03 fevereiro 2013

O Brasil que não previne, remedeia - por Rossini Gomes



Tanto no Brasil como em qualquer outro país, um grande acontecimento é motivo de extensa repercussão, seja ele bom ou ruim. Partindo do dito “notícia ruim corre logo”, focarei no segundo ponto: as tragédias.

Aqui no país, as reais providências para tal coisa ocorrer dentro dos conformes só acontecem quando algo de ruim se sucede: um avião que cai, um veículo em péssima condição de tráfego, um prédio que desaba, um bueiro que estoura, um apagão... Uma boate que incendeia.

A recente tragédia ocorrida na boate Kiss, no município de Santa Maria (RS), traz à tona a qualidade das casas noturnas de todo o território nacional. Com isso, secretários, prefeitos, governadores e representantes de órgãos responsáveis pelo Controle Urbano se mobilizam em reuniões e debates e encontros e discussões para uma “nova, re, intensa e rígida fiscalização das casas noturnas, atentando para todos os requisitos exigidos pelo Corpo de Bombeiros e pelo Departamento de Não Sei o Quê da cidade”.

Tal empenho não deixa de ser entendido como uma postura de preocupação, de evitar incidentes futuros. Essa atitude, no entanto, remete a um processo que se tornou comum. O trabalho de vasculhar tardiamente o que motivou os erros e as falhas nas mais diferentes esferas de envolvimento social do Brasil se tornou, infelizmente, um velho hábito.

Vamos aos exemplos: só pressiona-se a ANAC sobre seu esquema de comunicação no tráfego aéreo quando alguma aeronave cai; só intensifica-se a averiguação das condições dos veículos nas estradas quando ocorre algum grande acidente; só avalia-se a estrutura dos edifícios quando algum desaba; só investigam as condições subterrâneas dos bueiros quando algum estoura; só analisam o funcionamento dos sistemas da ANEEL quando diversos Estados ficam na escuridão... Agora, só fiscalizarão as condições das casas noturnas do país porque ocorreu um trágico acidente que deixou um saldo de mais de 230 mortos e 70 feridos.

Não, o Brasil não aprende, não previne. Parece, sem luz no fim do túnel, continuar sua tão orgulhosa saga de desenvolvimento aos poucos, remediando-se, fazendo das suas vítimas o exemplo do crescimento. Uma pena, um atraso.

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