23 fevereiro 2013

Quando a serpentina não é tão colorida assim



       Dos trios elétricos e cordões da Bahia, ao frevo e fantasias de Recife e Olinda, aos sambódromos paulista e carioca: conhecida como a maior festa popular do país, o carnaval atrai foliões de todo o Brasil e do mundo para um "combo" de música, dança, extravagâncias e alegria. Ao menos, é isso que a mídia mostra e a maioria dos brasileiros prefere dar atenção.

     É, sobretudo no carnaval, que o folião se sente ainda em clima de férias e se permite extravasar toda a sua energia antes das instituições acadêmicas funcionarem a todo vapor e o ano propriamente começar. Onde deixa as responsabilidades de lado e vai para as ruas a fim de curtição máxima, do prazer intenso em poucos dias.

     Mais do que nunca a iniciativa privada utiliza o espaço público, fazendo com que as classes mais altas sejam as que realmente podem curtir a festa, os menos favorecidos economicamente ou trabalham durante o carnaval, ou pagam o abadá ou o camarote "VIP" doze vezes com juros ou estão do outro lado do cordão, pulando na pipoca. Aliás, essa exclusão social fica explícita no carnaval de Salvador, por exemplo, se refletirmos, o cordão representa uma fronteira, só participa quem tem poder aquisitivo, quem pode pagar. Quem está dentro pode, quem não está: se sacode.

     Há que se questionar o descaso dos meios de comunicação com os acontecimentos não vinculados ao clima carnavalesco, do alto investimento em saúde e segurança prioritariamente nessa época e a redução desses recursos essenciais no resto do ano, a quarta-feira de cinzas é resultado do folião. E o que era uma festa cultural se torna uma indústria onde os interesses econômicos prevalecem sobre os sociais.

      As cinzas da quarta-feira de cinzas não são causadas pela festa em si. Mas pelo ser humano em sua condição. A de ser passivo e de se achar errado continuar calado. Além disso, o clima carnavalesco é o lado animalesco do homem, o amontoado mofado que fica enrustido hipocritamente de certa forma durante o ano por não ser socialmente aceitável, é liberado durante o carnaval onde tudo é liberado e permitido. Seria muito significativo se através da consciência coletiva - aproveitando o fervor das redes sociais e o seu poder de rápida comunicação ao nosso favor - nos uníssemos para repensar e possivelmente ajustar esses quesitos supracitados do tão esperado feriado do ano. Afinal, não podemos deixar uma festa tão colorida se acinzentar assim.

Aluna:Tamires Amorim
Professor: Diogo Didier

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Tamires, muito boa sua redação, bem conduzida e suas reflexões transmitem maturidade e preocupação com o social. Parabéns! Beijos...

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