21 junho 2013


Acabo de chegar da manifestação que parou a cidade do Recife. Igual a muitas capitais nacionais, a nossa também aderiu aos protestos que têm levado multidões às ruas. Com faixas, caras pintadas e gritos reivindicativos, o povo lotou as ruas e avenidas da cidade, mostrando que não é só no sul e no sudeste que há pessoas politizadas e dispostas a cobrar mudanças para esse país.

Inicialmente, eu pensei que iria participar de uma verdadeira guerra. Como possuímos uma fama de sermos exaltados, confesso que estava preparado para assistir cenas tão truculentas quanto aquelas que estampam as matérias dos meios de comunicação. Entretanto, em comparação a outros Estados, o nosso deu um show nesse sentido, realizando uma manifestação pacífica e bem organizada.

Claro que alguns vândalos deram o seu ar da graça e no final do evento resolveram depredar o patrimônio público. Alguns mais ousados quebraram as vidraças da Prefeitura e tentaram saquear lojas por onde passavam. Mas o policiamento presente impediu que esses indivíduos concretizassem tais ações. Também não presenciei feridos ou pessoas gravemente machucadas (coisa que pode mudar após a mídia fazer o levantamento desse evento)

O que vi foi muitos estudantes, de vários níveis e classes sociais, famílias inteiras (de gerações diversas) e uma infinidade de grupos sociais comungando em prol de um só propósito: modificar a história desse país. Entre os manifestantes, um senhor de mais ou menos 70 anos chamou minha atenção. Durante o trajeto, ele carregava uma faixa, como muitos de nós, porém o fervor das suas palavras discursando entoava um espírito diferenciado dos demais ali presentes.

Na voz dele havia uma significação nostálgica, como se aquele indivíduo estivesse revivendo a mesma história em outro momento da vida dele. Na sua face, o prazer de ver jovens com cartazes, apitos, gritos, em grupos ou sozinhos, despertaram as sensações mais sublimes naquele senhor. E acredito que ele não foi o único. Muitas pessoas mais maduras apresentavam um entusiasmo que contagiou a todos nós, sobretudo a mim.

Entusiasmo é a palavra mais coerente para nominalizar esse momento. Estar entre uma multidão reivindicando melhorias na saúde, segurança, educação, dentre outras prioridades emergenciais do país, foi algo impagável. Senti meu corpo e mente teletransportados para a época da Ditadura Militar, ou algo mais recente no Impeachment de Collor. Entusiasmo também por saber que tudo isso foi em prol de causas nobres, as quais já pareciam sucumbir eternamente no vale do esquecimento.

Junto com os problemas do país, nós acordamos do limbo onde fomos obrigados a adormecer. E Recife não poderia ficar de fora dessa luta. A história de glória do nosso povo foi contundente para as transformações que vemos na atualidade. O leão do norte, como é conhecido, fez a sua parte, de forma ordeira, pacífica e altamente democrática. A única ressalva que faço é que nas próximas manifestações, o público mais carente se faça presente e ocupa as ruas para exigir que seus direitos sejam garantidos. Mesmo sabendo que o que impede a presença desse grupo é, muitas vezes, a falta de conhecimento social e político. Alguns, porém, precisam apenas de um pouco mais de incentivo.

Então, para você que ficou em casa, digo apenas isso: VÁ DA PRÓXIMA VEZ! Saia de casa, ganhe às ruas, proteste, grite, pinte a sua cara, faça faixas e reivindique melhorias para si e para a sociedade. Não podemos deixar passar essa energia boa das manifestações, a qual tem recarregado os ânimos de esperança desse Brasil que até pouco tempo vivia sob o prisma da desesperança. Lembre-se que a mudança só ocorrerá de fato se caminharmos juntos, numa mesma voz, cantando a mesma canção. E Recife mostrou que é capaz de fazer isso sem danos significativos para o outrem. Basta, portanto, participação e uma bela dose de destemor e ousadia.

Vem fazer a diferença e mudar esse país. A nossa hora chegou. O momento é esse. Não podemos nos calar diante de tantos problemas. Nossa presença começou a ser notada, logo, é a chance perfeita para revolucionar essa sociedade. Transgredir, sem vandalizar e subverter, sem violentar, são os ingredientes dessa linda revolução social que depois de anos conseguiu elaborar o antídoto, capaz de acordar o adormecido gigante chamado Brasil. Acordado, agora é hora dele, guiado por nós, trabalhar da única forma devida: para, por e pelo povo daqui para frente. 


Até demorou. Não se dizia que os brasileiros eram passivos demais, sem consciência política? Um povo inebriado por futebol, Carnaval e cerveja, que só se aglomerava em show, bloco e passeata gay ou evangélica? Agora, uma fagulha, o aumento das tarifas de ônibus, incendiou multidões. São especialmente jovens. Como em qualquer lugar do mundo. Entre os que protestam pacificamente com flores na mão, há os vândalos que, rindo e xingando, depredam o patrimônio, quebram lojas, incendeiam ônibus. Alguma novidade? Sempre foi exatamente assim, em Paris, Londres, Buenos Aires ou Istambul.

Os excessos devem ser repudiados, os vândalos detidos. Mas a reação truculenta das tropas de choque e as declarações de prefeitos e governadores de todos os partidos mostram algo preocupante: o poder – no Brasil, como na Turquia – não faz a menor ideia de como coibir com eficácia protestos que resvalem para a violência. Policiais e políticos igualam-se aos arruaceiros na ignorância, tornam-se delinquentes por trás de armaduras e gravatas, tacham de ilegítimas todas as manifestações, não param para escutar, entender ou negociar. O resultado é este: cidadãos encurralados na volta do trabalho, crianças atemorizadas. Os jornalistas são feridos pela polícia com balas de borracha, bombas de gás e spray de pimenta nos olhos. São coagidos e xingados por jovens mascarados e desinformados.

Os preços sobem, a inflação está em alta, os impostos absurdos não revertem em saúde, moradia, transporte e educação para a população, os empregos para a juventude começam a minguar, as empresas demitem em massa sem repor vagas. A presidente Dilma diz que a economia está sob controle. A farra nos Três Poderes continua. Ninguém aperta o cinto de couro em Brasília. O noticiário continua coalhado de mordomias no Legislativo, Judiciário e Executivo.

O jornalista Zuenir Ventura um dia cunhou a expressão Cidade Partida para se referir à divisão entre asfalto e morro, no Rio de Janeiro. Hoje, está claro que vivemos num País Partido. O Brasil dos que produzem e trabalham quase cinco meses só para pagar impostos... e o Brasil dos que mamam nas tetas do Estado, com aposentadorias vitalícias polpudas e múltiplas, e ainda têm a cara de pau de discutir o rombo da Previdência. É corrupção, nepotismo, promiscuidade, formação de quadrilha nas altas esferas, desmoralização dos sindicatos que se lambuzam com o melado federal. A casta superior do País Partido insiste em ignorar o sentimento de vulnerabilidade da população assalariada.

Com a ditadura, o Brasil se desacostumou a conviver com manifestações e greves. Tudo vira sinônimo de anarquia. Estava em Londres em 1979, no “winter of discontent”, o inverno da insatisfação, que encheu a cidade de lixo e mau cheiro e derrubou os trabalhistas, abrindo o caminho para Margaret Thatcher. Trafalgar Square equivale simbolicamente à Praça Taksim, de Istambul – mas com os bobbies (policiais ingleses) protegendo os manifestantes.

Estava em Paris no outono de 2005, quando jovens da banlieue (a periferia) invadiram a Rive Gauche e saíram quebrando tudo, em protesto contra a situação de jovens imigrantes nos subúrbios. Foram 19 noites de distúrbios na França, 9 mil carros queimados, 3 mil jovens presos. Essa revolta saiu de controle. A “manif” já faz parte da cultura parisiense – quase como a praia no Rio de Janeiro e o restaurante em São Paulo. Não há fim de semana em que avenidas não sejam bloqueadas por protestos. As tropas de choque se organizam, com o objetivo de garantir a passeata, e não de fomentar a violência.

No Brasil, o Movimento do Passe Livre é o estopim, ou a parte visível de um descontentamento que não pode ser minimizado. O péssimo serviço de ônibus, metrôs e trens, aliado a aumentos nas passagens, é, sim, revoltante. Ouvir de Sérgio Cabral, Geraldo Alckmin e Fernando Haddad que os protestos “têm motivação política” causa risos. É lógico que protestos sejam políticos. Não existe crime nisso. Ouvir das autoridades que os manifestantes são mauricinhos causa desconforto. É preciso ser prostituta para defender os direitos da classe nas ruas? É preciso ser povão para protestar contra a indignidade dos trens?

Torço para que os manifestantes expulsem de suas alas os marginais que aterrorizam exatamente aqueles que mais se servem do transporte público. Espero que os governos não mandem às ruas policiais despreparados, brutamontes e enraivecidos, que atacam pelo prazer da repressão. “Baderna é inaceitável”, diz Alckmin. Concordo. Mas os piores baderneiros são os armados pelo Estado. Deslizes policiais e insensibilidade governamental podem nos lançar ao caos.

Visto na: Época


A partir dos anos 60, o futebol foi tachado por muitos intelectuais de ser utilizado pelo Estado para o domínio das massas. Essa crítica se tornou evidente durante o período da ditadura militar. Como se sabe, essa alienação infelizmente perdura até os dias de hoje, pois a força como que o futebol distrai as massas é explícito no fanatismo por parte da população como o seu patriotismo exacerbado.

Assim como “a bola na trave não altera o placar”, sediar a copa das confederações não vai alterar em nada a situação em que se encontra o Brasil. Ao fim dos jogos, as desigualdades permanecerão as mesmas, o preconceito velado ainda subsistirá. Isto porque, vivemos em um país onde as disparidades são evidentes. Enquanto os jogadores estarão no conforto dos seus lares ganhando rios de dinheiro, uma parcela da população estará trabalhando durante 8 horas ou mais para garantir ao menos um salário mínimo.

É importante destacar que o futebol tem seu lado benéfico, como qualquer outra prática esportiva, ele vem ajudando os jovens a se distanciarem das drogas e da criminalidade. Além das melhorias que vem sendo feitas nas estradas e nos terminais integrados. No entanto, essas mudanças não estão sento feitas para o bem da população que reside nas cidades que sediarão a copa, mas para mostrar aos turistas que o país é a bola da vez.

Em um país onde as necessidades básicas não são supridas, é contraditório pensar nos gastos com a copa. Visto que foram investidos aproximadamente 27 milhões de reais em benefício do evento. E infelizmente, uma parte da população está tão alienada chegando ao ponto de não perceber que este dinheiro poderia ser revertido para melhorias na sociedade, assim seria possível alcançar um bom nível educacional e boa estrutura na área de saúde.


Sendo assim, fica claro que levantar a taça não trará benefícios a população. O que precisamos é de investimento em educação de qualidade, saúde e segurança. Benefícios estes que são deixados para último plano, quando o verdadeiro desafio não é ser bom apenas no futebol, mas também em outras áreas. Como diz a música de Wilson Simonal: “Nesses noventa minutos de emoção e alegria, esqueço a casa e o trabalho. A vida fica lá fora, a fome fica lá fora e tudo fica lá fora”. Infelizmente esse é o reflexo da influência futebolística no país.

Aluna: Juliana Nascimento
Professor: Diogo Didier

Encontro Casual

Gilson

Durante muito tempo em minha vida esperei por você
Te via nos meus sonhos nitidamente assim como agora
Esse nosso encontro casual não foi acaso nenhum
E nem o destino marcou nosso encontro aqui

Te procurava, te desejava
E toda noite, sonhava acordado
Eu esperava por esse encontro
Há tanto tempo e ao primeiro olhar eu te amei

Uma explosão de sentimentos
Um grande amor no devido tempo
Você chegou no momento certo
É bom olhar e te ver...

Eu sinto que você há muito tempo esperava por mim
Me via nos teus sonhos nitidamente assim como agora
Esse nosso encontro casual não foi acaso nenhum
E nem o destino marcou nosso encontro aqui

Duas pessoas que se desejam
E se procuram, acabam se encontrando
Você sonhava com esse encontro
Há tanto tempo e ao primeiro olhar você me amou

Uma explosão de sentimentos
Um grande amor no devido tempo
Você chegou no momento certo
É bom olhar e te ver...

 
Publicado pelo iG
 
Depois de sair brevemente dos holofotes da imprensa por causa da PEC de Nazareno Fonteles (PT-PI), o presidente da Comissão de Direitos e Minorias da Câmara dos Deputados encontrou um meio de tentar atrair novamente, para si, a atenção da mídia: colocou na pauta da comissão os projetos de legalização de “cura da homossexualidade” e o da “criminalização da heterofobia” – ambos contrários à cidadania de lésbicas, gays, travestis e transsexuals. E está conseguindo. Não só parte da imprensa voltou a lhe dar atenção por conta disso, como também muitos ativistas voltaram a colocar o nome do presidente da CDHM em circulação na internet, atendendo a seus apelos narcisistas.
 
Alguns desses ativistas não apenas caíram na armadilha do pastor como, num arroubo de indignação histérica, também começaram a tratar a possível aprovação dos projetos na CDHM como algo que os converteriam em leis que passariam a vigorar no dia seguinte (ou seja, começaram a fazer tudo o que o pastor esperava para poder jogar para sua platéia homofóbica). Ora, não é assim que a banda toca.
 
Em primeiro lugar, se aprovados na CDHM (e serão porque os fundamentalistas religiosos, lá na comissão, são ampla maioria e têm quorum, mesmo com a saída dos cinco deputados verdadeiramente comprometidos com os Direitos Humanos e com as minorias), se aprovados aí, os projetos serão encaminhados para outrascomissões onde eles jamais serão aprovados e jamais chegarão a plenário. Em segundo lugar, a CDHM que aprovará esses dois projetos bizarros – um deles, um deboche descarado à democracia – tem legalidade, mas não tem legitimidade. O que isso quer dizer? Quer dizer que ela não é reconhecida nem respeitada por nenhum defensor dos Direitos Humanos ou organização dedicada a estes no Brasil; quer dizer que qualquer proposição legislativa que ela aprove não será levada a sério (nem mesmo por boa parte dos deputados daquela casa).
 
Sendo assim, não há razão para histeria. E essa atitude do presidente da CDHM - essa de pôr em pauta dois projetos bizarros por uma comissão desacredita e sem legitimidade – só deve ser ridicularizada. A nossa saída dessa comissão foi a decisão mais acertada (aliás, eu defendi essa posição desde o primeiro momento em que ela foi tomada por uma maioria fundamentalista religiosa numa manobra política!). Acertada porque retiramos, dela, a legitimidade, já que não endossaríamos suas decisões com nossa inevitável derrota precedida de debate em que serviríamos tão somente de trampolim para o discurso reacionário e homofóbico da maioria, mas também porque, com a nossa saída, pudemos criar e garantir outros espaços políticos e legislativos para tocarmos a pauta dos Direitos Humanos de minorias. A nossa decisão foi tão acertada que o deputado João Campos, num arroubo de desespero, protocolou pedido de anulação desses espaços ao presidente da Câmara dos Deputados e o deputado Roberto de Lucena foi à tribuna pedir a nossa volta.
 
Enquanto a CDHM fazia audiência a porta fechadas para uma claque evangélica, a Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos Humanos recebia, a portas escancaradas e com a presença de movimentos sociais e outros defensores dos DHs, o relatório do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs e o do Projeto Monitorameto dos DHs no Brasil sobre violência na América Latina.
 
Estava clara a diferença ente nós e eles. Quem trabalha de verdade por direitos humanos não pode perder tempo com os caprichos de um narcisista irresponsável nem com o descaso de fundamentalistas com a dor de minorias estigmatizadas e sem direitos fundamentais garantidos. A nossa decisão foi acertada e agora os DHs de minorias contam com espaços legislativos e políticos para serem defendidos e promovidos.
 
Cuidado com as armadilhas!
 
Artigo de Jean Wyllys

A chegada do futebol ao Brasil aconteceu em 1894, e foi trazido por Charles Miller da Inglaterra. Este esporte se desenvolveu com muita adesão à cultura e assim tornando-se hoje uma paixão nacional, algumas vezes até fanática em parte da população. Desta maneira, se torna evidente a alienação social proporcionada, na qual a massa se sente numa situação confortável, mesmo sem nem ter acesso às necessidades básicas.

            Certamente, além de toda a carência estrutural a que estamos submetidos, a nação está quase que por completa defasada em relação a outros países, tanto desenvolvidos quanto sub. Dados do jornal Folha de São Paulo comprovam isso, mostrando que o nosso país ultrapassou os 26,5 milhões em gastos com a copa do mundo até o mês de fevereiro deste ano. Isto é só um dos muitos reflexos da falta de investimentos por parte de políticas públicas que regem o Brasil.

            No entanto, o superprestígio dado ao futebol gera uma desvalorização sobre os demais esportes, como também um ideal identitário, ou seja, muitos jovens, principalmente os de baixa renda, têm como sonho estar "entre as quatro linhas", que sobretudo significa dinheiro e fama. Neste país, onde o futebol é colocado acima de tudo, também é notável o fanatismo extremo, gerando às vezes violência, e até machismo, pouco valorizando as mulheres.

            Sem dúvidas, mesmo com todo esse sentimento de união, propagandas, reformas e melhorias, a copa vai passar, e todos estaremos de volta a nossas vidas monótonas e ciclo-viciosas como atualmente são. Sem falar, que boa parcela vai estar de mãos dadas, logo não irá importar cor, raça, nível social e opção sexual, mas isso só durante o evento. Ainda é importante destacar que mesmo com todas as necessidades que oprimem a sociedade, a nação possui verba para supri-las.

            Sendo assim, cabe aos governantes priorizar e suprir as necessidades básicas e estruturais, principalmente em relação a educação, que é tratada como mediação banal. E a população não se deixar dominar pelas influências futebolísticas e machistas, valorizando também outros desportos e as mulheres inseridas neles. Pois, em um país em que não se dá nem "conta do recado", se deseja prosperidade em época de copa. Afinal, o que realmente importa e ser hexa campeão mundial.


Aluno: Hugo Silva
Professor: Diogo Didier

Considerações sobre elogios racistas

Por Charô Nunes para as Blogueiras Negras
Elogio racista é toda demonstração de admiração, afetividade ou carinho que se concretiza por meio de ideias ou expressões próprias ao racismo. Com ou sem a intenção de, que fique bem claro. Um dos mais conhecidos é o famoso “negro de alma branca” que nossos antepassados tanto ouviram. Mas não são apenas nossos homens que conhecem muito bem os elogios racistas. Nós mulheres negras também somos agraciadas com esses pequenos monstrinhos, usados inadvertidamente por amigxs, familiares. Muitas vezes até por nossos parceirxs.
Decidi fazer uma lista com 5 elogios racistas (e sexistas, diga-se de passagem) que muitas de nós escutamos quase que diariamente. Alguns são consenso, acredito. Outros nem tanto. Fico aguardando ansiosa para que você, mulher negra, deixe seu comentário dizendo se também acontece com você. Se concorda, se discorda. E sobretudo, o que você faz para deixar bem claro que esse tipo de comentário pode ser tudo, menos benvindo e apreciado.

Adriana Alves é atriz e frequentemente é chamada de morena
Adriana Alves é atriz e frequentemente é chamada de morena

01. “Você é uma morena muito bonita”

Esse é o elogio racista que mais escutei em toda minha vida. Minhas primeirass lembranças são do tempo da escolinha. Mesmo mulheres como Adriana Alves ainda são chamadas de morenas, pois se acredita que chamar alguém de negra é uma ofensa racial. Se você precisa se expressar, tente um simples “você é bonita ou atraente”. Ou ainda “você é uma negra linda”, o que, dependendo do contexto pode ser tão ruim quanto.
Mas em hipótese alguma diga que uma negra é morena, moreninha, morena escura. Que não é negra. Isto sim é racismo dos graúdos, pura e simplesmente. Quando acontece comigo, digo que não sou morena e nem moreninha, sou n.e.g.r.a. O bom é que, dependendo de como essa resposta é dada, a pessoa já se toca que ela não deveria ter começado o conversê, que simplesmente não estou disponível para esse tipo de diálogo. Nem com conhecidos, muito menos com estranhos.

Não toque no meu cabelo. Foto Afrobella.
Não toque no meu cabelo. Foto Afrobella.

02. “Seu cabelo é muito bonito, posso pegar?”

Há alguns anos atrás, uma senhora ultrapasssou todos os limites de uma convivência pacífica ao se aproximar de mim, cheia de dedos, me tocando sem permissão e dizendo que eu tinha uma “peruca muito bonita”. Não retruquei de caso pensado, antecipando seu constrangimento por jamais ter cogitado que uma mulher negra pudesse ter um cabelo comprido, ao natural. Minha vingancinha, e sou dessas, foi olhar aquela expressão de arrependimento por ter percebido o que fez.
Entendo que simples visão de uma negra com cabelo natural pode ser inebriante. Que persiste a completa desinformação sobre o nosso cabelo. Porém, isso não justifica o toque sem permissão. Não importa se é cabelo natural ou não. A menos que você conheça muito bem a pessoa, não toque em seu cabelo sem consentimento. Eu iria mais longe. Para mim a boa etiqueta simplesmente reza que não se deve nem mesmo pedir para tocar o cabelo de uma pessoa desconhecida.

Alek Wek é uma modelo de traços delicados
Alek Wek também é uma modelo de traços delicados

03. “Você tem os traços delicados”

Dizer que uma negra tem traços “delicados” muitas vezes tem a ver com a ideia de que será bonita se tiver uma expressão “fina”, leia-se semelhante a de uma pessoa branca. Como se determinado tipo de nariz (ou bochechas) fosse exclusivamente dessa ou daquela etnia. Uma de suas variantes é outra expressão igualmente racista – “você é uma mulher negra bonita” – algo que ao meu ver é a mesma coisa de dizer que “você é bonita para uma negra”.
Afinal, qual a dificuldade de dizer que uma mulher negra simplesmente é… Uma mulher bonita? Porque Alek Wek tem de ser descrita como uma “mulher negra bonita” enquanto as mulheres brancas são apenas “mulheres bonitas”? Mais uma vez, toda a sutileza do elogio racista. Ele reconhece que você é uma pessoa admirável, mas sempre fazendo questão de te colocar “no seu lugar”, como se algumas fronteiras jamais pudessem ser cruzadas.

Cena de Vênus Negra, de Abdellatif Kechiche
Cena de Vênus Negra, de Abdellatif Kechiche

04. “Você tem a bunda linda”

Essa é uma opinião que certamente não é unânime. Faço questão de expressá-la como uma provocação que representa o pensamento de uma parcela significativa de mulheres negras. Para muitas de nós, esse comentário expressa a hipersexualização a que somos historicamente submetidas como exemplifica a triste biografia de Saartjie, denominada a Vênus Hotentote, exposta como atração circense em função da admiração que suas nádegas causaram na Europa do século XIX.
Apesar de todo respeito que tenho por tudo aquilo que acontece entre duas pessoas, preciso considerar a tradição racista secular desse tipo de discurso. Trata-se de reduzir a mulher negra a um pedacinho do seu corpo, desconsiderar sua humanidade, transformá-la num pedaço de carne exposto no açougue como aconteceu e acontece diariamente. Meu conselho é perguntar se a mulher a quem você pretende cumprimentar tem a mesma leitura sobre esse tipo de elogio.

Mulata da Leandro de Itaquera
Mulata da Leandro de Itaquera

05. “Você é uma mulata tipo exportação!”

Esse elogio resgata o tratamento dispensado à mulher negra no seio da senzala, da casa grande. O pensamento que nos reduz em brinquedos sexuais. Dizer que uma mulher negra é uma “mulata tipo exportação” é esquecer uma tradição escravocrata secular, que transforma a mulher negra em “peça” que alcancará boa cotação no mercado onde a carne mais barata é a nossa. O nome desse mercado é exotificação. Em alguns casos, hiperssexualização.
Infelizmente também estamos falando sobre o modo racista com que as mulatas de escola de samba, mulheres que respeito e admiro, são mostradas e consumidas. Mulheres que levam o samba no pé, no sorriso, na raça. Que, ao invés de serem uma referência de beleza, são vendidas como frutas exóticas na temporada do carnaval. Mulheres que recentemente tem sido preteridas por “personalidades da mídia” em nome de uma pretensa “democracia racial” e muitas vezes com a anuências de algumas agremiações.

16 junho 2013



Em grupos, num só coro, a mesma ideologia, corpos e rostos expostos à mercê da própria sorte. Essa costumava ser a imagem de muitos protestos reivindicativos que transformaram o rumo da história do Brasil. Com o advento da tecnologia, houve uma significativa mudança. Agora, no conforto de casa, podemos alardear nossos questionamentos com apenas um clique, assinando, curtindo e compartilhando petições diversas. De fato, tanto a antiga quanto a atual deveriam surtir o mesmo afeito, desde que fossem realizadas de forma consciente e responsável. Lamentavelmente, não é isso que vem acontecendo. Não deixamos de reivindicar nossos direitos, (isso é bom), mas o sonho revolucionário que impulsionava as transformações da coletividade já não existe mais. Em seu lugar pairam, de um lado, o comodismo e a passividade de uma sociedade acostumada a aguardar e não a cobrar. E, do outro, líderes e grupos sócio e politicamente bem organizados, que tiram vantagem da carência do povo. Com isso, protela-se a resolução de temas antagônicos, os quais insistem em desmascarar a verdadeira face atrasada do país.

Quem não se lembra da Tropicália? Para os mais esquecidos, tratava-se de um movimento cultural sobre a influência das vanguardas e da musicalidade pop-rock, tanto nacional quanto estrangeira, e que tinha como perspectiva questionar artisticamente a postura do regime militar no final da década de 1960. Vários artistas, através das artes plásticas, do cinema e da música, (esta última com destaque para Caetano Veloso), esboçaram suas reivindicações e sofreram à duras penas o dissabor de afrontar a nossa “pátria mãe gentil”. Isso resultou em prisões, extradições, pancadas e até mortes, mas a sociedade da época encontrava nas adversidades a válvula para enfrentar toda e qualquer opressão exercida pela camada dominante e, assim, ser ouvida. Nesse sentido, o impeachment do ex-presidente do Brasil, Fernando Collor, poderia ser pontuado como outro grande momento onde a coletividade do povo se fez presente em prol de uma real transformação social. Os “caras pintadas”, como ficaram conhecidos, foram às ruas, exigiram e conseguiram retirar esse parlamentar do poder.

Atualmente, no entanto, as reivindicações ganharam outras conotações. Os jovens não nutrem o mesmo espírito daqueles que revolucionaram o país. Agora, a cara pintada é aquela do fotoshop, das fotos sensuais e parnasianamente belas e jovens que povoam as redes sociais. Dessa acepção, percebe-se que a juventude do século XXI não se preocupa com tanta ênfase nos desafios que a sociedade enfrenta e, por isso, não se posiciona contra, nem a favor, de nada. Quando o fazem, geralmente é na comodidade do lar, com a tranquilidade e rapidez virtual, ou através do anonimato que tais redes proporcionam aos mais “engajados”. Por isso que vemos cada vez menos deles em passeatas e protestos diversos, sobretudo aquelas ligadas a problemas educacionais. Nesse sentido, os movimentos estudantis lutam para permanecerem vivos em escolas e universidades pelo país, porém a verdade é que muitos deles já sucumbiram à politicagem de partidos, que se infiltram na ideologia estudantil para tirar proveito da inexperiência e no despreparo daqueles. Ou, na verdade, se mantém fracos, resistindo dentro dessas instituições apenas por uma questão acadêmica, mas que pouco ou nada fazem para transformar as próprias realidades, quiçá a da sociedade.

É por isso que os atos de vandalismos desse grupo ganham proporções inimagináveis. Desorganizados, muitos baderneiros se infiltram em grandes mobilizações reivindicatórias apenas para depredar o patrimônio público, afrontar a polícia, pichar lojas e monumentos, e nada mais além disso. Fatos como estes estão sendo noticiados constantemente pela mídia. Com a proximidade da Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas, muitos estudantes foram às ruas questionar, em todo o país, o aumento exorbitante das passagens de ônibus e por à prova os gastos do governo como esses eventos, enquanto a nação passa por situações desumanas com os diversos problemas sociais existentes. No entanto, infiltrados nessas mobilizações estão alguns indivíduos que resolvem sabotar a ideologia do movimento, a qual tem como base principal questionar a paradoxal postura do país em garantir direitos para quem de fato necessita deles. Atrelado a isso, a polícia age de forma truculenta com os manifestantes, os quais nem sempre fazem parte do subgrupo sem direcionamento, que insiste em vandalizar os protestos.

A falta de foco é sentida não apenas pelos mais jovens. Os adultos também não se mobilizam para sacudir a zona de conforto, onde foram inconscientemente e obrigados a ficar. Por essa razão é que vemos cada vez menos entendimento desse grupo em torno dos movimentos sociais que ganham as ruas, mesmo sem a presença maciça da população. Marchas e mais marchas surgem, mas a presença da sociedade é escassa. Dentre elas, a Marcha das Vadias e a da Maconha são as mais esvaziadas. Por tratarem de questões polêmicas, acabam intimidando aqueles que desejam se expor em apoio a essas pautas. Na primeira, há um posicionamento benéfico em torno da quebra de tabus e preconceitos (aqueles historicamente construídos e perpetuados pela sociedade) sobre o papel da mulher. A palavra vadia soa aí como metáfora e quebra o rótulo imposto por essa cultura que ora inferioriza a mulher, ora vulgariza a conduta dela, como se para ela só restasse à eterna submissão ao sexo dominante. Já no segundo grupo, o preconceito gira em torno da ilicitude do seu tema. Por se tratar da droga mais consumida no Brasil, a maconha ganhou dezenas de adeptos, de classes sociais e perfis diversos, mas nem todos são capazes de estampar seus rostos em avenidas a favor da erva. Talvez isso ainda aconteça por causa do marginalizada que nevoa tal entorpecente, sobretudo numa nação onde a criminalidade ainda está intimamente ligada a ela.
 
Nem sempre qualidade e quantidade andam juntas. Se os grupos citados há pouco sofrem com a escassez de exposição, outros têm em excesso, contudo, muitas vezes, a falta de foco de alguns participantes deixa o placar de ambos os lados no zero a zero. As Paradas GLS e as Marchas para Jesus confirmam bem essa acepção. Com muitas cores, tipos e arquétipos, as paradas gays, como são conhecidas, têm como pano de fundo buscar reivindicações contundentes em prol dos problemas vividos por essa comunidade. Num país heteronormativo como o nosso, não é de se surpreender que o preconceito contra esse grupo se manifeste de inúmeras formas. Por isso que a nação desponta entre aquelas que mais matam homossexuais no mundo. Agressões e mortes são os motes que levam, então, diversos defensores a buscar melhorias para essa comunidade. Acontece que até mesmo na Parada Gay, muitos dos seus membros acabam carnavalizando o tema proposto pelo evento, nutrindo, assim, as críticas daqueles que são contrários à causa dos homossexuais. Já nas marchas evangélicas que cada vez mais crescem pelo país, há algo parecido, porém, bem mais perigoso. Por usarem a palavra divina, muitos organizadores acabam semeando visões destorcidas de vários temas e isso não é percebido, pois a fé do povo, muitas vezes, não é capaz de discernir o certo do errado, sobretudo num país hiper, mega, superapegado a religião.

Entretanto, para quem não prefere se expor ao sol e correr o risco de ser agredido pela polícia na rua, resta os meios virtuais para esboçar seus gritos reivindicativos. Para isso, as petições se proliferam na net, levando pessoas diversas a “cobrar” mudanças para inúmeros temas. De fato, a mobilização virtual tem a sua relevância, visto que as pessoas podem, com o alcance e a rapidez desse veículo, chegar a lugares diversos e, principalmente convencer outros indivíduos a participar do assunto pelo qual está sendo tratado. Além disso, as redes sociais têm de certa forma criado um perfil mais crítico entre os internautas. As pessoas estão compartilhando nesses meios, coisas mais sociais, dando oportunidade para que outras se encorajem e participem de determinadas lutas. Mesmo assim, deixar o nome ou a face à mostra não é algo realizado por todos. O temor persiste porque não há uma conscientização prévia da importância que a coletividade exerce, nem tão pouca uma educação subversiva a qual prepare os futuros cidadãos a serem coparticipantes das mudanças sociais. Por isso que a timidez se faz presente em votações virtuais, pois a sociedade teme qualquer retaliação possível, já que no país há muito tempo a voz do povo não é ouvida.

É por tudo isso que não há mais protestos como os de outrora, pois não nos indignamos mais como antes. Se o meio ambiente está sendo destruído, por causa da nossa conduta insustentável, não fazemos nada significativo para reverter isso. Se os políticos eleitos na última eleição estão roubando o dinheiro do povo, nada fazemos para retirá-los do poder, ou pior, depois de alguns anos, votamos nos mesmos candidatos e a roubalheira continua a seguir seu rumo. Se um jogador de futebol brasileiro é vendido para um time estrangeiro, por cifras bilionárias, não esboçamos nenhuma reação, mesmo vivendo num país onde a miséria é mantida através da ração governamental oferecida pelo governo, nas inúmeras bolsas que calam a boca do povo. Se professores, médicos, bombeiros, e tantos outros trabalhadores importantes vão às ruas protestarem, por uma melhoria nas suas condições de trabalho, não damos o devido valor a eles, pois estamos acomodados, a espera de algo divinal que possa resolver os problemas desse grupo. Se o esquecimento e a fome encurtam a vida dos desabrigados da chuva, ou os sertanejos da região nordeste do país, pouco contribuímos para amenizar o sofrimento dessa gente, pois, na realidade, por não saber protestar nem reivindicar nenhuma mudança, deixamos de ser gente e passamos a nos mecanizar. Autômatos, seguimos pela vida como máquinas “caminhando e cantando e seguindo a canção...” da alienação e da desumanidade, ambas que insistem em nos seduzir. 

Braços dados ou não, a sociedade pelo menos deveria ter em mente que “sonhos sempre vêm pra quem sonhar”, basta acreditar que a mudança é possível quando é realizada em grupo. Não adianta ficar sentado, aguardando que o milagre aconteça inesperadamente. Não podemos ser tão passivos a esse ponto. Também se a intenção é ir às ruas, temos que nos organizar para que de forma coerente nossa voz seja sentida e a partir dela nossos direitos sejam conquistados. Não é com vandalismo que as coisas são revolvidas, mas com estratégia, foco e uma bela dose de participação social. Sim, temos que sair da nossa zona de conforto e buscar realização para os nossos sonhos, sobretudo aqueles que parecem utópicos, mas que na verdade sempre estiveram ao nosso alcance. No entanto, para dar vida a esses sonhos, muitos de nós devemos entoar versos patrióticos, não só na época da copa do mundo, mas, principalmente quando a saúde não vai bem, quando a segurança é precária, quando a transporte público não funciona, quando a educação é demagógica e em todas as ocasiões de real importância para todos. Isso é ser brasileiro. Isso é bradar coerentemente que “o povo, unido, jamais será vencido”. E, se assim for, indubitavelmente ele será invencível.
           Passeatas, marchas e protestos. Esta é a realidade que permeia a sociedade tanto no meio físico quanto no meio virtual, sobrepujando assim suas ideias, valores e expressões. Afinal, como bem afirma o sociólogo Luíz Scarpa: “ Para ganhar a massa, tem que mostrar a cara”, essas pessoas lutam para conseguir seus direitos na sociedade.    
         O homem, em meio às suas constantes revoltas, sempre buscou a concretização dos seus ideais. E vem conseguindo. Temos como consequência destas formas de protestos a deposição de presidentes, liberação de pensamentos tabulados e, em casos mais extremos, a independência de alguns países, como foi o caso do país indiano.
             O advento do meio virtual também ajudou nestes movimentos, difundindo os pensamentos que antes só poderiam serem expressos físicamente. Entretanto, esses protestos nem sempre são tão fáceis ou conquistados de maneiras simples, por vezes é preciso que alguém, ou alguns, precise morrer.
        Um dos casos mais chocantes de protestos foi o ato de um jovem chamado Mohammed, que se autoimolou como forma de denúncia à primavera árabe, na Tunísia. Contudo, muitos como ele, também se submetem à torturas e outros tipos de violação dos direitos humanos, como foi o caso de milhares de pessoas que, durante a ditadura militar brasileira, detiveram seus ideais intactos em meio a tanta repressão.
        Portanto, para terem seus direitos vistos pela sociedade, muitos apelam às praticas de vandalismos como os atos de queima de pneus, atear fogo em ônibus ou lançamentos de pedras e visitas indesejadas ao congresso nacional. É quando surge a opressão de militares para a contenção destes movimentos, o que nos remonta a ideia de que para se conseguir algo no nosso país, precisamos primeiramente comprometer a sociedade e/ou os cofres públicos brasileiros.
        As soluções a serem tomadas são: a liberdade de expressão; aceitação e legitimação de pensamentos e ideais alheios e reformas legislativas para igualdade entre as pessoas. Pois, muito sangue já foi derramado nesta caminhada árdua.

                                                                                  Aluno: Cléston Francisco

                                                                                  Prof°: Diogo Didier


Preconceito, nunca!

Temos apenas opiniões bem definidas sobre as coisas. Preconceito é o outro quem tem... 

Mas, por falar nisso, já observou o leitor como temos o fácil hábito de generalizar (e prova disso é a generalização acima) sobre tudo e todos? Falamos sobre “as mulheres”, a partir de experiências pontuais; conhecemos “os políticos”, após acompanhar a carreira de dois ou três; sabemos tudo sobre os “militares” porque o síndico do nosso prédio é um sargento aposentado; discorremos sobre homossexuais (bando de sem-vergonhas), muçulmanos (gentinha atrasada), sogras (feliz foi Adão, que não tinha sogra nem caminhão), advogados (todos ladrões), professores (pobres coitados), palmeirenses (palmeirense é aquele que não tem classe para ser são-paulino nem coragem para ser corintiano), motoristas de caminhão (grossos), peões de obra (ignorantes), sócios do Paulistano (metidos a besta), dançarinos (veados), enfim, sobre tudo. 

Mas discorremos de maneira especial sobre raças e nacionalidades e, por extensão, sobre atributos inerentes a pessoas nascidas em determinados países. Afinal, todos sabemos (sabemos?) que os franceses não tomam banho; os mexicanos são preguiçosos; os suíços, pontuais; os italianos, ruidosos; os judeus, argentários; os árabes, desonestos; os japoneses, trabalhadores, e por aí afora. Sabemos também que cariocas são folgados; baianos, festeiros; nordestinos, miseráveis; mineiros, diplomatas, etc. Sabemos ainda que o negro não tem o mesmo potencial que o branco, a não ser em algumas atividades bem-definidas como o esporte, a música, a dança e algumas outras que exigem mais do corpo e menos da inteligência. Quando nos deparamos com uma exceção admitimos que alguém possa ser limpo, apesar de francês; trabalhador, apesar de mexicano; discreto, apesar de italiano; honesto, apesar de árabe; desprendido do dinheiro, apesar de judeu; preguiçoso, apesar de japonês e também por aí afora. Mas admitimos com relutância e em caráter totalmente excepcional. 

O mecanismo funciona mais ou menos assim: estabelecemos uma expectativa de comportamento coletivo (nacional, regional, racial), mesmo sem conhecermos, pessoalmente, muitos ou mesmo nenhum membro do grupo sobre o qual pontificamos. Sabemos (sabemos?) que os mexicanos são preguiçosos porque eles aparecem sempre dormindo embaixo dos seus enormes chapelões enquanto os diligentes americanos cuidam do gado e matam bandidos nos faroestes. Para comprovar que os italianos são ruidosos achamos o bastante freqüentar uma cantina no Bixiga. Falamos sobre a inferioridade do negro a partir da observação empírica de sua condição socioeconômica. E achamos que as praias do Rio de Janeiro cheias durante os dias da semana são prova do caráter folgado do cidadão carioca.

Não nos detemos em analisar a questão um pouco mais a fundo. Não nos interessa estudar o papel que a escravidão teve na formação histórica de nossos negros. Pouco atentamos para a realidade social do povo mexicano e de como ele aparece estereotipado no cinema hollywoodiano. Nada disso. O importante é reproduzir, de forma acrítica e boçal, os preconceitos que nos são passados por piadinhas, por tradição familiar, pela religião, pela necessidade de compensar nossa real inferioridade individual por uma pretensa superioridade coletiva que assumimos ao carimbar “o outro” com a marca de qualquer inferioridade. Temos pesos, medidas e até um vocabulário diferente para nos referirmos ao “nosso” e ao do “outro”, numa atitude que, mais do que autocondescendência, não passa de preconceito puro. 

Por exemplo, a nossa é religião, a do outro é seita; nós temos fervor religioso, eles são fanáticos; nós acreditamos em Deus (o nosso sempre em maiúscula), eles são fundamentalistas; nós temos hábitos, eles vícios; nós cometemos excessos compreensíveis, eles são um caso perdido; jogamos muito melhor, o adversário tem é sorte; e, finalmente, não temos preconceito, apenas opinião formada sobre as coisas. Ou deveríamos ser como esses intelectuais que para afirmar qualquer coisa acham necessário estudar e observar atentamente? Observar, estudar e agir respeitando as diferenças é o que se esperada de cidadãos que acreditam na democracia e, de fato lutam por um mundo mais justo. De nada adianta praticar nossa indignação moral diante da televisão, protestando contra limpezas raciais e discriminações pelo mundo afora, se não ficarmos atentos ao preconceito nosso de cada dia. 

O autor?

Jaime Pinsky – historiador, doutor e livre docente pela USP – gentilmente autorizou a reprodução deste texto, que foi originalmente publicado em O Estado de S. Paulo (20/05/1993) e no livro Brasileiro (a) é assim mesmo – Cidadania e Preconceito, 1993, da Editora Contexto (www.editoracontexto.com.br)


            Após o processo de Capitanias Hereditárias no Brasil ocorreu em algumas de suas metrópoles, um grande crescimento no espaço geográfico. No entanto, tamanho crescimento foi inversamente proporcional aos investimentos básicos para se ter um espaço com segurança, igualdade e com efeitos eficazes na sua infraestrutura.

          As cidades brasileiras têm se revelado, cada vez mais frágeis e sujeitas às ações da natureza. Essas ações já poderiam ter sido previstas diante ao comportamento violador do homem em relação ao meio ambiente, ao longo do tempo, e que foi agravando-se devido à omissão do poder público em solucionar os problemas estruturais.

         Por outro lado, o Estado tentou compensar essas limitações através do programa de desestatização e de concessão de serviços públicos em nosso país, embora, não tenham alcançado o êxito. Isto é posto, que diversos fatores ainda apresentam gargalos estruturais relevantes a serem erradicados. Tamanha deficiência nas cidades brasileiras merece atenção, pois elas não só alteram o espaço urbano, mas também, o crescimento econômico e consequentemente na distribuição de renda.

         Segundo o diagnóstico da Associação Brasileira da Infraestrutura (ABDI), ao falar nas cidades brasileiras, o problema não se resume apenas na falta de infraestrutura, mas também, nos lixos jogados pela própria população, que ao chover, entopem as galerias e causam alagamentos. Nesse sentido, uma das vítimas da chuva é o Estado do Rio de Janeiro, que sofre anualmente com estes efeitos e nada definitivo é feito para alterar esses grandes estragos.

         Portanto, diante desta problemática ambiental urbana, é preciso uma melhor elaboração e aplicação de políticas ambientais em nosso país, além de reduzir os desperdícios, com recursos paliativos e aumentar com soluções mais plausíveis. Conscientizando a população com medidas ecológicas de forma ampla para que se chegue também, nas camadas mais pobres. Afim, de um ambiente mais digno para se viver.


Aluno: Paulo Ricardo
Professor: Diogo Didier
 
Publicado pelo iG
 
Sem entrar na questão de se estamos preparados ou não para um vilão gay na novela das nove, o horário de maior audiência da tevê aberta brasileira (levando-se em conta não só o fato de que a maioria do povo brasileiro se informa por meio da tevê; a ainda baixa qualidade da educação formal oferecida pela ampla maioria das escolas públicas; o baixo índice de leitura de livros, mas sobretudo se levando em conta o atual contexto político, marcado pela emergência de um fundamentalismo religioso odioso que se expressa e cresce sobretudo na difamação da comunidade LGBT); sem entrar nessa questão, posso afirmar que Walcyr Carrasco teve uma idéia interessante ou, no mínimo, produtiva para sua nova novela, “Amor à vida”: fazer do grande vilão da trama alguém cuja vilania advém da repressão ou recalque da homossexualidade.
 
Félix seria então uma denúncia dos impactos nocivos do recalque da homossexualidade ou internalização da homofobia sobre o caráter de gays e lésbicas: estes experimentam inicialmente, desde a mais tenra infância, o sentimento de pertencer a outra raça; com raras exceções, são vistos pelos próprios pais, quase sempre violentamente hostis à orientação sexual ou identidade de gênero que se expressa apesar de toda repressão, como condenados a uma sexualidade vergonhosa e incapazes de lhes gerar uma descendência; por conta disso, para não decepcionarem esses pais e estarem à altura das suas (dos pais) expectativas, muitos são os que desenvolvem um ódio de si mesmo (e, logo, do semelhante; ou seja, internalizam a homofobia), buscando no suicídio ou no fingimento a saída para seu sofrimento, podendo o fingimento incluir a busca pela realização do desejo homossexual no sexo anônimo em banheiros públicos, saunas e parques; realização do desejo sempre seguida de culpa e de mais ódio de si, claro. Félix seria alguém que teria optado por essa segunda saída. Todo seu fingimento – e por conseguinte todo seu mau caráter – é em nome do pai que sempre o rejeitou e reprimiu por causa da homossexualidade. Félix seria um perverso em função da “lei do pai”; teria uma perversão por conta desta; seria uma “père-version” (versão outra do pai), para usar a expressão lacaniana. Não por acaso Walcyr Carrasco havia escolhido, como primeiro título de sua novela, a expressão “Em nome do pai”.
 
Mas não é esse Félix que estamos vendo na tela ou, pelo menos, estamos vendo apenas parte desse Félix prometido. Este jamais poderia ser tão afeminado ou dar tanta pinta.
 
Um perverso em decorrência da homossexualidade recalcada e conscientemente preso num armário jamais se exporia tanto quanto Félix se expõe, principalmente por meio do “humor bicha” presente em expressões como “Estou uma gelatina de exaustão”, “Minha pele borbulha com comida gordurosa”, “Eu devo ter salgado a santa ceia para merecer isso!”, “Pelas contas do rosário”, “Deu a Elza”, “Vou arrumar o topete, que ele despencou”. Essas expressões – assimiladas e reproduzidas só por quem vive a cultura gay – associadas à afeminação são bandeiras impossíveis num gay enrustido, casado com mulher, pai de um filho adolescente e herdeiro de um grande hospital de São Paulo!
 
E a culpa desse Félix defeituoso enquanto personagem não é de Mateus Solano, excelente ator que não precisa provar seu talento a mais ninguém. Solano lê um texto com rubrica que lhe chega às mãos. Seria estranho se Solano não colocasse alguma afetação num texto que diz “Ai, meu Deus, eu só posso ter salgado a Santa Ceia para merecer uma coisa dessas!”.
 
O problema é do autor da novela, que não se contentou em criar um personagem coerente, mas, antes, quis fazer, dele, um sucesso de público como o foram as vilãs Odete Roitman, Maria de Fátima, Nazaré e Carminha. Carrasco é um homem inteligente, bem-informado e conectado à internet, logo, está a par do enorme sucesso que os perfis das “bichas más” (ou das que se apresentam como “bichas más”) – Hugo Gloss, Cleycianne, Gina Indelicada, Irmã Zuleide, Xuxa Verde, Nair Belo, Katylene e Paola Poder – fazem nas redes sociais. Carrasco quis, portanto, importar, para Félix, esse mar de venenos que tanto seduz os internautas em redes – hoje elementos imprescindíveis na conquista da audiência.
 
Sem essa maledicência típica de alguns homossexuais (mas não de todos e nem mesmo da maioria), sobretudo típica daqueles que jogam mais aberto com certa feminilidade de estrelas do cinema e da música pop; sem essa maledicência “feminina”, como fazer, do Félix, um vilão amado? Carrasco também é um autor experiente e já declarou ser fã de telenovela antes mesmo de começar a escrever as suas; portanto, sabe que o sucesso de Odete Roitman, Maria de Fátima, Nazaré e Carminha tem a ver com a marca de gênero, ou seja, com o fato de elas serem mulheres. E nunca é demais lembrar que essas vilãs foram e são populares principalmente entre gays e mulheres heterossexuais, que constituem o núcleo duro da audiência das telenovelas. Logo, se Félix fosse um gay enrustido que insistisse numa performance de gênero masculina, seria certamente odiado, mas jamais popular.
 
Ao associar o “humor bicha” a um personagem gay recalcado capaz de cometer crimes hediondos em nome de sua ambição, Walcyr Carrasco esvazia a função de defesa psíquica e de resistência política que este humor tem. Como já disse, o “humor bicha” que se expressa sobretudo em frases irônicas, anedóticas e de deboche consigo e/ou com seus pares só pode ser exercitado por quem saiu do armário, voluntária ou compulsoriamente. Pois, como disse Freud do chiste, o “humor bicha” é a formação do inconsciente que mais se insere no social; logo, necessita do outro para referendá-lo (Quem está no armário se esforça para não expor sua orientação sexual ao outro ou encena a orientação sexual socialmente aceita e validada). O “humor bicha” é uma estratégia do inconsciente dos homossexuais – inconsciente quase sempre estruturado sob o insulto, a injúria e a humilhação perpetrados pela ordem heteronormativa e, portanto, homofóbica – para defender a mente e o corpo da angústia e de outros sintomas das neuroses. O “humor bicha” atua então como álibi da verdade do sujeito homossexual que, até então (até sair do armário), não fora possível de ser dita. Este humor passa a ser também uma estratégia de resistência política: por meio dele, a comunidade LGBT (sobretudo o seguimento T dessa “sopa de letras”) debocha da ordem masculina que a oprime e dá significado positivo a palavras insultuosas e difamantes. Associar o “humor bicha” a um criminoso frio e egoísta é perder de vista sua função na luta de LGBTs por dignidade, estima e direitos. A redenção de Walcyr Carrasco nessa questão pode vir se e somente se este humor estiver presente em algum dos outros dois gays que fazem parte da trama. Do contrário, estará provado que Carrasco salgou a Santa Ceia!