A história de Billy Elliott é a verdadeira “cura gay” para quem teme a liberdade e a tolerância
O deputado federal evangélico Marco Feliciano e seus seguidores precisam assistir com urgência ao musical Billy Elliott, em cartaz até dia 18 no Credicard Hall, em São Paulo. Isso porque eles descobrirão que os segredos da “cura gay” que eles preconizam são revelados no espetáculo – e que a tal cura é o avesso do que pretendem. Não se trata de submeter os homossexuais a um “tratamento” regenerativo, mas de fazer o inverso: educar os preconceituosos, ensinando-lhes que a tolerância e o preconceito não têm mais lugar no mundo de hoje. Billy Elliott demonstra que não é preciso ser homossexual para ser gay. Pois ser gay é uma atitude cultural, não uma condição biológica. Tenho certeza de que o papa Francisco aprovaria minha afirmação.
Para entender a razão dessas transformações da visão sobre a cultura gay, vale conhecer as origens e o desenvolvimento da produção e o enredo da peça. O musical Billy Elliott estreou em 2005 no West End de Londres com grande sucesso e continua em cartaz. Tornou-se um clássico do gênero. Ele repetiu o êxito na Broadway e em Sydney no ano passado. A produção da Broadway faz uma curta temporada em São Paulo, até dia 18. Estreou no fim da semana passado com casa lotada e direito a ovação no final. O espetáculo – deslumbrante, apesar de chegar ao Brasil em versão reduzida, já que o Credicard Hall não dispõe de recursos de palco, mas apenas um tablado – é baseado no filme do ano 2000, dirigido Stephen Daldry com roteiro de Lee Hall. Foi o músico Elton John quem procurou Hall para criar o musical.
O deputado federal evangélico Marco Feliciano e seus seguidores precisam assistir com urgência ao musical Billy Elliott, em cartaz até dia 18 no Credicard Hall, em São Paulo. Isso porque eles descobrirão que os segredos da “cura gay” que eles preconizam são revelados no espetáculo – e que a tal cura é o avesso do que pretendem. Não se trata de submeter os homossexuais a um “tratamento” regenerativo, mas de fazer o inverso: educar os preconceituosos, ensinando-lhes que a tolerância e o preconceito não têm mais lugar no mundo de hoje. Billy Elliott demonstra que não é preciso ser homossexual para ser gay. Pois ser gay é uma atitude cultural, não uma condição biológica. Tenho certeza de que o papa Francisco aprovaria minha afirmação.
Para entender a razão dessas transformações da visão sobre a cultura gay, vale conhecer as origens e o desenvolvimento da produção e o enredo da peça. O musical Billy Elliott estreou em 2005 no West End de Londres com grande sucesso e continua em cartaz. Tornou-se um clássico do gênero. Ele repetiu o êxito na Broadway e em Sydney no ano passado. A produção da Broadway faz uma curta temporada em São Paulo, até dia 18. Estreou no fim da semana passado com casa lotada e direito a ovação no final. O espetáculo – deslumbrante, apesar de chegar ao Brasil em versão reduzida, já que o Credicard Hall não dispõe de recursos de palco, mas apenas um tablado – é baseado no filme do ano 2000, dirigido Stephen Daldry com roteiro de Lee Hall. Foi o músico Elton John quem procurou Hall para criar o musical.
O resultado foi além de um grande espetáculo: virou um trabalho socialmente responsável. Para educar e fornecer meninos atores e bailarinos para o musical, a produção fundou uma escola de dança e atuação que tem formado profissionais de incrível habilidade. São dezenas de Billys Elliotts que saíram dessa escola, e hoje se destacam na indústria do entretenimento. Nem todos são homossexuais.
O enredo é simples e realista – eu diria que o roteiro peça mantém fortes laços com a corrente do realismo socialista, hoje ultrapassada. Em meados dos anos 80, em uma cidade mineira do norte da Inglaterra, Billy, um menino de 11 anos, descobre a vocação: dançar. Seu pai quer que ele lute boxe. Mas o garoto ama balé e, para horror do mineiro grosseirão, começa a estudar dança com a melhor professora da localidade. O pai tenta convencê-lo a tapa a desistir. Mas Billy se destaca, vai a Londres e ingressa no prestigioso Royal Ballet.
Paralelamente, os mineiros entram em greve contra a abolição dos direitos trabalhistas perpetrados pela primeira-ministra Margareth Thatcher. O movimento solidário dos mineiros parece escancarar os olhos do pai de Billy. Ele “se conscientiza” que os oprimidos precisam se unir – e, no fundo, bailarinos e mineiros são igualmente trabalhadores e vítimas do sistema. No final, pai e filho se reconciliam. E os mineiros, no musical, se transformam em um “chorus line” e dançam alegremente para festejar o triunfo de Billy em O Lago dos Cisnes. No momento final, a salvação do proletariado está menos na revolução que no esfuziante balé da tolerância.
Essa coregrafia pode soar como uma provocação e um insulto aos defensores da abolição dos homossexuais da face da Terra. Mas aqui introduzo um argumento para convencer Marco Feliciano e companhia de que a solução para eles será se converterem à atitude gay – pois ali reside a verdadeira cura. Ao longo de sua formação, Billy se defronta com o preconceito e é perseguido pela maioria das pessoas, a começar pelo pai. Pois todos são preconceituosos e acham que bailarino é sinônimo de homossexual. Mas Billy nunca assume a homossexualidade. Ele não se veste com trajes femininos nem esbanja trejeitos efeminados, como um amigo “bichinha” com quem contracena. “Não é porque eu danço que sou necessariamente homossexual”, diz ele. Na realidade, não fica claro se Billy é ou vai tornar-se homossexual. Tudo indica que não. Mas ele é gay, seu pai assume os valores gays - e assim todos os que defendem o direito do ser humano a realizar seus sonhos. Hoje , é preciso ser macho para ser gay. Deputado Feliciano, aceite os fatos e vire gay antes que vossa excelência desponte para o anonimato.
Visto na Época
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