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19 maio 2020



“E daí, você quer que eu faça o quê “. A pergunta defensiva entra no verbete raso das falas dantescas daquele que deveria ser o responsável pelo país. Ao assistir a declaração, meu maxilar titubeou, ensaiando uma resposta que não veio de imediato. Dei de ombros, então, acreditando que não seria válido gastar meu palavreado com quem pouco sabe do peso e do poder da retórica na comunicação humana -algo que se estende a muitos dos seus fãs. Porém, ao silenciar-me, percebi que estava incorrendo pelo mesmo erro do “e daí” presidencial: banalizar o fim desumano de centenas de conterrâneos do meu país mortos aos montes pelo coronavírus, mas também pela bizarrice da presidência. Assim, após oxigenar minhas ideias, nessa atmosfera rarefeita que se tornou o Brasil, disse a mim mesmo: não posso achar normal alguém no papel que ele ocupa, em uma nação com o potencial como o nosso, tratar a vida humana com desdém, e me calar diante disso, quando na verdade, o meu papel, assim como o de muitos de nós diante disso, é de, no mínimo, se indignar. Se você, contudo, ainda não enxerga o fosso do qual a postura presidência tem sentenciado a nação, esse texto não te ajudará, mas, quiçá, uma intervenção psiquiátrica.
Vamos aos fatos, o governo Bolsonaro tem implantado uma necropolitica, ou seja, o Estado tem decidido quem vive ou morre na nação. Os resistentes ao debate dirão que tal postura é antiga, atravessa governos e se materializa na desigualdade social da qual marginaliza grupos sociais há eras; levando-os à morte. Há verdade nisso, como também é verídico que nessas governanças pregressas poucos foram os líderes que se colocaram tão abertamente contra a integridade física dos seus cidadãos. Havia um cinismo instaurado na política que, pelo menos, velava o desrespeito de seus integrantes com aqueles que os elegeram. Bolsonaro não se dá a esse trabalho. Seu discurso não economiza barbaridades e deixa claro o que interessa: o dinheiro, os empresários e os religiosos políticos, todos ávidos pela verticalização do isolamento social para engordar seus lucros. Nisso, precisamos aplaudi-lo, Bolsonaro é leal aos seus ideais toscos e comprometido com quem financiou a fábrica de Fake News que o empurrou ao poder. Logo, após alçar o platô mais alto, alguns milhares de mortos por sua incompetência em legislar não significa nada, para quem nada faz, nada fará e nada é.
Sobre essa questão, o presidente do Brasil segue à risca condutas feitas à exaustão pelo Estado para exterminar quem não contribui para a máquina financeira estatal, ou, impede que ela esteja nas mãos de sempre. Na Segunda Guerra Mundial, o nazismo fez isso com seu processo de eugenia ao limpar da Europa judeus, indesejados, sob o subterfúgio da fé, quando na verdade o holocausto tem profundas conotações financeiras. 6 milhões de vidas foram ceifadas com tal higienização. Por aqui, o país faz isso em proporções similares, mas diluídas pela mídia policialesca: vai da Cracolândia ao extermínio dos jovens negros, pobres e periféricos, avança pelas penitenciárias, ganha terreno na ineficácia dos três poderes, ampara-se no parasitismo religioso na política, afeta minorias como mulheres, gays e índios, impacta na educação e, agora, desgasta ainda mais a saúde pública. A tática é a mesma, porém, diferente dos alemães, Bolsonaro não tem um inimigo apenas, seu foco é no coletivo que não coadunar com suas ordens tirânicas, inconsequentes e genocidas. Na base do “quem manda aqui sou eu”, exonera-se Mandetta em detrimento de um que às vistas parece adentrar na saúde, doente. Tudo por um capricho de um caricato presidente que não aceita o fato de alguém ganhar mais destaque que ele.
O cenário ficou ainda mais claustrofóbico, mas não menos interessante, quando é antecedido de mais incoerências de seu governo. A saída de Sérgio Moro, o pupilo mais querido que seu próprio benfeitor, sufocou a câmera de gás que se tornou o governo Bolsonaro. A Direita, de verdade e amarela, ficou literalmente vermelha, não de raiva, mas de confusão. Viu-se na rede apoiadores da presidência tagarelando frases soltas, desconexas, provavelmente aprendidas com seu ídolo, porém perdidas, jogadas ao vento da rede onde prontamente foram vilipendiadas, com razão, por quem de fato já alertava que a casa estava desmoronando. Eu cheguei a ver em júbilo um bolsominio ferrenho incapaz de conjecturar qualquer argumento plausível para o despautério daquele que ele elegeu. Era uma pandemia de Glória Pires na sua icônica menção: “não sou capaz de opinar”. Na realidade, a capacidade cognitiva de muitos deles não lhes permitia grandes avanços dialéticos, salvo aqueles reproduzidos pelos clichês enunciados viralizados por Bolsonaro via Twitter. Então, não restava outra escolha: de herói, moro se tornou comunista para muitos. Contudo, outros tantos estão decepcionados com o presidente Messias, personificado na figura salvadora responsável por resgatar o país da iniquidade. Tontos, não apenas foram enganados, como não possuem artifícios suficientes para colocar panos quentes na zona feita pelo seu iconoclasta.
Depois do litígio da aliança aparentemente “feliz para sempre” entre Moro e Bolsonaro, nada é improvável na novela política cujo enredo nem Walcyr Carrasco conseguiria elaborar com perfeição. Há muitos pontos nevrálgicos: filhos envolvidos em crimes, milícias inseridas nas transações políticas, máquina de Fake News, a morte inexplicável de Marielle Franco, a destruição da Amazônia, nepotismo, e uma série de improbidades realizadas por quem defende o slogan “Deus acima de tudo, Brasil acima de todos”. Lamento pela mediocridade de parcela da sociedade que se deixou contaminar pelo moralismo cego, travestido de verde e amarelo, mas vê um rastro de sangue se construindo por trás de uma política que fez de tudo para abolir o vermelho de seu arco-íris, só não fez o mesmo com o pote de ouro. Muito pelo contrário, no panorama pandêmico atual, a presidência negligencia as acusações sobre si e ou seus atacando governos estaduais focados em salvar sua população de um iminente colapso na saúde pública. Expert em fazer barulho, ele desfoca a atenção de si para desferir barbaridades contra quem está fazendo um trabalho que deveria ser do chefe de Estado. Funciona! Há quem concorde em abolir o isolamento social, mesmo com os crescentes dados, embora subnotificados, do coronavírus no país. Mas, não importa. A premissa é reter o mísero benefício para alimentar o cidadão e fazê-lo voltar a produzir para os bolsos de Bolsonaro e de suas alianças controversas.
Diante disso, quando ele responde a pergunta sobre o avanço da morte de milhares de vidas com “e daí, quer que eu faça o que?”, ele não está esperando uma resposta óbvia, porque, simplesmente, não há o que pedir de alguém que nada fez de substancial para o país. Bolsonaro é uma alegoria, um protótipo mal projetado pela direita, que se aproveitou da vilania midiática contra Lula para introjetar a pior versão brasileira na presidência, a qual vivia escondida sob a alcunha do perfil cortês vendido do país no exterior. Assim, por mais que se formulem respostas claras para mais esse vilipêndio governamental, estaremos direcionando esforços ao vazio, de alguém que está no limbo de suas faculdades mentais, transitando do nada para o lugar nenhum. Os dizeres precisam ser proferidos para a mídia, grande culpada pela chegada tosca dele na presidência, assim como as redes sociais, através da revelação das incongruências presidenciais, seus excessos, sua incapacidade, para não apenas ridicularizá-lo, mas também os seus fies seguidores, muitos tão truculentos quanto, que deverão ser culpabilizados por coadunar com àquele questionamento e serão marcados na história como participes de um genocídio sem precedentes oriundo de uma política fascista incansável. Aí, para os que sobreviverem, perguntaremos, na esperança que a resposta seja negativista: e daí, valeu a pena votar 17 na última eleição?!

O despautério em torno do pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro sobre a pandemia do coronavírus segue um script seguido à risca por ele desde sua queda meteórica na política: de se eximir da toda a responsabilidade conferida a seu cargo e transferir a todos a culpa por sua incapacidade e insensibilidade diante desse problema. A cada novo discurso isso é reiterado. A previsibilidade de sua rasa capacidade cognitiva deveria ser capaz de nos preparar para escatológica fala que sai do seu aparelho, por ora, fonador. Entretanto, o mais assustador é o levante feito por seus adoradores para encontrar em um palheiro a agulha que possa alinhavar qualquer coerência o bastante para costurar os retalhos deixados pelo caminho por Bolsonaro. Não são mais céticos, são lunáticos, tão passíveis de internação quanto aquele que eles idolatram.

Na verdade, após o que foi proferido ontem em rede nacional, Bolsonaro deveria no mínimo sofrer sanções públicas por desdenhar da ciência e incitar irresponsavelmente a saída populacional diante desse panorama. É um crime de ódio, oriundo de um discurso raivoso do qual a economia, as alianças com as elites, o enriquecimento dele e de seus corsários, se sobrepõe à vida dos mais vulneráveis. Quem coaduna com tal pensamento é tão fascínora quanto ele, passível de punição dentro dos regimentos legais. Não se trata de posição política apenas, mas de direitos humanos, legitimação científica, empatia pelas dores do próximo, sentimento este em um mundo onde nações como Itália, Espanha, Estados Unidos e China, onde a mortalidade é avassaladora, é encontrado. Contudo, ele e seus devotos seguidores tem uma noção particular sobre humanidade.

Diante disso, a mídia passou a figurar entre os inimigos do governo, em especial a Rede Globo. Tenho minhas considerações sobre essa emissora em muitos aspectos, mas colocá-la como algoz da regência de Bolsonaro é esconder o fato da Rede Record, comandada por outro insano, ser a única porta-voz midiática do chefe de Estado, com claros sintomas de desequilíbrio mental. Assim é fácil usar um canal religioso, claramente alienante e antidemocrático para defender suas asneiras. Todavia, um presidente que se prese não temeria aparecer em qualquer veículo informativo, se a sua capacidade de ocupar tal cargo fosse superior às artimanhas de setores comunicativos. O problema é que Bolsonaro sabe de suas limitações, assim como seus partidários. Apenas o povo, contaminado pelo bolsonavírus, insiste em paliativos para defendê-lo. Entretanto, a resistência nessa defesa é sintomática à ignorância, fazendo com que, por exemplo, algo como o coronavírus seja relativizado.

Além da mídia, a China passou a ser atacada pelos brasileiros infectados pela mutagênico vírus da ignorância injetado por Bolsonaro. Para eles, o coronavírus é o “chinavírus”, desconsiderando o fato comprovado de que a doença existe há décadas, apenas sua mutação se deu naquele país e se expandiu para o mundo. Ou seja, poderia ter sido lá ou em qualquer outra nação. O vírus é uma resposta a sanha humana pelo progresso desenfreado, o mesmo que tem no Brasil devastado as nossas florestas e, no resto do planeta, tem encurtado a vida da natureza. Como resposta, o meio ambiente se defende atacando seus algozes. Todavia, para os patologizantes integrantes da seita bolsonarista não há espaço para preservação. Os verbos que os regem é destruir, arruinar, fechar, ou como profere seu iconoclasta: “tem que acabar com isso aí!”. Então, em uma prática autodestrutiva, muitos não perceberam, ainda, que tais atitudes virão retaliadas contra eles, seja em forma de vírus, ou noutra moléstia socioambiental à saúde de todos.

Em contrapartida, a perplexa retórica indefensável de Bolsonaro chegou ao apogeu de nos expor à morte. É aviltante de quem exerce um poder representativo entre as massas. Vai de encontro a todos os protocolos internacionais em torno dessa pandemia. Até regimes conservadores como a Rússia e o Irã demonstraram mais solidariedade diante desse panorama do que ele. Na contramão de todos, nosso presidente aconselha fiéis (leia-se cristãos) a irem aos seus templos, descredita as recomendações médicas dadas por profissionais preocupados com a insuficiência estrutural do SUS, crítica as medidas dos governadores dos estados cientes da imprudência do Estado frente a tal pandemia e, de quebra, convida a população a saírem de seus confinamentos porque o vírus “só é nocivo aos mais velhos”, frase que por si já diz muito do pouco que nos governa. Tudo isso já seria o bastante para qualquer indivíduo são repudiar à presidência. Mas, porque há quem defenda aquele mentecapto?

Aliança política, golpe, milícias, alienação, interesses religiosos, educação precária, ignorância, distorção discursiva, Fake News, preconceito, intolerâncias, pseudo nacionalismo, embrutecimento social, militarização, armamentismo das massas, idolatria, exclusão das minorias, exaltação da família tradicional, ruralismo, corrupção, interferência virtual, Olavo de Carvalho, perseguição, populismo, elitismo, negação histórica, ditadura, segregação, tirania, escola sem partido, inversão de valores, falácias, ideologia de gênero, kit gay, misoginia, machismo, homofobia, transfobia, Rede Globo, “Golden Shower”, mamadeira de piroca, balbúrdia, Cuba, mais médicos, comunismo, índios, cultura do estupro, naturalização das violências, menino veste azul e menina veste rosa, femicídio, Damares Alves, antidemocracia, Sérgio Moro, inconstitucionalidade, nepotismo, bandido bom é bandido morto, cuspe, Jean Wyllys, afronta a laicidade, Rede Record, Trump, vergonha alheia, paixão, Lula, PT, Freud explica, “gripezinha”, coronavírus, Bolsonavírus.

Em doses homeopáticas, Bolsonaro patologizou grande parte da sociedade. Primeiro pelo seu arquétipo rude, visto como antídoto para a realidade nacional, depois por suas coloquialidades em uma nação denotativamente sem bases intelectuais fortes o bastante para se imunizar da potência viral da retórica bolsonarista. Por isso, os acometidos por essa doença minimizam o coronavírus e asseveram todos os coliformes fecais expelidos em forma de palavra pelo chefe da nação. Certamente, entre eles houve uma substituição do cérebro pelo intestino, um agravo não apenas a anatomia dos corpos, mas, sobretudo, a quem tem o desprazer de presenciar tal escatológica narrativa. Por essa razão, ao devotos da presidência, cegos pelos excrementos que saem de sua boca, apenas replicam irrefletidamente essa pocilga que virou nosso país. Estão chafurdados em algo do qual eu não ousaria me aproximar. Assim, frente a tamanha fé, espero profundamente que tais indivíduos encontrem fôlego nessas palavras para se higienizarem diante da sujeira em que estão mergulhados. Em parte, não é culpa de vocês terem sido fisgados pelas artimanhas políticas do Golpe a atualidade. Somos todos suscetíveis a escolhas erradas, mas podemos fazer o certo quando este se materializa a nossa frente. Porém, se vocês insistem em partilhar de mais essa porcalhada, foi bom chamá-los de humanos um dia. Passem bem!


Não precisa ser Cristão para saber que os fundamentos deixados por Jesus na terra têm sido deturpados por hordas de hereges, travestidos sob o manto da evangelização, cuja irrupção na política tem deixado marcas tão profundas quanto na Idade Média. Desse coquetel molotov político-religioso nacional, advindo da onda ultradireitista do governo Bolsonaro, não há uma divisão clara do que seria céu e inferno. Tais instâncias coexistem aqui na terra nos limítrofes determinados por quem se acha merecedor de ocupar o firmamento, ao passo que relega as chamas infernais aqueles que não coadunam com suas demarcações. Porém, a fala do impronunciável ministro da educação a respeito da reportagem de Drauzio Varella, sobre a realidade prisional das travestis e transexuais, demonstra em sua potência verbal a força de quem tem propriedade para falar de inferno, pois este está alocado nas entranhas daquele indivíduo.

Como se sabe, é cada vez mais complexo determinar onde começa a política e termina a religião, tamanha intromissão desta no cenário público nacional. Com a democracia em ruína, e o alavancar do ultraconservadorismo, a metamorfose entre ambas tem feito estragos imensuráveis na sociedade. Um deles é permitir que a instância educacional tenha um ministrado que se apropria de conceitos religiosos para tratar de temáticas sociais. Ao fazer isso, o “imprecionante” ministro da educação deixa mais que claro o caráter punitivista da governança atual. Uma posição tirânica, por isso controversa, de quem deveria usar a fé para abrandar as violências, concretas e simbólicas, que vitimizam a sociedade, sobretudo os grupos minoritários.
Certamente, Abraham Wheintraub representa esse novo nicho religioso-protestante-petencostal-politico da qual certos grupos humanos são passíveis de condenação. Não há julgamento, perdão, tão pouco absolvição. Os direitos se restringem aos seus púlpitos eivados de uma retórica salvadora ilusória, restrita a seus fiéis hipnotizados pelos brados de seus pastores-políticos, os quais usam do sensacionalismo, e não do pecado, para levar ao inferno seus desafetos. Foi isto feito no vídeo de Drauzio Varella. A pachorra do ministro em atacar a atitude do médico escancara a tática infalível que levou Bolsonaro à presidência, criar balbúrdia- a única verdadeira deste desgoverno- para incitar os preconceitos infinitos da nação. Em parte, funcionou. A travesti Susy, destacada no final da matéria jornalística, foi ainda mais hostilizada por aqueles hipnotizados pelos delírios da atual governança.

Entretanto, xingar no Twitter através das Fake News só funciona para quem já foi infectado pelo vírus da burrice que assola o país desde o golpe a Dilma Rousseff. Para os demais, imunes e essas sandices, a atitude do ministro semianalfabeto escancara a falta de compaixão de setores religiosos para com a população penitenciária, mas, sobretudo, os grupos LGBT’s. Os que felizmente gozam de liberdade veem seus direitos serem arruinados paulatinamente desde que a sanha bolsonarista irrompeu o poder, por meio de falácias em torno do “kit gay”, ideologia de gênero, proibição de discussões sobre educação sexual, meninos vestem azul e meninas vestem rosa, doutros recalques protagonizados por quem tenta inutilmente castrar a sexualidade humana. E, os detidos, idem. Dessa forma, diversos líderes religiosos magistrados evidenciam com essas atitudes qual é o perfil selecionado pelas suas Igrejas a ir ao céu: héteros, brancos e endinheirados; desconfigurando o legado deixado pelo Cristo.

Na verdade, o que tocou na ferida desses impostores foi ver na mídia o papel que deveria ser exercido por eles, sendo feito através da solidariedade alheia. Assim, ao desmascarar o projeto de governo das Igrejas, as quais, em suas figuras representativas na política, pouco se importam com presidiários, bem como aqueles que estão à solta, se estes fizerem parte dos grupos marginalizados por eles e usados como pêndulo a séculos para o enriquecimento da Igreja Católica no passado e, hoje, das esferas protestantes. O propósito delas é expandir seus espaços, não para disseminar o amor de Cristo, mas para enriquecer por meio dEle. Isso numa nação construída sob os pilares da fé e erguida nas frágeis paredes da ignorância pulveriza-se rapidamente, sobretudo na realidade hiperconectada atual.

De volta ao inferno de Weintraub, mandar Varela e a travesti Suzy para tal local não parece ser o mais apropriado. Para quem acredita nessa condenação eterna, talvez seja um destino horrível imaginar uma eternidade de sofrimento, em um lugar criado para punir os ditos ímpios da terra. Porém, para muitos indivíduos, o inferno existe em vida. Susy e aquelas travestis e transexuais estão cientes disso, pois, a criminalidade que as abraçou advém de uma sociedade preconceituosa, responsável por inúmeras violências, torturas, discriminações que resvalam em mortes psicológicas desses indivíduos, quando não ceifam literalmente suas vidas. Por isso, lamentavelmente, a morte parece ser para muitas delas o descanso diante de tudo que sofrem. Todavia, há pessoas como o médico Drauzio Varella, antes de tudo humano, capaz de se separar entre o joio e o trigo nesta seara. Tamanha seleção prima pelo respeito profissional, dedicação a trazer dignidade para a vida de pessoas cujas histórias de miséria contam com descasos no âmbito da saúde física e emocional. Assim, um simples abraço, que poderia ter sido dado por esses políticos pseudo sacerdotes de Cristo, foi ofertado pela simplicidade de quem, distante de conotações políticas, apenas fez o que a governança e seus correligionários são incapazes de admitir, o seu papel.

Ao invés disso, preferem retomar o espaço ficcional de danação destinado aos pecadores, elaborado pelo Catolicismo, do que expressar qualquer tipo de respeito a condição humana, a partir da óptica religiosa da qual tanto usufruem. Porém, muito antes da representação dantesca conhecida hoje por nós, o inferno é um estado moral. Talvez o lugar mais complexo onde o humano possa ir. Trata-se de um espaço destinado às maledicências que a vil capacidade humana é capaz de realizar. Contudo, a sociedade, através da educação, tem papel crucial nisso, pois o conhecimento civiliza, humaniza, cria seres empáticos, os quais, em consonância com o subjetivismo da fé, conseguem moldar um caráter sempre em processo de ajuste. O estado de elevação capaz de abraçar a diferença e levar até ela o aconchego negado por tantos preconceitos, estes sempre precipitados a condenar ao fogo aqueles que Cristo certamente levaria para luz. Enquanto não entendemos que o binômio céu e inferno é intrínseco ao que somos, caímos nessa balela de condenar o outro aos braços do capiroto, quando, na verdade, o coisa ruim já habita em muitos de nós.

05 maio 2019



A corriqueira sucessão de absurdos advindos da gestão de loucuras que rege o nosso país não cansa de se autossuperar. Chega a nos furtar o ar todas as vezes, e não são poucas, em que o presidente mais insano que o Brasil já teve anuncia na sua principal tribuna, o Twitter, as mudanças pretendidas para a sociedade; todas elas levando em conta seus próprios devaneios alucinógenos. Deve ser algo de propósito, pois sem oxigênio suficiente, as funções cerebrais ficam comprometidas. Assim, sufocar a mentalidade social até a exaustão faz parte do projeto político do atual presidente, já que pensar nos dias de hoje transformou-se em uma arma mais letal do que aquela metálica defendida pelo clã de dedinhos apontados.
Por essas razões também, a educação tornou-se fantoche no jogo delirante do governo de alienar a sociedade. As Fake News, popularizadas no período eleitoral, foram apenas o primeiro passo. Agora, para que o emburrecimento social esteja completo, é preciso atacar a formação da intelectualidade do país, criando mais zumbis do que os muitos existentes. Para tanto, precisamos enumerar os tiros e contabilizar os estilhaços: escola sem partido; educação domiciliar; proibição da educação sexual nas escolas; permissão para filmar professores nas aulas; vilipêndio da vida, obra e contribuição de Paulo Freire; exaltação do descredenciado Olavo de Carvalho; notório saber em detrimento da formação específica dos educadores; corte nas verbas das universidades federais do Brasil.
Qualquer pessoa mentalmente saudável precisaria de um balão de oxigênio para refrescar os pulmões diante dessa lista sufocante. Entretanto, a paulatina vereda do não saber, não questionar e não refletir chegou às universidades. Numa tática de retaliação, o governo infantiloide brinca de se vingar daqueles que promoveram qualquer tentativa de se opor ao seu plano político de alienar o país, e estende o revanchismo a outras instituições da nação. A desculpa? "Vamos investir na educação de base!". Outra falácia descarada recentemente rebatida pelos veículos de informação, os quais comunicaram também novos cortes na educação basilar brasileira.
Em mais uma contraditória ação, o "mito" prova que nem a base nem o topo são a prioridade do seu plano educacional (se é que pode haver algum tipo de educação em seu governo), mas sim a mediocridade, a mesmice, o entorpecimento social a serviço da mera perpetuação de tolices. Quem são seus principais alvos, para além da educação? Professores e alunos! Talvez não nesta ordem. Os primeiros têm seus direitos cerceados por um plano governamental focado em silenciar os docentes, impedindo que qualquer reflexão chegue às salas de aula brasileira. Para os outros os impactos são ainda mais nocivos. Trata-se de hipnotizar os mais jovens a acreditar em um projeto de governo inquestionavelmente desumano, violento, elitista, ofuscando e deturpando meios mais humanísticos de se ensinar.
O reflexo disso já está em voga. Há hordas de professores e estudantes sob o efeito viciante da droga Bolsonaro, chapados com suas ideias estapafúrdias de mudar o país literalmente a tapas. O medo fez com que a violência fosse injetada nas veias de muitas dessas pessoas criando uma espécie de Cracolândia de proporções nacionais. Lamentavelmente, nossa única forma de reabilitação, o saber oriundo da educação, está sendo duramente atacada por aqueles que mais deveriam protegê-la. Assim, mais drogados políticos se proliferam na sociedade alardeando boçalidades sob o efeito delirante do tráfico de influência de Bolsonaro.
Fica então o questionamento: por que tanto esmero em se debruçar sobre a educação, numa nação que ocupa os piores indicadores sociais nessa área no mundo, onde a valorização docente e a autonomia pedagógica nunca foram prioridades? Uma das respostas pode estar neste texto, porém, inebriados de tantas mentiras, muitos não conseguirão concatenar. Outros esclarecimentos estão guardados em cada um de nós, basta apenas que haja um exame antidoping coletivo para descobrir e purificar as toxinas injetadas. Se isso não for feito às pressas, continuaremos doidões e a educação uma droga.

30 abril 2019



Nem faz muito tempo assim, eu estava assistindo ao vídeo feito pelos maravilhosos integrantes do Porta dos Fundos intitulado de Escola sem Partido. Nele, aparecia uma professora sendo interrogada pelos alunos a se posicionar sobre questões cada vez mais delicadas no país ligadas a história nacional, ao passo que a turma toda, aparelhada com o que há de mais moderno em tecnologia, filmava o posicionamento da docente. Na ocasião, dei jubilosas risadas da comicidade envolta naquela ideia, mas não imaginava que o cômico tão rapidamente ganharia ares trágicos. Todavia, como a arte imita a vida, nos dramas reais, professores passaram a sentir o peso da sensura desse governo desgovernado que rege a nação.

Há poucos dias, um educador perdeu o emprego após passar pela mesma situação teatralizada pelo Porta dos Fundos, em que critica em sala a postura, indiscutivelmente criticável, do presidente (em minúsculo mesmo) Jair Bolsonaro. Senti um misto de raiva e indigestão quando li essa matéria. Aliás, a cada posicionamento do atual governante da nação, eu preciso fazer um mantra, ressuscitar o meu nirvana, preparando-me para a enxurrada de absurdos que sairão da fossa que ele tem na boca. Pois bem, como porcos não costumam andar sozinhos, a horda de malucos na política escolheram a educação como o epicentro dos seus ataques.

O impronunciável Ministro da Educação, seguindo a mesma retórica insana da presidência, foi categórico ao legitimar o direito dos alunos em filmar professores em sala de aula como um direito dos discentes. Pouco antes disso, Bolsonaro usa o twitter, sua principal rota de envio de barbaridades virtuais, para inferiorizar os cursos de humanas e enaltecer a leitura e a escrita; algo, diga-se de passagem, incongruente, pois o que menos tem sido feito pela corja no poder é uma leitura interpretativa da realidade. Voltando à vigilância eletrônica endossada pelo governo, percebemos, ou deveríamos, qual é a meta por trás desse cinema retrô: emudecer a educação.

Ao aprovar o novo ensino médio, implantar a educação domiciliar e vetar a educação sexual nas escolas, paulatinamente a intenção desses políticos é silenciar os alunos por meio da castração do saber crítico, o qual é autônomo por excelência. Agora o alvo mira em cheio nos educadores. Por meio de uma conduta clara de intimidação, espera-se subserviência dos docentes, os quais terão a passividade em suas aulas como artifício pedagógico, caso queiram permanecer em seus cargos. O tiro de misericórdia já está sendo engatilhado. Em mais um ataque ao saber, Bolsonaro começa a semana afirmando que mudará o patrono do Brasil, o educador mais respeitado do mundo, Paulo Freire, por outro aos moldes do governo. Talvez ele opte por Olavo de Carvalho, um total desconhecido das academias sérias brasileiras, de formação duvidosa e cheio de demagogia alienante, usada a torto e a direito para a chegada da burrice ao poder.

Nada mais justo do que substituir um grande pensador por um perturbador da ordem pública numa era onde o pensar deixou de ser ação para ser ofensa. Entretanto, já que a luz, câmera e ação (leia-se perseguição) estarão nos curtas metragens dos dramas educacionais brasileiros, antes do professor ser o protagonista desse cinema pornô, é preciso destacar o vilão da história, o governo. Aos alunos co-diretores, que compactuam com tamanha obscenidade, gravem a falta de estrutura das suas escolas, carteiras quebradas e/ou insuficientes; material defasado, atrasado e revisado por uma política de apagamento da história. Filmem a violência escolar, o bullying, as armas, drogas e todas as balas perdidas desferidas pela sociedade do dedinho apontado.

Não se esqueçam de registrar em close a feição de fome dos seus colegas, o déficit na aprendizagem que decorre disso, o abandono de muitos responsáveis que delegam ao professor o papel de pai e mãe. Se der, façam ainda um slow motion dos ataques de seus colegas desrespeitosos aos seus docentes, mostrando ao presidente quem são as reais vítimas da deseducação do país. Por fim, aos com celulares mais chiques, aproveitem e façam um plano sequência de vocês mesmos falando diretamente ao presidente da nação sobre o que falta para que a educação seja de fato de qualidade.

Talvez assim com algo gravado por vocês ele dê ouvidos às necessidades no ensino, já que os apelos dos profissionais da área e as teorias de pessoas renomadas são ignoradas por ele. Quem sabe não rola uma premiação, hein?!Garanto que o cenário escolar brasileiro, se dirigido por alguém sério, levaria um Oscar na categoria drama, quiçá comédia. Enquanto não há nada de artístico nisso, vemos estarrecidos o amadorismo governar o Brasil, em detrimento daquilo que perdeu seu status quo na sociedade, a livre expressão do pensamento. Que venham os grilhões!

28 março 2019



"É no icônico Asilo Arkham que os criminalmente insanos são internados, enquanto o Batman tenta arduamente livrar a cidade de Gotham City da bandidagem. Coringa é um desses criminosos, que frequentemente escapa daquele hospital psiquiátrico para aterrorizar àquela metrópole. Guardada as devidas proporções, Bolsonaro encarna bem esse vilão, pois, embora não tenha sido preso (ainda), mostra claramente não está de posse de todas as suas faculdades mentais. Enquanto isso, a sociedade tem servido de experimento para as suas lunáticas decisões, o que é passível de um estudo mais aprofundado.
Certa vez li que determinados estágios de loucura nem sempre são passíveis de internação. Há casos nos quais a mera observação do indivíduo é o suficiente para traçar mecanismos de tratamento eficazes. Entretanto, no caso de Bolsonaro internar não é suficiente, é preciso interditá-lo. O presidente eleito por um discurso enlouquecido pelas fale news não para de demonstrar sintomas claros da sua sandice, que por sinal tem se tornado coletiva. Após o tosco episódio do golden shower e da bajulação deslavada ao seu correlato Trump, agora o mentecapto regente do Brasil trata de permitir a comemoração de um dos episódios mais vergonhosos da história do país, o Golpe Militar que deu início a Ditadura no Brasil.
Para os desmemoriados, este período foi o responsável pela tortura, expulsão e morte de centenas de pessoas do Brasil, além de impor um regime ditatorial aos que aqui ficaram. Mesmo diante dessas verdades históricas, o insano presidente desta nação determina as "devidas comemorações" ao ano de 1964, ignorando as vítimas desse período ao passo que exalta seus algozes. Só uma mente delirante é capaz de tratar como natural acontecimentos desta estirpe. Na verdade, o desequilíbrio desse ser humano tem demonstrado que a loucura pode ser viral. Por causa dele há uma inegável perseguição a intelectualidade, às pesquisas científicas e todo o saber crítico que ouse confrontar os "sábios" do WhatsApp bem como os "pensadores" do Facebook.
Nestas plataformas, o discurso temerário é o único possível, pois reproduz os treslocados modos desse presidente que conseguiu a proeza de colocar a ignorância a frente da sabedoria. Nesta inversão de valores, as falácias presidenciais querem ressignificar positivamente um dos períodos mais nefastos da memória nacional. Com um eleitorado que sequer legitima as fontes históricas, e que está mais preocupado em militarizar as escolas (em nome de Deus, claro!) do que estruturá-las com a livre expressão do pensamento, esse desatino de Bolsonaro passará despercebido. Porém, para os poucos ainda sãos, não será tão simples impor uma lógica desvairada sobre a sociedade sem uma análise patológica das ações.
Em boa medida, precisamos fazer uma grande terapia de grupo com Brasil, transformando-o em um consultório a céu aberto para conseguir tratar o avanço da irracionalidade proporcionado da presidência às residências do país. Antes, é preciso encarar certas verdades: o Brasil é a transfiguração da Gotham City. Hordas e hordas de criminosos, corrupção, discrepância social e uma crescente onda de loucura. Temos até o nosso Coringa tão ou mais louco que o dos quadrinhos. Falta o nosso Batman, ou pelo menos um excelente psiquiatra para, se não internar, receitar algo para a perturbada mentalidade do nosso presidente e dos contaminados por ele."


Estamos consternados com o massacre numa escola pública em São Paulo, onde funcionários e alunos foram barbaramente assassinados. Enquanto as investigações não apuram as motivações para avassaladora violência, é preciso concatenar os pontos que antecedem essa tragédia. Numa sociedade que enaltece tudo o que é de fora, sobretudo dos nossos conterrâneos estadunidenses, não é surpresa importar também suas calamidades. O bullying é um desses estrangeirismos que, com os dilemas nacionais, ganhou outras conotações. Na rede ele já recebe o nome de cyberbullying, fazendo vítimas para além dos muros escolares. Graças a isso, em 2011 houve o massacre em Realengo.
Nessa mesma linha de apropriação, passamos a "flexibilizar" o porte de armas, numa reprodução macaqueada dos moldes Americanos de ser. Como se não fosse o bastante, temos a versão fajuta do Donald Trump na nossa presidência, um sujeito despreparado, tosco e irascível incitando o povo através do medo a acatar suas asneiras. Por causa dele e seu dedinho apontado, nossa sociedade abriu às portas para o ódio. Seu projeto de governo, uma paródia do Trump, prefere armar a população do que humanizá-la por meio de uma educação segura, não apenas do ponto de vista estrutural, mas sobretudo no que diz respeito a livre expressão do pensamento.
Do contrário, o governo perde tempo com projetos como Escola Sem Partido, querendo permitir que a família tenha a liberdade de educar seus filhos em casa, ou criando uma comissão para retirar as "ideologias" do Enem; a ter que encarar com maturidade e sabedoria os problemas ancestrais da educação brasileira. Além disso, a carnificina em Suzano deixa claro como as tragédias no Brasil passaram a ser corriqueiras devido a política de remediar em detrimento de práticas preventivas. Ao usar o porte de arma como estratégia de campanha, frente a uma sociedade notoriamente insegura, o governo não estava pensando em resolver em definitivo o problema da violência, mas em ganhar louros em cima dela. Funcionou. Elegeram aquele que impediria que infortúnios como o de Suzano acontecessem.
O problema é que a violência no Brasil está à revelia de qualquer "mito". O fato é que somos uma das nações mais violentas do mundo, onde se mata tanto quanto às guerras travadas entre os EUA e o Oriente Médio. Entretanto, seguimos reproduzindo um modelo social que não é nosso, o qual tem escancarado a sua ineficiência todos os dias. As mortes em Suzano evidenciam isso, mas não se encerram aí. O simulacro Americano à brasileira está também no avanço do conservadorismo religioso na política; na perseguição policial às pessoas negras resultando no extermínio da negritude do país; no assassinato e/ou exílio dos nossos militantes; na aversão aos imigrantes; na deturpação da imagem dos adversários políticos por meio das fake news; na destruição legal da natureza em prol do progresso econômico de uma parcela elitista da sociedade; e agora importamos também atentados a bala a escolas; estas que estão sendo bombardeadas de absurdos desde que o nosso "Trump" assumiu o poder.
É lamentável saber que tudo isso poderia ter sido evitado se não houvesse essa exaltação ao faroeste da presidência à população, nitidamente alienada pelo primeiro. Em meio ao choque da chacina em São Paulo, o Ministro do STF, José Antônio Dias Toffoli, disse uma frase um tanto quanto ingênua. Em suas palavras "Não podemos aceitar que o ódio entre em nossa sociedade." Porém, ele não apenas entrou como já fez morada. É preciso expulsá-lo por meio de um projeto político pedagógico voltado, antes de tudo, a civilização dos cidadãos brasileiros. Do contrário, seguiremos plagiando os EUA e assistindo pela televisão nosso futuro sendo literalmente fuzilado por um Brasil que está violentamente se americanizando."


"Apesar de conhecer a simbologia que o termo "sexo frágil" carrega ao longo da história, nunca pensei que ele poderia portar outra conotação para além daquela que inferiorizou as mulheres por tanto tempo. Essa é uma das novidades dos tempos nefastos de agora, a capacidade inventiva de atribuir conceitos piores ao que já era ruim. Isto porque, em plena comemoração do dia Internacional da Mulher, o sexo continua sendo frágil, não apenas o delas, mas o de todos. Nunca se fragilizou tanto este assunto quanto no modelo inquisitorial que governa o Brasil de hoje.
Saímos da seara do tabu e estamos rapidamente adentrando às cercanias da proibição. A presidência censura qualquer tentativa salutar de discutir questões ligadas a sexo, sexualidade, gênero e identidade, demonizando estes temas nos lares brasileiros onde pouco se problematiza tais pautas. Setores ultraconservadores religiosos aproveitam a deixa presidencial para coagir a sociedade leiga a tratar com mais recato àqueles pontos, ignorando eixos transversais de cunho científico comprovadamente estudados. Na fogueira de vaidades em torno disso, quem está sendo levado às chamas são os jovens.
Já nas escolas, temáticas ligadas a feminismo e machismo são vistas como ideologias, não como problemáticas emergenciais para minar as inúmeras violências sexistas que assolam o país. O "Kit gay" é inventado para causar mais polêmica entre os ignorantes, alavancando a escalada do conservadorismo na política. Além disso, tratar de DSTs e gravidezes indesejadas também é um risco, já que os jovens não podem ter acesso a conteúdos didáticos que mostrem como por uma camisinha e quais são as partes que compõem uma vagina; na recente remoção da Caderneta Saúde do Adolescente.
Enquanto de um lado o governo tenta inutilmente enfraquecer o debate sexual, na outra margem do rio a cultura mainstream segue sexualizando a juventude por meio da mídia, da moda e da música. Meninas são retalhadas em bundas e peitos para atender aos anseios machistas da sociedade que corporifica seus corpos, mas não as ensina devidamente sobre prevenção e a autonomia do prazer sexual. Assim como elas, os meninos também são incitados a iniciar precocemente na vida do sexo sem quaisquer responsabilidades com o próprio corpo e o do outrem. Ou seja, impedir que a juventude tenha contato com o sexo é praticamente impossível.
Nossa sociedade cheira a sexo. O erotismo é a mercadoria mais barata do mercado. Logo, não seria mais lógico atribuir valor a esse produto para que os mais jovens entendessem a importância que há por trás do ato sexual? Ao contrário da censura, que é inútil na era da internet, por que não tratar com mais naturalidade a questão, esvaindo do discurso a visão pecaminosa que resiste em torno do sexo? Será mesmo que evitar mostrar pênis e vaginas na adolescência, bem como suas funcionalidades, é o caminho mais acertado para construir uma vida sexual plena? Quais são os reais temores governamentais por trás dessa perseguição ao orgasmo?
Antes, é preciso lembrar que sexo é conhecimento de si mesmo e do outro. Decerto, as pessoas que têm uma vida sexual bem resolvida tratam com mais naturalidade as variações em torno deste campo. Porém, quando fragilizado sexualmente, o indivíduo entra na paranóia hipócrita que resume o coito a dois à procriação, numa visão medieval sobre o prazer humano. Aí vem preconceito, céu, inferno, pode, não pode, etc, etc, etc. É raso, é tosco, é ineficaz. Logo, neste dia Internacional da Mulher, para além das merecidas homenagens, vamos fortalecer nosso sexo, exaltar todas as sexualidades, legitimar as identidades sexuais, extirpando mais essa visão pejorativa sobre o "sexo frágil." Se for para fragilizar, que façamos isso com a política. Lá está a parte denotativamente mal resolvida do país. O sexo frágil está na presidência."


"Dizer que uma escola de samba sambou na cara da sociedade é um trocadilho que merece ter seu pleonasmo perdoado. A transgressão na linguagem aqui está a serviço de algo maior. A Estação Primeira de Mangueira trouxe para a avenida um enredo certeiro: "A História que a História não Conta", do carnavalesco Leandro Vieira. Numa época de apagamento e deturpação dos registros históricos - como ocorreu com o "incêndio" ao Museu Nacional e os ecos ignorantes em torno da volta à Ditadura Militar - é magnífico exaltar através do carnaval a verdadeira história do Brasil.
Dessa vez, a perspectiva era dar voz aos historicamente emudecidos: índios, negros e pobres. As maiores minorias do país ganharam a merecida representatividade frente a esse governo escatológico (o twitter está aí de testemunha), que tenta minar a arte, cultura e a educação do seu fazer crítico e reflexivo. Inclusive, antes do sambódromo sambar na face do preconceito, as ruas já traziam sua insatisfação ao atual governo branco, elitista e agrário, por meio dos blocos que bradavam: "Bolsonaro é o CARALHO!". Na avenida do samba, tão eficiente quanto às ruas, a Mangueira trouxe fundamentação à crítica dos poucos pensantes que ainda restam na nação.
O carnavalesco consultou escassas fontes históricas para trazer ao sambódromo o Brasil que muitos de nós desconhece e que a direita ultraconservadora luta para que seja esquecido. Para além do "Agro é tec, Agro é pop, Agro é tudo", a mangueira começa seu desfile dizendo que a nação é dos índios, e que a intervenção europeia deturpou a imagem desses brasileiros ao ponto de acharmos natural o seu massacre de outrora e de agora. Para contar a história negra, ícones emblemáticos como O Navio Negreiro, Dandara e o quilombo de Zumbi dos Palmares foram enaltecidos. A pobreza desfila decorrente de todo o legado deixado pela exclusão dos indígenas e da negritude, renegando-os aos guetos e a morte iminente.
Mulheres incríveis também foram citadas como Zuzu Angel e Marielle Franco. Aliás, na comissão de frente, a Mangueira já trazia o tom do lacre que estava por vir, ao retratar a pequenez dos pseudos heróis nacionais frente a agigantada história indígena e negra no Brasil, tão pouco difundidas. A faixa escrito "PRESENTE" em letras garrafais não se tratava apenas de uma menção a Marielle. Era um aviso aos ditadores de plantão que subliminarmente devia ser lida como: "ESTAMOS AQUI!". E estamos mesmo! Nossa posição na corda não está mais no lado mais fraco, e a Estação Primeira confirma isso ao desconstruir as mentiras sobre o povo que construiu o Brasil.
De salto quinze, a Mangueira recria a bandeira nacional trazendo as palavras de ordem mais emergenciais do momento: Índios, Negros e Pobres nas cores verde e rosa, já que o verde, amarelo, azul e branco não representam nossa pátria como um todo. Foram tantos pisões na avenida do samba que o espectador mais atento ficou facilmente sem fôlego. Foi um desfile, antes de tudo, corajoso nesta era de covardia e dissonância nos discursos. Uma prova de que a arte pode, e deve, ser um instrumento contra a tirania do preconceito, bem como o avanço da irreflexão na sociedade.
Porém, mais que isso, um recado as sandices políticas que tentam apagar a história de uma nação marcada pela intolerância. A Mangueira pisoteou a cara de muitos destes canalhas que se apossaram do poder e querem reescrever a história através do medo. Que outras escolas de samba, mídias televisivas, artistas em geral, aproveitem esse embalo e façam artes engajadas em denunciar as mentiras que nos ensinaram como verdades. Sambar na cara da sociedade apenas no carnaval é insuficiente. Precisamos sambar também o ano todo. A Mangueira fez a sua parte, falta você."


"Numa das lendas medievais mais difundidas do planeta, o rei Arthur consagra-se perante os outros cavaleiros ao ser capaz de retirar uma espada de uma rocha, transformando-se no rei da Bretanha. Questões ligadas a honra, virtude e respeito norteiam esta narrativa literária-histórica, permeada de ritos celtas e interferências cristãs à época. Fora do mito cavalheiresco, pouco restou de honradez, empatia e respeito no desvirtuoso reinado de ódio que impera no Brasil. Pelo contrário, hoje os nossos combatentes são sadicamente ofendidos por um discurso doentio que vem polarizando o país entre militares e "comunistas".
Sem haver espaço para mediação e diálogo, assistimos aterrorizados o ataque desumano a morte do pequeno Arthur, neto do ex-presidente do Brasil, Lula. Ao atacarem covardemente a morte desse inocente, percebemos, (ou pelo menos deveríamos), entender o agravamento da barbárie que tem assolado a sociedade. Não há mais espaço para condolências, pêsames, ou qualquer tentativa de enlutar, se a vítima for do lado "inimigo". Nem a morte de uma criança cessa a fúria da intolerância. Lembro-me que quando o atual presidente da república levou uma facada num comício, eu fui um dos poucos que viu o lado humano daquela situação, mesmo tendo profundas reservas com o dito cujo.
Isto porque, quando há ações que acometem o nosso corpo debilitando-nos, é preciso dar uma trégua no embate político para que aquele indivíduo possa se restabelecer para continuar na luta. Claro, quando há o mínimo de caráter envolvido na questão. Porém, no país dos dedos engatilhados em forma de arma caso o adversário esteja desarmado, ferido ou morto é preciso assegurar a sua derrota com mais crueldade; atitudes que vão desde comentários animalescos exaltando a brutalidade, a não percepção do quão selvagem se tornou esta nação. Não nos compadecemos com as dores alheias faz tempo, mas agora avançamos para algo bem mais atroz: estamos nos regojizando com as tragédias alheias, que podem ser nossas, e são. É inegável que tamanha apatia é oriunda das marcas históricas que nos feriram neste Brasil de violências mil.
Contudo, o revanchismo que tem se criado, sobretudo dentro das redes sociais, não perdoa mais ninguém. Às vezes tenho a impressão que muitas pessoas pararam de pensar e vivem vegetando no universo. São zumbis programados para levar outras pessoas a morte. Qualquer tentativa de reflexão é mimimi; questionar transformou-se em defesa de bandidos; problematizar é coisa de comunista; os direitos humanos só servem para proteger marginais... E nesta neura a espada que poderia ser alçada para salvar o Brasil do caos iminente vai sendo enfiada cada vez mais goela abaixo. A hostilidade em torno da morte de Arthur é uma prova disso, mas não se encerra aí.
Esta na perseguição aos direitos indígenas; na deturpação da imagem das feministas; no silenciamento e extermínio dos militantes (vide Jean Wyllys e Marielle Franco); na censura implantada nas escolas; no impedimento das discussões de gênero e sexualidade; na exaltação de setores ultraconservadores religiosos em detrimento da laicidade do país; na manipulação pública através do medo. Tudo isso despertou o que há de odioso em nós: o desamor. Com a legitimação do atual governo, veremos mais episódios dantescos ganharem ares de normalidade e muitos assistirão reticentes a escalada do horror. Eu, todavia, faço parte do lado oposto.
Enquanto houver discernimento, estarei no campo de batalha com os outros muitos cavaleiros, erguendo a minha espada em prol dos meus, que ainda são negligenciados por uma política inegavelmente omissa. Estarei com Arthur, Marielle e Jean. Mesmo que o fronte de batalha sofra perdas, outros muitos cavaleiros (e não soldados), sairão em defesa da quase extinta democracia nacional. Ao nosso Arthur brasileiro, minhas desculpas em nome da vergonhosa e inescrupulosa mentalidade do país de hoje. Descanse em paz e emane inocência de onde estiver para abrandar os corações dessa nação obscurecida de mentiras e falsas promessas. E saiba, Arthur, em sua homenagem, e de todos que penam para existir nesta pátria, vamos tirar esta espada fincada no Brasil."