28 março 2019

SUZANO É O BRASIL AMERICANIZANDO-SE



Estamos consternados com o massacre numa escola pública em São Paulo, onde funcionários e alunos foram barbaramente assassinados. Enquanto as investigações não apuram as motivações para avassaladora violência, é preciso concatenar os pontos que antecedem essa tragédia. Numa sociedade que enaltece tudo o que é de fora, sobretudo dos nossos conterrâneos estadunidenses, não é surpresa importar também suas calamidades. O bullying é um desses estrangeirismos que, com os dilemas nacionais, ganhou outras conotações. Na rede ele já recebe o nome de cyberbullying, fazendo vítimas para além dos muros escolares. Graças a isso, em 2011 houve o massacre em Realengo.
Nessa mesma linha de apropriação, passamos a "flexibilizar" o porte de armas, numa reprodução macaqueada dos moldes Americanos de ser. Como se não fosse o bastante, temos a versão fajuta do Donald Trump na nossa presidência, um sujeito despreparado, tosco e irascível incitando o povo através do medo a acatar suas asneiras. Por causa dele e seu dedinho apontado, nossa sociedade abriu às portas para o ódio. Seu projeto de governo, uma paródia do Trump, prefere armar a população do que humanizá-la por meio de uma educação segura, não apenas do ponto de vista estrutural, mas sobretudo no que diz respeito a livre expressão do pensamento.
Do contrário, o governo perde tempo com projetos como Escola Sem Partido, querendo permitir que a família tenha a liberdade de educar seus filhos em casa, ou criando uma comissão para retirar as "ideologias" do Enem; a ter que encarar com maturidade e sabedoria os problemas ancestrais da educação brasileira. Além disso, a carnificina em Suzano deixa claro como as tragédias no Brasil passaram a ser corriqueiras devido a política de remediar em detrimento de práticas preventivas. Ao usar o porte de arma como estratégia de campanha, frente a uma sociedade notoriamente insegura, o governo não estava pensando em resolver em definitivo o problema da violência, mas em ganhar louros em cima dela. Funcionou. Elegeram aquele que impediria que infortúnios como o de Suzano acontecessem.
O problema é que a violência no Brasil está à revelia de qualquer "mito". O fato é que somos uma das nações mais violentas do mundo, onde se mata tanto quanto às guerras travadas entre os EUA e o Oriente Médio. Entretanto, seguimos reproduzindo um modelo social que não é nosso, o qual tem escancarado a sua ineficiência todos os dias. As mortes em Suzano evidenciam isso, mas não se encerram aí. O simulacro Americano à brasileira está também no avanço do conservadorismo religioso na política; na perseguição policial às pessoas negras resultando no extermínio da negritude do país; no assassinato e/ou exílio dos nossos militantes; na aversão aos imigrantes; na deturpação da imagem dos adversários políticos por meio das fake news; na destruição legal da natureza em prol do progresso econômico de uma parcela elitista da sociedade; e agora importamos também atentados a bala a escolas; estas que estão sendo bombardeadas de absurdos desde que o nosso "Trump" assumiu o poder.
É lamentável saber que tudo isso poderia ter sido evitado se não houvesse essa exaltação ao faroeste da presidência à população, nitidamente alienada pelo primeiro. Em meio ao choque da chacina em São Paulo, o Ministro do STF, José Antônio Dias Toffoli, disse uma frase um tanto quanto ingênua. Em suas palavras "Não podemos aceitar que o ódio entre em nossa sociedade." Porém, ele não apenas entrou como já fez morada. É preciso expulsá-lo por meio de um projeto político pedagógico voltado, antes de tudo, a civilização dos cidadãos brasileiros. Do contrário, seguiremos plagiando os EUA e assistindo pela televisão nosso futuro sendo literalmente fuzilado por um Brasil que está violentamente se americanizando."

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