27 julho 2012



Muitos irão dizer que não. A felicidade não tem preço. Muito embora, ela seja constantemente usada como moeda de troca para aquisição de pseudoalegrias. Isto porque, com a eclosão da nossa megalomaníaca sociedade de consumo, ser feliz não está mais relacionado a estado de espírito, ou aquele velho sentimento individual que brotava dos nossos olhos; nos momentos mais singelos da vida. Ao invés disso, buscamos uma ostentação descabida, a qual o ter é fundamental para nos sentirmos parte desse mundo que vem, paulatinamente esquecendo-se da importância do ser.

Casa, carro, roupa de marca, perfume importado, joias, Ipods, Ipads, e mais uma infinidade de outras bugigangas fazem parte do “essencial” para que o indivíduo sinta-se incluído nessa sociedade de consumo. De fato, há uma necessidade de pertencimento, a qual vocifera nos ouvidos que, para fazer parte de determinado grupo, a pessoa deverá possuir bens de consumo específicos, ou melhor, especificados pela hipnose social, esta, regida por segmentos poderosos, os quais guiam a sociedade a consumir de forma desenfreada objetos, muitas vezes supérfluos.

Para desempenhar esse serviço, coube à mídia, sobretudo a televisiva, o papel de disseminar esse novo perfil da sociedade. Assim, ela nos bombardeia com comerciais apelativos que nos incitam a comprar cada vez mais, sem uma real preocupação do que isso poderá ocasionar no futuro. A facilidade com que ela penetra em nossa vida acaba de certa forma ditando gostos, costumes e o que deve ou não ser consumido pela sociedade. E isso acontece de diversas formas, seja nos programas ou novelas que a todo o momento exibem artistas oferecendo algo ao telespectador, seja nos intervalos das programações.

Há quem diga que todos são atingidos direta ou indiretamente pela insaciável fome do consumismo, propagada sem pudor pelos meios midiáticos. No entanto, certos grupos são mais suscetíveis aos ataques, visto que ainda não criaram uma imunidade forte o suficiente para se safarem de tais investidas. Dentre eles, as crianças e os adolescentes são sem dúvidas os mais vulneráveis as armadilhas criadas pelo mundo do consumo. Por estarem numa fase de descobertas e transformações, eles são submersos num mar de novidades, onde obter coisas novas é essencial para se sentirem felizes.

Com esse precoce contato, os jovens crescem sem consciência da importância de uma educação financeira para suas vidas, tornando-se adultos frustrados e, possivelmente endividados. Desse modo, as pessoas são vendidas desde cedo, inconscientemente a um sistema de compra e venda, no qual elas não são os reais consumidores, mas sim produtos manipulados. Este teatro, do qual o povo é a marionete, forma indivíduos que não privilegiam o ser, mas o ter, o possuir e o ostentar. Então, existe felicidade sem dinheiro?

A questão não se limita a equiparar a felicidade ao dinheiro. Todos sabem que para uma vida de qualidade nesse mundo, onde o dinheiro dita suas regras, é preciso ter alguma renda para assegurar certos serviços que, infelizmente o governo não oferece qualitativamente a todos, sobretudo para as camadas menos favorecidas. O problema é quando o dinheiro recebe status de sentimento, sobrepondo-se a felicidade, ou equiparando-se a ela. Nesse contexto, não podemos personificar a felicidade em um carro, uma joia, ou uma roupa de marca, mas sim em atitudes que nos fazem bem e que de alguma forma contribuem para a felicidade alheia.

Na verdade, não podemos desfazer a áurea faceira dos nossos sentimentos, e dar lugar a um espectro monetário do qual a felicidade é comparada aos bens de consumo que as pessoas eventualmente podem ostentar. Tal inversão pode corroborar para a coisificação do sujeito moderno, o qual não se apegaria mais a singularidade da vida, nem a emoções intensas, mas sim a aquisição de objetos, posição social e outras futilidades que dariam “vida” a sua personalidade. Ser feliz não é e nunca será isso, pois a felicidade não se limita a um cifrão, mas a um estado de espírito em conformidade com o corpo, mente e alma.

Buscar um equilíbrio entre o ser e o ter seja talvez um dos maiores desafios do homem moderno. Os obstáculos para isso são inúmeros, uma vez que as amarras criadas pelo capitalismo criaram uma sociedade que vem perdendo o significado do que é ser humano, tornando o homem objeto da própria criação. Antes que essa coisificação seja plenamente concretizada, é preciso entender que nenhum sentimento pode ser personificado em objeto, pois tal prosopopeia resultaria no fenecimento da subjetividade humana, e não há dinheiro no mundo que traga de volta a felicidade perdida.



"Sou ex-pobre. Todos querem me vender geladeira agora. O trem ainda quebra todo dia, o bairro alaga. Mas na TV até trocaram um jornalista para me agradar"


Eu me considerava um rapaz razoavelmente feliz até descobrir que não sou mais pobre e que agora faço parte da classe C.

Com a informação, percebi aos poucos que eu e minha nova classe somos as celebridades do momento. Todo mundo fala de nós e, claro, quer nos atingir de alguma forma.

Há empresas, publicações, planos de marketing e institutos de pesquisa exclusivamente dedicados a investigar as minhas preferências: se gosto de azul ou vermelho, batata ou tomate e se meus filmes favoritos são do Van Damme ou do Steven Seagal.

(Aliás, filmes dublados, por favor! Afinal, eu, como todos os membros da classe C, aparentemente tenho sérias dificuldades para ler com rapidez essas malditas legendas.)

A televisão também estudou minha nova classe e, por isso, mudou seus planos: além do aumento dos programas que relatam crimes bizarros (supostamente gosto disso), as telenovelas agora têm empregadas domésticas como protagonistas, cabeleireiras como musas e até mesmo personagens ricos que moram em bairros mais ou menos como o meu.
 

A diferença é que nesses bairros, os da novela, não há ônibus que demoram duas horas para passar nem buracos na rua.
 

Um telejornal famoso até trocou seu antigo apresentador, um homem fino e especialista em vinhos, por um âncora, digamos, mais povão, do tipo que fala alto e gosta de samba. Um sujeito mais parecido comigo, talvez. Deve estar lá para chamar a minha atenção com mais facilidade.
 

As empresas viram a luz em cima da minha cabeça e decidiram que minha classe é seu novo alvo de consumo. Antes, quando eu era pobre, de certo modo não existia para elas. Quer dizer, talvez existisse, mas não tinha nome nem capital razoável.
 

De modo que agora elas querem me vender carros, geladeiras de inox, engenhocas eletrônicas, planos de saúde e TV por assinatura. Tudo em parcelas a perder de vista e com redução do IPI.
 

E as universidades privadas, então, pipocam por São Paulo. Os cursos custam R$ 200 reais ao mês, e isso se eu não quiser pagar menos, estudando à distância.
 

Assim como toda pasta de dente é a mais recomendada entre os dentistas, essas universidades estão sempre entre as mais indicadas pelo Ministério da Educação, como elas mesmas alardeiam. Se é verdade ou não, quem pode saber?
 

E se eu não acreditar na educação privada, posso tentar uma universidade pública, evidentemente. Foi o que fiz: passei numa federal, fiz a matrícula e agora estou em greve porque o campus cai aos pedaços.
Não tenho nem sala de aula.
 

Não que eu não esteja feliz com meu novo status de consumidor, não deve ser isso. (Agora mesmo escrevo em um notebook, minha TV tem cem canais de esporte e minha mãe prepara a comida num fogão novo; se isso não for felicidade, do que se trata, então?)
 

O problema é que me esforço, juro, mas o ceticismo ainda é minha perdição: levo 2h30 para chegar ao trabalho porque o trem quebra todos os dias, meu plano de saúde não cobre minha doença no intestino e morro de medo das enchentes do bairro.
 

Ou seja, ao mesmo tempo em que todos querem me atingir por meu razoável poder de consumo, passo por perrengues do século passado. Eu e mais de 30 milhões de pessoas -não somos pobres, mas classe C.
 

Deixa eu terminar por aqui o texto, porque daqui a pouco vão me chamar de chato ou, pior, de comunista. Logo eu, que só li Marx na versão resumida em quadrinhos. Fazer o quê, se eu gosto é de autoajuda?
 


LEANDRO MACHADO, 23, é estudante de letras na Universidade Federal de São Paulo, mora em Ferraz de Vasconcelos (SP) e escreve no blog Mural, da Folha

Folha de S.Paulo
15/07/2012










Mordida de Amor

Yahoo

Quando faz amor se olha no espelho
Será que você gosta mesmo de mim?
Vai me dizer que era prá sempre
Isso é amor ou uma doce mentira?
Uh, Baby!
Mas quando está só
Se morde de amor
Rolando na cama
E chama o meu nome...
Eu não quero tocar em você, oh baby!
E fazer seu jogo vai me deixar louco
Sei que você pensa o amor é do seu jeito
Coração quebrado e orgulho inteiro
Amar assim jamais dizer adeus
Já não é mais a grande surpresa
Viver assim a se morder de amor
(Refrão)
Amar assim jamais dizer adeus
Já não é mais
Amar assim jamais dizer adeus
Já não é mais a grande surpresa
Viver assim a se morder de amor



Tema: Aborto: é hora de legalizar?
Vidas em jogo


         Antigamente, a incidência de filhos por mulher era bastante alta, devido à falta de métodos contraceptivos que lhe ajudasse a controlar e escolher quando queria engravidar. O aborto, muitas vezes, tornou-se uma ferramenta muito usada para interromper gestações indesejadas. Contudo, hoje essa prática tornou-se alvo de questionamentos sobre se ela é ou não a melhor maneira para suspender uma gravidez.

         A prática do aborto no Brasil é proibida por lei. No entanto, de acordo com pesquisas realizadas pela Universidade de Brasília, uma em cada cinco mulheres já aderiram ao ato abortivo no país, provando que mesmo sendo ilegal, o seu exercício ainda está presente. Elas, muitas vezes imaturas, despreparadas ou sem condições de criarem seus filhos, apelam pela interrupção da gestação, trazendo complicações quando é feita clandestinamente, podendo acarretar desde sérias infecções até a morte da mulher.

          Por outro lado, alguns países legalizaram esse método. A China, por muitos anos incentivou essa prática visando o controle populacional. A Holanda também aderiu a sua aprovação, permitindo a mulher escolher se deseja ou não continuar a gravidez, visto que primeiramente a sua vida é mais importante. Entretanto, esses países comparados com o Brasil, possuem tanto uma administração e política mais eficientes quanto uma economia mais desenvolvida, além de uma população mais consciente acerca do assunto, levando-lhe a adotar as devidas precauções, evitando, muitas vezes, ter que aderir ao ato abortivo.

         O aborto é um método cercado de críticas ou de defesas em alguns locais do mundo. A sua prática, clandestinamente, pode levar a mãe ao óbito. Por outro lado, alguns países permitem a sua execução, deixando as mulheres livres para decidirem. O governo brasileiro deve investir em meios para melhor conscientizar-lhes, fornecendo-lhes melhores condições de vida, levando-as a se precaverem adequadamente e se caso engravidarem, terem uma maior consciência da decisão que possam tomar.


Aluno: Leonardo Araújo Ferreira Silva
Professor: Diogo Didier


 “As palavras sempre ficam. Se me disseres que me amas, acreditarei. Mas se me escreveres que me amas, acreditarei ainda mais. Se me falares da tua saudade, entenderei. Mas se escreveres sobre ela, eu a sentirei junto contigo. Se a tristeza vier a te consumir e me contares, eu saberei. Mas se a descreveres no papel, o seu peso será menor. Lembre-se sempre do poder das palavras. Quem escreve constrói um castelo, e quem lê passa a habitá-lo.”
                                
         Silvana Duboc


Mas o que me motivou a escrever este texto foi a celeuma causada na internet, que extrapolou a rede mundial de computadores, pelas declarações da paulista, estudante de Direito, Mayara Petruso, alavancada por uma declaração no twitter: "Nordestino não é gente. Faça um favor a SP, mate um nordestino afogado!".

Infelizmente, Mayara não foi a única. Vários outros “brasileiros” também passaram a agredir os nordestinos, revoltados com o resultado final das eleições, que elegeu a primeira mulher presidentE ou presidentA (sim, fui corrigido por muitos e convencido pelos "amigos" Houaiss e Aurélio) do nosso país.

E fiquei a pensar nas verdades ditas por estes jovens, tão emocionados em suas declarações contra os nordestinos. Eles têm razão!

Os nordestinos devem ficar quietos! Cale a boca, povo do Nordeste!

Que coisas boas vocês têm pra oferecer ao resto do país?

Ou vocês pensam que são os bons só porque deram à literatura brasileira nomes como o do alagoano Graciliano Ramos, dos paraibanos José Lins do Rego e Ariano Suassuna, dos pernambucanos João Cabral de Melo Neto e Manuel Bandeira, ou então dos cearenses José de Alencar e a maravilhosa Rachel de Queiroz?

Só porque o Maranhão nos deu Gonçalves Dias, Aluisio Azevedo, Arthur Azevedo, Ferreira Gullar, José Louzeiro e Josué Montello, e o Ceará nos presenteou com José de Alencar e Patativa do Assaré e a Bahia em seus encantos nos deu como herança Jorge Amado, vocês pensam que podem tudo?

Isso sem falar no humor brasileiro, de quem sugamos de vocês os talentos do genial Chico Anysio, do eterno trapalhão Renato Aragão, de Tom Cavalcante e até mesmo do palhaço Tiririca, que foi eleito o deputado federal mais votado pelos... pasmem... PAULISTAS!!!

E já que está na moda o cinema brasileiro, ainda poderia falar de atores como os cearenses José Wilker, Luiza Tomé, Milton Moraes e Emiliano Queiróz, o inesquecível Dirceu Borboleta, ou ainda do paraibano José Dumont ou de Marco Nanini, pernambucano.

Ah! E ainda os baianos Lázaro Ramos e Wagner Moura, que será eternizado pelo “carioca” Capitão Nascimento, de Tropa de Elite, 1 e 2.

Música? Não, vocês nordestinos não poderiam ter coisa boa a nos oferecer, povo analfabeto e sem cultura...

Ou pensam que teremos que aceitar vocês por causa da aterradora simplicidade e majestade de Luiz Gonzaga, o rei do baião? Ou das lindas canções de Nando Cordel e dos seus conterrâneos pernambucanos Alceu Valença, Dominguinhos, Geraldo Azevedo e Lenine? Isso sem falar nos paraibanos Zé e Elba Ramalho e do cearense Fagner...

E Não poderia deixar de lembrar também da genial família Caymmi e suas melofias doces e baianas a embalar dias e noites repletas de poesia...

Ah! Nordestinos...

Além de tudo isso, vocês ainda resistiram à escravatura? E foi daí que nasceu o mais famoso quilombo, símbolo da resistência dos negros á força opressora do branco que sabe o que é melhor para o nosso país? Por que vocês foram nos dar Zumbi dos Palmares? Só para marcar mais um ponto na sofrida e linda história do seu povo?

Um conselho, pobres nordestinos. Vocês deveriam aprender conosco, povo civilizado do sul e sudeste do Brasil. Nós, sim, temos coisas boas a lhes ensinar.

Por que não aprendem conosco os batidões do funk carioca? Deveriam aprender e ver as suas meninas dançarem até o chão, sendo carinhosamente chamadas de “cachorras”. Além disso, deveriam aprender também muito da poesia estética e musical de Tati Quebra-Barraco, Latino e Kelly Key. Sim, porque melhor que a asa branca bater asas e voar, é ter festa no apê e rolar bundalelê!

Por que não aprendem do pagode gostoso de Netinho de Paula? E ainda poderiam levar suas meninas para “um dia de princesa” (se não apanharem no caminho)! Ou então o rock melódico e poético de Supla! Vocês adorariam!!!

Mas se não quiserem, podemos pedir ao pessoal aqui do lado, do Mato Grosso do Sul, que lhes exporte o sertanejo universitário... coisa da melhor qualidade!

Ah! E sem falar numa coisa que vocês tem que aprender conosco, povo civilizado, branco e intelectualizado: explorar bem o trabalho infantil! Vocês não sabem, mas na verdade não está em jogo se é ou não trabalho infantil (isso pouco vale pra justiça), o que importa mesmo é o QUANTO esse trabalho infantil vai render. Ou vocês não perceberam ainda que suas crianças não podem trabalhar nas plantações, nas roças, etc. porque isso as afasta da escola e é um trabalho horroroso e sujo, mas na verdade, é porque ganha pouco. Bom mesmo é a menina deixar de estudar pra ser modelo e sustentar os pais, ou ser atriz mirim ou cantora e ter a sua vida totalmente modificada, mesmo que não tenha estrutura psicológica pra isso... mas o que importa mesmo é que vão encher o bolso e nunca precisarão de Bolsa-família, daí, é fácil criticar quem precisa!

Minha mensagem então é essa: - Calem a boca, nordestinos!

Calem a boca, porque vocês não precisam se rebaixar e tentar responder a tantos absurdos de gente que não entende o que é, mesmo sendo abandonado por tantos anos pelo próprio país, vocês tirarem tanta beleza e poesia das mãos calejadas e das peles ressecadas de sol a sol.

Calem a boca, e deixem quem não tem nada pra dizer jogar suas palavras ao vento. Não deixem que isso os tire de sua posição majestosa na construção desse povo maravilhoso, de tantas cores, sotaques, religiões e gentes.

Calem a boca, porque a história desse país responderá por si mesma a importância e a contribuição que vocês nos legaram, seja na literatura, na música, nas artes cênicas ou em quaisquer situações em que a força do seu povo falou mais alto e fez valer a máxima do escritor: “O sertanejo é, antes de tudo, um forte!”

José Barbosa Junior




Tema:'Como vencer a pobreza e a desigualdade'
Por Clarice Zeitel Vianna Silva
UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro - RJ


'PÁTRIA MADRASTA VIL'
Onde já se viu tanto excesso de falta? Abundância de inexistência. . Exagero de escassez... Contraditórios?? Então aí está! O novo nome do nosso país! Não pode haver sinônimo melhor para BRASIL. Porque o Brasil nada mais é do que o excesso de falta de caráter, a abundância de inexistência de solidariedade, o exagero de escassez de responsabilidade. 

O Brasil nada mais é do que uma combinação mal engendrada - e friamente sistematizada - de contradições. 
Há quem diga que 'dos filhos deste solo és mãe gentil.', mas eu digo que não é gentil e, muito menos, mãe. Pela definição que eu conheço de MÃE, o Brasil,   está mais para madrasta vil. A minha mãe não 'tapa o sol com a peneira'. Não me daria, por exemplo, um lugar na universidade sem ter-me dado uma bela formação básica.

E mesmo há 200 anos atrás não me aboliria da escravidão se soubesse que me restaria a liberdade apenas para morrer de fome. Porque a minha mãe não iria querer me enganar, iludir. Ela me daria um verdadeiro Pacote que fosse efetivo na resolução do problema, e que contivesse educação + liberdade + igualdade. Ela sabe que de nada me adianta ter educação pela metade, ou tê-la aprisionada pela falta de oportunidade, pela falta de escolha, acorrentada pela minha voz-nada-ativa. 

A minha mãe sabe que eu só vou crescer se a minha educação gerar liberdade e esta, por fim, igualdade. Uma segue a outra... Sem nenhuma contradição! É disso que o Brasil precisa: mudanças estruturais, revolucionárias, que quebrem esse sistema-esquema social montado; mudanças que não sejam hipócritas, mudanças que transformem!

A mudança que nada muda é só mais uma contradição. Os governantes (às vezes) dão uns peixinhos, mas não ensinam a pescar. E a educação libertadora entra aí. O povo está tão paralisado pela ignorância que não sabe a que tem direito. Não aprendeu o que é ser cidadão. 

Porém, ainda nos falta um fator fundamental para o alcance da igualdade: nossa participação efetiva; as mudanças dentro do corpo burocrático do Estado não modificam a estrutura. As classes média e alta - tão confortavelmente situadas na pirâmide social - terão que fazer mais do que reclamar (o que só serve mesmo para aliviar nossa culpa)... Mas estão elas preparadas para isso? 

Eu acredito profundamente que só uma revolução estrutural, feita de dentro pra fora e que não exclua nada nem ninguém de seus efeitos, possa acabar com a pobreza e desigualdade no Brasil. Afinal, de que serve um governo que não administra? De que serve uma mãe que não afaga? E, finalmente, de que serve um Homem que não se posiciona? 

Talvez o sentido de nossa própria existência esteja ligado, justamente, a um posicionamento perante o mundo como um todo. Sem egoísmo. Cada um por todos. 
Algumas perguntas, quando auto-indagadas, se tornam elucidativas. Pergunte-se: quero ser pobre no Brasil? Filho de uma mãe gentil ou de uma madrasta vil? Ser tratado como cidadão ou excluído? Como gente... Ou como bicho?

Premiada pela UNESCO, Clarice Zeitel, de 26 anos, estudante que termina faculdade de direito da UFRJ em julho, concorreu com outros 50 mil estudantes universitários. Ela acaba de voltar de Paris, onde recebeu um prêmio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) por uma redação sobre 'Como vencer a pobreza e a desigualdade' 

A redação de Clarice intitulada `Pátria Madrasta Vil´ foi incluída num livro, com  outros cem textos selecionados no concurso. A publicação está disponível no site da Biblioteca Virtual da UNESCO.



Drauzio Varella

Sou ateu e mereço o mesmo respeito que tenho pelos religiosos.
A humanidade inteira segue uma religião ou crê em algum ser ou fenômeno transcendental que dê sentido à existência. Os que não sentem necessidade de teorias para explicar a que viemos e para onde iremos são tão poucos que parecem extraterrestres.
Dono de um cérebro com capacidade de processamento de dados incomparável na escala animal, ao que tudo indica só o homem faz conjecturas sobre o destino depois da morte. A possibilidade de que a última batida do coração decrete o fim do espetáculo é aterradora. Do medo e do inconformismo gerado por ela, nasce a tendência a acreditar que somos eternos, caso único entre os seres vivos.
Todos os povos que deixaram registros manifestaram a crença de que sobreviveriam à decomposição de seus corpos. Para atender esse desejo, o imaginário humano criou uma infinidade de deuses e paraísos celestiais.
Jamais faltaram, entretanto, mulheres e homens avessos à interferências mágicas em assuntos terrenos. Perseguidos e assassinados no passado, para eles a vida eterna não faz sentido. Não se trata de opção ideológica: o ateu não acredita simplesmente porque não consegue. O mesmo mecanismo intelectual que leva alguém a crer leva outro a desacreditar.
Os religiosos que têm dificuldade para entender como alguém pode discordar de sua cosmovisão, devem pensar que eles também são ateus quando confrontados com crenças alheias.
Que sentido tem para um protestante a reverência que o hindu faz diante da estátua de uma vaca dourada? Ou a oração do muçulmano voltado para Meca? Ou o espírita que afirma ser a reencarnação de Alexandre, o Grande? Para hindus, muçulmanos e espíritas esse cristão não seria ateu?
Na realidade, a religião do próximo não passa de um amontoado de falsidades e superstições. Não é o que pensa o evangélico na encruzilhada, quando vê as velas e o galo preto? Ou o judeu quando encontra um católico ajoelhado aos pés da virgem imaculada que teria dado à luz ao filho do Senhor? Ou o politeísta, ao ouvir que não há milhares, mas um único Deus?
Quantas tragédias foram desencadeadas pela intolerância dos que não admitem princípios religiosos diferentes dos seus? Quantos acusados de hereges ou infiéis perderam a vida?
O ateu desperta a ira dos fanáticos, porque aceitá-lo como ser pensante obriga-os a questionar suas próprias convicções. Não é outra a razão que os fez apropriar-se indevidamente das melhores qualidades humanas e atribuir as demais às tentações do diabo. Generosidade, solidariedade, compaixão e amor ao próximo constituem reserva de mercado dos tementes a Deus, embora em nome d’Ele sejam cometidas as piores atrocidades.
Os pastores milagreiros da TV, que tomam dinheiro dos pobres, são tolerados porque o fazem em nome de Cristo. O menino que explode com a bomba no supermercado desperta admiração entre seus pares, porque obedeceria aos desígnios do Profeta. Fossem ateus seriam considerados mensageiros de satanás.
Ajudamos um estranho caído na rua, damos gorjetas em restaurantes nos quais nunca voltaremos e fazemos doações para crianças desconhecidas, não para agradar a Deus, mas porque cooperação mútua e altruísmo recíproco fazem parte do repertório comportamental não apenas do homem, mas de gorilas, hienas, leoas, formigas e muitos outros, como demonstraram os etologistas.
O fervor religioso é uma arma assustadora, sempre disposta a disparar contra os que pensam de modo diverso. Em vez de unir, ele divide a sociedade — quando não semeia o ódio que leva às perseguições e aos massacres.
Para o crente, os ateus são desprezíveis, desprovidos de princípios morais, materialistas, incapazes de um gesto de compaixão, preconceito que explica por que tantos fingem crer no que julgam absurdo.
Fui educado para respeitar as crenças de todos, por mais bizarras que a mim pareçam. Se a religião ajuda uma pessoa a enfrentar suas contradições existenciais, seja bem-vinda, desde que não a torne intolerante, autoritária ou violenta.
Quanto aos religiosos, leitor, não os considero iluminados nem crédulos, superiores ou inferiores, os anos me ensinaram a julgar os homens por suas ações, não pelas convicções que apregoam.


Carlos Alberto Di Franco

Impressiona-me o crescente espaço destinado à violência nos meios de comunicação. Catástrofes, tragédias, crimes e agressões, recorrentes como chuvaradas de verão, compõem uma pauta sombria e perturbadora. A violência não é uma invenção da mídia. Mas sua espetacularização é um efeito colateral que deve ser evitado. Não se trata de sonegar informação. Mas é preciso contextualizá-la. A overdose de violência na mídia pode gerar fatalismo e uma perigosa resignação. Acabamos, todos, paralisados sob o impacto de uma violência que se afirma como algo irrefreável e invencível. E não é verdade.
Os que estamos do lado de cá, os jornalistas, carregamos nossas idiossincrasias. Sobressai, entre elas, certa tendência ao catastrofismo. O rabo abana o cachorro. O mote, frequentemente usado para justificar o alarmismo de certas matérias, denota, no fundo, a nossa incapacidade para informar em tempos de normalidade. Mas, mesmo em épocas de crise (e estamos vivendo uma gravíssima crise de segurança pública), é preciso não aumentar desnecessariamente a temperatura. O jornalismo de qualidade reclama um especial cuidado no uso dos adjetivos. Caso contrário, a crise real pode ser amplificada pelos megafones do sensacionalismo. À gravidade da situação, inegável e evidente, acrescenta-se uma dose de espetáculo e uma indisfarçada busca de audiência. O resultado final é a potencialização da crise. 

Precisamos, ademais, valorizar editorialmente inúmeras iniciativas que tentam construir avenidas ou ruelas de paz nas cidades sem alma. A bandeira a meio-pau sinalizando a violência não pode ocultar o esforço de entidades, universidades e pessoas isoladas que, diariamente, se empenham na recuperação de valores fundamentais: o humanismo, o respeito à vida, a solidariedade. São pautas magníficas. Embriões de grandes reportagens. Denunciar o avanço da violência e a falência do Estado no seu combate é um dever ético. Mas não é menos ético iluminar a cena de ações construtivas, frequentemente desconhecidas do grande público, que, sem alarde ou pirotecnias do marketing, colaboram, e muito, na construção da cidadania. É fácil fazer jornalismo de boletim de ocorrência. Não é tão fácil contar histórias reais, com rosto humano, que mostram o lado bom da vida.

A violência está aí. E é brutal. Mas também é preciso dar o outro lado: o lado do bem. Não devemos ocultar as trevas. Mas temos o dever de mostrar as luzes que brilham no fim do túnel. A boa notícia também é informação. E, além disso, é uma resposta ética e editorial aos que pretendem fazer do jornalismo um refém da cultura da violência.

Carlos Alberto Di Franco
É doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra

14 julho 2012



A prostituição é uma das atividades mais conhecidas em todo o mundo. Sua prática, para alguns, coincide com o surgimento do homem na terra, enquanto, para outros, essa atividade se corporifica a partir do momento em que o sexo se tornou tabu nas sociedades modernas. Precisando, assim, de “profissionais” que realizassem fantasias lascivas, contrárias ao que era considerado correto. Logo, tal prática configura-se como a transgressão da ordem monogâmica vigente, sobretudo em países como o Brasil, onde essa atividade recebe o “status” pejorativo da promiscuidade. Ora, se de fato a prostituição está ligada àquela palavra, então, o paradigma desse fenômeno ganha uma dimensão mais ampla, visto que, atualmente, muitas pessoas exercem atividades promíscuas e não são rechaçadas por isso.

Maquiagem marcante, roupas sensuais, músculos torneados, esses sãos alguns dos atributos daqueles que utilizam do próprio corpo como instrumento de trabalho. De fato, aceitar a prática da prostituição, para muitos, é algo dificílimo, pois nossa inexorável visão acaba discriminando certos fenômenos muito antes de entendê-los. Isto porque, na sociedade em que vivemos, há o apelo “silencioso” para que cada indivíduo constitua família. Esta, é claro, fundamentada na concepção da monogamia, a qual é aceita pela ortodoxia religiosa e, posteriormente pela moral e os famosos, mas controversos, “bons costumes”. Logo, sexo em troca de dinheiro torna-se a desconstrução de tudo isso, numa quebra avassaladora dos valores pregados, e historicamente disseminados pelas sociedades ao longo do tempo.

No entanto, em muitos momentos, cometemos atos prostituídos e nem ao menos nos damos conta disso. Se a prostituição tem como principal característica a rotatividade dos parceiros, algumas vezes sem ato sexual propriamente dito, então, muitas pessoas são tão vadios quanto muitos profissionais que trabalham com esse tipo de serviço. Por exemplo, muitas pessoas saem à noite para se divertir e acabam beijando inúmeros parceiros; transando com estes e quando não, pegando doenças e até uma gravidez indesejada. Ou seja, enquanto a meretriz assumida se previne de doenças e só transa por uma significativa quantia de dinheiro, outras, consideradas “honestas” e de “boa família” fazem tudo isso, mas não recebem o mesmo rótulo discriminatório.

Também criticamos pessoas famosas, ou recém-lançadas na mídia, que volta e meia estão posando em algumas revistas especializadas em nudismo, de gêneros diversos; ou taxamos estas de vulgares por aparecem em fotos sensuais em sites e nas inúmeras redes sociais que se proliferam na internet; por puro marketing ou hedonismo moderno. No entanto, muitos anônimos sentem conscientemente o desejo de estampar uma dessas revistas, seja por uma questão de pertencimento, já que vivemos numa sociedade que nos obriga a participar de determinados perfis para sermos aceitos; seja por pura lascividade, numa vontade incontrolável de exibir as intimidades para outrem. 

Além disso, exibimos fotos sensuais em sites e redes sociais, dignas de muitas capas pornográficas conhecidas em todo o país. Mesmo assim, não recebemos o título de prostituto por isso, visto que não há uma renda envolvida nisso. Muito embora, a única diferença entre ambos os casos está na questão financeira e, sobretudo na sinceridade das cocotes e michês que se aventuram nas avenidas e prostíbulos espelhados pelo país, enquanto as pessoas “de bem” fazem algo similar ou até pior, porém cobrem-se com o manto do simulacro hipócrita.

Nessa linha de raciocínio, somos contra a prostituição infantil, visto que esta prática furta o direito da criança de viver uma fase da vida, tão importante para sua construção enquanto sujeito, não só psicologicamente, mas social e, sobretudo sexualmente. Porém, muitos adultos, sem perceber, aguçam a curiosidade dos infantes para temas ligados a sexualidade, sexo, numa época onde o corpo e mente desses jovens não está preparado para absorver esse tipo de informação. Isso ocorre em ocasiões simples, quando, por exemplo, deixamos jovens assistirem a programas inadequados, com cenas de beijos ardentes e até mesmo de sexo, propriamente dito. O resultado disso, são adolescentes cada vez mais prostituídos e iniciados numa vida sexual precoce, imprudentes e irresponsáveis, perpetuando os já altos índices de doenças, abortos e traumas ligados a uma sexualidade mal construída. Entretanto, não enxergamos dessa forma o fenômeno da iniciação juvenil, preferindo encontrar outros culpados para as falhas que “inconscientemente” cometemos com esse grupo.

Outro ponto polêmico ligado à prostituição refere-se à troca de favores sexuais por uma simbólica, ou às vezes farta, quantia em dinheiro. Essa manobra não é nova, uma vez que em vários momentos da civilização, moças e rapazes eram oferecidos como objeto de consumo de grandes autoridades em épocas distintas da história da humanidade. Em contrapartida, na era atual, tal prática encontra severas críticas, porque quem a realiza está ampliando o conceito de coisificação humana, a qual, nesse contexto, diz respeito à dessubjetivação do indivíduo. Em outras palavras, quem se vende por dinheiro lança mão do seu emblema de humano, racional, dessa matéria sócio e biologicamente aceita por todos, para se tornar um objeto consumível e, posteriormente descartado. Ora, não é só no ato da prostituição que as pessoas deixam de ser humanas para se tornar verdadeiros animais irracionais.

Nesse sentido, muitas pessoas podem ser consideradas como verdadeiras coisas, pois constantemente se vendem por dinheiro desonesto, diferente de muitos profissionais do sexo, que pagam suas contas em dia e ainda exercem sua cidadania de forma mais contundente do que muitos hipócritas que circulam pela sociedade. Quem diga os políticos do nosso país, que ano após ano, entram e saem do poder, mas pouco, ou quase nada fazem de significativo para o Brasil avançar de verdade. Além dos falsos religiosos, que usam a fé do povo para enriquecimento próprio, como constantemente tem sido mostrado em matérias, as quais pastores, bispos, padres etc., ampliam suas rendas a partir da boa vontade dos fieis, tudo em nome de Deus. Enquanto isso, preferimos crucificar as pessoas que fazem parte do mundo da prostituição, pois é muito mais fácil arremessar pedras nos corpos de quem assume uma posição ativa no mundo, ao invés de metralhar certos grupos que não contribuem com nada de significativo para o bem do povo.

Aí, alguém pode ousar em perguntar, o que a prostituição pode trazer de benéfico para a sociedade? Primeiro, a quebra de paradigma. Se há prostitutos (as) nas ruas é porque há uma necessidade humana de fantasiar o sexo, de transcender do politicamente correto e buscar novas formas de prazer, rompendo esse engessado modelo do qual vivemos, que é lindo na teoria, mas na prática, em quatro paredes, é bem diferente. Segundo, porque externa a selvageria humana. Não podemos nos esquecer de que somos animais e como tal, sentimos desejos ardentes pelo outrem, vontades estas que são sepultadas vivas por uma moral ultrapassada, a qual não acompanha o desenvolvimento humano em completude. E, terceiro, porque nós não fomos criados para sermos monogâmicos. Essa prática está relacionada a uma ditadura religiosa, atestada e comprovada historicamente. Mesmo assim, somos obrigados, por aqui, a engolir o discurso unilateral da relação humana, desprestigiando outras possibilidades afetivas e sexuais.

Rotular a prostituição como algo lascivo, pecaminoso e transgressor é minorar uma discussão que tem suas bases bem mais profundas do que se parece. Na verdade, ninguém se prostitui por que quer, mas sim porque é levado a tal, principalmente no Brasil, onde as desigualdades abissais criam uma porta de entrada para esse tipo de trabalho, o qual oferece dinheiro rápido, porém com grandes obstáculos. A exposição às ruas está sujeita a todo tipo de violência, a aquisição de doenças e o pior, aos olhares preconceituosos daqueles que se acham donos da moral e carregam o discurso do politicamente correto. Portanto, antes de insultar, agredir ou até mesmo humilhar alguém que escolheu este caminho, é coerente buscar formas de entender o que tem levado cada vez mais pessoas a esse tipo de serviço, e qual a importância dessa prática milenar na sociedade atual, pois nada que fosse tão ruim duraria tanto. Só dessa maneira, poderemos elucidar alguns mitos que circundam esse mundo de sujeira e ilusão, descobrindo que nem sempre os vulgares são aqueles que estampam na face suas fantasias.


Por Reginaldo Lordannos*

Direitos? Igualdade? Paz? Meu povo não conhece o significado dessas palavras, meu senhor. Muito menos o que é vivenciá-las. Infelizmente o Direito ainda tem cor, a Paz ainda tem credo e a Igualdade ainda tem classe social.

Estou cansado, cansado de querer uma Igualdade que me difere, um Direito que me acusa e uma Paz que me atormenta. Exausto de dizer pra minha gente que um dia seremos todos iguais, que teremos paz e que nossos direitos serão reconhecidos.

Força? Que força, meu senhor? Não tente adjetivar positivamente meu sofrimento, minha dor e meus direitos negligenciados. Desde que meu povo foi retirado brutalmente da África, sua vida tem sido marcada por desgosto.

Minha gente anda tão desiludida de não ter Direitos, Igualdade e Paz que quer apenas Respeito. Olha a que pontos chegamos, meu senhor. Pedir o que deveria ser naturalmente garantido. Respeito!

Senador? É esse o seu título não é mesmo? É esse o seu cargo? Então é você o homem eleito por estas tantas minorias humilhadas, esquecidas e forçadamente invisibilizadas para a sociedade. O que houve com o seu compromisso social? O que houve com os Direitos desses cidadãos que não são da sua cor, da sua religião, da orientação que o senhor professa ser, que não pertencem a sua roda de amigos?

É vergonhoso, meu senhor, ver um país trigueiro negar suas origens nos Censos aplicados. Uma nação tão rica em diversidade cultural como a nossa, graças as suas várias etnias, poderia ser motivo de orgulho nacional e exemplo para o mundo.

Minha gente está farta de adaptar sua fé, seus costumes e manifestações culturais para ser aceita. A verdade é que estamos todos enojados com tanta hipocrisia, com tanto preconceito velado, disfarçado, enfeitado e por fim negado.

Essa gente de cabelo ruim! É assim que se referem ao nosso estilo, meu senhor. Ruim? Ruim é a ignorância e o racismo que se encontram escondidos atrás dessas palavras. A dor e o estalar da chibata ainda ressoa em nossos ouvidos toda vez que é preciso criar uma Lei para que não sejamos desrespeitados, agredidos ou mortos.

Minha dignidade é diariamente questionada pelo simples fato de ser pobre. Então, não queira tornar meu fardo ainda mais pesado menosprezando-me pela minha cor, pela minha orientação, pelo meu sotaque e tantos outros motivos pequenos que nos diferencia.

Aprendi que não devemos nos abater pelas injustiças, que não devemos nos calar diante das ofensas, porque não devemos nada a ninguém. Ainda esperamos pelo dia que nossas diferenças servirão apenas para nos qualificar e não para nos distanciar.

Minha gente ainda precisa se impor, se dispor, incomodar, bradar, reclamar e reafirmar a sua posição de cidadão de uma nação que nega a seus filhos o pão da sobrevivência que os manterá na decência de civil honesto e disposto a procurar um posto pra chamar de seu.

Numa sociedade onde a Ordem ainda não está estabelecida não haverá Progresso.


* Reginaldo Lordannos é estudante de Artes Cênicas e Agente Cultural pela CIMA Produções Artística

Caminhos de Sol

Zizi Possi


Sem você a vida pode parecer
Um porto além de mim
Coração sangrando
Caminhos de sol no fim

Nada resta mas o fruto que se tem
É o bastante pra querer
Um minuto além
Do que eu possa andar com você

Te amo e o tempo não varreu isso de mim
Por isso estou partido
E tão forte assim

O amor fez parte
De tudo que nos guiou
Na inocência cega
No risco das palavras e até no risco da palavra Amor

Nada resta mas o fruto que se tem
É o bastante pra querer
Um minuto além
Do que eu possa andar com você

Te amo e o tempo não varreu isso de mim
Por isso estou partido
E tão forte assim

O amor fez parte
De tudo que nos guiou
Na inocência cega

No risco das palavras e até no risco da palavra Amor
O amor fez parte
De tudo que nos guiou
Na inocência cega
No risco das palavras e até no risco da palavra Amor

A hipervalorização de bens ditos “de marca” é uma característica das sociedades contemporâneas.  Delas advém a distinção como forma de poder que fascina tanto ricos quanto pobres no cenário da dessubjetivação partilhada por todos, da loja de luxo ao camelódromo das falsificações.
A questão da distinção guarda em seu fundo um aspecto mais tenebroso, concernente ao presente da condição subjetiva da vida dos usuários devorados pelas antipolíticas autodestrutivas do consumismo transformado em regra.
Zerada a intersubjetividade que se definia na interação afetiva e comunicativa entre pessoas, o que resta são as coisas – e as pessoas como coisas – que podem ser compradas. Diga-se de passagem que as pessoas não compram coisas, mas sinais que informam sobre um capital simbólico. Coisificação da consciência é o nome velho para o fenômeno em que a concretude das coisas é substituída pela abstração da insígnia.
A fascinação de tantas pessoas por roupas, carros e até eletrodomésticos ditos “de marca” em nossa época é a declaração auto-exposta da morte do sujeito. Espantalhos de uma ordem que previu o assassinato do desejo, do pensamento e da liberdade – conjunto do que aqui chamamos de subjetividade – são incapazes de compreender seu descarado simulacro.
A morte por assassinato da subjetividade é percebida na redução do indivíduo a uma espécie de morto-vivo em três tempos. 1 – A destituição do direito ao próprio desejo: a publicidade colonizou a capacidade de sentir e projetar a autobiografia de cada um que é apagada na encenação da “vida fashion”. 2 – A desaparição da possibilidade de pensar: a publicidade oferece os jargões e slogans a serem repetidos sob a ilusão de ideias próprias. 3 – O direito à ideia-prática da liberdade é extirpado: resta o simulacro da escolha entre uma marca e outra. A ação torna-se acomodação ao mesmo de sempre.
A escolha entre o nada e a coisa nenhuma é bem disfarçada no poder de ostentar que promete redimir do buraco subjetivo. Não tendo mais o que expressar, alguém simplesmente “ostenta” um relógio caro, um computador moderninho, um carrão oneroso. Ou um piercing, um músculo forte. Tudo e cada coisa é reduzida à marca, emblema do capital e seu poder na era do Espetáculo.
Cultura da falsa expressão
Podemos dizer que a ostentação é a cultura da pseudo-expressão no tempo das marcas. Se o poder de ostentar é proporcional ao esvaziamento da expressão, resta perguntar o que foi feito dessa potência humana? Ora, a expressão é fator subjetivo que se cria em um contexto social e político em que está em jogo a capacidade de “dizer alguma coisa”, de “dizer o que se pensa”, o que se “deseja”.
Só que fomos privados da expressão com a derrocada da formação de sujeitos desejantes, reflexivos e livres. Se as pessoas não dizem o que pensam, é porque a capacidade de pensar e dizer lhes foi extirpada. No lugar, podem travestir-se com a insígnia do poder fundamentalista das marcas da religião capitalista. A cruz para Cristianismo, a Estrela de Davi para o Judaísmo, a Lua Crescente para o Islamismo e uma marca famosa para o servo fiel do capital.
Os jovens são as principais vítimas dessa violência. Que sejam o “público alvo” quer dizer que são a presa fácil para um tiro certeiro. Os rebanhos de zumbis nikezados, abercrombizados, macdonaldizados, são arregimentados no exército de otários das massas manobradas, paramentados para o grande sacrifício sem ritual do capitalismo, em que a subjetividade é diariamente morta a pauladas.
A saída é a arte, a poesia, a negação ativa contra o uso e o consumo de marcas. A prática anti-capitalista é um ateísmo e começa com a recusa aos seus deuses como simples profanação cotidiana.
Colunista Marcia Tiburi fala sobre a morte da expressão em tempos de fascínio religioso pelas grifes*


Visto na: Revista Cult


Tema: VIVER COM A DIFERENÇA: O DESAFIO DO HOMEM MODERNO


Embora a máxima “Narciso acha feio o que não é espelho” tenha sido escrita na década de 80 pelo compositor Caetano Veloso, ela continua mais atual do que nunca e pode ser considerada como uma espécie de síntese do pensamento que permeia um considerável percentual da sociedade. Se no passado, a história ilustrou diversas discriminações entre os seres humanos, hoje ela continua se repetindo: a Xenofobia e a Homofobia têm despontado como os dois maiores problemas comportamentais da humanidade, causando-lhe dor e sofrimento.

Antagonicamente, boa parte da população, ainda que mestiça, contém uma grande carga de preconceito. É provável que essa cultura seja um reflexo das ações governamentais de outrora, quando ainda, no período colonial, o Imperador Don Pedro II, intencionando clarear a cor da população brasileira, viabilizou o ingresso de imigrantes alemães, italianos e ucranianos entre outros. Se há algumas décadas após, o mundo testemunhou estarrecido as atrocidades promovidas pelo alemão Hitler com a sua eugenia; o Brasil atualmente ganhou destaque na mídia internacional: a estudante de direito, Mayara Petruso, em um acesso de xenofobismo explícito, incitou, no Facebook, a morte de nordestinos como uma das soluções para a capital paulista.

Enquanto o Nordeste é hostilizado por esse movimento, os homossexuais igualmente sofrem com outro: a Homofobia. A opção sexual vem sendo usada como marca divisória entre o respeito e o sarcasmo, a idoneidade e o deboche. Entretanto o panorama promete mudar: recentemente, o Supremo Tribunal Federal (STF), trazendo uma interpretação moderna da Constituição Federal (CF), reconheceu por unanimidade de votos a união oficial entre casais de mesmo sexo. Dessa forma, garantiu segurança aos parceiros que encontravam dificuldades em preservar direitos oriundos de suas relações homoafetivas estáveis.

Em linhas gerais, o Estado tem trabalhado na direção de dirimir as diferenças equalizando-as sempre que possível; seja por intermédio da CF que, amparada em suas cláusulas pétreas, defende a igualdade entre todos; seja por meio de decisões do STF, editando entendimentos a favor da universalidade dos direitos. Assim, não é bastante que o homem se ajuste à atual realidade, mas, sobretudo, entenda que não há mais lugar para preconceitos, quer sejam eles de raça, cor ou sexo. Somos todos uma só Nação: o Brasil negro, branco, índio e ainda homem, mulher e homossexual.

Aluno: Alexandre Spinelli
Professor: Diogo Didier




Em 1980, a homossexualidade sumiu do "Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais". Em 1990, ela foi retirada da lista de doenças da Organização Mundial da Saúde.

Médicos, psiquiatras e psicólogos não podem oferecer uma cura para uma condição que, em suas disciplinas, não é uma doença, nem um distúrbio, nem um transtorno. Isso foi lembrado por Humberto Verona, presidente do Conselho Federal de Psicologia, numa entrevista à Folha de 29 de junho.

No entanto, o deputado João Campos (PSDB-GO), da bancada evangélica, pede que, por decreto legislativo, os psicólogos sejam autorizados a "curar" os homossexuais que desejem se livrar de sua homossexualidade.

Um pressuposto desse pedido é a ideia de que os psicólogos saberiam como mudar a orientação sexual de alguém (transformá-lo de hétero em homossexual e vice-versa), mas seriam impedidos de exercer essa arte --por razões ideológicas, morais, politicamente corretas etc.

Ora, no estado atual de suas disciplinas, mesmo se eles quisessem, psicólogos e psiquiatras não saberiam modificar a orientação sexual de alguém --tampouco, aliás, eles saberiam modificar a "fantasia sexual" de alguém (ou seja, o cenário, consciente ou inconsciente, com o qual ele alimenta seu desejo).

Claro, ao longo de uma terapia, alguém pode conseguir conviver melhor com seu próprio desejo, mas sem mudar fundamentalmente sua orientação e sua fantasia.

Por via química ou cirúrgica (administração de hormônios ou castração real --todos os horrores já foram tentados), consegue-se diminuir o interesse de alguém na vida sexual em geral, mas não afastá-lo de sua orientação ou de sua fantasia, que permanecem as mesmas, embora impedidas de serem atuadas. A terapia pela palavra (psicodinâmica ou comportamental que seja) tampouco permite mudar radicalmente a orientação ou a fantasia de alguém.

O que acontece, perguntará João Campos, nos casos de homossexualidade com a qual o próprio indivíduo não concorda? Posso ser homossexual e não querer isso para mim: será que ninguém me ajudará?

Sim, é possível curar o sofrimento de quem discorda de sua própria sexualidade (é a dita egodistonia), mas o alívio é no sentido de permitir que o indivíduo aceite sua sexualidade e pare de se condenar e de tentar se reprimir além da conta.

Por exemplo, se eu não concordo com minha homossexualidade (porque ela faz a infelicidade de meus pais, porque sou discriminado por causa dela, porque sou evangélico ou católico), não posso mudar minha orientação para aliviar meu sofrimento, mas posso, isso sim, mudar o ambiente no qual eu vivo e as ideias, conscientes ou inconscientes, que me levam a não admitir minha orientação sexual.

Campos preferiria outro caminho: o terapeuta deveria fortalecer as ideias que, de dentro do paciente, opõem-se à homossexualidade dele. Mas o desejo sexual humano é teimoso: uma psicoterapia que vise reforçar os argumentos (internos ou externos) pelos quais o indivíduo se opõe à sua própria fantasia ou orientação não consegue mudança alguma, mas apenas acirra a contradição da qual o indivíduo sofre. Conclusão, o paciente acaba vivendo na culpa de estar se traindo sempre --traindo quer seja seu desejo, quer seja os princípios em nome dos quais ele queria e não consegue reprimir seu desejo.

Isso vale também e especialmente em casos extremos, em que é absolutamente necessário que o indivíduo controle seu desejo. Se eu fosse terapeuta no Irã, para ajudar meus pacientes homossexuais a evitar a forca, eu não os encorajaria a reprimir seu desejo (que sempre explodiria na hora e do jeito mais perigosos), mas tentaria levá-los, ao contrário, a aceitar seu desejo, primeiro passo para eles conseguirem vivê-lo às escondidas.

O mesmo vale para os indivíduos que são animados por fantasias que a nossa lei reprova e pune. Prometer-lhes uma mudança de fantasia só significa expô-los (e expor a comunidade) a suas recidivas incontroláveis. Levá-los a reconhecer a fantasia da qual eles não têm como se desfazer é o jeito para que eles consigam, eventualmente, controlar seus atos.

Agora, não entendo por que João Campos precisa recorrer à psicologia ou à psiquiatria para prometer sua "cura" da homossexualidade. Ele poderia criar e nomear seus especialistas; que tal "psicopompos"? Ou, então, não é melhor mesmo "exorcistas"?

*Contardo Calligaris, italiano, é psicanalista, doutor em psicologia clínica e escritor. Ensinou Estudos Culturais na New School de NY e foi professor de antropologia médica na Universidade da Califórnia em Berkeley. Reflete sobre cultura, modernidade e as aventuras do espírito contemporâneo (patológicas e ordinárias). Escreve às quintas na versão impressa de "Ilustrada".

Visto na: Folha