23 fevereiro 2013




Tem gente que canta divinamente. Outros nasceram com a arte da dança nos pés. Há aqueles que interpretam como ninguém e conseguem emocionar a cada novo papel, a cada apresentação feita. Também tem aqueles que nasceram com o dom da palavra e com elas conseguem deixar um grande legado em forma de textos e livros. Gente que pinta, desenha, esculpe, ensina, entre tantos outros talentos dos quais os seres humanos são dotados. Então, nada mais justo do que ser reconhecido pelos predicados que possuímos, sobretudo numa terra rica em pessoas prodigiosas como o Brasil. Acontece que, infelizmente, talento e reconhecimento são palavras que não caminham lado a lado. Isto porque vivemos numa sociedade instantânea, onde as celebridades momentâneas se replicam como verdadeiros autômatos, estas muitas vezes, sem nenhum talento para nos oferecer.

Quem nunca desejou ser reconhecido por alguma coisa e, a partir disso, ter dinheiro, fama e sucesso? Tal pergunta seria facilmente respondida com um enfático sim por muitas pessoas, sobretudo por aquelas que buscam a notoriedade a qualquer custo, mesmo que para isso tenham que se expor ao ridículo nacionalmente. Dentre os inúmeros exemplos que pipocam na mídia, um deles é o da fantasmagórica Inês Brasil. Depois de lançar um vídeo, na tentativa de entrar no Big Brother Brasil, essa moça tornou-se febre na internet. Seu “hit” já foi visto por muitas pessoas, bem como a sua performance, digamos, um pouco animalesca. Em vários vídeos e fotos, ela aparece trajada com fatias de pano cobrindo pedaços específicos do seu corpo e sensualizando para as câmeras com gestos e poses dignas das grandes estrelas pornôs.

Dona de uma beleza esdrúxula, sua aparição repentina denota que ter talento não é mais suficiente para conseguir o tão cobiçado estrelato. Pelo contrário, basta alguns lances de pernas, virilhas, peitos e bundas a mostra, para garantir matérias em grandes sites e programas, bem como alguns cachês por aparições públicas e, quem sabe, posar nua, de fato, em alguma dessas revistas que enaltecem figuras desconhecidas como estas. Na verdade, é a contundente inversão de valores, não apenas morais, mais principalmente artísticos, já que a arte de hoje vem sendo pornografada constantemente pelas pessoas, pela mídia e por essa cultura que se utiliza do apelo sexual para conseguir um lugar na calçada da fama. E isso só com a velocidade de um clique, já que a internet tornou-se a ferramenta principal para a fabricação de celebridades rápidas e indigestas, iguais aos fast-foods que emporcalham nossas vidas e prejudicam nossa saúde.

Entretanto, Inês Brasil não é a única a usar desse estratagema para se tornar uma pessoa famosa. Muitos artistas, de talento duvidoso, usam a beleza como trampolim para o sucesso. No mesmo programa que a luxuriosa Inês Brasil tentou entrar, outros que conseguiram participar, utilizam constantemente o corpo como ponte para a ilha da fama. O BBB, que já dura mais de uma década é, dentre tantos programas do gênero, uma fábrica de criar celebridades efêmeras desse nível. Mulheres com curvas turbinadas agigantam a tela todas as noites, hipnotizando os ávidos telespectadores masculinos, e femininos, por que não? Homens musculosos também fazem sua parte nessa vitrine que agrada a gregos e troianos. Porém, tanto no primeiro quanto no segundo gênero, sobram plásticas, musculação e artificialidade e faltam inteligência, sagacidade e o mais importante de todos, talento. São pessoas ocas, de pouco conteúdo, focadas em um único propósito, ganhar o prêmio final, ou quem sabe se tornar mais um entre os tantos “artistas” do momento que surgem tão rápidos quanto uma estrela cadente e desaparecem na mesma proporção.

Além desse programa e das “estrelas” que brotam dele, outras celebridades já consagradas, ou em fase de consagração, acabam expondo suas particularidades para manter a fama ou resgatar a que está perdida. São atores, cantores, modelos, dentre outros artistas que expõem suas vidas em fotos, exibindo partes íntimas em redes sociais. Também vídeos da intimidade, com cenas que vão da masturbação até a prática do ato sexual nu e cru. Não se sabe, contudo, se tais manobras estão fincadas em meros fetiches ou em tentativas frustradas de aparecer a todo custo. Seja como for, ser visto é o que impulsiona essas pessoas a cometer tamanhas obscenidades dentro ou fora do âmbito virtual. Tudo isso porque estar à vista do outro se tornou sinônimo de sucesso, já que a nossa sociedade instantânea tem criado a hábito de cultuar o que é passageiro. Então, onde fica o talento?

Lamentavelmente, este vem se tornando um artigo em extinção. Poucos são os canais televisivos que mantém certa qualidade na sua programação. É muito mais fácil criar quadros de gosto duvidoso, de fácil assimilação e de forte apelo à violência e ao sexo. Também são poucos os artistas, de fato, que ainda conservam a sua integridade e lutam para serem respeitados e, sobretudo lembrados, já que a sociedade tem esquecido do que é realmente bom, de qualidade, e importante, pois somos diariamente vitimados pelos ataques dessas celebridades bombas, que explodem de repente, destruindo tudo o que deveria ser valorizado por nós, como dom, brilhantismo e talento. Enquanto isso, muitas outras Inês vão agindo como verdadeiros pesticidas nos campos da arte, utilizando os mecanismos virtuais como potencializador dos seus “talentos”.

Ser famoso, ter fama, dinheiro e sucesso se tornaram mais importantes do que possuir alguma habilidade artística. Por causa dessa inversão, muitas pessoas arranham sua integridade publicamente, sem pudor, desrespeitando o outro e a si mesmas. Tudo isso é o reflexo de uma sociedade presa à artificialidade e guiada pela cobiça. Cegas pelo poder, as pessoas enegrecem suas mentes e vão em busca de um sucesso que não lhes pertencem. Manipuladas por um sistema que cria a ilusão de que a arte se resume a fama e ao dinheiro. Por isso que o fenômeno chamado Inês Brasil denota uma onda de outras celebridades no mesmo patamar dela e fincadas no mesmo propósito: serem notadas a qualquer custo, mesmo que para isso tenham que se ridicularizar. Então, só nos resta torcer para que essa nova configuração dada aos artistas contemporâneos seja algo repentino e, posteriormente erradicado dessa e de outras gerações.


Gente, ontem os céus consideram-me um singelo presente, o nascimento de Sofia, minha linda sobrinha que veio ao mundo, cheia de vida, saúde e com a típica esperança inerente a todos os recém-nascidos. Felicidade não é a palavra certa para comportar tanta emoção que eu, e todos de minha família estamos sentindo. Agora que tudo deu certo, é torcer para que o futuro dessa linda criança seja iluminado, repleto de coisas boas e de uma longínqua estada nessa terra de sonhos. Bem vinda Sofia, desde já te amamos MUITO!



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"Eu não tinha este rosto de hoje, 
assim calmo, assim triste, assim magro, 
nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força, 
tão paradas e frias e mortas; 
eu não tinha este coração que nem se mostra. 
Eu não dei por esta mudança, 
tão simples, tão certa, tão fácil: 
Em que espelho ficou perdida a minha face?"





       Dos trios elétricos e cordões da Bahia, ao frevo e fantasias de Recife e Olinda, aos sambódromos paulista e carioca: conhecida como a maior festa popular do país, o carnaval atrai foliões de todo o Brasil e do mundo para um "combo" de música, dança, extravagâncias e alegria. Ao menos, é isso que a mídia mostra e a maioria dos brasileiros prefere dar atenção.

     É, sobretudo no carnaval, que o folião se sente ainda em clima de férias e se permite extravasar toda a sua energia antes das instituições acadêmicas funcionarem a todo vapor e o ano propriamente começar. Onde deixa as responsabilidades de lado e vai para as ruas a fim de curtição máxima, do prazer intenso em poucos dias.

     Mais do que nunca a iniciativa privada utiliza o espaço público, fazendo com que as classes mais altas sejam as que realmente podem curtir a festa, os menos favorecidos economicamente ou trabalham durante o carnaval, ou pagam o abadá ou o camarote "VIP" doze vezes com juros ou estão do outro lado do cordão, pulando na pipoca. Aliás, essa exclusão social fica explícita no carnaval de Salvador, por exemplo, se refletirmos, o cordão representa uma fronteira, só participa quem tem poder aquisitivo, quem pode pagar. Quem está dentro pode, quem não está: se sacode.

     Há que se questionar o descaso dos meios de comunicação com os acontecimentos não vinculados ao clima carnavalesco, do alto investimento em saúde e segurança prioritariamente nessa época e a redução desses recursos essenciais no resto do ano, a quarta-feira de cinzas é resultado do folião. E o que era uma festa cultural se torna uma indústria onde os interesses econômicos prevalecem sobre os sociais.

      As cinzas da quarta-feira de cinzas não são causadas pela festa em si. Mas pelo ser humano em sua condição. A de ser passivo e de se achar errado continuar calado. Além disso, o clima carnavalesco é o lado animalesco do homem, o amontoado mofado que fica enrustido hipocritamente de certa forma durante o ano por não ser socialmente aceitável, é liberado durante o carnaval onde tudo é liberado e permitido. Seria muito significativo se através da consciência coletiva - aproveitando o fervor das redes sociais e o seu poder de rápida comunicação ao nosso favor - nos uníssemos para repensar e possivelmente ajustar esses quesitos supracitados do tão esperado feriado do ano. Afinal, não podemos deixar uma festa tão colorida se acinzentar assim.

Aluna:Tamires Amorim
Professor: Diogo Didier


Têm escolhas que não sabemos por que tomamos, apenas decidimos e elas se concretizam, mesmo que não sejam tão positivas quanto imaginávamos. 
Têm caminhos que trilhamos, que nem sempre nos levam para lugares benéficos, pois numa curva sinuosa, perdemos a direção e todo o futuro muda drasticamente. 
Têm pessoas que não escolhemos conviver, gostar, amar ou compartilhar, mas simplesmente sentimos algo inexplicável por elas e somos capazes de tudo para fazer parte do seu mundo, de estar junto e de viver intensamente ao seu lado. 
A tudo isso eu costumo nominalizar de ENERGIA. 
Algo que alguns podem chamar de amor, afeto, ou uma simples simpatia, eu, porém, goste de chamar de energia. 
Essa força que acaba unindo as pessoas mais diferentes, nas situações mais inusitadas, contudo, é capaz de amalgamar seres distintos. 
É por essa força que vivo, luto e dependo. 
É por ela que eu crio meus laços de amizade e carinho com todas as pessoas que são sinceras quando dizem que gostam de estar comigo. 
E é essa energia que compartilho e espero receber tão intensamente quanto costumo compartilhar, pois é de pessoas de energias positivas, verdadeiras e sublimes que esse nosso mundo precisa.


“Na primeira vez em que um pau me foi enfiado goela abaixo – figurativamente falando – eu tinha apenas doze anos. Doze.

Voltava da escola pra casa todos os dias, de ônibus. Naquele dia não foi diferente. E, mesmo assim, foi totalmente diferente. Porque, naquele dia, sentado do meu lado, estava um senhor que achou que seria uma excelente ideia colocar o pau pra fora da calça e se exibir pra uma criança.

Aquele foi o primeiro dia em que me senti um objeto. Enojada e impotente.
Da segunda em diante, parei de contar. Já apertaram minha bunda, já apertaram meus peitos, já puxaram meu cabelo, já assobiaram e disseram grosserias que, certamente, não diriam às suas santas mãezinhas.

Há quase dez anos, contudo, uma dessas situações marcou a minha vida. Há quase dez anos fui estuprada.

Não fui estuprada por um estranho. Sei o nome e sobrenome do meu estuprador, e há dez anos sabia também o seu endereço, onde trabalhava, o que fazia, onde tinha estudado, quem eram seus amigos.

Fui estuprada por um amigo, num encontro.

Não estávamos muito bêbados. Não, eu não estava usando roupas provocativas. Sim, eu disse que não queria. Aliás, nada disso explicaria ou justificaria o que aconteceu, mas acho bom ressaltar pelo caráter educativo do relato: não, as mulheres nunca estão a salvo.

Como em algumas vezes anteriores, eu e meu amigo tivemos um “date”, saímos juntos pra jantar, conversamos, rimos. Fomos pro meu apartamento, depois. Tomamos um drink qualquer. Eu queria estar com ele, eu estava atraída, eu estava a fim.

Mas, de repente, me vi forçada a uma situação de violência e agressão da qual não queria participar. Enojada e impotente, como aos doze anos. Dizendo, ou melhor, gritando que não, mas não tendo força suficiente para me desvencilhar de um corpo adulto muito maior e mais forte do que o meu.

Sei que é chocante revelar publicamente um estupro e pensei muito antes de escrever esse texto. Nem mesmo as pessoas mais próximas sabem do que me aconteceu.

Mas o estupro em si não é o meu ponto mais importante. A cada doze segundos – SEGUNDOS – uma mulher é estuprada no Brasil. A cada quinze segundos uma mulher é espancada por um homem, também no Brasil. Aproximadamente uma em cada três mulheres sexualmente ativas já sofreu agressão física ou sexual por um parceiro. Uma em cada 3 mulheres NO PLANETA já foram espancadas, estupradas ou submetidas a outro tipo de abuso. De cada cinco mulheres no mundo, uma será vítima ou sofrerá uma tentativa de estupro até o fim da sua vida.

O meu estupro é só mais um em UM BILHÃO no planeta. Sim, esse número é real. Um bilhão.

O importante é como eu, depois do estupro, relutei em acreditar e admitir que fui estuprada. É como defendi meu estuprador para o amigo que me socorreu, dizendo que ele provavelmente não tinha entendido que eu não queria. É como passei um longo tempo achando que, apesar de todos os meus gritos, resistência física e de todo o sangue que ficou na roupa de cama, aquilo tudo podia ter sido apenas um mal-entendido.

O importante é que, depois do estupro, ainda falei amigavelmente com meu estuprador, e ainda tive pena dele.

O importante é quantos anos demorou pra que eu finalmente admitisse pra mim mesma – e só pra mim, claro – que eu tinha sim sido estuprada. E como, mesmo assim, optei por não contar isso pra ninguém, por não falar no assunto, por não alertar outras mulheres para o perigo que correm todos os dias ao simplesmente existirem.
O estupro em si foi só mais um, mas a minha ATITUDE – infelizmente, também muito comum – é o que permite que a cada doze segundos uma mulher seja estuprada no Brasil.

Esse ano, me vi novamente numa situação em que me senti impotente e, por alguns minutos, não tive força física suficiente para resistir a algo que eu não queria que acontecesse com o meu corpo. Não era uma tentativa de estupro, mas a sensação de impotência me remeteu automaticamente a dez anos atrás. Das entranhas, me veio uma força desconhecida e consegui dizer NÃO. Consegui reaver a posse do meu próprio corpo, e impedir que alguém fizesse comigo algo que eu não queria.

E, pela primeira vez em dez anos, chorei pelo meu estupro. Me permiti sentir pena de mim pelo que aconteceu. Me permiti sentir raiva do meu estuprador. Me permiti chorar.

Mas chorei também de orgulho pela minha recém-adquirida coragem, por ter conseguido me defender, me impor, cuidar do meu corpo, mandar no meu corpo, retomar das mãos do outro o meu direito sobre mim mesma.

Parece uma coisa simples que uma pessoa tenha direito sobre seu próprio corpo, mas não é simples para as mulheres. E as mulheres precisam falar mais sobre isso, se abrir, contar suas histórias, ter coragem de se expor. Não só sobre estupro, mas mão na bunda, mão nos peitos, puxões de cabelo, paus pra fora da calça, agressões verbais. Me arrisco a dizer que TODA mulher que conheço já passou por pelo menos uma situação de abuso ou violência sexual (sim, tudo isso É violência!). E os homens precisam ouvir, saber, perceber as diferenças, compreender as dificuldades que, ainda hoje, as mulheres sofrem.

A propósito do 11 de setembro, lembro que na época do atentado uma das coisas que mais se falava era que eram tantos passageiros contra apenas uns poucos terroristas que, se tivessem se unido, o desfecho poderia ter sido tão diferente. Uma tragédia poderia ter sido evitada.

Demorei dez anos pra admitir e chorar pelo meu estupro. Demorei dez anos pra ter coragem de me abrir e me expor. Não esperem isso tudo. Contem suas histórias. Somos mais frágeis, sim, mas somos muitas. Juntas, podemos mudar tudo.”

PAULA ABREU*

Paula Abreu é escritora e mãe do Davi, com quem adora assistir desenhos e ir à praia.

Visto no: Papo de Homem

Um dia, um pensador fez a seguinte pergunta a seus discípulos:

— Por que as pessoas gritam quando estão aborrecidas?
— Gritamos porque perdemos a calma — disse um deles.
— Mas por que gritar quando a outra pessoa está ao seu lado? — questionou novamente o pensador.
— Bem, gritamos porque desejamos que a outra pessoa nos ouça — retrucou outro discípulo.
E o mestre voltou a perguntar:
— Então não é possível falar em voz baixa?

Várias outras respostas surgiram, mas nenhuma convenceu o pensador. Então ele esclareceu:

— Vocês sabem por que se grita com uma pessoa quando se está aborrecido? O fato é que, quando duas pessoas estão aborrecidas, seus corações se afastam muito. Para cobrir essa distância, precisam gritar para poderem escutar-se mutuamente. Quanto mais aborrecidas estiverem, mais forte terão que gritar para ouvir um ao outro através da grande distância. Por outro lado, o que sucede quando duas pessoas estão enamoradas? Elas não gritam. Falam suavemente. E por quê? Porque seus corações estão muito perto. A distância entre elas é pequena. Às vezes, estão tão próximos, seus corações, que nem falam, somente sussurram. E quando o amor é mais intenso, não necessitam sequer sussurrar, apenas se olham, e basta. Seus corações se entendem. É isso que acontece quando duas pessoas que se amam estão próximas.

Por fim, o pensador concluiu dizendo:

— Quando vocês discutirem, não deixem que seus corações se afastem, não digam palavras que os distanciem mais, pois chegará um dia em que a distância será tanta que não mais encontrarão o caminho de volta.


PASINI, Frei Edrian Josué (org.). Almanaque Santo Antônio. Petrópolis: Vozes, 2012.

04 fevereiro 2013



Desde pequeno, aprendi que existem pessoas boas e más. Nesse aprendizado, aprendi também que a maldade pode ser algo inerente ao ser humano, ou condicionado pelas circunstâncias, estas geralmente ligadas a questões sociais. Disso resulta na marginalização daqueles que burlam o sistema, as leis, as regras: os conhecidos bandidos. Os mesmos que assaltam por prazer ou para sobreviver, seja o João ninguém da periferia, seja o engravatado que ganhou o direito de furtar dinheiro público através do voto. Seja como for, nunca pensei que a sexualidade humana seria um dia classificada como bandida, por mais “transgressora” que ela ainda possa parecer para alguns. Mas, para minha surpresa, descobri no discurso do pastor Silas Malafaia que ser homossexual é igualitariamente ser bandido e isso me fez ver que de fato todos os homossexuais vivem de forma bandoleira, porém, numa acepção diferente da defendida por esse indivíduo, que se diz emissário das palavras divinas.

A bandidagem gay começa desde cedo, quando se aprende na marra, logo na infância, que só existem meninos e meninas, cada um com seus respectivos papéis imutáveis na cadeia social. Por causa dessa educação estratificada, muitas delas acabam se tornando verdadeiros bandidos. Algumas vão subverter esse sistema e se tornar os periculosos homossexuais, seres demoníacos que vão acabar com a procriação da terra, eliminando, assim, as futuras gerações, (é o que dizem os fanáticos fundamentalistas). Ou os que vão se tornar os futuros homofóbicos, ou seja, indivíduos doentes, vítimas de uma educação conturbada no tocante as questões sexuais. Em ambos os casos há a marginalização da sexualidade e a formação de seres frustrados quanto a ela. É por isso que o debate em torno da homossexualidade é tão intenso, porque não são opiniões diferentes que são expostas, mas a deflagração de uma lacuna de base, algo que foi usurpado de muitos jovens na sua tenra idade e que hoje se manifesta na forma de preconceito e violência.

Então, para viver nessa sociedade onde a ignorância impera e a discriminação domina é preciso ser bandido, e é o que os gays acabaram se tornando forçosamente. Eles vivem em guetos, acuados, os trancafiados em armários, escondendo a própria sexualidade, pois aprenderam desde sempre que são anormais, que são pecadores, que são antinaturais, que propagam doenças, que são o mal do mundo, etc. Como todo ladrão, os gays também andam em bandos arquitetando planos mirabolantes, não para assaltar bancos, roubar o dinheiro público, ou usar da fé alheia como trampolim para o enriquecimento próprio. Pelo contrário, o que os homossexuais planejam é roubar a discriminação e o preconceito das mentes das pessoas, para que elas possam enxergar a vida de forma plural, respeitando ao máximo todas as “diferenças” que insistem em dividir os seres humanos em subgrupos superiores e inferiores.

Eles, os gays, são bandidos, agrupam-se em quadrilhas e confabulam sequestros relâmpagos, mas diferente dos verdadeiros marginais, que sequestram vítimas para usurpar o dinheiro de suas famílias, os homossexuais preferem sequestrar outros indivíduos. Entre suas vítimas estão os loucos, os fanáticos, os fundamentalistas, os ignorantes, os preconceituosos, ou seja, todas as pessoas carentes de informação ou de tratamento psicológico emergencial. No entanto, na prática quem acaba sendo sequestrado por este grupo são os próprios homossexuais, visto que a sociedade prefere dar voz e vez à insanidade de alguns discursos, como o do profético Malafaia, ao invés de aprisionar os verdadeiros bandidos que estão por ai à solta arrebatando almas e carteiras, este último exponencialmente.

Por essa razão muitos homossexuais resolvem roubar, isso mesmo, roubar. Eles lutam para roubar a liberdade que lhes é retirada todos os dias, os direitos que lhe são negados, o respeito que lhes é furtado e a dignidade que há muito tempo anda esquecida. Eles, então, se organizam e criam verdadeiros exércitos para combater a neoinquisição religiosa, que está mais próxima do que se imagina. Entretanto, curar as feridas deixadas pelos dogmas religiosos vai ser uma tarefa extremamente delicada, a qual durará muitos anos, quiçá séculos, com direito a muitas perdas no caminho. Isso pode ser percebido no discurso do pastor Malafaia, visto que a comparação entre os homossexuais e os bandidos, feita por ele, só demonstra que ele está se armando para uma verdadeira batalha de sangue contra a camada LGBT. 

As palavras desse senhor incitam o ódio, a intolerância e o desrespeito contra os homossexuais, os quais se tornaram uma verdadeira obsessão em sues discursos. O preocupante disso é que ele, por ser alguém público, exerce uma influência sem precedentes nas mentes de seus seguidores, e dos não seguidores também, pessoas geralmente hipnotizadas com a ideia da salvação e de uma vida marchada para a conversão dos “pecadores”. Ora, não gosto de confrontar a visão bíblica da coisa, pois sempre respeitei os dogmas das religiões, mesmo não fazendo parte de nenhuma delas. Mas, muito me inquieta saber o conceito de pecado nutrido, tanto por este pastor quando pelos indivíduos, que seguem seus ensinamentos. É evidente que se existir um pecado maior, este não foi cometido pelos homossexuais, uma vez que as pessoas que se utilizam da fé alheia para disseminar a violência contra as minorias estão cometendo algo abominável que é desvirtuar a palavra divina, para benefício próprio.

Enquanto isso, os verdadeiros criminosos, os indivíduos maus, de índole duvidosa, perambulam livremente pela sociedade cometendo seus crimes contra os direitos humanos sem sofrer nenhuma punição. Dentre eles, estão muitos pastores que são frequentemente denunciados por enriquecimento ilícito, charlatanismo, e outras atrocidades cometidas contra a fé do povo. Este que vive iludido sob falsas promessas de salvação que nunca chegam, pois o paraíso destinado aos justos, este tal espaço divino, não precisa de atravessadores para salvaguardar a vida pós-morte. Pelo contrário, o que é preciso para garantir um fim tranquilo é realizar coisas benfazejas aqui na terra, semeando o bem e acolhendo o nosso semelhante, mesmo que ele não seja o ideal de pessoa que desejamos para nossas vidas.

O espetáculo do preconceito protagonizado pelo pastor Silas Malafaia e suas declarações desumanas não merece nenhum aplauso da nossa parte e deve ser rapidamente retirado de qualquer cartaz, pois sua arte religiosa é grotesca e de indiscutível mau gosto. Pessoas como ele é que, de fato, são periculosas, pois sabem usar a palavra como verdadeiras armas de guerra, similares as que Hitler utilizou para dizimar milhões. Portanto, se não temos discernimento suficiente para compreender quem são os verdadeiros bandidos, continuaremos a mercê de pessoas corruptas, que usam a esperança da população como meros soldados de guerra, enquanto os verdadeiros criminosos assistem protegidos seus iguais se digladiarem por mero capricho ou obsessão.

Acredito na liberdade de expressão, desde que ela possibilite o crescimento intelectual dos expectadores, e não a alienação destes. O que o tal pastor vem fazendo é ofender a camada LGBT de forma deliberada, buscando aliados perigosos, os fieis, pessoas fáceis de serem ludibriadas, pois são guiadas, muitas vezes, pelas palavras dos pastores, pelos luxuosos tempos, menos pela palavra divina. Por isso, mais uma vez reitero que ninguém é obrigado a aceitar a homossexualidade, mas nem por isso pessoas como o Malafaia, ou qualquer outra, tem o direito de rechaçar o comportamento gay, como se estes fossem inferiores aos outros seres humanos. Se há algum crime cometido pelos homossexuais/bandidos, classificados pelo pastor, os únicos que posso atribuir são o respeito à vida, a tolerância às diferenças, a coragem de subverter esse sistema sexual hipócrita, a dignidade de querer ser o que é sem medo de ser feliz, a liberdade de amar a si e ao próximo, dentre tantos outros sentimentos esquecidos por essa sociedade excludente que vivemos.

03 fevereiro 2013



Quando se fala em homossexualidade, a nossa cultura trata logo que projetar nas mentes das pessoas vários estereótipos do que é ser gay, geralmente apelando para o caricato. Tal emblema recai, sobretudo, nos homossexuais masculinos, com arquétipos ora masculinizados demais ora excessivamente afeminados. O problema é que nos esquecemos de que existem tanto homens quanto mulheres gays, estas mais conhecidas como lésbicas. Diferente deles, que já são um pouco mais “bem vistos” socialmente, elas, pelo contrário, amargam um preconceito dobrado por assumirem a sua sexualidade. Isso acontece porque a nossa sociedade educa as mulheres para serem boas donas de casa, boas esposas e, consequentemente boas genitoras. O peso da maternidade e a secundarização da mulher na esfera sexual são fatores contundentes para a opressão vivida por muitas lésbicas no Brasil.


A mulher brasileira historicamente sofreu muito para vencer as barreiras impostas pelo machismo. Durante muito tempo viveram à sombra de seus maridos, sem direitos expressivos que lhes pudessem dar voz e vez de comando nas suas próprias vidas. Tamanho impedimento afetou profundamente a liberdade sexual delas, a qual só foi conquistada depois de muita luta. No entanto, a discriminação contra elas ainda existe e é matematicamente multiplicada quando está relacionada à lesbianidade. Ser lésbica, ou assumir publicamente essa condição é algo que polariza a sociedade em dois grupos: os que repudiam tal prática, geralmente indivíduos educados de forma preconceituosa por famílias moralistas, fanáticas ou indiscutivelmente ignorantes; e o grupo dos fetichistas, que enxergam na relação entre duas mulheres à chance de dar vazão as suas fantasias mais lascivas.



O primeiro grupo já é bem conhecido por todos, mas sempre vale a pena ressaltá-lo. As religiões de cunho Católico/Cristã, mais uma vez, são as principais representantes dessa educação discriminatória da qual a nossa sociedade se baseia. Com discursos seculares em torno da sexualidade humana, esta instituição usa dos artifícios bíblicos para semear o preconceito contra os homossexuais. Sempre pautada numa concepção de vida, ela desconsidera a existência de afeto entre pessoas do mesmo sexo, tachando aqueles que praticam como anormais ou satanistas. Por causa dessas nomenclaturas, os gays não conseguem enfrentar os obstáculos sociais que dizimam suas vidas e os impedem de conquistar determinados direitos. Entre as lésbicas, a influência da Igreja é bem mais danosa, pois sobre seus ombros está o peso da procriação, como se elas só existissem para gerar uma nova vida.



O segundo grupo é gerenciado por muitos membros dessa nossa sociedade recalcada quanto ao sexo. São os fetichistas, aqueles que se deleitam com as carícias delicadas da atmosfera lésbica. Ver duas mulheres se beijando, para estes indivíduos, é objeto de desejo que não passou despercebido pela nossa indústria do prazer. Filmes, revistas e até os meios midiáticos providenciam um arsenal de produtos, vídeos e encenações do gênero para atender esses fornicadores. Nesse sentido, ser lésbica ser tornou um produto, algo que pode ser consumível e render um bom dinheiro para esses abutres que se aproveitam das limitações sexuais humanas para enriquecimento próprio. O problema é que a lesbianidade não é um objeto de fetiche, mas sim, uma manifestação de carinho entre duas pessoas que se gostam e sentem necessidade de estar juntas. Então, usurpar esses sentimentos deveria ser passível de pena, no dúbio sentido da palavra.



Além desses grupos ainda há aqueles que de fato se incomodam com a homossexualidade feminina ao ponto de praticar atos homofóbicos contra elas. Cresce pelo país casos de familiares que espancam e matam jovens mulheres que assumem sua sexualidade. Muitas sofrem torturas, são estupradas e mortas por pessoas que não compreendem a lesbianidade. Em alguns países elas passam por certos “corretivos” para voltarem a uma condição heterossexual da qual nunca fizeram parte. Por aqui ainda não se chegou a esse ponto, porém, em muitos lares elas penam para viverem plenamente a sua condição e mulher lésbica, principalmente quando são masculinizadas. Este último, sem dúvidas, ainda é um dos principais entraves contra as lésbicas, visto que a caricatura masculina no corpo delas é hostilizada por aqueles que preferem “aceitar” o perfil lésbico-feminina, para atender aos moldes sociais do que deve ser politicamente tolerável.



Todo esse mar de preconceito em torno da lesbianidade ocorre porque as mulheres resolveram ser autônomas quanto as suas manifestações sexuais. A partir do momento que elas ditam as regras e decidem com quem irão ter relações mais íntimas, a sociedade trata logo de reprimi-las e isso acontece tanto no ambiente gay quanto no hétero. Muitas mulheres mais “ousadas” escolhem com quem e como querem transar, se querem ter filhos, se vão trabalhar e etc., assim, quando essa mesma mulher faz tudo isso e ainda assume uma conduta sexual desconforme com os padrões pré-estabelecidos, elas acabam transgredindo a ordem natural, ou imposta por essa sociedade patriarcal, e são inevitavelmente tratadas como rebeldes. É por isso que a discriminação em torno delas é maior, visto que sobre a sexualidade das mulheres existem vários casulos que precisam ser rompidos um a um.



Para muita gente a homossexualidade é um tema difícil de ser debatido e, principalmente compreendido. Isto porque ainda há muita coisa sobre a sexualidade humana a ser descoberta, mas certos tabus impedem que isso aconteça. Bloqueios esses que têm oprimido os gays de se mostrarem e assumirem sua condição sexual sem o crivo da repressão que causa discriminação, dor e medo. Por essa razão é que muitas pessoas vivem infelizes, a margem da sociedade, recuadas em guetos e subgrupos como se existisse na sexualidade uma classificação entre aqueles que são superiores, os héteros, e os inferiores/inferiorizados, os homossexuais. Acabar, então, com esse esquema deve estar na pauta de todos aqueles que buscam uma sociedade mais justa e humana, uma vez que cada pessoa é muito mais do que gay ou hétero. Somos antes de tudo seres pensantes e devemos usar nossas ferramentas cognitivas para criar um mundo melhor, mais tolerável e com maior respeito às diferenças, que no final das contas nem é tão diferente assim.


Estou longe, em Londres. A noite dos desesperados de Santa Maria provocou em mim um sufocamento típico das testemunhas impotentes de um massacre estúpido.

Não foi um avião que caiu, não foi um maluco que saiu atirando, não foi uma tormenta que destruiu casas, não foi uma bomba terrorista que explodiu. Foi um conjunto de omissões e incompetências primárias, de Quinto Mundo. Segundos ou minutos bastaram para asfixiar, queimar, envenenar e matar 200 e tantos jovens num espaço de lazer. Eles eram ou poderiam ser nossos filhos. Saíram para dançar, voltaram num caixão. Irmãos, namorados, amigos.

Há uma faixa preta no braço de cada brasileiro. Há uma torcida emocionada pelos pais e mães que se internaram em quartos de hospital para acompanhar o drama dos filhos em UTIs.

Nosso luto é pela estupidez humana que transformou uma boate numa câmara de gás sem chance de salvação para centenas de rapazes e moças. O assassinato coletivo na boate Kiss ficará na história como uma das tragédias que poderiam ser evitadas se houvesse uma coisa apenas: responsabilidade. Faltou responsabilidade. Do prefeito. Dos donos da boate. Do Corpo de Bombeiros. Dos músicos. Dos seguranças.

Santa Maria, rogai por nós, pecadores do Rio de Janeiro, de São Paulo e de todas as capitais e cidades do Brasil. Em qualquer canto deste país, há armadilhas engatilhadas contra a vida. Boates e casas noturnas estão com alvará vencido, superlotam, não têm suficientes saídas de emergência nem sinalização, os extintores são poucos, velhos, falsos ou não funcionam, as janelas dos banheiros estão lacradas, os músicos usam substâncias proibidas e baratinhas, o isolamento acústico é inflamável, os seguranças são treinados para intimidar, e não para salvar, os bombeiros demoram e não têm equipamento adequado.

Se uma boate em chamas precisa ser esvaziada em quatro minutos, um minuto de fechamento da única porta de saída para evitar “calote” equivale a um crime escabroso. Como dizia Einstein: “Só duas coisas são infinitas, o Universo e a estupidez humana, mas não estou seguro sobre o primeiro”. O país assiste agora, envergonhado, a um jogo de empurra sem vencedores. Ninguém assume nem responsabilidade parcial.

As leis existem. Mas, por corrupção, ganância, descaso, ignorância e, principalmente, por falta de fiscalização e punição, crianças caem de rodas-gigantes defeituosas, grupos afundam em barcos superlotados, moradores de prédios antigos são soterrados, bujões, fogos de artifício e bueiros explodem. Ninguém vai preso, a culpa se dilui e a mídia esquece. Até a próxima “fatalidade anunciada”.



Em alguns países, como a Inglaterra, onde vivi sete anos, o risco é muito mais controlado. Sim, houve o Grande Incêndio de 1666, parte do centro de Londres foi dizimada em quatro dias de fogo, as casas são antigas com muita madeira – a História explica a obsessão contra o fogo. Mas é bem mais que isso. No DNA dos ingleses, existe a cultura da prevenção. Transmitida de geração a geração.

Pubs pequenos têm diversas saídas de emergência e vários extintores, os letreiros de Fire Exit são enormes e luminosos, o staff é treinado. Há ensaios frequentes e sem aviso prévio em estabelecimentos públicos e prédios particulares, chamados fire drills. Alarmes soam. As simulações ensinam a salvar nossa vida e a dos outros, com risco calculado. O país não quer celebrar heróis anônimos mortos em incêndios.

O correspondente da Globo News em Londres, Sílio Boccanera, esteve na British American Tobacco Company para uma palestra internacional. Um dos diretores abriu assim o encontro: “Bem-vindos. Algumas regras. Se tocar o alarme de incêndio, levem a sério, porque não há ensaio programado para hoje. E é proibido fumar”.

Sílio quis instalar uma tomada em seu banheiro. O eletricista se negou: “A Inglaterra proíbe tomada em banheiros. É muito risco”. Todas as tomadas precisam ser aparentes, nenhuma abafada. Qualquer apartamento alugado tem de ser vistoriado anualmente por técnicos de gás e eletricidade. Por lei, o responsável é sempre o proprietário. As multas por violar as Fire Regulations variam de 5 mil libras (R$ 17 mil) a dois anos de prisão. Sem ferir ou matar.

A obsessão com segurança se revela em muitos aspectos da vida na Inglaterra. Ninguém senta em corredores de teatros. Em dia de chuva, o funcionário do metrô pede por alto-falante que todos andem com cautela na plataforma subterrânea. Motorista que se aproxima demais de um ciclista ou um pedestre é reprovado no exame de habilitação. Só se atravessa rua na faixa.

Essas histórias mostram nossa única saída. A responsabilidade, pública e individual, com o espaço comum e com a vida de todos.

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Por ser jornalista, não assino petição. Leitores, mobilizem-se para tentar impedir que Renan Calheiros assuma a presidência do Senado. Os motivos, até o Ministério Público conhece. Somos ou não responsáveis por um Brasil melhor?


Visto na: Época


Que Deus não permita que eu perca o romantismo, mesmo eu sabendo que as rosas não falam.
Que eu não perca o otimismo, mesmo sabendo que o futuro que nos espera não é assim tão alegre.
Que eu não perca a vontade de viver, mesmo sabendo que a, vida é, em muitos momentos, dolorosa.
Que eu não perca a vontade de ter grandes amigos, mesmo sabendo que, com as voltas, do mundo, eles acabam indo embora de nossas vidas.
Que eu não perca a vontade de, ajudar as pessoas, mesmo sabendo que muitas, delas são incapazes de ver, reconhecer e retribuir esta ajuda.
Que, eu não perca o equilíbrio, mesmo sabendo que inúmeras forças, querem que eu caia. Que eu não perca a vontade de amar, mesmo, sabendo que a pessoa que eu mais amo, pode não sentir o, mesmo, sentimento por mim.
Que eu não perca a luz e o brilho no olhar, mesmo sabendo que muitas coisas que verei no mundo escurecerão meus olhos.
Que eu não perca a garra, mesmo sabendo que a, derrota e a perda são dois adversários extremamente perigosos.
Que eu não perca a razão, mesmo sabendo que as tentações da vida, são inúmeras e deliciosas.
Que eu não perca o sentimento de justiça, mesmo sabendo que o prejudicado possa ser eu.
Que eu, não perca o meu forte abraço, mesmo sabendo que um dia meus braços estarão fracos.
Que eu não perca a beleza e a alegria de, viver, mesmo sabendo que muitas lágrimas brotarão dos meus olhos e escorrerão por minha alma.
Que eu não perca o amor por, minha família, mesmo sabendo que ela muitas vezes me exigiria esforços, incríveis para manter a sua harmonia.
Que eu não perca a, vontade de doar este enorme amor que existe em meu coração, mesmo sabendo que muitas vezes ele será submetido e até, rejeitado.
Que eu não perca a vontade de ser grande, mesmo, sabendo que o mundo é pequeno. E acima de tudo, que eu, jamais, me esqueça que Deus me ama infinitamente, que um pequeno grão, de alegria e esperança dentro de cada um é capaz de mudar e, transformar qualquer coisa, pois a vida é construída nos sonhos e concretizada no amor.



Tanto no Brasil como em qualquer outro país, um grande acontecimento é motivo de extensa repercussão, seja ele bom ou ruim. Partindo do dito “notícia ruim corre logo”, focarei no segundo ponto: as tragédias.

Aqui no país, as reais providências para tal coisa ocorrer dentro dos conformes só acontecem quando algo de ruim se sucede: um avião que cai, um veículo em péssima condição de tráfego, um prédio que desaba, um bueiro que estoura, um apagão... Uma boate que incendeia.

A recente tragédia ocorrida na boate Kiss, no município de Santa Maria (RS), traz à tona a qualidade das casas noturnas de todo o território nacional. Com isso, secretários, prefeitos, governadores e representantes de órgãos responsáveis pelo Controle Urbano se mobilizam em reuniões e debates e encontros e discussões para uma “nova, re, intensa e rígida fiscalização das casas noturnas, atentando para todos os requisitos exigidos pelo Corpo de Bombeiros e pelo Departamento de Não Sei o Quê da cidade”.

Tal empenho não deixa de ser entendido como uma postura de preocupação, de evitar incidentes futuros. Essa atitude, no entanto, remete a um processo que se tornou comum. O trabalho de vasculhar tardiamente o que motivou os erros e as falhas nas mais diferentes esferas de envolvimento social do Brasil se tornou, infelizmente, um velho hábito.

Vamos aos exemplos: só pressiona-se a ANAC sobre seu esquema de comunicação no tráfego aéreo quando alguma aeronave cai; só intensifica-se a averiguação das condições dos veículos nas estradas quando ocorre algum grande acidente; só avalia-se a estrutura dos edifícios quando algum desaba; só investigam as condições subterrâneas dos bueiros quando algum estoura; só analisam o funcionamento dos sistemas da ANEEL quando diversos Estados ficam na escuridão... Agora, só fiscalizarão as condições das casas noturnas do país porque ocorreu um trágico acidente que deixou um saldo de mais de 230 mortos e 70 feridos.

Não, o Brasil não aprende, não previne. Parece, sem luz no fim do túnel, continuar sua tão orgulhosa saga de desenvolvimento aos poucos, remediando-se, fazendo das suas vítimas o exemplo do crescimento. Uma pena, um atraso.



Longe de ti são ermos os caminhos
Longe de ti não há luar nem rosas
Longe de ti há noites silenciosas
Há dias sem calor, beirais sem ninhos

Meus olhos são dois velhos pobrezinhos
Perdidos pelas noites invernosas
Abertos sonham mãos cariciosas
Tuas mãos doces, plenas de carinho

Os dias são outonos: choram, choram
Há crisântemos roxos que descoram
Há murmúrios dolentes de segredo
Invoco o nosso sonho, entendo os braços

e é ele oh meu amor, pelos espaços
fumo leve que foge entre os meus dedos.