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30 abril 2019



59° lugar. Esta é a posição do Brasil no último PISA, Programa Internacional de Avaliação dos Alunos, entre os 70 países participantes. Para conseguir essa vergonhosa colocação, o país fez feio nos quesitos matemática, ciências e leitura. Aliás, no que se refere a ler, a pátria que tem exaltado as armas ao invés dos livros vai se aproximar ainda mais do derradeiro lugar neste pódio. Antes, porém, é incontestável que em sucessivos planos governamentais a educação não foi prioridade. Isto porque, numa relação clara de adestramento, subserviência e tecnicismo, o foco é mecanizar o saber transformando nossos estudantes em meros protótipos do sistema.

Decerto, para alcançar este vexatório posto só um misto de descompromisso e burrice regeram, e regem, esse (des)educado Brasil. Como tudo que é ruim pode piorar, o cataclismático governo de Jair Bolsonaro assina a ordem para permitir que pais possam educar seus rebentos em casa. A priori, todavia, é preciso concatenar o porquê da educação ter se tornado o alvo dessa nova política que acomete o país. Muito antes de ser empossado, a persona não grata da figura Temer conseguiu modificar o ensino médio, permitindo aos estudantes moldarem a sua grade de estudos ao seu belprazer. Entrementes, a discussão da Escola sem Partido avançava a todo vapor também com os olhares elogiosos de Bolsonaro.

Entre as metas do, na época presidenciável, estavam a educação domiciliar e a proibição do tema educação sexual nas escolas. Ora, apenas aqui há práticas claras de cerceamento da liberdade pedagógica, além da negação às pesquisas científicas e silenciamento de discussões caras aos nossos jovens. Entretanto, o bombardeamento na esfera educacional têm propósitos mais nefastos. Após a empobrecimento cognitivo transmitido pelas fake news, que levaram aquele cidadão ao poder, o governo resolveu esculhambar de vez o que já era uma balbúrdia. Agora, com aval legislativo, diversos projetos pretendem emburrecer a sociedade por meio de uma (des)educação sem respaldo científico, eivada pela interferência perigosíssima de setores religiosos e descomprometida com o que há de mais vanguardista na formação intelectual da sociedade. É educar para doutrinar.

Trata-se de marionetes cuja função é perpetuar na política uma esfera de governo tirano e claramente inexperiente. A prática do Homeschooling é uma prova disso. Conhecido como educação domiciliar, tal modalidade é aceita em grandes nações espalhadas pelo mundo. No entanto, em muitas delas educa-se seus entes em casa porque há toda uma estrutura sócio-cultural efetiva, capaz de oferecer aos responsáveis o mínimo de arcabouço para orientar seus alunos-familiares. Porém, diferente deles, o Brasil possui diversos entraves que antecedem o colégio de um lado e, do outro, adentram os muros escolares atrapalhando a aprendizagem.

Diante de um projeto de ensino deveras avacalhado, estamos permitindo que diversos professores formados, detentores de anos de experiência em sala de aula - e das dificuldades que cercam está atividade - sejam desmoralizados por um governo que permite pessoas sem qualquer noção pedagógica de ensinar a nossa juventude. É evidente o desconhecimento político das teorias de Paulo Freire acerca da pedagogia, sobretudo aquelas que veem a opressão em torno daquilo que há nos moldes clássicos de ensino. Contudo, as contribuições freirianas, aceitas e respeitadas em diversas universidades do mundo, são ridicularizadas na vala que se tornou o Brasil de Bolsonaro. Submergindo na lama da ignorância, estamos atolados até o pescoço com as medidas insanas desse governo despreparado, o qual tem conseguido a proeza de deteriorar o que já está em ruínas. Não falta muito para o pouco fôlego restante extinguir-se de nossos pulmões. Até lá, o ar continua mais rarefeito todas as vezes que o presidente de muitos brasileiros, não o meu, pronuncia alguma barbaridade com ares benfazejos na mídia.

Enquanto desdenham dessa maneira da nossa Educação, não irá tardar para que outros rankings, além do PISA, mostrem a defasada realidade conhecida por todos nós. O Enem está chegando e com ele a visão rasa da religiosidade fotoshopada de Bolsonaro. Será mais um tiro certeiro na morte iminente da intelectualidade do Brasil. Caso o Homeschooling se concretize, veremos a robotização juvenil em cadeia. Será o maior atentado ao conhecimento da história desse país. O efeito kamikaze de uma educação domiciliar em lares sem educação vai ser o nosso regresso a idade das cavernas. Pena que não teremos mais os dinossauros para nos entreter.

01 maio 2018



Lembro-me como se fosse hoje. Ainda pequena, vi um filme sobre o tão falado "Bullying", após isso a professora nos propôs uma discussão sobre tal. Naquele momento todos entenderam o que era o bullying, ou pelo menos fingiram... As cenas impactantes me extasiaram, nunca pensei que alguém fosse capaz de humilhar o próximo ao ponto de a única solução para o "bulinado" ser a morte. Aquilo doeu. Aquilo ainda dói. Mas, tudo bem, eu "esqueci", as crianças esqueceram, até porque o ser humano não tende a tomar a dor do próximo para si. Tempos depois parei para refletir: será que já sofri bullying? Agora, pergunte a si mesmo, "Será que já sofri bullying?" Talvez você pense que não, talvez você nunca tenha sofrido, ou talvez você seja como eu, a qual achava que não, mas aí é que está o problema, quem sofre/sofreu bullying normalmente não assume para si que está passando por tal ou que já passou.
O bullying é uma agressão intencional, de maneira repetitiva, podendo ser de forma física ou verbal, por um ou mais alunos contra um ou mais colegas. Ele tem domínio em âmbitos escolares, porém alcançou outras vertentes, como a internet., trazendo o chamado cyberbullying. Antes de fazer meu relato sobre as agressões que sofri na escola, preciso abordar sobre o que passei na infância. Quando criança meus parentes falavam sobre duas coisas de mim: Cabelo e corpo. Falavam bem? Negativo. Meus cabelos eram volumosos, cacheados, motivo para riso. Riso? Exatamente! Toda cacheada já ouviu "Teu cabelo parece uma juba de leão" ou "Que cabelo de fubá". Aquilo me entristecia, me adoecia. Chorava e chorava muito para desembaraçar o cabelo, enquanto isso eles riam e achavam divertido. Era doloroso, eu até evitava, só por medo de sentir aquilo novamente. Enfim, agora sobre o corpo. Ah, meu corpo... Bem, sempre fui muito magra, para algumas pessoas é ótimo, hoje ainda escuto "Queria ser assim magrinha, comer e não engordar", pois bem, eu afirmo: não é tão maravilhoso. Isso gerou inúmeras brigas entre mim e minha mãe. Ela me contou que chorava para eu comer, pois não aguentava mais ouvir as pessoas falarem da minha magreza exacerbada. Imaginem uma criança magra, com cabelos batendo na polpa do bumbum e super cheios, agora imaginem compara-la a uma vassoura invertida, isso mesmo. Não é engraçado para mim, nunca foi.
Meus colegas faziam piadas desse tempo, além de falarem que falo demais. Aos 10 anos dei o primeiro alisamento químico no cabelo, o objetivo era ser aceita, era me livrar daquele fardo que me trazia angustia, pois finalmente eu teria "cabelo bom". Passei também a tomar remédio para engordar, aliás, o corpo perfeito também precisava ser alcançado. Mas, não consegui engordar e aos poucos a química caiu, o dinheiro se foi, permaneci magra e pior ainda sem cachos, com o cabelo estragado. O que fazia? Molhava e prendia, era lei. Não me sentia bonita, longe disso. Então, o que fazer para alcançar harmonia comigo mesma? Estudar! Eu pensava "Se não posso ser bonita, ao menos posso ser inteligente".
 Pra que fiz isso? Fui vítima mais uma vez, apelidos como "Nerd" "Quatro olhos" "Metida", foram selados em minha testa. Era como no filme "A letra escarlate", a "adultera" tinha que usar uma enorme letra pendurada em seu pescoço para que todos soubessem quem ela supostamente era, e dessa forma, seria julgada, excomungada; eu não tive que usar nenhuma letra no pescoço, mas pior que isso, era como se não fosse apenas uma letra, mas algo que fizesse com que as pessoas chegassem em mim e me odiassem, falassem apelidos, piadas e no fim acabassem comigo.
O tempo passou e me acostumei. Chorava sempre, mas tinha que lidar com isso. Até que um outro episódio me aconteceu. Passei a sofrer bullying, mas não era o de costume dos alunos, foi de uma professora. Certo dia interferi em sua aula, e como resposta ganhei um belo fora, seguido de desprezo, raiva e apelidos. Aquilo me matou. Eu convivi com as gracinhas por meses, tentava dizer a mim mesma "Calma, não é bullying, isso é coisa da minha cabeça, aliás, a errada sou eu mesma por ser diferente". Tentei falar para minha mãe, mas algo me prendeu, eu tinha medo do que a professora fosse fazer se soubesse que abri a boca. E assim permaneci na famosa "Lei do Silêncio", que me consumia, me desgastava. O tempo passava devagar em sua aula e era um tormento, sofri dessa forma até o fim do ano... E assim acabou a suposta infância.
            Ensino médio, anos de grandes decisões, o vestibular bate na porta. Mudei de escola. Medo me cercou. Como as pessoas lidariam comigo? Sofreria bullying novamente? Mas, eu tinha que ir, era a minha única opção. Fui para escola pública, primeira vez na vida. Era a única de origem de escola privada, obviamente, nossas bases eram diferentes, culpa minha? Não, do governo que não investe em educação. Pois bem, deixemos isso de lado. Continuando, logo me destaquei, estudava muito, tinha medo do vestibular e ademais era bom ser boa em algo. Até que os comentários começaram, como "Essa menina fala demais" "Cala a boca, para de responder" "Aff, eu odeio ouvir sua voz". Tudo bem até aí, me calei, me retraí. Chorei. Era vítima de novo.
Certo dia, fizemos uma dinâmica, a qual deveríamos escrever algo sobre alguém, bom ou ruim, sem se identificar. Recebi papéis da quantidade da turma, algo positivo? Não, é claro que não! Meu cabelo foi ridicularizado; fui taxada de palito, vassoura, graveto, até "Etiópia" (fazendo referência as crianças da África); minha maquiagem era motivo de risos, e o engraçado eu só usava para ser aceita; metida, esnobe, sabe tudo, já eram tão comuns que se tornaram quase uns elogios... Quis sair da escola, chorei, fiquei depressiva, minha mãe não entendia, aliás, eu não conseguia falar. Depois de muito esforço fui para a escola, aos poucos, me enturmei com uma pessoa, duas, mas sempre me retraía. Hoje, noto como eu fui forte, pois consegui lidar mais uma vez com o terrível monstro que me assombrava. Segui. Poderia ter sido pior? Com certeza, mas busquei forças e aprendi a me aceitar. Tenho cabelo cacheado, sou magra e falo muito. É o meu físico, é o meu jeito, é quem eu sou. Hoje, tenho plena ciência de que o que passei era bullying, não acho que ninguém, repito NINGUÉM deva passar, é lastimável. Ainda tenho feridas não cicatrizadas, e isso me afeta. Isso tem um fim? Ou o bullying é um vírus, no qual a única cura é a morte?


17 novembro 2016


Por Christiana Martins e Marcos Borga ( foto)
“Empatia? Parece que vem da palavra simpatia. Quando penso em empatia, penso em simpatia.” É assim, com simplicidade, que o rapaz responde, quando questionado sobre como compreende o conceito de empatia. Tem 14 anos, não pode ter o nome divulgado, nem se pode dizer onde vive ou como é. Por questões de segurança vive numa casa de acolhimento da Santa Casa da Misericórdia no centro de Lisboa.
Com ele vivem mais 11 rapazes, todos adolescentes entre os 14 e os 18 anos, todos com histórias de vida para lá de complicadas. Estão sob a tutela do Estado, tentam reaprender a viver, com autonomia, confiança e algum afeto. Mas são também um caso de estudo, porque fizeram parte de um projeto piloto que os tentou preparar para lidar com o fenómeno do bullying. Dentro de casa, na escola, dentro deles mesmos – afinal, uma vítima pode também ser um agressor. Daí a importância de aprender a sentir o que o outro sente. A importância de se ser empático.
O sentimento de empatia exige algum distanciamento. Não é simpatia, não é cumplicidade. É algo diferente. “Empatia é quando eu me consigo colocar no lugar do outro, perceber o que ele sente”, explica Sónia Freitas, coordenadora do projeto Houses of Empathy, desenvolvido pela associação Par — Respostas Sociais, entidade que está a aplicar a metodologia de prevenção do bullying para jovens em contexto de acolhimento em três casas da Santa Casa de Misericórdia em Lisboa.
E se os adolescentes conseguem, aos poucos, aprender o que é empatia, saberão o que é o bullying? “Nós compreendemos o bullying de uma forma ampla, que passa, sobretudo, pela criação de uma situação de desequilíbrio de poder entre os jovens”, explica Sónia Freitas, concluindo que é por isso que a metodologia do programa visa “a promoção de relações saudáveis entre os jovens e a palavra bullying é evitada até ao fim das sessões”.
Nem vítimas nem agressores
Para o programa, bullying são os “comportamentos que envolvem agressões ou ameaças intencionais e repetidas, sem motivos evidentes”. E, de acordo com estudos já realizados, as crianças institucionalizadas estarão entre os grupos mais vulneráveis, podendo vir a sofrer consequências que poderão durar toda a vida, com efeitos sobre a capacidade de aprendizagem, causando ansiedade e estimulando estados depressivos.
No dicionário Priberam, contudo, bullying é “o conjunto de maus-tratos, ameaças, coações ou outros atos de intimidação física ou psicológica exercido de forma continuada sobre uma pessoa considerada fraca ou vulnerável”. Mas, no programa Houses of Empathy, a palavra só surge ao fim das 15 sessões, de uma hora cada, depois de os adolescentes já terem trabalhado questões essenciais como a auto estima, a resolução de problemas, a gestão emocional e a gestão de expectativas. Tudo é feito, como explica Sónia Freitas da Par, através da prática de educação não formal, com o recurso ao teatro, em que os jovens passam por todas as situações possíveis, seja de quem agride, seja de quem é agredido.
Os estudos citados na recolha de informação promovida pelo programa Houses of Empathy ainda colocam Portugal no topo de seis países analisados (Portugal, Espanha, Escócia, Inglaterra, Irlanda e País de Gales) com piores resultados em termos de bullying. “Temos, contudo, de relativizar estes resultados, afinal são feitos com base em relatos produzidos pelos próprios jovens”, alerta Sónia Freitas.
O mais importante para o diretor de Infância e Juventude da Santa Casa da Misericórdia, Rui Godinho, é que a casa de acolhimento tenta estabelecer com os jovens rotinas normativas, onde os adolescentes estão sempre acompanhados e onde se procura construir um novo modelo de relações, mais saudáveis e menos marcadas pela agressividade aprendida no passado.
Ali não há punições, garante, mas há consequências. Ou seja, “todas as emoções são legítimas, o tom é que tem de ser trabalhado, a forma como as emoções são exteriorizadas”. Os educadores funcionam em representação dos pais, ausentes. E os comportamentos “não são encarados como a causa dos problemas, mas como um sintoma do que os jovens sentem”, explica o responsável.
O Houses Of Empathy é, por isso, um projeto europeu que pretende ajudar a reduzir as elevadas taxas de bullying entre jovens em contexto de acolhimento institucional através da criação de um programa específico de combate ao fenómeno.
O programa piloto foi testado em três países (Portugal, Espanha e Irlanda do Norte), abrangendo 9 centros de acolhimento residencial para crianças e jovens. Espera-se que, no final do projeto, o programa tenha sido concretizado em 39 casas de acolhimento nestes 3 países, envolvendo 468 jovens (dos 8 aos 18 anos) e 194 profissionais.
TRABALHO. A tarefa de fazer os TPC, mesmo sem grande vontade, determina rotinas e estabelece vínculos
Concluída a fase de teste do programa, é chegada a altura de apresentar os resultados da intervenção, que encara a promoção de capacidades pessoais, sociais e de empatia como base de relações saudáveis dos jovens que vivem em casas de acolhimento. Por isso, no dia 27, realizar-se-á uma conferência no Espaço Santa Casa, em Lisboa, para debater a questão e, acima de tudo, refletir acerca dos resultados e ferramentas do projeto Houses Of Empathy e sensibilizar a comunidade responsável pela proteção de crianças e jovens para a importância da ação preventiva nestes contextos.
Promovido pela Par – Respostas Sociais, em parceria com Hechos (Espanha), VOYPIC – Voice of Young People In Care (Irlanda do Norte, Reino Unido) e Sticks And Stones (República da Irlanda), é financiado pela Comissão Europeia. Em Portugal, conta ainda com um protocolo de parceria com a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.
REGRAS. Naquela casa, no centro de Lisboa, os jovens construíram as suas próprias leis de empatia
No fim da experiência, os jovens decidiram, em conjunto, qual deveria ser o “código de procedimentos” assumido pela casa. Uma tábua com regras de boa convivência, que, como explica Sónia Freitas, acabam por ser “regras anti-bullying”. Respeito pelos outros, a capacidade de pedir ajuda aos educadores quando os jovens não conseguem resolver um conflito, aprender a elogiar, ouvir o outro, ser bem educado, respeitar as diferenças, ser assertivo (sem ser passivo e sem ser agressivo), quando os problemas surgirem pensar mais nas soluções, ter confiança nos pares, saber trabalhar em equipa, ser paciente e dar boas vindas aos novos habitantes da casa.
São tijolos. Cada regra, explica Sónia Freitas, é um tijolo, um passo na construção de uma casa onde a empatia é o habitante mais importante, onde cada morador consegue perceber o que o outro está a sentir. Capacidades de convivência que têm de ser trabalhadas diariamente. “Já penso antes de agir…nem sempre, mas já vou pensando…”, responde o rapaz que faz rimar empatia com simpatia. Não está mal: afinal, a ter em conta o dicionário, simpatia é “sentimento de atração moral que duas pessoas sentem uma pela outra”. Simpatia e empatia não são exatamente a mesma coisa, mas estão próximas. Ainda não é uma casa, mas é mais um tijolo.
ABRIGO. Na casa, trabalha-se a auto estima e a capacidade de estabelecer relações sociais mais saudáveis
O programa Houses of Empathy foi concluído há cerca de duas semanas e, até ao fim de novembro o processo de avaliação deverá estar finalizado, explica Sónia Freitas. Se tudo correr bem, a experiência poderá ser alargada a outros espaços de acolhimento de jovens em situação de risco. Só no distrito de Lisboa, explica Rui Godinho, existem cerca de 200 crianças e jovens em lista de espera para serem acolhidos. Todos à espera de aprender como lidar com o bullying que os espera dentro e fora de casa, dentro e fora deles mesmos.
TEXTO ORIGINAL DE EXPRESSO



Hoje queremos compartilhar uma história triste com a qual todos nós podemos refletir muito: Diego, um menino de apenas 11 anos, decidiu tirar a sua própria vida no dia 14 de outubro de 2015. A razão? O bullying que ele sofria na escola.
Todos nós sabemos o que é o bullying e o que este assédio psicológico e físico é capaz de fazer na vida das pessoas mais jovens. Mas fica a reflexão… como um menino tão pequeno foi capaz de tomar esta decisão? Nestas situações, não apenas nos chama a atenção a perda de uma vida tão jovem, mas também nos perguntamos se instituições, como a própria escola ou os serviços sociais, não desconfiaram nada a respeito da situação pela qual Diego estava passando.
A OMS, Organização Mundial da Saúde, publicou um informativo há pouco tempo no qual revelou que todos os anos cerca de 600 mil jovens se suicidam em todo o mundocom idades compreendidas entre os 14 e os 28 anos. Dentro desta cifra, o bullying é a causa de pelo menos metade dos casos.
Trata-se de um drama social que todos nós devemos compreender para combater com as estratégias mais adequadas.
Hoje, devemos conhecer o caso de Diego, este menino de Madri, Espanha, que encontrou na morte a única solução para os seus problemas da vida.

O bullying na escola e o adeus a uma criança especial

O menino vivia em Leganés, um bairro de Madri onde passou os 11 anos de sua vida. Diego não quis mais seguir adiante, não quis mais crescersó desejava ser livre de sofrimentos, de ataques e de pressões que sofria no colégio.
E por isso ele decidiu se jogar da sacada do apartamento onde morava, no quinto andar. Há quem pense que o suicídio é um ato de covardia por não saber enfrentar as dificuldades da vida. Entretanto, a verdade é que ninguém pode criticar a opção que acaba sendo escolhida pela pessoa em um momento como esse.
Neste caso estamos diante de uma criança e a realidade adquire um tom muito grave. Tanto é assim que os pais de Diego decidiram publicar a carta de despedida que seu filho lhes deixou e denunciar o caso à presidente da Comunidade de Madri e ao conselheiro de educação.

O caso de Diego, um bom aluno que não queria ir à escola

Diego tirava boas notas, era um bom aluno e seus pais estavam orgulhosos dele. A sua mãe contou que em algumas ocasiões, quando ela o buscava na escola, ele pedia que ela fosse embora rapidamente, correndo para fugir de algo ou alguém.
Ele só parecia verdadeiramente feliz quando chegavam o verão e as férias,quando ele ficava livre das aulas ou do seu colégio em Leganés. Os pais lembram também que durante quatro meses ele esteve afônico. Uma afonia nervosa que, de acordo com o médico, era certamente causada por algum impacto.
A família nunca soube ao certo que o motivo realmente era o que eles temiam e qual era a realidade que Diego vivia na escola.
Por outro lado, o próprio centro, quando deu início às investigações, explicou que a criança não apresentava nenhum problema e que não havia denunciado nenhuma incidência.
Fica claro que, em algumas ocasiões, os recursos de um centro não são suficientes para detectar o abuso, mas é possível intuir a tristeza de um menino. Os professores a veem, e os próprios colegas de classe que observam os acontecimentos simplesmente se calam.
Atualmente não há nenhum responsável que possa ser julgado ou investigado por causa da morte deste menino, e por isso os pais de Diego buscam, antes de tudo, colocar em evidência a gravidade do bullying, deste abuso escolar que levou a vida de seu filho tão pequeno.

A carta de despedida de Diego

Diego decidiu escrever uma carta de despedida para seus pais. Ele deixou uma nota que dizia “Vejam em Lucho” na janela da qual ele pulou rumo ao vazio.
Lucho era seu bicho de pelúcia favorito, aquele que em seu quarto guardava em silêncio as últimas palavras da vida de um menino de 11 anos infeliz, que dizia adeus aos seus pais de um modo maduro, admirável e emotivo. Porque Diego era, sem dúvida, um menino especial.
As frases que ele deixou foram as seguintes:
Papai, mamãe, estes 11 anos em que estive com vocês foram muito bons e eu nunca me esquecerei deles assim como nunca esquecerei de vocês. Papai, você me ensinou a ser uma boa pessoa e a cumprir as promessas, e além disso, brincou muito comigo. Mamãe, você cuidou muito de mim e me levou a muitos lugares. Vocês dois são incríveis, mas juntos são os melhores pais do mundo.
Tata, você aguentou muitas coisas por mim e pelo papai, e eu agradeço muito e te amo muito. Vovô, você sempre foi muito generoso comigo e sempre se preocupou. Te amo muito. Lolo, você me ajudou muito com as minhas lições de casa e me tratou muito bem.
Desejo sorte a você para que possa ver Eli. Digo isso porque eu não aguento mais ir ao colégio e não há outra maneira para não ir. Por favor espero que algum dia vocês possam me odiar um pouquinho menos. Peço que vocês não se separem, mamãe e papai, pois somente vendo-os juntos e felizes eu também serei feliz. Eu sentirei saudades e espero que um dia possamos voltar a nos ver no céu. Bom, me despeço para sempre.
Assinado Diego. Ah, uma coisa, espero que você encontre um emprego bem rápido Tata.”
Diego González.
TEXTO ORIGINAL DE MELHOR COM SAÚDE