fácil culpar os políticos por isso também.

Enquanto a nação se prepara para receber a copa do mundo e depois as olimpíadas, com grandes investimentos na construção de estádios, estradas, reestruturação dos meios de transporte, hotéis, ampliação e reforma de aeroportos, e tantas outras mudanças – todas inegavelmente positivas para o país. Nossas crianças, por outro lado, ainda passam fome, moram em habitações subumanas e não tem acesso a uma educação que prime pela qualidade do ensino. Além disso, muitas famílias não tem acesso à saúde de qualidade, nem tão pouco a saneamento básico, garantindo a higiene necessária a cada indivíduo. Ao invés disso, muitos possuem apenas as migalhas oferecidas pelo governo através de projetos sociais que não resolvem o problema da desigualdade, mas apenas servem de paliativos, que não conseguem cicatrizar as profundas feridas desses e de outros problemas.

Dignidade, franqueza, generosidade, honradez, humildade, simplicidade, respeito, estes, e muitos outros sentimentos, parecem ser raros, tão como algumas espécies de animais que fatalmente sucumbiram ao tempo ou foram aniquiladas pela cobiça, crueldade, egoísmo, ganância, irresponsabilidade, maledicência, prepotência, entre tantos outros predicados negativos que possam caber ao homem moderno. Ele que, lamentavelmente vive num intenso paradoxo: viver na modernidade, vislumbrando um futuro promissor, mas destruindo o presente com ações desumanas, que inevitavelmente afetarão o seu próprio futuro. Essa dualidade é fruto do modelo de vida que foi impelido pelo capitalismo, uma vida de aquisições matérias despreocupada com a formação interior, a qual é responsável por humanizar as nossas ações.

Em contrapartida, parece que mesmo no obscurantismo do nosso comportamento atual, ainda há pessoas que emanam uma luz de salvação e conseguem sobressair-se das trevas das quais nós mesmos criamos. Exemplos não faltam, pois ao longo da história, muitos foram os que se renderam a benevolência, no intuito de mudar a vida do próximo, muitas vezes sem querer nada em troca; Jesus Cristo é o principal deles. Entre Seus ensinamentos estão amar o próximo como a ti mesmo, coisas que muitos, como Ele, fizeram até o fim da vida com total esmero. Dedicação exercida, por exemplo, por figuras como Zilda Arns, que entregou a sua vida a ajudar pessoas desconhecidas, dando-as uma chance de terem uma existência mais digna e humana.

Também quem não se lembra do nosso saudoso médium Chico Xavier. Ele que causou polêmica no país com suas cartas psicografadas, das quais serviam de elo entre os mortos e os vivos e que ajudavam a confortar a dor de muitas pessoas que perderam seus entes queridos. O que poucos sabem é que, mais do que fazer contato com o além, Chico, junto com a filosofia Espírita, praticava a caridade, ajudando as pessoas não só espiritualmente, mas emocional e também materialmente. Doações eram feitas para os mais necessitados que, como ele mesmo dizia, eram pessoas que estavam em transição e precisavam de um apoio nessa vida. Outra figura religiosa que dedicou sua vida a ajudar o próximo foi Madre Tereza de Calcutá. Sua generosidade ajudou muitos necessitados e serviu de expoente para muitos outros religiosos se questionarem sobre seu real papel na terra, como difusores do amor divino; e não apenas meros reprodutores.

Essas e muitas outras personalidades, anônimas ou notáveis, religiosas ou não, fizeram algo em prol do próximo, deixando de lado um pouco da sua vida para enxergar a do outro. Tarefa essa que não é fácil de ser exercida, visto que vivemos sobre a pressão do consumo e muitas vezes esquecemos que a vida não é apenas angariar fortunas, mas também conquistar amigos, fazer bem ao próximo e ajudar os que realmente precisam, sem distinção e, principalmente preconceitos. Não precisamos de religião para ser solidários. Basta apenas ter determinação e boa vontade para mudar as coisas. Sair da nossa zona de defesa e partir para o ataque, não só contra os governantes, os que já possuem a sua parcela de culta, mas, sobretudo contra nós mesmo. Contra o nosso egoísmo cego e a nossa individualidade desumana. Só assim poderemos lentamente consertar as falhas criadas por nós mesmos.

Por Ana Maria dos Santos, psicóloga, pós-graduada em psicopedagogia.

Estamos vivendo um processo de acelerada transformação social impulsionada pelas evoluções dos últimos anos, em todos os âmbitos da nossa sociedade. Esta é tão radical que não raro temos a sensação de estarmos a deriva, pois aquilo que conhecíamos como “o nosso mundo” deixou de existir. 

Essa sensação, no entanto, não é desconhecida do ser humano, durante nosso processo de evolução a experimentamos muitas vezes, com resultados análogos. A humanidade atravessou um período de mudanças tão avassaladoras quanto aquelas que estamos presenciando em nossos dias, resultando na construção e elaboração de ser humano e na moral e ética social, pois somos uma somatória de experiência de vida individual, construídos pela sociedade e construtores desta, elaborados pela psique social e individual de cada um de nós.

A Revolução Industrial transformou a vida dos homens além do que se podia perceber. Ou, sendo ainda mais preciso, em seus estágios iniciais, destruiu o antigo modo de vida, deixado-os livres para descobrirem ou fazerem, para eles próprios, outros caminhos, se pudessem ou soubessem como. Mas dificilmente disse-lhes como começar.A esse período conturbado, caracterizado pelo excesso de liberdade bem como pela desorientação e falta de regras claras, se seguiu o relativamente estável período da Moderninade. Durante este, foram erigidos novos parâmetros para o funcionamento social e individual.

De modo esquemático, nesse período passou a imperar a crença no progresso linear, nas verdades absolutas e no planejamento racional de ordens sociais ideais sob condições padronizadas de conhecimento e produção. Do ponto de vista individual, a construção de uma identidade e de um projeto de vida em longo prazo, no seio de estruturas sociais estáveis, fez com que os sentimentos iniciais de desorientação, incerteza e medo em relação ao futuro dessem lugar a uma relativa sensação de segurança e bem-estar.Logo, no contexto da vida pós-moderna, os projetos de vida individuais não encontram nenhum terreno estável em que acomodem uma âncora. Pois, todo contexto social é gerenciado pelo inconsciente e vice-versa.

O ser humano não se desvincula do psique e do social, como Platão afirma: “Tal homem, tal estado”.A partir desta premissa, analisemos Sigmund Freud que, iniciou em 1929, uma coletânea de textos que marcam uma nova fase no seu pensamento, na qual ele se distancia dos seus estudos clínicos, centrados no indivíduo para pensar questões relativas à humanidade, à relação indivíduo e sociedade.

Esta nova fase tem início com a publicação de Além do Princípio de Prazer, em 1920, e com a introdução do conceito de Instinto de Morte. Este conceito vem rearticular o dualismo instintivo que Freud sempre tentou manter. Num primeiro momento, o dualismo se dava entre pulsões do ego ou de auto-preservação e pulsões sexuais. Surge então o Instinto de Morte em contraposição ao Instinto de Vida.Tendo como tese central a idéia de que a vida social pressupõe repressão.

Tanto o desenvolvimento do indivíduo quanto o desenvolvimento da civilização só são possíveis através do controle das pulsões humanas, pois estas são incompatíveis com a vida comunitária. Dessa forma, para Freud o ser humano está condenado à infelicidade na civilização, pois por felicidade ele entende a livre “fruição”, das energias instintivas.O indivíduo freudiano é dotado de dois instintos: instinto de vida e instinto de morte. O instinto de vida manifesta-se como libido, e é o instinto da vida, pois tem como função unir os indivíduos em unidade cada vez maiores. Neste sentido ele age a favor da civilização e da vida comunitária, mas se opõe a ela quando se faz necessária uma grande quantidade de energia instintiva, retirada da sexualidade, para o trabalho.

A evolução da civilização humana pode ser descrita como a luta do instinto de vida e instinto de morte, é a luta da espécie humana pela vida.É somente a partir do estabelecimento do sentimento de culpa que a civilização consegue inibir o desejo de agressão nos indivíduos. A resolução do conflito edipiano implica a introjeção da agressividade, das proibições e da ordem, que se voltam contra o ego do indivíduo, formando o superego. A partir do seu estabelecimento, qualquer desejo de satisfação instintiva é punido com a mesma intensidade que ele gostaria de satisfazer contra o mundo exterior, gerando um intenso “mal-estar” nos indivíduos, pois do superego nada se esconde.

A dinâmica entre instinto de vida e de morte tem sua expressão na estrutura pulsional do indivíduo e na base da civilização. O instinto de vida é o pai da civilização, sua função é unir os indivíduos em unidades cada vez maiores de vida, primeiro como famílias e raças, depois como povos e nações. Para que exista civilização é necessário que os homens estejam libidinalmente unidos. Instinto de vida é a pulsão de vida.

A partir destes conceitos percebe-se um dualismo que permeia todo o resto da obra sobre as civilizações, como entre a perpetuação da espécie e a reprodução humana, o ser humano é todo construído fisiologicamente para a perpetuação da espécie, logo, o amor está ligado ao sexo e até mesmo o desejo de perpetuação, este conceito não foge ao controle social e a moral ditada pela sociedade e civilização, sendo fortemente pressionada por ela.

Outro conceito que emerge desta discussão é entre o egoísmo e a necessidade social, são dualidades que se fazem necessárias para a proteção de ser humano, em sua essência, onde o egoísmo protege sua estrutura interna, preservando sua auto-estima, como também é influenciado, auxilia no cuidado com os bens materiais e na preservação da família. O social se faz necessário para preservação, controle e regras sociais para viver em grupo.

Assim que sentimos o fenômeno das crises sociais, visualizamos melhor um fenômeno que sempre ressurge em conjunto com ela, a necessidade do ser humano de buscar algo em que se possa crer, entregar e ser acolhido no momento de desespero, por outro lado o surgimento de igrejas e religiões.

No entanto, o ser humano é dotado de curiosidades que o projetam a evolução, procurando na ciência as respostas para as dúvidas do universo e da filosofia. Procurara respostas aos Por quês. Mas quando não se acha as respostas vem a referencia ao ser supremo, protetor, persecutório, figura paterna, que todos nele procuram auto-afirmação, aceitação e recompensa, assim, toda vez que tanto no âmbito social como no individual se estabelece crises, o indivíduo procura a religião, e assim a sociedade experimenta a proliferação de seitas religiosas.

A atitude do homem primitivo diante da morte não foi de forma alguma superada. Mais uma vez, deparamo-nos com a coexistência do atual e do antigo no inconsciente ou, em outras palavras, com a atemporalidade do inconsciente. Vejamos o exemplo paradigmático da guerra Santa, tão antiga e tão atual.Mas isso não significa a queda no pessimismo ou que nada possa ser feito. Freud denomina aquilo que pode ser feito a favor da paz: trabalho de cultura.

Freud denomina o trabalho de cultura como consistindo em favorecer a pulsão de vida, sob as duas modalidades em que esta se manifesta: os vínculos de amor, com ou sem metas sexuais, e os vínculos de comunidade ou de identificação entre os homens. E conclui seu texto afirmando que tudo o que promova o desenvolvimento da cultura trabalha também contra a guerra, e, portanto, a favor da paz.

Visto no blog: República - Textos


A IGUALDADE PLENA só é possível se imposta por regimes autoritários. Igualdade plena não rima com plena liberdade. A democracia não busca nem constrói a igualdade. Ela liberta o mérito como instrumento de ascensão social: o talento no lugar da herança. Não é um sistema de igualdade, mas de mérito. Mas a meritocracia não é necessariamente democrática, se for excludente e não oferecer oportunidades.

Só é democrática a sociedade que assegura a igualdade de oportunidades a todos os seus cidadãos, enriquecendo a sociedade ao incentivar o talento de cada indivíduo. O autoritarismo concentrador empobrece a sociedade, ao impedir o talento dos excluídos e não exigir talento dos protegidos. O autoritarismo igualitário impõe a igualdade independentemente do talento; ao desestimular o potencial de cada indivíduo, enfraquece o conjunto da sociedade.

O papel da democracia é garantir a igualdade de oportunidades e o respeito às diferenças que surgem do uso individualizado do talento e da persistência. O talento do atleta que se dedica por anos ao desenvolvimento de seu físico e sua técnica; do profissional liberal que persiste por anos em seus estudos e em sua profissão; dos artistas que insistem nos repetitivos ensaios de seus dons.

A universidade brasileira é um caso claro de meritocracia excludente, que seleciona as pessoas conforme sua renda. Seu aluno é escolhido pelo mérito que lhe assegura passar no vestibular, com talento e persistência nos estudos, mas também graças ao privilégio da distribuição desigual de oportunidades, que evita a concorrência com o talento de milhões de excluídos, sem direito a uma escola básica de qualidade.

Se todos os jovens brasileiros tivessem estudado em boas escolas, com as mesmas oportunidades, muitos dos que passaram no vestibular teriam sido desclassificados, perdendo a proteção de escolas especiais desde a infância. É como se houvesse dois caminhos definidos pela renda: um deles leva à universidade, outro não.

Aqueles que têm o privilégio de acessar o caminho da universidade, no final têm que saltar o muro do vestibular, e disputar com companheiros de estrada, usando o próprio talento. Mas os que são empurrados para o outro caminho ficam impedidos de desenvolver seus talentos e de disputar o vestibular, e vão cair na vala comum dos deseducados.

A democracia das oportunidades desiguais é injusta e estúpida. Injusta porque usa seus recursos para atender diferentemente aos seus membros; estúpida porque desperdiça o seu potencial, excluindo e desestimulando talentos. A riqueza intelectual da universidade fica prejudicada pela exclusão de talentos não desenvolvidos e pela acomodação diante da falta de concorrência entre todos.

Diferentemente da universidade, que faz parte da democracia das oportunidades desiguais, o futebol é uma atividade de oportunidades iguais. Desde cedo, toda e qualquer criança das cidades brasileiras, desde que alimentada, tem chances iguais de brincar com a bola em campos improvisados. É o mérito, talento e persistência que leva alguns ao topo.

O futebol é o setor das oportunidades iguais, por isso é eficiente (o Brasil tem tantos craques e nenhum Prêmio Nobel), e justo (o Brasil tem tantos craques de origem pobre e tão poucos pobres entre os cientistas). Não brincando com livros, computadores, sem escolas nem professores valorizados, formados e dedicados, a imensa maioria de nossas crianças fica sem oportunidades, sem possibilidade de desenvolver seu potencial.

Nossos Prêmios Nobel morreram sem saber ler, sem aprender matemática. E sem participar do democrático campeonato de talento e das oportunidades iguais. A democracia se diferencia da loteria porque esta só pode beneficiar a poucos, nunca a todos, e depende da sorte, não do mérito. A democracia é o regime das oportunidades iguais. E a escola é o ninho onde se constrói a democracia, oferecendo oportunidades iguais a todos.

CRISTOVAM BUARQUE, 66, doutor em economia, é senador pelo PDT-DF. Foi reitor da Universidade de Brasília (1985-1989), governador do Distrito Federal pelo PT (1995-98) e ministro da Educação (2003-04). É autor, entre outras obras, de "A Segunda Abolição" (editora Paz e Terra).

03 maio 2012



A educação, no Brasil, infelizmente nunca foi vista como prioridade por aqueles que regem o leme da política nacional. Isto porque, nossos governantes, muitas vezes, navegam por águas turbulentas, onde a bussola que os orientam está direcionada para os caminhos da corrupção, do enriquecimento ilícito e, sobretudo do descaso com os problemas vividos pelo povo. Este último é perceptível com a vergonhosa condição educacional que o país ocupa se comparado a outros países de porte semelhante ao nosso. Não se trata de estatísticas infladas que tentam camuflar a real condição dos estudantes brasileiros, mas de uma análise aprofundada do caótico sistema mecanizado que não prepara, nem tão pouco forma seres pensantes, mas sim porcentagens falseadas das melhorias do ensino no país. Diante disso, o governo tenta a todo custo criar mecanismos que possam “atenuar” as gigantescas lacunas, formadas por eles, nesse setor tão importante para a construção, desenvolvimento e, sobretudo evolução intelectual da sociedade. Prova disso é a controvérsia legalização das cotas nas universidades públicas, tema que, para muitos, divide opiniões e retoma tabus ancestrais sobre o papel das políticas públicas em torno da educação e da desconstrução da discriminação no país.

Há poucos dias, o Supremo Tribunal Federal-STF legalizou o sistema de cotas raciais dentro das universidades públicas brasileiras. A proposta viabilizava a inclusão de estudantes negros que, por diversas razões, não ocupavam estes espaços. Depois de muita discussão, opiniões contrárias e protestos – em especial de um índio que se posicionou furiosamente contra a postura dos ministros e teve sua opinião repercutida em rede nacional, através da mídia – o STF, na figura dos ministros, finalmente aprovou o projeto que garante a inclusão de afrodescendentes em tais instituições de ensino. Na verdade, um dos argumentos utilizados por eles tem como base a dívida antagônica que a nação tem com os negros desde o período, em que eles foram forçosamente trazidos de sua terra natal para serem escravizadas em terras além mar. Os ministros entenderam que já era o momento do país reparar as falhas históricas cometidas contra esse grupo, as quais têm se perpetuado durante gerações, dificultando a ascensão intelectual e, consequentemente econômica desses indivíduos. No entanto, este argumento não foi suficiente para que a sociedade aprovasse a legalização dos negros nesses espaços, pois muitos acreditam que tal medida só ampliou as oceânicas discriminações contra esse grupo.

De um lado estão aqueles que são favoráveis às cotas baseados, não só na histórica exclusão vivida pelos negros, mas também por todo contexto social que este grupo participa hoje no cenário nacional. Mesmo que para alguns essa abertura legal seja uma estratégia de racismo controverso, não serve de pressuposto para reducionalizar a questão. Na realidade, não se trata de considerar os negros inferiores ou superiores aos brancos, mas sim uma singular tentativa de reparar um dano histórico e social que ainda se faz presente em nossa cultura e é constantemente nutrido pela mídia e por diversos outros setores da sociedade. Outra posição a favor contraria a ideia paliativa que se tem sobre as cotas. Por mais que ela seja irrefutável para ambos os lados, a parte que é a favor delas afirma que já é um grande passo na inclusão dos afrodescendentes na construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Tais perspectivas vão de encontro ao posicionamento de que, se há negros pobres, também há brancos e pardos em situações semelhantes. Porém, socialmente está comprovado que esta comparação é infundada, pois pesquisas a todo o momento, sobretudo aquelas relacionadas ao censo, ratificam que as pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza moram em projetis habitacionais em condições desumanas; sem contato algum com saneamento básico, água tratada e alimentação sadia, e que na maioria das vezes são negros.

É impossível não reconhecer as marcas deixadas pela escravidão na sociedade atual. Mesmo com tantas campanhas de inclusão, frases de efeito contra qualquer forma de discriminação e até mesmo leis que punem severamente quem, por alguma razão, tente inferiorizar o outro por causa da sua cor de pele, nada parece exterminar o preconceito que vigora no comportamento humano. Pelo contrário, mesmo que a escravidão nos moldes antigos tenha sido extinta, hoje vivenciamos outro modelo escravista, mascarado com discursos hipócritas que tentam passar uma duvidosa intenção de que a igualdade existe e de que o preconceito racial é algo do passado, quando na verdade, dentro de muitos ainda germina a semente da intolerância, similar àquela que Hitler semeou nas mentes de toda uma nação, para justificar suas teorias alucinógenas. Assim, se as cotas raciais não são a solução para alguns, para outros – em especial para os negros e todos aqueles que se identificam com a trajetória desse grupo, elas são a porta de entrada para um país mais justo, onde as minorias que são desfavorecidas de determinados direitos, alguns até legais, poderão ter a chance de conquistar seu espaço e quem sabe no futuro mudar a realidade preconceituosa que paira sobre o Brasil.

No entanto, há aqueles que se colocam contrários às cotas raciais, sustentados em vários argumentos para embasar as suas teorias, as quais tentam justificar que a criação dessa divisão entre brancos e negros nada mais é do que um Neo-Apartheid, ou seja, uma criação moderna de segregação baseada na cor, dando privilégios a um grupo em detrimento do outro. Nessa linha de pensamento, eles também repudiam a ideia de que só existem negros pobres e que por essa razão eles não conseguem competir de forma igualitária com indivíduos brancos, merecendo então em auxílio para galgar um espaço na carreira acadêmica. Porém, os opositores alertam que da mesma forma que há negros pobres, há também brancos, índios, pardos e judeus na mesma situação. As pessoas que se posicionam contrárias às cotas contra argumentam também a tese dos ministros do STF, a qual diz que o Brasil está tentando quitar uma dívida histórica com os negros. Ora, dívida semelhante a dos negros, ou até maior, tem a sociedade mundial com os Judeus que, desde a época do Império Romano, são perseguidos, sofreram com o holocausto na 2° Guerra Mundial e ainda hoje são alvo de grupos neonazistas.

Sem desviar o foco, os que discordam da criação das cotas dizem que tal abertura só enrijece a barreira da qual os negros lutaram, e ainda lutam para destruir, a da discriminação. Ao ofertar privilégios à negritude, simplesmente baseado na cor de pele deles, muitos acreditam que isso acaba ampliando o preconceito racial tão estereotipado pela sociedade. Em outras palavras, é como se todo o esforço para igualar as “raças” tivesse sido em vão. Cotizar o ser humano, numa sociedade rica em preconceitos e cerceada pela ignorância é uma postura paradoxal que resulta no favorecimento de determinados grupos e na não inclusão de outros, o que poderia corroborar em mais atos discriminatórios e na latente difusão de preconceitos. Além disso, dar privilégios há alguns, baseados em argumentos piedosos, não salvará o país dos baixos índices educacionais. Na verdade, é só mais uma receita paliativa do governo que tenta a todo custo cicatrizar a vulcânica ferida da qualidade da educação brasileira. Dessa forma, as cotas se configuram como a real confissão de que o país não consegue encontrar maneiras plausíveis para solucionar as mazelas do ensino público, preferindo ancorar-se em medidas superficiais para tratar de um problema de raízes bem mais profundas.

Enquanto, nesse incansável dilema, o embate entre os que são contra e os que são a favor não admite um possível vencedor, nos esquecemos de focalizar no ponto chave de toda essa discussão. Este que não se limita apenas a cor de pele, nem a inferiorizar quem foi favorecido ou não pelo sistema de cotas, mas sim no evidente desinteresse governamental em criar medidas concretas para viabilizar um ensino público – da base até as universidades – comprometido com a qualificação intelectual dos alunos, formando indivíduos capazes de transformar a própria realidade e, ao mesmo tempo, capazes de elaborar estratégias decisivas para melhorar a vida dos seus condescendentes. Portanto, os negros não são culpados e nem podem ser tratados como mendigos que dependem de uma esmola para sobreviver e conseguir seu lugar ao sol. Nem tão pouco os brancos, os índios, os pardos, ou qualquer outra manifestação étnica do Brasil pode ser tratada de forma semelhante, só por discordar da postura do país em dividir a sociedade em grupos baseados na cor da pele; mesmo depois de um longo processo de tentativas de excluir de vez qualquer forma de discriminação. Na verdade, todos devem ser reunir para cobrar uma posição mais enérgica dos nossos representantes legais, no que tange a educação, pois só com um modelo educacional voltado para a construção do conhecimento é que certos "favoritismos" deixarão de ser necessários.


Palavras do ator Wagner Moura sobre o Pânico na TV, em carta aberta, divulgada no globo.com:

“Quando estava saindo da cerimônia de entrega do prêmio APCA, há duas semanas em São Paulo, fui abordado por um rapaz meio abobalhado. Ele disse que me amava, chegou a me dar um beijo no rosto e pediu uma entrevista para seu programa de TV no interior. Mesmo estando com o táxi de porta aberta me esperando, achei que seria rude sair andando e negar a entrevista, que de alguma forma poderia ajudar o cara, sei lá, eu sou da época da gentileza, do muito obrigado e do por favor, acredito no ser humano e ainda sou canceriano e baiano, ou seja, um babaca total. Ele me perguntou uma ou duas bobagens, e eu respondi, quando, de repente, apareceu outro apresentador do programa com a mão melecada de gel, passou na minha cabeça e ficou olhando para a câmera rindo. 

Foi tão surreal que no começo eu não acreditei, depois fui percebendo que estava fazendo parte de um programa de TV, desses que sacaneiam as pessoas. Na hora eu pensei, como qualquer homem que sofre uma agressão, em enfiar a porrada no garoto, mas imediatamente entendi que era isso mesmo que ele queria, e aí bateu uma profunda tristeza com a condição humana, e tudo que consegui foi suspirar algo tipo “que coisa horrível” (o horror, o horror), virar as costas e entrar no carro. Mesmo assim fui perseguido por eles. Não satisfeito, o rapaz abriu a porta do táxi depois que eu entrei, eu tentei fechar de novo, e ele colocou a perna, uma coisa horrorosa, violenta mesmo. Tive vontade de dizer: cara, cê tá louco, me respeita, eu sou um pai de família! Mas fiquei quieto, tipo assalto, em que reagir é pior.

” O que vai na cabeça de um sujeito que tem como profissão jogar meleca nos outros? É a espetacularização da babaquice ”

O táxi foi embora. No caminho, eu pensava no fundo do poço em que chegamos. Meu Deus, será que alguém realmente acha que jogar meleca nos outros é engraçado? Qual será o próximo passo? Tacar cocô nas pessoas? Atingir os incautos com pedaços de pau para o deleite sorridente do telespectador? Compartilho minha indignação porque sei que ela diz respeito a muitos; pessoas públicas ou anônimas, que não compactuam com esse circo de horrores que faz, por exemplo, com que uma emissora de TV passe o dia INTEIRO mostrando imagens da menina Isabella. Estamos nos bestializando, nos idiotizando. O que vai na cabeça de um sujeito que tem como profissão jogar meleca nos outros? É a espetacularização da babaquice. Amigos, a mediocridade é amiga da barbárie! E a coisa tá feia.

” Isso naturalmente não o impediu de colocar a cagada no ar. Afinal de contas, vai dar mais audiência ”

Digo isso com a consciência de quem nunca jogou o jogo bobo da celebridade. Não sou celebridade de nada, sou ator. Entendo que apareço na TV das pessoas e gosto quando alguém vem dizer que curte meu trabalho, assim como deve gostar o jornalista, o médico ou o carpinteiro que ouve um elogio. Gosto de ser conhecido pelo que faço, mas não suporto falta de educação. O preço da fama? Não engulo essa. Tive pai e mãe. Tinham pais esses paparazzi que mataram a princesa Diana? É jornalismo isso? Aliás, dá para ter respeito por um sujeito que fica escondido atrás de uma árvore para fotografar uma criança no parquinho? Dois deles perseguiram uma amiga atriz, grávida de oito meses, por dois quarteirões. Ela passou mal, e os caras continuaram fotografando. Perseguir uma grávida? Ah, mas tá reclamando de quê? Não é famoso? Então agüenta! 

O que que é isso, gente? Du Moscovis e Lázaro (Ramos) também já escreveram sobre o assunto, e eu acho que tem, sim, que haver alguma reação por parte dos que não estão a fim de alimentar essa palhaçada. Existe, sim, gente inteligente que não dá a mínima para as fofocas das revistas e as baixarias dos programas de TV. Existe, sim, gente que tem outros valores, como meus amigos do MHuD (Movimento Humanos Direitos), que estão preocupados é em combater o trabalho escravo, a prostituição infantil, a violência agrária, os grandes latifúndios, o aquecimento global e a corrupção. Fazer algo de útil com essa vida efêmera, sem nunca abrir mão do bom humor. Há, sim, gente que pensa diferente. E exigimos, no mínimo, não sermos melecados.

No dia seguinte, o rapaz do programa mandou um e-mail para o escritório que me agencia se desculpando por, segundo suas palavras, a “cagada” que havia feito. Isso naturalmente não o impediu de colocar a cagada no ar. Afinal de contas, vai dar mais audiência. E contra a audiência não há argumentos. Será?"





Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para prover nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade nossos mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo fazendo sua língua. Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que vingará plenamente um dia.

Sem que isso signifique a "vulgarização" do idioma, mas apenas sua maior aproximação com a gente simples das ruas e dos escritórios, seus sentimentos, suas emoções, seu jeito, sua índole.

"Pra caralho", por exemplo. Qual expressão traduz melhor a idéia de muita quantidade do que "Pra caralho"? "Pra caralho" tende ao infinito, é quase uma expressão matemática. A Via-Láctea tem estrelas pra caralho, o Sol é quente pra caralho, o universo é antigo pra caralho, eu gosto de cerveja pra caralho, entende?

No gênero do "Pra caralho", mas, no caso, expressando a mais absoluta negação, está o famoso "Nem fodendo!". O "Não, não e não!" e tampouco o nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade "Não, absolutamente não!" o substituem. O "Nem fodendo" é irretorquível, e liquida o assunto. Te libera, com a consciência tranqüila, para outras atividades de maior interesse em sua vida. Aquele filho pentelho de 17 anos te atormenta pedindo o carro pra ir surfar no litoral? Não perca tempo nem paciência. Solte logo um definitivo "Marquinhos, presta atenção, filho querido, NEM FODENDO!". O impertinente se manca na hora e vai pro Shopping se encontrar com a turma numa boa e você fecha os olhos e volta a curtir o CD do Lupicínio.

Por sua vez, o "porra nenhuma!" atendeu tão plenamente às situações onde nosso ego exigia não só a definição de uma negação, mas também o justo escárnio contra descarados blefes, que hoje é totalmente impossível imaginar que possamos viver sem ele em nosso cotidiano profissional. Como comentar a bravata daquele chefe idiota senão com um "é PhD porra nenhuma!", ou "ele redigiu aquele relatório sozinho porra nenhuma!". O "porra nenhuma", como vocês podem ver, nos provê sensações de incrível bem estar interior. É como se estivéssemos fazendo a tardia e justa denúncia pública de um canalha. São dessa mesma gênese os clássicos "aspone", "chepone", "repone" e, mais recentemente, o "prepone" - presidente de porra nenhuma.

Há outros palavrões igualmente clássicos. Pense na sonoridade de "Puta-que-pariu!", ou seu correlato "Puta-que-o-pariu!", falados assim, cadenciadamente, sílaba por sílaba...Diante de uma notícia irritante qualquer um "puta-que-o-pariu!" dito assim te coloca outra vez em seu eixo. Seus neurônios têm o devido tempo e clima para se reorganizar e sacar a atitude que lhe permitirá dar um merecido troco ou o safar de maiores dores de cabeça.

E o que dizer de nosso famoso "vai tomar no cu!"? E sua maravilhosa e reforçadora derivação "vai tomar no olho do seu cu!". Você já imaginou o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta: "Chega! Vai tomar no olho do seu cu!". Pronto,você retomou as rédeas de sua vida, sua auto-estima. Desabotoa a camisa e sai à rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo nos lábios.

E seria tremendamente injusto não registrar aqui a expressão de maior poder de definição do Português Vulgar: "Fodeu!". E sua derivação mais avassaladora ainda: "Fodeu de vez!". Você conhece definição mais exata, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação? Expressão, inclusive, que uma vez proferida insere seu autor em todo um providencial contexto interior de alerta e autodefesa. Algo assim como quando você está dirigindo bêbado, sem documentos do carro e sem carteira de habilitação e ouve uma sirene de polícia atrás de você mandando você parar: O que você fala? "Fodeu de vez!".

Sem contar que o nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de "foda-se!" que ela fala. Existe algo mais libertário do que o conceito do "Foda-se!"? O "Foda-se!" aumenta a minha auto-estima, me torna uma pessoa melhor. Reorganiza as coisas. Me liberta. "Não quer sair comigo? Então foda-se!". "Vai querer decidir essa merda sozinho(a) mesmo? Então foda-se!". O direito ao "foda-se!" deveria estar assegurado na Constituição Federal. Liberdade, igualdade, fraternidade e foda-se.



01. A voz passiva deve ser evitada.
02. Anule aliterações altamente abusivas.
03. Analogias na escrita são tão úteis quanto chifres numa galinha.
04. Conforme recomenda a A.G.O.P., nunca use siglas desconhecidas.
05. Cuidado com a ortografia, para não estuprar a língua portuguesa.
06. Deve evitar ao máximo a utilização de abreviações etc.
07. É desnecessário fazer-se empregar de um estilo de escrita demasiadamente rebuscado. Tal prática advém de esmero excessivo que raia o exibicionismo narcisístico.
08. Evite lugares-comuns como o diabo foge da cruz.
09. Evite repetir a mesma palavra, pois essa palavra vai ficar uma palavra repetitiva. A repetição da palavra vai fazer com que a palavra repetida desqualifique o texto onde a palavra se encontra repetida.
10. Evite frases exageradamente longas, pois estas dificultam a compreensão da ideia nelas contida e, por conterem mais que uma ideia central, o que nem sempre torna o seu conteúdo acessível, forçam, desta forma, o pobre leitor a separá-la nos seus diversos componentes de forma a torná-las compreensíveis, o que não deveria ser, afinal de contas, parte do processo da leitura, hábito que devemos estimular através do uso de frases mais curtas.
11. Estrangeirismos estão out; palavras de origem portuguesa estão in.
12. Evite o emprego de gíria, mesmo que pareça nice, sacou??…Então valeu!
13. Evite mesóclises. Repita comigo: “mesóclises: evitá-las-ei!”.
14. Exagerar é cem milhões de vezes pior do que a moderação.
15. Frases incompletas podem causar
16. Frases com apenas uma palavra? Jamais!
17. Não abuse das citações. Como costuma dizer um amigo meu: “Quem cita os outros não tem ideias próprias”.
18. Não abuse das exclamações! Nunca!!! O seu texto fica horrível!!!!!
19. Nunca generalize: generalizar é um erro em todas as situações.
20. não esqueça as maiúsculas no inicio das frases.
21. Não seja redundante, não é preciso dizer a mesma coisa de formas diferentes; isto é, basta mencionar cada argumento uma só vez, ou por outras palavras, não repita a mesma ideia várias vezes.
22. Não fique escrevendo (nem falando) no gerúndio. Você vai estar deixando seu texto pobre e estar causando ambiguidade, com certeza você vai estar deixando o conteúdo esquisito, vai estar ficando com a sensação de que as coisas ainda estão acontecendo. E como você vai estar lendo este texto, tenho certeza que você vai estar prestando atenção e vai estar repassando aos seus amigos, que vão estar entendendo e vão estar pensando em não estar falando desta maneira irritante.
23. O uso de parêntesis (mesmo quando for relevante) é desnecessário.
24. Outra barbaridade que tu deves evitar tchê, é usar muitas expressões que acabem por denunciar a região onde tu moras! ..Nada de mandar esse trem…vixi..entendeu bichinho?
25. Palavras de baixo calão, porra, podem transformar o seu texto numa merda.
26. Quem precisa de perguntas retóricas?
27. Seja mais ou menos específico.
28. Seja incisivo e coerente, ou não.
29. Utilize a pontuação corretamente o ponto e a vírgula pois a frase poderá ficar sem sentido especialmente será que ninguém mais sabe utilizar o ponto de interrogação
30. Não permita que seu texto acabe por rimar, porque senão ninguém irá aguentar já que é insuportável o mesmo final escutar, o tempo todo sem parar.



O medo contemporâneo

O medo de não dar certo na vida tem cercado muitos jovens. Eu conversava com uma pessoa recentemente e ela me dizia que já não tinha forças para conquistar seus sonhos e que se contentaria com a vida medíocre que ela poderia ter.

As pessoas costumam lamentar o próprio fracasso. Do que adianta sonhar e continuar dormindo? Sonhos, como eu disse em um artigo anterior a este, são projetos de vida, se não o uni-los com disciplina do que nos servirá? Estaremos dispostos a tal vida medíocre?
''Não podemos querer viver uma vida ensaiada, a vida não é uma pose para fotografia. A vida é uma viagem no qual a bagagem deve ser proporcional à necessidade do viajante''. 
O mundo não está acostumado a aceitar suas derrotas e fazer delas uma escada para o sucesso. Porque para eles parece mais fácil vencer o medo de não dar certo apontando para o erro dos outros do que vasculhando internamente a própria essência. Vivemos competindo com os acertos dos outros, tentando superá-los, e com as falhas dos outros tentando mostrar que não falhamos tanto. Sempre o outro o prato principal. E eu? Onde eu fico? - Não se trata de egocentrismo, mas de identidade. Fracassar faz parte da trajetória.
Descubra quem você é, escolha o que você quer, sonhe, mas compreenda as suas próprias escolhas. Uma pessoa inteligente não se prepara para o sucesso, mas se prepara para o fracasso. Há uma frase muito conhecida que diz: ''os desafios são inevitáveis, porém as derrotas são opcionais''.  Shakespeare acertou ao dizer que o ser humano é ''essência de vidro''. Quebramos com facilidade, o que eu quero dizer é que ninguém caminha sozinho. Nos tropeços da vida, você vai precisar de alguém para lhe amparar. 

A gente tem um exemplo perfeito dessa necessidade do outro, na trilogia O Senhor dos Anéis, no Retorno do Rei, quando o frodo já cansado desmaia e o Sam, amigo de Frodo que o acompanhou durante toda essa jornada, olhou para o amigo e disse: ''eu não posso carregar o anel, mas posso carregar você''. Colocou o amigo desfalecido nos ombros e o levou até o local onde ele cumpriria sua missão. Foi uma das cenas mais lindas do filme.

Sua essência de vidro pode está ameaçada, sei que o vou dizer pode parecer impossível, mas não tenha medo do fracasso. Estude, entre numa universidade, e corra atrás da sua realização profissional, mas não caminhe sozinho. Você precisará de um ''Sam'' na sua vida. Esgote ao máximo suas possibilidades de realização. E depois você vai poder dizer igual Adélia Prado: ''Eu não tenho tempo algum, porque ser feliz me consome!''

Não seja mais um; seja alguém!


Kellen Reis

A grande festa do futebol vai ser na nossa casa...
O futebol muda as pessoas...
O futebol muda o país...
Vamos jogar bola que vai dar certo."

Ãhn?!! Jogar bola?

Itaú, lembra que em meados de 70 o governo Médici tornava-se o mais bárbaro período da ditadura? E que nesse mesmo ano, o Brasil jogou muita bola? Como nunca? Tanta que virou tricampeão mundial?
Mas não adiantou. Jogar bola não deu certo, Itaú. Não sei se você lembra.
Felizmente tinha gente fazendo outras coisas. Apesar das torturas e mortes, muita gente foi às ruas, foi fazer política. Fazer política deu certo!

Itaú, acho que meio que entendi (mais ou menos) o que você e a agência Africa estão querendo dizer.
"Chega de pessimismo, vamos em frente"..é isso? Tipo metáfora, né?

A propaganda é muito bonita...música envolvente, locução serena mas firme, pausada, fotografia impecável, boa redação publicitária (as velhas e boas frases curtas e de impacto, algumas no imperativo).
Mas "Vamos jogar bola que vai dar certo" acho que forçou um pouco, sabe?
Ainda mais agora, com tantas suspeitas de corrupção..Mensalão sem culpados, Carlos Cachoeira, Construtora Delta e as obras nos estádios da Copa... "jogar bola que vai dar certo" não me parece muito apropriado.

Apesar de ter minhas dúvidas sobre a Copa no Brasil, torço para dar certo sim, com certeza! Mas mantendo o pé no chão, na vida real. Um olho na Copa, outro na rapadura.

Então Itaú, sei que você está "convocando a todos os que amam este país para jogar bola". Mas apesar de amar meu país, vou recusar sua convocação. Primeiro, você não tem o direito de me convocar para nada, concorda?
Segundo porque acho que tem outras coisas que dão muito mais certo que "jogar bola".

Nem vou falar "vamos abaixar os juros que vai dar certo", porque respeito a regra, você está no seu direito de buscar o lucro. É do capitalismo, paciência.
Então tenho outras sugestões.

Sei que "jogar bola" é mais legal, mas vamos votar direito que vai dar certo, Itaú!
Nem precisa de aspas! Não é metáfora não! Vamos votar direito que vai dar certo!

Vamos ler jornal que vai dar certo!
Vamos ser honestos que vai dar certo!
Vamos estudar que vai dar certo!
A educação muda as pessoas!
A educação muda o país!

Esta é uma devolução de convocação minha a você, Itaú, e uma sugestão a todos os que amam este país. Vamos estudar. Brasil, vamos estudar que vai dar certo!

PS aos amigos: Este ano tem eleição. Apesar do tema parecer cada vez mais chato continuo pesquisando e discutindo política...meu foco é educação! Pois estudar dá certo mesmo, tenho certeza! Quais candidatos tem compromisso ou já fizeram algo pela educação? O Haddad foi um bom ministro da educação? O Serra foi bem na gestão estadual e municipal? E a Soninha? Muita coisa para ver..vou deixar a bola de lado para pesquisar.


Carta de Amor

Maria Bethânia

Não mexe comigo que eu não ando só
Eu não ando só, que eu não ando só
Não mexe não
Eu tenho zumbi, besouro o chefe dos cupis
Sou tupinambá, tenho erês, caboclo boiadeiro
Mãos de cura, morubichabas, cocares, arco-íris
Zarabatanas, curarês, flechas e altares.
A velocidade da luz no escuro da mata escura
O breu o silêncio a espera. eu tenho jesus,
Maria e josé, todos os pajés em minha companhia
O menino deus brinca e dorme nos meus sonhos
O poeta me contou
Não mexe comigo que eu não ando só
Eu não ando só, que eu não ando só
Não mexe não
Não misturo, não me dobro a rainha do mar
Anda de mãos dadas comigo, me ensina o baile
Das ondas e canta, canta, canta pra mim, é do
Ouro de oxum que é feita a armadura guarda o
Meu corpo, garante meu sangue, minha garganta
O veneno do mal não acha passagem e em meu
Coração maria ascende sua luz, e me aponta o
Caminho.
Me sumo no vento, cavalgo no raio de iansã,
Giro o mundo, viro, reviro tô no reconcavo
Tô em face, vôo entre as estrelas, brinco de
Ser uma traço o cruzeiro do sul, com a tocha
Da fogueira de joão menino, rezo com as três
Marias, vou além me recolho no esplendor das
Nebulosas descanso nos vales, montanhas, durmo
Na forja de algum, mergulho no calor da lava
Dos vulcões, corpo vivo de xangô
Não ando no breu nem ando na treva
Não ando no breu nem ando na treva
É por onde eu vou o santo me leva
É por onde eu vou o santo me leva
Medo não me alcança, no deserto me acho, faço
Cobra morder o rabo, escorpião vira pirilampo
Meus pés recebem bálsamos, unguento suave das
Mãos de maria, irmã de marta e lázaro, no
Oásis de bethânia.
Pensou que eu ando só, atente ao tempo num
Comece nem termine, é nunca é sempre, é tempo
De reparar na balança de nobre cobre que o rei
Equilibra, fulmina o injusto, deixa nua a justiça
Eu não provo do teu féu, eu não piso no teu chão
E pra onde você for não leva o meu nome não
E pra onde você for não leva o meu nome não
Onde vai valente? você secô seus olhos insones
Secaram, não vêêm brotar a relva que cresce livre
E verde, longe da tua cegueira. seus ouvidos se
Fecharam à qualquer música, qualquer som, nem o
Bem nem o mal, pensam em ti, ninguém te escolhe
Você pisa na terra mas não sente apenas pisa,
Apenas vaga sobre o planeta, já nem ouve as
Teclas do teu piano, você está tão mirrado que
Nem o diabo te ambiciona, não tem alma você é
O oco, do oco, do oco, do sem fim do mundo.
O que é teu já tá guardado
Não sou eu que vou lhe dar,
Não sou eu que vou lhe dar,
Não sou eu que vou lhe dar
Eu posso engolir você só pra cuspir depois,
Minha forma é matéria que você não alcança
Desde o leite do peito de minha mãe, até o sem
Fim dos versos, versos, versos, que brota do
Poeta em toda poesia sob a luz da lua que deita
Na palma da inspiração de caymmi, se choro quando
Choro e minha lágrima cai é pra regar o capim que
Alimenta a visa, chorando eu refaço as nascentes
Que você secou.
Se desejo o meu desejo faz subir marés de sal e
Sortilégio, vivo de cara pra o vento na chuva e
Quero me molhar. o terço de fátima e o cordão de
Gandhi, cruzam o meu peito.
Sou como a haste fina que qualquer brisa verga
Mas, nenhuma espada corta
Não mexe comigo que eu não ando só
Eu não ando só, que eu não ando só
Não mexe comigo

Por Maurício dos Santos*


Enquanto de um lado a comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) aparece com mais naturalidade em vários âmbitos da sociedade, a homofobia dispara como uma das causas de muitos crimes em todo o planeta. Em lugares onde essa violência específica não é punida oficialmente em lei, a homofobia cresce solta. É o caso do Brasil, um país de controversas. Mas a confusão de emoções gerada por essa temática nos faz pensar no porquê de tanto medo, prazer e ódio. 

A homofobia diz respeito a um transtorno que faz o agressor perseguir e maltratar homossexuais. Existem também a lesbofobia e a transfobia, aversão a lésbicas e a transexuais, respectivamente. O agressor tem aversão a essas pessoas. Um ato de violência física na escola pode ser a extensão de uma piada tolerada em casa, ainda na infância, por exemplo. O que precisamos enxergar é que preconceito é sinônimo de violência, baseado na falta de conhecimento e compreensão. 

Todos os envolvidos passam por momentos de tortura, sentem medo e desespero. Mas por que é tão difícil para o homofóbico conviver com os outros? O fenômeno afetivo que rebaixa certos sujeitos é utilizado como arma para classificar pessoas, e, consequentemente, diminuí-las. É um mecanismo de defesa usado para tentar mascarar quaisquer tipos de fraquezas. "O medo frente ao diferente é menos produto daquilo que não conhecemos do que daquilo que não queremos e não podemos reconhecer em nós mesmos por meio dos outros". Freud, o pai da teoria psicanalítica, evoca nessa citação a fuga do ser humano vindo após a sensação de medo. 

Diminuir a outra pessoa é uma ação prazerosa para muitos, prática sadomasoquista. Além da violência clara e exposta ao máximo, pode ser incluída ali uma repressão ao próprio sexo. Quando o homofóbico agride o homossexual ele nega a si mesmo. A forte negação revela um excesso doentio em querer mostrar-se diferente do outro, com uma sexualidade superior. É ressaltada, nessa prática fóbica, a sexualidade sob o falso status de simples escolha de vida e identidade de gênero. 

Tenta se passar, por muitos, a ideia de orientação sexual como algo plástico, frágil e indeciso. Todavia, a Psicanálise versa, desde seu início, sobre a diversidade sexual - normal e comum, que habita todo ser humano. Bissexual, por si só, seria uma condição de todo indivíduo. O princípio do prazer que orienta os lados humanos faz com que os seres humanos não sejam tão diferentes assim. Mudam na personalidade, alimentada pelas diferenças. A riqueza humana esta nas características pessoais de cada um. O self requer isso: diferenças para alcançar o amadurecimento. Crescemos com os diferentes.

Fundamental nos casos de preconceito é estabelecer um pacto de respeito. Para isso, o ego precisa estar forte. O homossexual necessita aceitar a si mesmo, com suas potencialidades e seus limites. O sujeito violento necessita se entender e aprender a conviver, além de encontrar uma outra saída de descarregar essas energias violentas, que não seja prejudicando o outro. Nesta sociedade colorida e plural, precisamos eliminar a auto-punição e o sentimento de culpa, tão disseminados em pensamentos rebaixados.

* O autor é Jornalista e Presidente da Câmara do Livro do Vale do Itajaí / Santa Catarina
Estudante de Psicanálise, pela SPOB (Sociedade Psicanalítica Ortodoxa do Brasil)