30 junho 2011

Tese é de universitário pernambucano

Se para um adolescente, ser gay já é motivo para conflito na família e na escola, ser surdo e gay é ser alvo maior do preconceito. A conclusão está na tese do estudante André Gonçalves da Silva, aluno da Pós-Graduação em Educação Especial da FUNESO, em Olinda.

O estudo chamado de "Desejos e afetividades que não querem calar: o grupo LGBT Surdos de Pernambuco" identificou qual o grau de preconceito que sofrem os surdos gays e apontou soluções em políticas públicas, para que, a partir da escola, e da ação dos professores, essas pessoas sejam respeitadas.

"A partir dos dados analisados, observamos que os discursos homofóbicos dão sustentatibilidade para a existência dos discursos surdofóbicos no contexto familiar e escolar, provocando assim a exclusão do surdo" explica André.

A pesquisa identificou também outro tipo de preconceito, aquele que parte de homossexuais contra os surdos gays. "Igualmente, foi observado que a surdez tem sido fator condicionante para existir homofobia por parte de LGBTs ouvintes contra os LGBTs surdos, o que implica numa guetização mais ampliada desses sujeitos" alerta o pesquisador.

O resultado do trabalho será apresentado no dia 5 de julho, às 9 horas, na Funeso, em Olinda.

Fonte: Toda Forma de Amor

Um dia nós vamos casar, sabia disso? E vamos ter essas brigas diárias, vamos ficar sem conversar por mais ou menos meia hora, e depois faremos as pazes. Vamos ter os nossos cachorrinhos, vamos jogar video game, e na maioria das vezes você vai me deixar ganhar.

Ficaremos a manhã toda abraçados na cama, conversando besteiras, fazendo planos,e dando risada. Você fara cocegas na minha barriga, e eu bagunçarei o teu cabelo e morderei o teu nariz só pra te pirraçar.

Vamos sair, viajar, conhecer vários lugares novos, e cada um deles será melhor que o outro (…) É assim que eu imagino nós dois daqui a alguns anos, juntos apesar as brigas, das palavras que não deveriam ser ditas, das pessoas, do ciumes exagerado, do orgulho, apesar de tudo.

Eu te amo, e vai ser sempre assim, você é o único que eu eu vou querer pra sempre do meu lado, apesar de todas as nossas diferenças, você sempre vai ser a pessoa que vai brigar comigo quando eu fizer tudo errado, que sempre vai me dizer as piores besteiras pra me fazer rir, que sempre vai despertar o meu lado nada inocente, e o meu lado de menina, sempre vai ser você, a pessoa que vai fazer meu coração disparar, e que vai me deixar com aquele friozinho na barriga toda vez que fizer alguma coisa diferente, vai ser sempre você, a pessoa com quem eu vou querer passar a minha vida toda, brigando, rindo, conversando, brincando, provocando, e planejando o que nós faremos mais pra frente (…)

E eu sei, que não é uma coisa tão pequena, que vai fazer com que tudo isso acabe, o nosso sentimento continua aqui, e isso é o mais importante, certo?

(natalyluz)

Uma criatura sai para caçar à noite. Não importa se a caça é forte ou indefesa, qual o valor dela também não é importante. A criatura vai conseguir o que quer. Não há código moral, nem a tal ética. Não há papai nem mamãe para contar as velhas histórias sobre bruxas e raposas. NÃO HÁ BARREIRAS.

Esta criatura é livre. Ela conhece a liberdade. Ela experimenta cada minuto de um direito que as pessoas tem sido convencidos de que possuem tal direito. A criatura mantém em sua mente apenas o suficiente para lembrar o que é relevante para manter-se vivo. Sua natureza e instinto também não podem ser domados, uma vez que foi escolha desta criatura ter sua vontade liderada por eles. As pessoas não devem ser como esta criatura. Elas podem, mas não devem.

Governo, religião e família: desde tempos imemoráveis, essas estruturas têm sido usadas para nos dizer quem devemos ser, o que devemos fazer desde que nascemos. Sim, nós nascemos livres, mas isso é tirado de nós por uma ordem social que impõe que neste mundo tudo tem de ser compartilhado para que possamos ter paz.

O oposto desta paz? O Caos. Um país onde há liberdade e organização? Não há tal coisa. O Caos é algo que muitos filósofos têm tentado compreender apenas para provar um pouco dele, só para saber o que perdemos. Eu não estou dizendo que precisamos do Caos. Mas como posso ter tanta certeza antes de prová-lo?

Também temos de considerar que ainda não estamos prontos para lidar com toda liberdade. Pense nisso: se não houver lei? E se tudo o que controla as pessoas hoje em dia fossem simplesmente destruído, como tudo seria? Sim, essa é a imagem do Caos. Se nunca tivéssemos sido apresentados à Ordem, talvez o Caos não soaria tão errado. O Caos nos assusta, é por isso que não nos é permitido ser quem o nosso instinto nos diz para sermos. Nós não somos livres.

Claro, você pode simplesmente ignorar tudo o que disse e seguir seu instintos.

Mas você está pronto para enfrentar a criatura dentro de você?

Você terá coragem?


29 junho 2011


Conquistas e frustrações fazem parte do cotidiano da comunidade gay no Brasil que dia após dia luta para garantir que seus direitos sejam colocados em prática. Nessa jornada, várias manifestações, protestos, caminhadas, beijos coletivos entre tantos outros feitos são realizados por esse grupo, no intuito de chamar a atenção da sociedade no que se refere aos problemas ainda vividos por eles, como o preconceito e a discriminação, ambos responsáveis pela inaceitação dos homossexuais no âmbito social. Desses movimentos, um em especial se destaca pela sua grandiosidade e, sobretudo pela visibilidade que ele oferece. Falo da Parada do Orgulho Gay, marcha de alegria e cores a qual invade ruas e avenidas dos grandes centros urbanos clamando por tolerância, justiça e respeito. Entretanto, esse evento é criticado pelo seu real caráter educativo, o qual, para alguns, está sendo descaracterizado paulatinamente.

Conscientização é a palavra de ordem, quase como uma oração, para os homossexuais brasileiros e é baseado nela que as Paradas Gays se proliferam pelo país. Unindo forças, LGBTTs de todos os tipos e faixas etárias distintas vão às ruas pedir não, clamar para serem aceitos e respeitados. No entanto, a forma como isso tem sido feito, para alguns, está prejudicando a luta pela aquisição dos direitos a essa classe. O principal argumento é que essa marcha perdeu o seu tom político e se tornou um carnaval fora de época, no qual aparecem homens seminus e travestis com os seios à mostra. De fato, tais atitudes acabam alimentando os rótulos emblemáticos que boa parte da sociedade insiste em taxar os homossexuais. Além disso, é lamentável saber que a maioria dos frequentadores desses eventos está ali, mas poucos sabem da conotação política e ideológica envolvida no movimento. E o pior, muitos desconhecem o próprio tema que está sendo focalizado pela Parada.

Por outro lado, são indiscutíveis os benefícios que a Parada Gay trás para o movimento LGBTT no Brasil. A cada ano mais e mais pessoas, muitos héteros por sinal, participam da caminhada da igualdade promovida pelos gays. Mesmo com o perfil semelhante de um carnaval fora de época, a Parada do Orgulho Gay conseguiu proezas inimagináveis, apenas levando centenas de milhares de pessoas as ruas. Primeiro a visibilidade homo, mostrando que a ideia de que os gays faziam parte de uma minoria é o mais absurdo de todos os argumentos, porque eles sempre estiveram, estão e continuarão presentes em várias esferas sociais. Segundo, a manifestação política sim, mesmo que não em sua totalidade, porém há uma conotação implícita de luta pelos direitos e a garantia deles, exigindo não só da sociedade, mas também dos nossos políticos, uma postura mais igualitária para com essa comunidade. E terceiro, a alegria pacífica desse grupo que, de forma transparente, enche de amor, afeto, dignidade, harmonia, companheirismo e tolerância as avenidas desse Brasil tão marcado pelo descaso e pela violência.

Vítimas da intolerância alheia e de uma cultura altamente heteronormativa, os gays travam uma batalha um tanto desleal contra o moralismo de um povo fincado em padrões obsoletos de sexualidade. Nessa guerra, eles acabam criando trincheiras para se defenderem de um povo que prefere discriminar a ter que incluir, rotular a ter que entender e crucificar ao invés de tolerar. Daí surge essas passeatas regradas a muita música, fantasias extravagantes, demonstrações calorosas de afeto, formando um arsenal de emoções um tanto fortes aos olhos dos mais conservadores. A intenção é literalmente dar um choque de realidade, mostrando explicitamente que os gays existem e que querem ser reconhecidos enquanto seres humanos iguais a qualquer um. O resultado disso é uma tapa sem mão dada nas faces daqueles que não aceitam a homossexualidade e ainda alimentam um discurso violento contra esse grupo que, como se sabe, só prega a paz, o amor e o respeito entre as pessoas.

Claro que esse movimento não pode perder a sua identidade política, uma vez que ela é crucial para que os obstáculos ainda presentes sejam ultrapassados. Por isso, é necessário que mais e mais gays fiquem antenados nas propostas escolhidas por cada Parada, para que o coro da igualdade soe cada vez mais forte e consiga penetrar nas mentes rochosas dos homofóbicos e de todos aqueles que furtam os direitos dos homossexuais. Em contrapartida, acredito na força que há na coletividade, na exposição da diversidade como armas fundamentais para desconstruir a visão tacanha alimentada por muitos sobre a homossexualidade. Então, o mais importante não é se a Parada do Orgulho Gay está se tornando ou já se tornou um evento carnavalesco, e sim, a visibilidade dos homossexuais, que estão enfrentando os seus temores e indo as ruas mostrar para a sociedade que existem gays SIM e eles são semelhantes a qualquer outro ser humano e por isso devem ter os seus direitos garantidos.


Visto no: Idéias Canhotas

Eu gostaria de escrever sobre outro tema, mas hoje recebi uma crítica de um amigo (gay) e gostaria de fazer uma reflexão sobre ela.

Em uma conversa pela internet, esse amigo me disse em tom sacerdotal:

- Você é promíscuo... (!)

No caso dele, que é estudante de Psicologia, o tom foi mais de diagnóstico, só faltou um laudo que atestasse a minha promiscuidade. Sinceramente me incomodou um pouco a constatação. Ainda mais vinda de quem veio, e na situação que veio.

Nós, LGBT’s, somos freqüentemente chamados de promíscuos, o Deputado Jair Bolsonaro, Silas Malafaia, Magno Malta e outros da mesma linha dizem isso constantemente.

Os que são diferentes são promíscuos, imorais, indecentes, vagabundos, más-companhias, só para usar os adjetivos mais leves.

Como disse, ser chamado de promíscuo me incomodou. Passei uma parte do meu dia revendo minha vida, minhas ações, o que eu andava fazendo (e aprontando), passei em revista tudo aquilo que poderia me tornar “promíscuo”, os lugares que freqüento, minhas escolhas profissionais, minhas companhias, minhas convicções religiosas, políticas, meu gosto musical, e, é claro, minha vida afetiva e sexual. Visitei tudo o que pudesse me dar algum indício de minha promiscuidade e não encontrei nada que pudesse servir de sustentação para o meu mais novo título.

Pois então, o que nos torna promíscuos? Ou melhor, a partir do que somos chamados de promíscuos?

A partir dos valores de quem nos rotula. Confesso ser chamado de promíscuo por pessoas que pensam como o Bolsonaro de certa forma me orgulha, os valores que elas representam, são opostos aos meus.

E foi isso que me incomodou muito, os valores utilizados para me julgar, para me medir, não são os valores que eu tenho como meus. Sempre somos julgados a partir de valores que não são nossos, valores estes que sustentam atitudes preconceituosas, que excluem os deficientes, discriminam os negros, que oprimem as mulheres, que nos diz como devemos nos comportar, nos levam a agir de maneira que sejamos “moralmente aceitos” e exigir isso dos outros.

A sociedade, a família, todos esperam que eu corresponda ao que é moralmente correto. Que eu me case, que eu tenha filhos, que eu trabalhe, que eu seja monogâmico, heterossexual, branco e que eu seja casto, ou pelo menos seja discreto, a ponto de não dar motivo para os vizinhos falarem.

Ter uma condição diferente, expressar minha sexualidade de outras maneiras, e desfrutar dessas possibilidades me distancia cada vez mais do que esperam de mim, e foi isso que eu acredito que meu amigo quis dizer.

Ser gay (o que não escolhi) já me distancia desta expectativa, mas ao escolher outros caminhos me distancio mais ainda, e isso é imperdoável. Sendo gay eu deveria ficar quietinho na minha, não aparecer, fazer o possível para que as pessoas não me percebessem.

Confesso que muitas vezes agi assim. Me anulei, me escondi atrás da religião, da moral ou do que pudesse me proteger. E julguei muita gente também, gente que estava mais longe do modelo que eu. Ora era aquele que era efeminado demais, ora aquela que era masculinizada demais, espalhafatosa demais, pintosa demais, fica com gente demais. E por aí foi!

Tendo vida sexual ativa a situação fica mais complicada não?

Obviamente que desejo ter um parceiro, construir uma vida juntos, planejar coisas, mas isso ainda não aconteceu. E não ter parceiro fixo, estar solteiro e ficando por aí, aparentemente, é um dos itens que depõem contra a minha dignidade, aliás, depõe contra uma moral que não é mais a minha, me tira do lugar que me prepararam e que muita gente, inclusive gays, insistem que eu deva ocupar.

E é isso que eu gostaria de propor como reflexão, e que foi o que me chamou a atenção na conversa que contei no início texto.

Com base na moral de quem eu vivo? Com que régua sou medido? E com que régua eu meço?
Assumo que sou diferente, como todo mundo o é! Tento na medida do possível rever meus conceitos, e modificar meus preconceitos, sim, eu ainda os tenho. Vivo neste mundo, acabo carregando alguns vícios e preconceitos dele, logo, vivo me olhando, vendo onde posso melhorar, as vezes não dá muito certo admito!

Tento levar a minha vida do meu jeito, sem muitos parâmetros, sei que sou um bom filho, um bom amigo, tenho lá os meus defeitos, meus momentos de mau-humor.

Fiz escolhas na minha vida, e estou muito feliz por ter coragem de fazê-las, não nego o que sou, gosto de mim, e não acho justo estimular as pessoas a se negarem, a “não-serem”. Se não me enquadro nas medidas, se ofendo a moral dos outros, vejo isso com bons olhos, estou sendo percebido, sentido e me recuso a viver escondido.

Acredito em um país onde as pessoas possam ser o que são, como são, livremente. Sem medos, sem recriminações, sem medidas, ou “réguas morais”, apenas “sendo”.

Fui ao dicionário ver a definição de “promíscuo”. Segundo o Michaellis, a melhor definição para promíscuo é “confuso”, humano que sou, tenho meus momentos de confusão, de desordem, de mistura. Quem não tem? Então vai ver que sou meio promíscuo mesmo!

Mas de tudo isso de uma coisa eu tenho certeza e sem a menor confusão: construí ao longo da minha vida os meus valores, os meus conceitos e com a reguinha da moralidade eu não aceito ser medido mais!

28 junho 2011

insonoro, sem alarde, silêncio, língua, boca, lábios, ouvir, escutar, falar


Sem fazer alarde.
Sem identidade.
Chego e roubo o teu silêncio.
Corto a tua língua.
Silencio os teus lábios.
Não quero ouvir a suas lamentações.
Nem tão pouco os teus questionamentos.
Vou te privar.
Te tirar o direito de resposta.
Furtar teus argumentos.
Ceifar a tua fala.
Para que falar?
Agir é o elemento que nos rege.
Só a ação nos mantêm vivos.
Por isso te amarrei.
Amarrarei sua boca.
Enlacei os seus lábios.
Para não ouvir palavras vãs.
Para não escutar coisas insanas.
Quero apenas a sua respiração agora.
Consigo sentir o seu hálito nesse momento.
Sua voz quer sair.
Ela quer me dizer algo.
Mas eu prefiro manter-te assim.
Insonoro.
Vai ser melhor assim.
Vai ser melhor para nós dois.
Às vezes o silencio nos diz coisas profundas.
Coisas que as palavras não expressam.
O silêncio é mais vivo do que parece.

Nem um Toque

Rosana

Composição: Michael Sullivan

Tanta coisa pra dizer, e a gente nem se fala
Nem um toque, tudo vai ficando assim
No barzinho da esquina, quase a gente se esbarra
Nem um toque, tudo vai ficando assim

Você chega com os amigos, faz um tipo que me agrada
Faz de tudo pra chamar minha atenção
Passa a mão pelo cabelo, e me olha pelo espelho
Faz de tudo pra chamar minha atenção

Olho pro casal da mesa ao lado
Beijos e abraços apertados
E eu querendo te dizer, muito prazer

E na fantasia do momento
Quem de nós vai resistir mais tempo
Meu olhar procura o teu mais uma vez

Não posso me conter

Nem um toque e eu querendo, dizer muito prazer
Nem um toque e eu sonhando, sonhando com você
Nem um toque e eu querendo, dizer muito prazer
Nem um toque e eu sonhando, sonhando com você


Por Allan Johan para a Revista Lado A


Há 20 anos, no Brasil, quando um casal formado por uma loira e um negro passava na rua, as pessoas olhavam, apontavam e riam. As domésticas eram obrigadas a usar apenas o elevador de serviço nos prédios e os negros eram chamados de pessoas de cor. Essas pessoas de cor eram chamadas de crioulos, macacos, pretos, azul, tição e a eles eram atribuídos os adjetivos: safados, burros, fedidos, pobres, ladrões, entre outros estereótipos anunciados em piadas, conversas e brigas. Na tevê, os negros eram vítimas do humor; Chamados de urubus - apanhavam e eram tachados de preguiçosos!

Se uma mulher branca era violentada, já iam à procura de um negro. Se algo sumia, era culpa deles. Até hoje se um negro passa em um carrão já falam que ele é ladrão. E até hoje polícia faz batidas e blitz com os mestiços e negros muito mais do que com os brancos! Se há um negro na universidade, já dizem que é por cotas. Fora que as vagas de empregos ainda os excluem. As crianças negras não são adotadas no Brasil, todos querem ter filhos brancos – pois eles sofrerão menos preconceito - argumentam! Veja o que o preconceito é capaz!

Em um passado mais antigo, diziam que negros não tinham alma, que não entrariam no céu. Depois, mudaram o discurso e separaram os negros em igrejas diferentes. A escravidão só acabou quando o Papa a condenou, antes, se baseava na Bíblia para dar o aval a esta crueldade. Porém, as religiões de matiz africana continuaram condenadas, a cultura negra foi renegada, colocada como pecado, afronta ao Deus cristão.

Leia o absurdo que chegou a dizer o ex presidente dos EUA, Abraham Lincoln, defensor da escravidão, em 1858: “Há uma diferença física entre as raças branca e negra, diferença essa que, acredito, irá para sempre impedir as duas raças de viverem juntas em termos de igualdade social e política. E, visto que elas não podem portanto viver juntas, enquanto elas permanecerem juntas é necessário existir a posição do superior e do inferior, e eu, assim como qualquer outro homem, sou a favor de que a posição superior seja exercida pelo homem branco". Agora troque as palavras branco e negro por heterossexual e homossexual.

Então, em 1989, criaram a lei que pune o racismo. A lei No. 7.716, de 5 de janeiro. Ela não resolveu o problema mas diminuiu drasticamente a agressão aos afro descendentes, colocando como crime inafiançável o desrespeito e preconceito com base na cor da pele, além de outros tipos de racismo. A mesma lei que o PLC 122 quer incluir a criminalização da homofobia, da discriminação de gênero, dos idosos e dos deficientes. A PLC 122 não cria nada novo, ela inclui outros segmentos nessa lei que impactou positivamente na sociedade brasileira, embora ainda vá demorar gerações até que o ranço da maldade do preconceito suma.

E aqueles que dizem que a liberdade de expressão será comprometida deveriam avaliar e ver se esse argumento se encaixa ao direito de criticar ou ofender os negros. Há os que defendem que estão querendo, com o PLC 122, criar um tipo de cidadão com mais direitos. Mas é a mesma lei do racismo!? Então, estas pessoas que acreditam que ser gay não é característica de nascimento mas um comportamento e afirmam que a Bíblia condena esta prática e não poder citar a Bíblia seria uma censura ao direito de culto ou liberdade religiosa ou de expressão. Ora, a sua religião é que se trata de comportamento, algo humano, aprendido e seguido. Gostaria que você fosse chamado de ignorante, burro, zumbi, alienado por escolher ser religioso? A lei do racismo inclui a proibição por religião. Como que podem criticar uma lei que justamente já os proteje?

Bem, a homossexualidade está presente em diversas espécies animais, inclusive na Bíblia, quando é citado o amor de Davi e Jonatas. E sobre a condenação dos negros na Bíblia, lá se encontram os mandamentos que legitimaram a escravidão do povo africano, bem como a subserviência da mulher e até o apedrejamento e mortes de inimigos. Por que não defendem então a liberdade de culto ou de expressão para combater as mulheres em período fértil que saem as ruas, os homens que cortam as barbas, ou ainda não defendem o apedrejamento, como prega a Bíblia? Ou vamos condenar moralmente a presidenta da República que é divorciada, ou o pastor que se casou novamente, ou mesmo o padre que não tem família pois não tem mulher ou que não faz filhos? Já que este é outro argumento para coibir a homossexualidade, sendo que gays e lésbicas podem sim ter filhos, embora o mundo já esteja superlotado, se não perceberam.

O nosso passado negro nos leva à Era das Trevas, na Idade Média, quando a Bíblia caçou, perseguiu, massacrou como nunca, em nome da fé. Ou mesmo o Holocausto, onde os mesmos argumentos foram usados contra judeus, negros, gays, comunistas e ciganos, entre outros grupos. O argumento da superioridade, o da missão divina, a auto denominação de guardiões da moral e do destino da humanidade. Sim, a religiosidade pode se tornar um princípio nazista, quando prega a superioridade e a higienização. Foi assim no Holocausto, quando foi negada a cidadania dos judeus, até que os tiraram toda a sua dignidade, o direito a serem humanos e legalmente os mataram em câmaras de gás. O discurso cristão apóia os crimes contra homossexuais, pois os assassinos subjugam suas vítimas, não olham ali um ser humano mas um pecador, um objeto de nojo e desprezo, tal como os nazistas aos judeus e outros grupos, tal como os fundamentalistas aos homossexuais.

Liberdade de expressão vem junto com seus deveres e obrigações. Ninguém tem o direito de subjugar o outro, de propagar ódio, ou de se denominar superior por causa de uma religião. Se os ditos representantes divinos assumem esse papel, devem assumir primeiro todos os crimes cometidos em nome da Bíblia, olhar para suas mãos ensangüentadas. Querem o direito de criticar mas não admitem que homossexuais acessem seus direitos constitucionais e nem manifestem o amor em público. Quem está querendo ser especial nesta história? Os heterossexuais nada perdem com o reconhecimento da cidadania plena dos homossexuais. Ganham até, pois aprenderão a evoluir, a se livrar de preconceitos, de mesquinharias. A felicidade alheia pode perturbar? Corromper? Preste atenção neste argumento. Se felicidade dos gays te incomoda, há algo errado com você.

Me nego a direcionar este texto aos religiosos, assim como não publico comentários fora de contexto, com referências a Deus ou à Bíblia no site quando há citações para discriminar gays ou palavras de juízo. Estamos falando de Democracia. O SEU Deus não é único, cada povo e pessoa tem o seu. Se você segue a Bíblia e acredita que este é um manual divino, bem, lamento te informar mas cada religião tem o seu livro e igualmente acreditam que ele é sagrado. E o cristianismo não é a maior religião do mundo, sinto informar novamente. Não importa no que eu acredito, estamos falando de direitos. E o seu começa quando termina o do outro. Então, siga a Bíblia se quiser, dentro da sua casa ou no templo. Do lado de fora, vivemos uma Democracia onde todos tem direitos, seja qual for o seu Deus, e até os que não acreditam em nada ou os que acreditam em divindades maléficas.

Para esclarecer: o meu Deus é bom, o meu Deus é onipresente e onipotente. Por isso não coloco palavras em sua boca, eu o vejo em todos os lugares e não julgo se isso ou aquilo é certo, pois sei que Ele se manifesta de várias formas, além da minha compreensão.

Todo ser humano nasce com um manual de instruções. Não é um livro, não é um destino, não é uma divindade. Todo ser humano nasce com um manual dentro de si e ele se chama cérebro; Foi feito para ser usado. Todo ser humano nasce livre e o jeito que ele usa o seu cérebro sentencia se ele morre livre ou escravo de sua ignorância.

26 junho 2011

al, transcendental, sensacional, descomunal, sobrenatural, incondicional,fundamental, sexual
Surgi de uma faísca atemporal
Cresci num mundo transcendental
Busquei uma vida sensacional
Andei por um caminho descomunal
Conheci o sobrenatural
Agi de forma incondicional
Senti algo fundamental
Provei o existencial
Quis o plural
Encontrei o geral
Errei legal
Fui uma pessoa especial
Tive o que era real
Usei a melhor vogal
Divulguei tudo no jornal
Viajei para Portugal
Mas preferi a minha terra natal
Gozei de forma carnal
Nem pensei em antconcepcional
Fiz isso de forma amoral
Talvez até imoral
Tudo via oral
Numa linda noite de Carnaval
Prefiro o matagal
Ter a liberdade de um animal
Fotossintese de um vegetal
Numa manhã matinal
Sentimento corporal
Prazeres de uma pessoa carnal
Que pensa de forma genial
Que é cordial
Mesmo sendo crucial
Conhecer o outro por igual
Este pode ser cristal
Ou algo opcional
Que pode ser comunal
Ou colunal
divinal
infernal
factual
glorial
ideal
jubilal
literal
mundial
racional
ou até intelectual
Seja como tal
Ele foi igual
O homem é literal
Uma cópia ancestral
Que vivi como canibal
Nessa terra cheia de bem e de mal
Eu gosto de gays. Quando ando pelas ruas, costumo olhar nos olhos deles. Tenho uma sensibilidade especial para reconhecê-los no meio da multidão e não estou me referindo a trejeitos ou algo assim. É um feeling, não preconceito.

Os gays são pessoas muito especiais; carregam um brilho e uma expressão que varia entre o medo e o pedantismo. Contudo, algo nos seus olhos, invariavelmente implora por amor. Não sei como pode ser, mas eu sempre sou atraída por esse fascinante olhar que pede algo que parece impossível de ser dado a alguém...

São criaturas arredias, a princípio, arrogantes, quando percebem o interesse de alguém. Isso é claro, quando o gay é um ser que já se ‘assumiu’, embora não necessariamente tenha se aceitado. Considero essa reação absolutamente compreensível, para quem vive na fronteira máxima dos sentimentos, sempre em busca do reconhecimento, da própria valorização ou, pelo menos do respeito dos que o cercam, encontrando freqüentemente frieza e maldade na maioria das pessoas, principalmente entre amigos e familiares. Quem os poderia censurar? Quem os poderia apontar? Quantos não o fazem?

Quando não se assume, o gay costuma se esconder atrás de uma postura afetada de auto-adoração que o transforma em um ser digno de pena. Na verdade, um senso de proteção instintivo é o responsável por este pedido de socorro. Sempre que posso, tento conscientizar um amigo dessa situação difícil, mostrando-lhe que a vida será bem mais fácil e segura se ele se encontrar e se impor enquanto indivíduo livre e merecedor de respeito, além de muito amor. Pelo menos ele saberá quem são seus verdadeiros amigos. Já será um bom começo!

Em grande parte, devo aos gays minha consciência do quanto somos medíocres tentando ser o que não somos, tentando mentir e enganar nosso reflexo no espelho, dizendo a nós mesmos que somos equilibrados, que somos “normais”. Gente normal ama, sente desejo, sonha, espera, conquista, quer ser amado, desejado, quer viver ao lado de um ser que o complete.

Os gays são normais. Eles sentem tudo isso, exatamente assim. Dentre os casais que conheço os mais harmoniosos, os mais felizes, tranqüilos, amigos e companheiros, são casais gays. Em poucos casais vi tanto amor, tanta dedicação, tanta admiração pelo outro, tanta aceitação. Então, me orgulho de dizer, isso aprendi com os gays: a ser honesta com os meus próprios sentimentos, a ser consciente das minhas misérias íntimas e me aceitar, me amando, ainda assim. Depois, e só depois, é que vieram os livros, a filosofia e algumas poucas respostas.

Na obra O Banquete, de Platão, Aristófanes trata do tema do amor homossexual enfocando o mito de Andrógino e conta a história dos seres de terceiro gênero, apartados por Zeus um do outro, como castigo pela sua arrogância, sempre a se buscarem com avidez e ansiedade, como solução para sua angústia e por necessidade de complemento. Desta forma, os que possuíam forma feminina procuravam mulheres e os de forma masculina, se afinizavam na busca do amor de outros homens, não por despudor, mas por demonstrar coragem em satisfazer suas necessidades. Não somente a atração sexual os aproximava, mas o desejo sincero de amizade estima e respeito os ligava. Tanto que a nenhum outro amavam, e sinceramente desejariam viver e morrer como um só.

Em outro trecho, narra Platão o amor do jovem Alcibíades por Sócrates, bem como as artimanhas do rapaz para que o filósofo lhe partilhasse o amor e o leito. Sócrates o acolheu com amor, abraçando-o sem lhe partilhar o corpo. Entendendo, porém, que o amor de Alcibíades merecia respeito, Sócrates o acolheu nos braços, como pai ou como irmão, de modo que no dia seguinte continuavam a ser como antes: mestre e discípulo.

Nos dois trechos, percebe-se a sensibilidade do autor, demonstrando a compreensão do filósofo grego para um tema tão palpitante quanto delicado: de início, demonstrando a propensão natural da busca do Andrógino pela sua “metade”, como necessidade máxima de busca da própria felicidade e realização pessoal; em seguida, a adequada reação de um ser que não deseje unir-se a outrem para um relacionamento afetivo, tratando, porém, de não ferir a sensibilidade do que busca inutilmente ser correspondido no amor.

Não é a orientação sexual dos gays que deve ser o ponto chave das discussões em fóruns, livros de auto-ajuda, debates em escolas ou ainda nos dogmas desta ou daquela religião. É antes, a capacidade de amar que existe em cada ente que deve ser vista e protegida, como forma de construção ou resgate da estima e da sobrevivência emocional dos envolvidos nesse processo de aceitação do gay em relação a si mesmo e aos que o cercam.

Eis o que resta a compreender: é preciso saber amar, buscando em si mesmo a essência do amor, para se entregar ao ser amado sem temor quando encontrá-lo. É preciso saber amar, para desvincular a necessidade de afeto da carência sexual, aprendendo caminhos de compreensão que não firam e não afugentem indivíduos dignos de serem amados.

No mais, o pejorativo “gay” não diminui a essência do homossexual, quando este encontrou no amor dos seus familiares, amigos, companheiro ou companheira seu referencial de felicidade. Nem a frieza, nem a negação ou a repulsa de quem quer que seja ferirá o indivíduo que se sabe aceito e amado pelos seus.

Visto no: Pá de idéia

Filme Será que ele éRecorte do cartaz de Será que ele é? (1997)

" - E como ele é, fisicamente atraente e sentimentalmente indisponível?
- Não, esse é você!"
(Brothers & Sisters)


A sexualidade humana é um tema complexo e delicado... Mentira! Na verdade, a sexualidade humana é muito simples, a gente é que complica com nossas desculpas e auto-sabotagens. Veja como é tão simples, mas tão simples, que por isso pode ser complicado de entender: se você sente atração sexual por alguém do sexo oposto você é hétero; se você sente atração sexual por alguém do mesmo sexo você é gay; se você sente atração por indivíduos tanto do sexo oposto quanto do mesmo sexo você é bissexual. Qual é a dificuldade em entender isso? Que me desculpe a psicologia, que me perdoem as demais abstrações ou tipologias sexuais, mas eu falo aqui da vida real, e meu interesse hoje não é ser politicamente correto, nem amenizar nada, estou aqui para falar algumas verdades até então entaladas. E me perdoe se eu errar, faz tempo que não busco acertos.

Portanto, se você é homem e beija homens, transa com homens, se apaixona por homens, você é gay! Sim, você é gay! Não me interessa se você só fica com homens escondido, não me importa se você namora a mulher mais linda do condomínio, dane-se se você já apresentou mil namoradas para a mamãe, estou pouco me lixando se você é casado com uma mulher e é pai de cinco filhos: se você é homem e sente tesão por outro homem, lamento (ou não) informar, mas você é gay! Gay! G-A-Y! Homossexual ou, no mínimo, bissexual. E também tanto faz se você sente atração sexual por outro homem e nunca ficou com outro homem, você continua sendo gay do mesmo jeito (então, aproveita pelo menos)! Não falo daquelas idiotices de que todo afeminado é sempre gay e todo machão é sempre hétero, comportamento não é sinônimo de orientação sexual, definitivamente não é.

E, outra coisa, também aprenda a diferenciar gostar de fazer sexo de orientação sexual. Você pode transar com a vizinha gostosa todo dia - ruim não será, sexo nem sempre realiza, entretanto, sempre dá prazer (se feito com competência, claro) - mas isso não elimina o fato de que você sente atração sexual pelo vizinho gostoso, você ainda é gay do mesmo jeito! Seu corpo, meu caro, também é uma máquina e responde a estímulos, se um homem ou uma mulher te tocar em determinadas partes e de determinado modo você vai ficar excitado, e, estando em condições físicas para tal, será capaz de transar com qualquer pessoa independentemente do sexo ou orientação sexual dessa pessoa, entende?

Sendo assim, só você sabe a sua real orientação sexual, só você sabe da verdade. Não a verdade que você quer acreditar ou fazer com que acreditem, mas a verdade que você sente. E uma dica: não é opção sexual, é orientação sexual, não se opta por sentir atração por homens, mulheres ou os dois, a única escolha que você tem é se aceitar e ser feliz ou ser um eterno enrustido.

Por isso, digo, sei como é difícil entender e aceitar a si mesmo, mas você precisa fazer isso, em algum momento da sua vida, não engane a si mesmo para sempre. O problema das máscaras não é quando elas caem, mas justamente quando chega ao ponto em que elas não caem mais, você já as adotou como se fossem a realidade. Não se reprima, mas também tenha coragem não só para fazer, mas para assumir o que faz. Você é homem, sente tesão por homem, tem a coragem de ir para a cama com outro homem, mas não tem a coragem de dizer a si mesmo e a quem está ao seu lado que você é gay? Não digo para pregar uma faixa na porta da sua casa - alguns de nós precisam dar a cara a tapa, mas não necessariamente você precisa - agora, entre você e você mesmo é obrigatório se assumir.

Ou, então, fica sozinho, quietinho, não saia por aí vivendo aventuras, pois as pessoas têm sentimentos, sabia? Na verdade, isso tudo aqui é só para te dizer uma coisa: a diferença entre fazer seres humanos ou ratos de cobaia, é que o ser humano após o "teste" vai mandar você à merda! Então, por favor, dirija-se ao seu destino!

(Esse texto aplica-se tanto a homens quanto a mulheres na situação descrita, faça a conversão mental do gênero, se necessário)

Visto no:"EU SÓ QUERIA UM CAFÉ..."

25 junho 2011

Por *Gilberto Dimenstein para a Folha.com

Como considero a diversidade o ponto mais interessante da cidade de São Paulo, gosto da ideia de termos, tão próximas, as paradas gay e evangélica tomando as ruas pacificamente. Tão próximas no tempo e no espaço, elas têm diferenças brutais.

Os gays não querem tirar o direito dos evangélicos (nem de ninguém) de serem respeitados. Já a parada evangélica não respeita os direitos dos gays (o que, vamos reconhecer, é um direito deles). Ou seja, quer uma sociedade com menos direitos e menos diversidade.

Os gays usam a alegria para falar e se manifestar. A parada evangélica tem um ranço um tanto raivoso, já que, em meio à sua pregação, faz ataques a diversos segmentos da sociedade. Nesse ano, um do seus focos foi o STF.

Por trás da parada gay, não há esquemas políticos nem partidários. Na parada evangélica há uma relação que mistura religião com eleições, basta ver o número de políticos no desfile em posição de liderança. Isso para não falar de muitos personagens que, se não têm contas a acertas com Deus, certamente têm com a Justiça dos mortais, acusados de fraudes financeiras.

Nada contra -- muito pelo contrário -- o direito dos evangélicos terem seu direito de se manifestarem. Mas prefiro a alegria dos gays que querem que todos sejam alegres. Inclusive os evangélicos.

Civilidade é a diversidade. São Paulo, portanto, é mais gay do que evangélica.

*Gilberto Dimenstein, 53 anos, é membro do Conselho Editorial da Folha e criador da ONG Cidade Escola Aprendiz. Coordena o site de jornalismo comunitário da Folha. Escreve para a Folha.com às segundas-feiras.

23 junho 2011



Algumas vezes eu fiz muito mal para pessoas que me amaram. Não é paranóia não. É verdade. Sou tão talvez neuroticamente individualista que, quando acontece de alguém parecer aos meus olhos uma ameaça a essa individualidade, fico imediatamente cheio de espinhos - e corto relacionamentos com a maior frieza, às vezes firo, sou agressivo e tal. É preciso acabar com esse medo de ser tocado lá no fundo. Ou é preciso que alguém me toque profundamente para acabar com isso.

(Caio Fernando Abreu)

Por Ricardo Gondim

Começo este texto com uns 15 anos de atraso. Eu explico. Nos tempos em que outdoors eram permitidos em São Paulo, alguém pagou uma fortuna para espalhar vários deles, em avenidas, com a mensagem: “São Paulo é do Senhor Jesus. Povo de Deus, declare isso”.

Rumino o recado desde então. Represei qualquer reação, mas hoje, por algum motivo, abriu-se uma fresta em uma comporta de minha alma. Preciso escrever sobre o meu pavor de ver o Brasil tornar-se evangélico. A mensagem subliminar da grande placa, para quem conhece a cultura do movimento, era de que os evangélicos sonham com o dia quando a cidade, o estado, o país se converterem em massa e a terra dos tupiniquins virar num país legitimamente evangélico.

Quando afirmo que o sonho é que impere o movimento evangélico, não me refiro ao cristianismo, mas a esse subgrupo do cristianismo e do protestantismo conhecido como Movimento Evangélico. E a esse movimento não interessa que haja um veloz crescimento entre católicos ou que ortodoxos se alastrem. Para “ser do Senhor Jesus”, o Brasil tem que virar "crente", com a cara dos evangélicos. (acabo de bater três vezes na madeira).

Avanços numéricos de evangélicos em algumas áreas já dão uma boa ideia de como seria desastroso se acontecesse essa tal levedação radical do Brasil.

Imagino uma Genebra brasileira e tremo. Sei de grupos que anseiam por um puritanismo moreno. Mas, como os novos puritanos tratariam Ney Matogrosso, Caetano Veloso, Maria Gadu? Não gosto de pensar no destino de poesias sensuais como “Carinhoso” do Pixinguinha ou “Tatuagem” do Chico. Será que prevaleceriam as paupérrimas poesias do cancioneiro gospel? As rádios tocariam sem parar “Vou buscar o que é meu”, “Rompendo em Fé”?

Uma história minimamente parecida com a dos puritanos provocaria, estou certo, um cerco aos boêmios. Novos Torquemadas seriam implacáveis e perderíamos todo o acervo do Vinicius de Moraes. Quem, entre puritanos, carimbaria a poesia de um ateu como Carlos Drummond de Andrade?

Como ficaria a Universidade em um Brasil dominado por evangélicos? Os chanceleres denominacionais cresceriam, como verdadeiros fiscais, para que se desqualificasse o alucinado Charles Darwin. Facilmente se restabeleceria o criacionismo como disciplina obrigatória em faculdades de medicina, biologia, veterinária. Nietzsche jazeria na categoria dos hereges loucos e Derridá nunca teria uma tradução para o português.

Mozart, Gauguin, Michelangelo, Picasso? No máximo, pesquisados como desajustados para ganharem o rótulo de loucos, pederastas, hereges.

Um Brasil evangélico não teria folclore. Acabaria o Bumba-meu-boi, o Frevo, o Vatapá. As churrascarias não seriam barulhentas. O futebol morreria. Todos seriam proibidos de ir ao estádio ou de ligar a televisão no domingo. E o racha, a famosa pelada, de várzea aconteceria quando?

Um Brasil evangélico significaria que o fisiologismo político prevaleceu; basta uma espiada no histórico de Suas Excelências nas Câmaras, Assembleias e Gabinetes para saber que isso aconteceria.

Um Brasil evangélico significaria o triunfo do “american way of life”, já que muito do que se entende por espiritualidade e moralidade não passa de cópia malfeita da cultura do Norte. Um Brasil evangélico acirraria o preconceito contra a Igreja Católica e viria a criar uma elite religiosa, os ungidos, mais perversa que a dos aiatolás iranianos.

Cada vez que um evangélico critica a Rede Globo eu me flagro a perguntar: Como seria uma emissora liderada por eles? Adianto a resposta: insípida, brega, chata, horrorosa, irritante.

Prefiro, sem pestanejar, textos do Gabriel Garcia Márquez, do Mia Couto, do Victor Hugo, do Fernando Moraes, do João Ubaldo Ribeiro, do Jorge Amado a qualquer livro da série “Deixados para Trás” ou do Max Lucado.

Toda a teocracia se tornará totalitária, toda a tentativa de homogeneizar a cultura, obscurantista e todo o esforço de higienizar os costumes, moralista.

O projeto cristão visa preparar para a vida. Cristo não pretendeu anular os costumes dos povos não-judeus. Daí ele dizer que a fé de um centurião adorador de ídolos era singular; e entre seus criteriosos pares ninguém tinha uma espiritualidade digna de elogio como aquele soldado que cuidou do escravo.

Levar a boa notícia não significa exportar uma cultura, criar um dialeto, forçar uma ética. Evangelizar é anunciar que todos podem continuar a costurar, compor, escrever, brincar, encenar, praticar a justiça e criar meios de solidariedade; Deus não é rival da liberdade humana, mas seu maior incentivador.

Portanto, Deus nos livre de um Brasil evangélico.

Soli Deo Gloria em 7-02-11

Segregar indivíduos da sociedade por razões desconhecidas ou pouco fundamentadas sempre foram os principais ingredientes da discriminação. Durante anos os negros foram excluídos por causa da cor de sua pele, sendo obrigados a uma vida de servidão e tortura. As mulheres, nesse percurso, também eram limitadas a exercer funções específicas e por muito tempo sofreram com o rótulo de sexo frágil e incapazes de se igualarem aos homens em várias tarefas. Os índios, acusados pelos nossos colonizadores como selvagens e irracionais, foram forçados a se adequarem a um modelo de vida desconhecido o qual acabou destruindo para sempre a sua identidade cultural. Todos esses eventos tinham alguma coisa peculiar que tentava justificar o preconceito atribuído a essas minorias. No entanto, quando o assunto é homossexualidade, o que a sociedade usa como argumento para sustentar a sua visão aversiva são citações religiosas interpretadas de forma valorativa por aqueles que preferem excluir a ter que compreender a problemática vivida pelos gays.

É incontestável a visão de fé nutrida por muitas igrejas sobre a homossexualidade, pois elas acreditam que essa prática não está em conformidade com as leis divinas. Tal posicionamento é respeitável, porque não se devem confrontar as crenças religiosas das pessoas, mesmo que elas perpassem para a irracionalidade. Entretanto, quando o discurso religioso ultrapassa a linha dos dogmas e começa a interferir na aquisição dos direitos que cada indivíduo possui, ele acaba se tornando uma arma de alienação e, principalmente de propagação da violência. Quando a religião Católica, bem como as derivações que dela surgiram, usa a Bíblia, seu principal instrumento de adoração, como se este fosse um livro de regulamentos pronto e inabalável o reflexo é o desrespeito aos direitos humanos.

Isso é o que está acontecendo com o Brasil na atualidade. Mesmo com as inegáveis conquistas, a comunidade LGBTT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais), luta ainda para derrubar algumas barreiras aparentemente intransponíveis da sociedade. Uma delas, a principal, é a muralha construída pelos evangélicos que insistem em utilizar o discurso bíblico para violar a garantia dos direitos aos homossexuais. A união homoafetiva já foi aprovada, mas o casamento ainda encontra resistência, uma vez que muitos desses fundamentalistas dizem que esse mérito é restrito aos casais heterossexuais. A adoção de crianças também ainda não foi concedida, pois, baseado em conceitos extremistas muitos religiosos insistem em afirmar que um casal do mesmo sexo poderia interferir na formação psicológica das crianças. Entre tantos outros julgamentos feitos para barrar a dignidade dos gays, enquanto seres humanos dotados de direitos como quaisquer outros.

O projeto de lei PLC122/06 que criminaliza a homofobia no país ainda não saiu do papel porque estes evangélicos, que se acham donos da moral e dos bons costumes, fazem de tudo para impedir que os direitos a comunidade gay não sejam garantidos. Enquanto essa lei não é aprovada muitos homossexuais são constrangidos em locais públicos, humilhados, xingados e muitas vezes mortos por assumirem publicamente a sua sexualidade. Ora, nessa constatação é relevante questionar se vale mesmo à pena tirar a vida de alguém só pelo simples fato de ter uma prática sexual diferente das demais e, além disso, será que Deus aprova esse discurso violento nutrido por esses fundamentalistas que acabam alimentando as mentes de uma sociedade cercada pela violência?

O resultado de tal posicionamento resvala na incidência cada vez maior dos atos de violência contra os homossexuais. O país passa por um crescimento nesse sentido que vai desde os lares, chegando às escolas e por fim retornando para a sociedade. Mais e mais casos de agressões, bullying e, principalmente assassinatos aumentam no Brasil por que uma parcela da população prefere se prender a trechos da bíblia como justificativa para a intolerância e prática de violência. Se Deus é contra a homossexualidade ele é a favor de algo muito maior, o amor, sentimento este que anda ausente dos corações das pessoas.

É indiscutível que as palavras divinas impregnadas nas escrituras sagradas são de extrema importância para a formação religiosa, intelectual e humanística dos seres humanos. Porém, os evangélicos não podem e nem têm o direito de distorcer as palavras da bíblia para beneficiar o orgulho e as convicções particulares, furtando de uma parcela da sociedade o direito inalienável de ser feliz em plenitude. Ser gay ou hétero, branco ou preto, mulher ou homem não classifica o indivíduo como bom ou ruim, como pecador ou não. O que realmente importa são as virtudes que cada pessoa vai acumulando ao longo da vida e, sobretudo pelas boas obras que são feitas em vida. Se a homossexualidade é pecado não cabe ao homem terreno fazer os seus julgamentos e sim para Aquele que realmente tem o poder para isso.

Paisagem da Janela

Elba Ramalho

Da janela lateral do quarto de dormir
Vejo uma igreja, um sinal de glória
Vejo um muro branco e um vôo pássaro
Vejo uma grade, um velho sinal
Mensageiro natural de coisas naturais

Quando eu falava dessas cores mórbidas
Quando eu falava desses homens sórdidos
Quando eu falava desse temporal
Você não escutou
Você não quer acreditar
Mas isso é tão normal
Você não quer acreditar
Que eu apenas era
Cavaleiro marginal lavado em ribeirão

Cavaleiro negro que viveu mistérios
Cavaleiro e senhor de casa e árvores
Sem querer descanso nem dominical
Cavaleiro marginal banhado em ribeirão

Conheci as torres e os cemitérios
Conheci os homens e os seus velórios
Eu olhava da janela lateral
Do quarto de dormir
Você não quer acreditar
Mas isso é tão normal
Você não quer acreditar
Mas isso é tão normal
Você não quer acreditar...

Você não quer acreditar
Mas isso é tão normal
Você não quer acreditar
Mas isso é tão normal
Você não quer acreditar
Mas isso é tão normal
Você não quer acreditar...


Em qualquer cultura a sociedade sempre esteve alicerçada em pilares fundamentais para a manutenção da qualidade de vida das pessoas e a preservação dela. Nessa estrutura há um tripé que merece ser destacado pelo seu grau de importância, crucialidade e indispensabilidade. Falo da educação, saúde e segurança pública, pois sem estas três instâncias, possivelmente a vida na terra seria um caos. Para cada uma delas há um profissional empenhado em perpetuar seus conhecimentos, habilidades e, sobretudo coragem, para garantir que cada cidadão viva dentro da normalidade exigida pelo sistema social. Entretanto, o trabalho feito por professores, bombeiros, médicos e policiais não são tão valorizados como deveriam ser. Pelo contrário, muitos recebem péssimos salários, trabalham em condições desumanas e ainda são crucificados quando cometem algum erro. Tratados como verdadeiras máquinas, estes indivíduos são os representantes máximos do equilíbrio social, mesmo assim não recebem o devido reconhecimento por isso.
 
Se a educação é uma das principais ferramentas para que se possa transformar a realidade social, então a sua importância está sendo desconsiderada paulatinamente. Isto porque, aqui no Brasil, muito tem se falado sobre as melhorias nesse campo, principalmente com os altos investimentos que o governo tem inserido para melhorar a qualidade da estrutura das escolas, do material didático fornecido aos alunos e na metodologia de ensino em geral. No entanto, nesse âmbito, uma peça fundamental sempre fica fora do campo de visão dos governantes, os professores.
 
Estes profissionais ainda ganham os piores salários do país, vivem em condições subumanas de trabalho e ainda não ganham o devido mérito da sociedade pelo trabalho altruísta que exercem. Passam anos e anos dentro de salas de aula, convivendo muitas vezes com alunos desestimulados, violentos e sem perspectiva de futuro e ainda sim fazem de tudo para mudar a triste realidade deles. Muitos desses professores vãos além dos limites do ensino e acabam se tornando pais, conselheiros e amigos de crianças e adolescentes carentes não só de conhecimento, mas também de reconhecimento enquanto seres humanos donos da sua própria capacidade de transformação.
 
Outro membro importante da escala social são os médicos, bem como outros profissionais da área de saúde como um todo. Esta figura, infelizmente só é lembrada pela sociedade em dois momentos específicos, ou quando salva a vida de alguém que está à beira da morte, ou quando comete algum erro que acaba acometendo a vida de algum paciente. Entre estas duas possibilidades, a chance de ser execrado quando comete um erro é bem maior do que de ser elogiado pelos seus acertos diários. Trabalhando em hospitais, geralmente com condições precárias e repletos de pacientes, esses profissionais são alçados ao patamar de muitas máquinas existentes na sociedade, pois, independente do ramo em que trabalhem, eles não podem errar em nenhum momento. O que muitos se esquecem é que, mesmo sendo preparados para salvar vidas, os médicos são pessoas como quaisquer outras e por isso suscetíveis a erros.
 
O que falar então do serviço de segurança pública do Brasil. Num país onde os índices de violência crescem em vários âmbitos, há de se pensar que existam muitos investimentos na qualidade do trabalho exercido por policiais civis e militares. Ledo engano, pois, infelizmente estes profissionais além de conviverem com o descaso do poder público ainda arriscam as suas vidas para tentar manter a ordem nessa terra onde a marginalidade e a inoperância da legislação fazem as suas vítimas. Em alguns estados brasileiros aumentou o efetivo de policiais nas ruas, porém as constantes paralisações desses trabalhadores mostram um cenário desolador da realidade de descaso vivida por muitos deles. Os bombeiros, por exemplo, ganham um salário ínfimo para sacrificarem as suas próprias vidas e mesmo assim não podem reivindicar por melhores condições de salariais.
 
E nessa relação de má condição trabalhista e desrespeito por parte da sociedade é o caminho que muitos desses profissionais seguem na sua íngreme batalha para melhorar a vida das pessoas pelo Brasil a fora, mesmo sem o devido reconhecimento. A limitação existente não só por parte dos governantes desse país, mas também da sociedade como um todo, é o reflexo de uma cultura acostumada a valorizar coisas supérfluas e desvalorizar aqueles que realmente fazem algo produtivo para transformar a realidade desumana existente no país.
 
Por isso, antes de acusar um médico por um possível erro tente ver quanto ele sofre para garantir um serviço de qualidade para você e sua família; Antes de condenar os policiais e bombeiros se questione, se o que eles recebem todos ou meses vale a pena ao ponto de arriscarem as suas próprias vidas para salvarem pessoas desconhecidas como eu e você; E antes de crucificar um professor, ou taxá-lo de bom e ruim, perceba como seria a sua vida e a de muitas pessoas sem os ensinamentos desse profissional tão vital para a nossa formação intelectual. Pense nisso!