31 março 2011

Na busca por um país mais justo e igualitário, a sociedade tem cada vez mais se preocupado com as questões referentes as minorias, estes, que por sua vez, sofrem historicamente com a perseguição ideológica de alguns personagens ditos “conservadores”. Entende-se por conservador, nesse contexto, aquele indivíduo que sustenta opiniões inabaláveis sobre temas de ordem social, sobretudo aqueles mais polêmicos, os quais, como se sabe no Brasil, poderiam ser destacados a liberalização da maconha, a homofobia e o racismo. Estes grupos fazem parte da tal minoria estigmatizada, alvo constante dos moralistas que muitas vezes, extrapolando os juízos de valor, impedem que o restante da sociedade enxergue certos temas de forma menos pejorativa. Um dos muitos brasileiros que se encaixam nesse perfil é o deputado federal do PP- RJ Jair Bolsonaro. Ele que, com opiniões controversas, tem mostrado que o preconceito racial, a homofobia, o machismo, entre tantos outros males da humanidade, não estão adormecidos, mas sim mascarados.

O Brasil tem acompanhado com perplexidade as declarações feitas por Bolsonaro a respeito das camadas inferiorizadas pela sociedade. Membro da Comissão dos Direitos Humanos, ele tem mostrado que não está psico-humanisticamente preparado para tal cargo. Isto porque, numa das suas polêmicas entrevistas ele aconselhou que para curar uma possível homossexualidade dos filhos, os país poderiam dar algumas "palmadinhas corretivas". Numa época onde o discurso contra a violência infantil está sendo amplamente disseminado, é um tanto quanto criminoso alguém propor um modelo educacional desse tipo. Até porque, sabe-se que a homossexualidade não pode ser “curada” a base de tortura, como era feito pelos trogloditas em períodos remotos da história mundial. A sexualidade humana não é escolhida ou optada, ela simplesmente se impõe ao individuo que, devido a fatores culturais, muitas vezes acaba tendo que mascará-la para fugir da discriminação e do preconceito.

Ainda na esfera da discriminação, o deputado recentemente cometeu mais um dos seus tórridos comentários. De forma ofensiva, ele feriu a integridade do povo brasileiro quando, numa entrevista ao programa CQC, exibido pela emissora Band, fala de forma preconceituosa sobre os negros desse país. Ora, como alguém que nasce numa terra tão rica em diversidade humanística como o Brasil, sobretudo alguém dotado de conhecimento, pode expor para a nação um posicionamento tão pedante? Ainda sobre os negros, o deputado afirma ser contra qualquer forma de cotas para esse grupo, com um argumento de que todos são iguais perante a sociedade. No entanto, ele esquece-se de que as cotas não foram criadas para serem uma esmola, mas sim, como uma tentativa singular de compensar os maus tratos e os anos de atraso pelo qual a comunidade negra desse país passou.

Nesse mesmo momento, ele ataca também os homossexuais dizendo que a sociedade está tentando liberar a promiscuidade quando apoia essa classe, já que para ele os gays são sinônimo de perversão e doenças. Nesse sentido, parece que a homossexualidade é o principal alvo desse político, pois a todo instante ele faz algum tipo de declaração ofensiva, pejorativa e discriminatória contra os gays. Na mente dele, ao que parece, o “homossexualismo” (sic), não é uma prática humana e deveria ser punida de forma severa. Dotado de conceitos morais arcaicos  Bolsonaro justifica a sua aversão aos gays ao fato deles serem, na concepção dele, uma classe amoral/imoral, ou seja, acima dos padrões “civilizados" da sociedade. Além disso, para o deputado a palavra homossexualidade rima com promiscuidade e vulgaridade. Essa forma de pensar poderia ser justificada se estivéssemos na Idade da Pedra lascada, em outras palavras, num período do qual o ser humano agia única e exclusivamente através dos instintos. No entanto, a sociedade vive à época da racionalização, do entendimento do outro, e, principalmente da reflexão. Assim, o que o deputado está fazendo contra a comunidade LGBT é uma clara tentativa de propagar a homofobia, num país onde frequentemente os gays são discriminados, perseguidos e mortos. 

Depois da repercussão de tais opiniões, Bolsonaro tentou desfazer em parte o que disse, mas já era tarde. O povo presenciou de forma clara que a intolerância de alguns políticos é um dos principais empecilhos para a aprovação de alguns projetos de lei, dos muitos que tramitam no senado. Esse mesmo povo, que agora se assusta com as declarações desse deputado, deveria ter tido mais critério na hora que escolheu esse homem para representá-los. É por escolhas dessa dimensão que o Brasil não consegui se desvencilhar do esteriótipo corrupto e despreparado do qual paira na politica nacional. É lamentável saber que esse mesmo homem ainda está no poder, exercendo influência numa sociedade vítima da própria irreflexão.


Eu sou um professor.
Nasci no primeiro momento em que uma pergunta saltou da boca de uma criança.
Tenho sido muitas pessoas em muitos lugares.
Sou Sócrates estimulando a juventude de Atenas para descobrir novas idéias usando perguntas.
Sou Anne Sullivan, tamborilando os segredos do universo sobre a mão estendida de Helen Keller.
Sou Esopo e Hans Christian Andersen, revelando a verdade por meio de muitas, muitas histórias.
Sou Darcy Ribeiro, construindo uma universidade a partir do nada no planalto brasileiro.
Sou Ayrton Senna que transforma sua fama de herói esportista em recursos para educar crianças em seu país.
Sou Anísio Teixeira na sua luta de democratização de educação para que todas as crianças brasileiras tenham acesso à escola.
Os nomes daqueles que exerceram minha profissão constituem uma galeria da fama da humanidade: Buda, Paulo Freire, Confúcio, Montessori, Emília Ferreiro, Moisés, Jesus.
Eu sou também aqueles nomes e rostos que já foram esquecidos, mas cujas lições e cujo caráter serão para sempre lembrados nas realizações dos que educaram.
Já chorei de alegria em casamentos de ex-alunos, ri de felicidade pelo nascimento de seus filhos e me quedei de cabeça baixa, em dor e confusão, junto a sepulturas cavadas cedo demais para corpos jovens demais.
No decorrer de um dia, já fui chamado para ser artista, amigo, enfermeiro, médico e treinador; tive de encontrar objetos perdidos, emprestar dinheiro, fui motorista de táxi, psicólogo, substituto de pai e mãe, vendedor, político e guardião da fé.
Apesar de mapas, gráficos, fórmulas, verbos, histórias e livros, na verdade não tive nada a ensinar a meus alunos porque o que de fato eles têm de aprender é quem eles são. Eu sei que é preciso um mundo para ensinar a uma pessoa como ela é.
Eu sou um paradoxo. Quanto mais escuto, mais alta se faz ouvir minha voz. Quanto mais estou disposto a receber com simpatia o que vem de meus alunos, mais tenho para oferecer-lhes.
Riqueza material não faz parte dos meus objetivos, mas eu sou um caçador de tesouros, dedicado em tempo integral à procura de novas oportunidades para meus alunos usarem seus talentos e buscando sempre descobrir seu potencial, às vezes enterrado sob o sentimento do fracasso.
Sou o mais afortunado dos trabalhadores.
Um médico pode trazer uma vida ao mundo num só momento mágico. A mim é dado cuidar que a vida renasça a cada dia com novas perguntas, melhores idéias e amizades mais sólidas.
Um arquiteto sabe que, se construir com cuidado, sua estrutura pode durar séculos. Um professor sabe que, se construir com amor, sua obra, com certeza, durará para sempre.
Sou um guerreiro que luta todos os dias contra a pressão de colegas, a negatividade, o medo, o conformismo, o preconceito, a ignorância e a apatia. Mas tenho grandes aliados: a inteligência, a curiosidade, o apoio dos pais, a individualidade, a criatividade, a fé, o amor e o riso. Todos vêm reforçar minha trincheira.
E a quem devo agradecer pela vida maravilhosa que tenho senão a vocês, pais, que me honraram ao me confiar seus filhos, que são sua maior contribuição para a eternidade.
E assim tenho um passado rico em recordações. Tenho um presente desafiador, cheio de aventuras e alegrias, porque me é dado passar todos os meus dias com o futuro.
Sou um professor... e agradeço a Deus por isso, todos os dias.

27 março 2011


Fonte: A Capa

Por Marcelo Hailer

Não importa que tipo de personagem LGBT esteja presente em qualquer produto teledramatúrgico: as pessoas parecem estar condicionadas a reclamar sempre - e negativamente, claro.

Mas por que reclamam? Quando uma série ou novela é lançada, costumamos analisar os personagens, se são verossímeis, afeminados, másculos, enfim, dissecamos-os por completo. Mas o público - boa parte dele pelo menos - parece nunca estar satisfeito: se é um gay afeminado, diz que reforça preconceitos; se é másculo, é higienizado para agradar a família; se é espalhafatoso, quase travesti, nossa, aí é uma guerra.

A questão é: as pessoas, de tanto quererem ficar longe dos estereótipos, não conseguem conviver com nenhum tipo de personagem gay, seja ele qual for. A impressão é que estamos diante de uma paranoia moderna: não parecer com nada e parecer com tudo ao mesmo tempo. Será que esse drama não tem a ver com a falta de identidade? Ou será que esse incômodo com as representações gays na TV está ligado à seguinte questão: de tanto querer ficar em busca de uma identidade, esquecemos de agir com naturalidade e não lembramos que qualquer um pode ser gay ou hétero?

Dos personagens discretos aos assumidos

Apesar do barulho em torno dos personagens LGBT é inegável o fato de que nos últimos cinco anos os gays nas telenovelas saíram do armário. Basta analisarmos a atual novela das 21h, "Insensato Coração", escrita por Gilberto Braga e Ricardo Linhares. No folhetim, há um personagem gay, Roni (Leonardo Miggiorin), no núcleo principal. Mas já andaram reclamando que Roni é uma bicha estereotipada...

Afinal, quem não é estereotipado? As pessoas esquecem que no dia-a-dia todo mundo vive um personagem: do executivo ao gay tresloucado. E por que nas telenovelas ou minisséries teria de ser diferente? Se justamente a construção dos personagens está baseada em tipos que permeiam o imaginário popular e do autor?

Acontece também que parte dos LGBT que critica esses tipos esquece que o mesmo acontece com os personagens heterossexuais. Novela é ficção, portanto, representação fantasiada de uma dada realidade.

Se fizermos um balanço levando em conta a primeira década deste século XXI, vamos constatar que tivemos homossexuais para todos os gostos, tanto na produção nacional quanto na estrangeira. Sem contar que tivemos os seriados "Queers as folk" e "The L Word", um ambientado no mundo gay e o outro no lésbico. Quanto a este último, a crítica dizia que estávamos diante de gays e sapatas bonitas, ricas e chiques. Porém, quem assistiu a uma das duas séries, sabe que ambas retrataram de maneira muito verossímil o cotidiano LGBT.

Esse incômodo quanto à representação da homossexualidade na televisão tem seu pé na homofobia internalizada e no machismo. Também tem uma forte ligação com a questão do binarismo de gênero, que encerra as pessoas entre homens e mulheres, héteros e homos. Talvez se a sociedade conseguisse superar as categorias sexuais e as tais identidades de gêneros, as pessoas não se incomodariam tanto com as representações televisivas em geral.

É preciso dizer que, enquanto vivemos sob o esquema binário, é ótimo que continuemos a ter personagens LGBT na teledramaturgia. Como apontado no título, ruim com eles, pior sem eles. Antes uma representação plastificada da realidade que a invisibilidade que encerra a comunidade gay no gueto e na ausência de direitos civis.

As novelas, ao lançarem o debate sobre a homossexualidade, fazem com que todas as classes sociais discutam o tema e revejam os seus costumes. É isso que faz a democracia ficar melhor e mais tolerante.

26 março 2011



O primeiro contato sexual está cada vez ocorrendo mais cedo entre os jovens. Meninos e meninas, por motivos diversos, tornam-se sexualmente adultos num período da vida em que as dúvidas sobre temas como gênero, identidade de gênero, sexo, sexualidade, direitos reprodutivos e DSTs (Doenças Sexualmente Transmissíveis) não estão totalmente esclarecidos na mente deles. Com isso, um tsunami de problemas de ordem biológica, psicológica e social pode ser gerado quando não há um acompanhamento educacional, a partir do instante que o jovem começa a manifestar as primeiras oscilações da libido, na qual fará parte da vida dele na fase adulta.

O envolvimento cada vez mais precoce entre adolescentes na vida sexual tem se tornado algo corriqueiro. Antigamente, muitos tinham a sua primeira experiência sexualmente ativa entre os 16 e 17 anos de idade, porém, atualmente, essa faixa etária varia entre os 13 e 15 anos de idade. Essa estimativa pode ser evidenciada na rotina diária de muitos brasileiros, sobretudo nas regiões onde a pobreza é extrema, visto que a desigualdade social em algumas regiões ainda é um dos principais causadores da prematuridade sexual juvenil. Isso é preocupante, pois enfatiza que a falta de uma orientação sexual está intimamente ligada aos fatores sócio-culturais e econômicos.

Devido a isso, o número de adolescentes grávidas continua crescendo, da mesma forma que o índice de abortos nessa fase aumenta proporcionalmente. Muitas delas, antes de ter o primeiro contato sexual, não tiveram uma orientação adequada sobre os seus direitos sexuais e reprodutivos. Isto por que, muitas escolas tratam desse assunto de forma conceitual sem contextualizar a realidade pela qual muitas delas vivem. Além disso, o ambiente familiar ainda trata como tabu a sexualidade feminina, procedimento este fruto de uma cultura altamente conservadora e, sobretudo machista.

Entre os garotos acontece o processo inverso, uma vez que muitas vezes os próprios pais são os primeiros a estimular a prática sexual deles. Geralmente é a figura paterna que se encarrega de dar os passos iniciais nessa questão, orientando os filhos da necessidade que eles têm de começar imediatamente a sua vida sexual. Com essa atitude, às vezes inconsciente, contribuem para que esses adolescentes se aventurem em práticas sexuais desprevenidas. O resultado disso é a consolidação de pais prematuros e despreparados para assumir determinadas responsabilidades, quando não, contraem alguma doença sexualmente transmissível.  

Só no Brasil, o número de jovens que são contaminados por doenças ligadas ao sexo, principalmente na primeira relação de uma das partes, cresce a cada ano. No entanto, essa realidade não está ligada a falta de investimento governamental no que se refere aos contraceptivos. Pelo contrário, a cada ano o governo amplia o quantitativo de métodos anticoncepcionais, abrangendo localidades onde esses recursos eram escassos ou inexistentes. O que falta é uma educação sexual contextualizada, ou seja, não basta dizer que existem riscos de se contrair uma doença ou uma gravidez indesejada. É preciso exemplificar, com fatos da realidade desses jovens, os possíveis riscos que eles podem sofrer com a iniciação descabida da própria sexualidade.

Os males que uma má educação sexual pode causar são inúmeros, além de deixar sequelas profundas no corpo e no psicológico dos jovens, muitas delas até irreversíveis. Para que isso seja evitado um simples diálogo informal dentro de casa entre pais e filhos pode evitar uma gravidez não desejada ou até mesmo uma DST. A escola também merece destaque pois sobre ela recai a responsabilidade de orientar os jovens sobre os perigos acarretados pelo não uso dos métodos contraceptivos. Portanto os dois alicerces básicos, a escola e a família, têm a obrigatoriedade de guiar essa juventude para um caminho mais consciente, no qual ele solidifique o respeito pelo próprio corpo e pelo do parceiro(a).

"Deficiente" é aquele que não consegue modificar sua vida, aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive....
"Cego" é aquele que não vê seu próximo morrer de frio, fome, miséria ....
"Surdo" é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de um amigo, o apelo de um irmão... .
"Mudo" é aquele que não consegue falar o que sente e se esconde por trás da máscara da hipocrisia.
"Paralítico" é quem não consegue andar na direção dos que precisam de ajuda.
E, finalmente, a pior das deficiências é ser miserável, pois "Miseráveis" são todos que não conseguem falar com Deus.

M. Quintana



Editora Globo

Por Laura Ancona Lopez

Engajados
Jovens assexuados do mundo todo gravam depoimentos para um canal de vídeos na internet

Michael Doré tem 28 anos e nunca beijou. Nem pretende. Beijos, carinhos e qualquer forma de contato íntimo lhe causam repulsa. “O sexo me enoja”, diz. “Sou um assexual convicto.” É quase impossível imaginar que um cara como ele, charmoso, bem-sucedido — é um matemático norueguês e PhD da Universidade de Birmingham, na Inglaterra —, sequer pense em transar. Ainda mais nos dias de hoje, em que sexo e orgasmo são quase uma obrigação. E, antes que você se pergunte o que há de errado com Michael, ele mesmo responde: “Não, não sou gay, não fui abusado na infância, nem tenho problemas hormonais. Eu simplesmente não gosto de transar”. Assim como ele, a pedagoga mineira Rosângela Pereira dos Santos, o bancário americano Keith Walker e uma legião de assexuados dos mais diferentes cantos do planeta começam a sair do armário. São homens e mulheres de todas as idades, perfeitamente capazes de fazer sexo, mas sem nenhum apreço pela coisa. Gente que, graças ao apoio da Aven (Asexual Visibility and Education Network), rede que luta pela visibilidade dos assexuados no mundo, conseguiu se unir para levantar a bandeira da abstinência e lutar para que a assexualidade seja reconhecida como uma quarta orientação sexual (além de héteros, homos e bissexuais).

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Editora GloboEditora Globo
Eles vestem a camisa O matemático Michael Doré (à dir.) com a irmã, durante passeata GLBT


Sob o slogan “It’s o.k. to be A” (algo como “tudo bem ser assexuado”), essa turma tem frequentado as passeatas gays de Nova York, São Francisco, Londres e Manchester. No grupo, lutando contra o preconceito em relação aos que não gostam de transar, há desde aqueles que nunca tiveram uma relação sexual na vida, até os que fazem sexo por obrigação, para não perder o parceiro. “Por assexual entende-se apenas aquele que não sente atração sexual, não o que não é capaz de se envolver”, explica a socióloga Elisabete Oliveira, que fez do assunto tema de seu doutorado na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. “Existem os assexuais românticos e os não românticos. O primeiro grupo consegue se apaixonar, casar e até ter filhos — desde que não haja sexo envolvido. O segundo não gosta de carinhos e não se sente apto a se apaixonar.”

A libido é uma energia vital que pode ser canalizada para o trabalho

Esses dois grupos também podem ser classificados como libidinosos ou não. “Ser assexual não significa, necessariamente, não ficar excitado”, afirma o bancário americano Keith Walker, 37 anos. “Muitos de nós se masturbam, mas não estabelecem relação entre isso e o sexo. É apenas uma maneira de relaxar e aliviar o stress”, diz. Segundo a psicóloga paulista Tânia Mauadie Santana, hoje é comum que a energia que antes era sexual seja canalizada para outras áreas da vida. “A libido é uma energia vital, o que não necessariamente se manifesta só nos órgãos sexuais. O desejo pode ser direcionado para o trabalho, a comida e as atividades físicas”, diz.

Com as recentes investidas no chamado Viagra feminino — comprimido à base de flibanserina que promete devolver a libido à mulher que a perdeu e apresentá-la a que nunca teve —, a comunidade médica tem falado muito em “desejo sexual hipoativo”. O termo, catalogado há mais de 30 anos pela Organização Mundial da Saúde como uma “disfunção sexual”, tem conotação pejorativa para assexuados, que, com razão, não querem ser vistos como doentes. “Quem pratica sexo costuma ter humor melhor, pois o ato libera hormônios de ação antidepressiva. Mas a falta dele não chega a ser um problema de saúde. Ninguém vai morrer por isso”, afirma Tânia Santana. Segundo o psiquiatra Alexandre Saadeh, a assexualidade só requer tratamento quando gera sofrimento. “Se a falta de desejo ou o excesso dele impedir alguém de ser feliz, aí, sim, deve-se falar em tratamento. Caso contrário, não há por quê”, afirma o médico.

Para mostrar (e entender) que é possível ser feliz sem sexo, Marie Claire se cadastrou em redes e sites de relacionamento onde assexuais trocam ideias, causas e bandeiras. No Brasil, o site Refúgio Assexual, criado pelo pernambucano Julio Neto, de 19 anos, é o principal local de convergência dessa turma. “Muitos chegam aos fóruns com sentimento de culpa. É compreensível. Na sociedade em que vivemos hoje, em que se usa o sexo para vender de geladeiras a refrigerantes, é quase um crime não querer transar”, diz ele.

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