O nome Messias tem
origem Hebraica e significa ungido. Parece ser uma informação aparentemente
irrelevante, mas que soergue sua importância quando pronuncio o nome completo
de Jair Messias Bolsonaro, político e militar brasileiro, conhecido por
esbravejar sandices para um povo ainda mais ensandecido. Talvez por possuir um
sobrenome carregado de tamanha significância, ele se sinta especial a ponto de
ferir ideologias e conceitos, elencados a duras penas por diversas militâncias
sociais, para que as minorias obtivessem breves chances de serem reconhecidas
em meio a um Estado que simplesmente negligencia o “diferente”. Esbravejante,
ele não poupa adjetivos ao disferir seus ataques aos grupos considerados por ele
escórias da sociedade. Me valendo dessa máxima, também não economizarei os
adjetivos para descrevê-lo. Infame, vil, pernicioso, ordinário, pífio,
salafrário, desprezível, belicoso, oportunista, hipócrita, são insuficientes
para retratar aquele ser. Mas haverá mais. Antes, entretanto, é preciso
entender o porquê de suas atrozes opiniões serem conclamadas por grande número
de seguidores, em meio a uma progressão perene do conservadorismo político no
Brasil.
Talvez a história da
humanidade nos dê vários indícios para entendermos hoje o fenômeno Bolsonaro.
Ao longo dela, vários nomes foram, e são, venerados como verdadeiros
salvadores, seres que conseguiram se sobressair no tempo e espaço, seja através
de convicções religiosas, seja por motivações bélicas, ideológicas, ou ainda
por intermédio de discursos violentos dissimulados por ideais pacificadores. De
Jesus Cristo ao mito do Sebastianismo, passando por Antônio Conselheiro em
Canudos à Hitler no holocausto nazista, muitos foram os homens seguidos por
multidões ávidas por absorver as ideias dos seus ídolos, alguns deles grandes
manipuladores controversos, preocupados apenas em disseminar suas ideologias,
nem sempre humanísticas, mas sempre prontas a responder aos anseios sociais de
suas épocas. Bolsonaro garante o seu lugar nessa seleta lista, não apenas por
possuir Messias como um dos seus nomes, mas sim por impor um messianismo
político através de uma linguagem incendiária no tocante às lacunas sociais
existentes no país.
Ele se vale desta premissa,
bem como os seus bajuladores, cujas bases remontam à Ditadura Militar, período
usado como justificativa pelos Bolsonarianos como modelo ideal para que a ordem
social seja, de fato, estabelecida no país. Para tanto, evidentemente que a
militarização é a mola propulsora dessa solução, o mote que falta, na visão
desses bárbaros, para que questões como segurança pública sejam qualitativas. É
a paz armada numa sociedade que não tem esse direito assegurado pelo Estado há
anos e agarra-se a práticas reacionárias para, quiçá, resolver as falhas na
criminalidade. Mas, Bolsonaro vai além. Ele é adepto do chavão “bandido bom é
bandido morto”, de queimar criminosos, a favor do porte legal de armas para
toda a população como medida preventiva à vida, dentre outros subterfúgios que
seduzem as massas carentes e esquecidas a acatar as ideais insanas daquele
político. São pessoas como ele e seus seguidores irrefletidos os reais
responsáveis pela banalização da criminalidade, através de discursos que
inflamam um revanchismo social através de incitação da barbárie, numa nação
onde Maria Eduarda, de 13 anos, é morta a tiros de fuzil e Amarildo nunca fora
foi encontrado.
Sobre o messianismo
político, a expressão foi cunhada pelo Filósofo, historiador e linguista, o
búlgaro nacionalizado francês Tzvetan Todorov. Nas palavras dele, “o
messianismo político, que é um messianismo sem messias, utiliza-se de
basicamente dois meios para atingir seus objetivos: a revolução e o
terror – crava Todorov”. Ora, é justamente o que tem feito Bolsonaro nas
suas idas e vindas Brasil à fora: propagar motins, insurgir negativamente
contra os ideais de liberdade, rebelar-se contra os direitos humanitários
conquistados pelas minorias, suplantar valores igualitários como respeito às
diferenças e, de quebra, impor um recorte social já hegemônico: hétero, branco,
militar, classe média, sulista e, claro, religioso Cristão, em detrimento de
outras ramificações sociais nesse sentido. Logo, quem não se enquadra nesses
moldes deve ser ignorado, ou, eliminados da sociedade. É a mesma filosofia
usada pelos Alemães com a ideologia controversa do arianismo. Da mesma forma
que, na formação do Brasil, a oligarquia branca e católica atribuiu aos negros
a ausência de suas almas. É o que hoje Bolsonaros fazem ao subjugar as mulheres
das relações políticas e sociais, mesmo com as exaustivas e necessárias lutas
feministas.
Soma-se a isso as
declarações de cunho homofóbico, machista, misógino, racista, antissemitistas,
belicosas, criminosas, antiéticas, incongruentes e inconsequentes do falso
Messias chamado Bolsonaro, que fazem dele um espetáculo à parte na sociedade. Hediondo
com as palavras, apropria-se delas como um soldado de posse de uma metralhadora
na mão prestes a ceifar a vida de malfeitores. Então, numa rajada de balas,
solta violentos ataques, que se fossem alvejados por qualquer outro como eu ou
você que está lendo este texto, resultaria em prisão inafiançável. Por isso que
no Clube Hebraica ele não restringiu sua linguagem ao lançar suas bases
políticas, caso venha se tornar eleitorável à presidência da república na
próxima eleição. Entre as inacreditáveis, inaceitáveis e impronunciáveis
reverberações ditas estavam o desrespeito ao povo Quilombola, a retirada das
poucas terras existentes aos povos indígenas, a supressão das verbas destinadas
a ongs, a permissão para a população utilizar armas de fogo, dentre outras
menções incompreensíveis de serem proferidas por alguém representante legal de
um povo e aparentemente esclarecido. Na verdade, na política BBB (da Bala, do
Boi e da Bíblia), falta apenas um beligerante como cereja do bolo.
Em contrapartida,
engana-se que tamanhas atitudes desumanas diminuem a popularidade deste
político entre as massas. Nitidamente midiático, em qualquer vereda onde
percorra seu rastro é seguido por fãs alucinados pelas ideias bárbaras
defendidas pelo Messias Moderno. São os “Bolsomitos”, “Bolsominios”,
“Bolsonarianos”, neologismos criados para designar os fiéis adoradores desse
político marqueteiro. Como devotados à causa Bolsonariana, esses indivíduos
propagam abertamente sua paixão pelo seu ídolo: são camisetas com diversos
dizeres; discussões acirradas nas redes sociais, apologias a práticas
animalescas como a castração química em caso de estupro e campanha antecipada
para que ícone deles venha a se tornar o soberano do país, o Messias
sebastianista dito há pouco que livrará a sociedade de todos os males atuais.
Mais lamentável ainda é saber que o perfil dos adeptos às pautas políticas
daquele cidadão nem sempre são pessoas que estão no topo da pirâmide social. É
o caso do Fernando Holiday, Vereador do DEM, homossexual e negro e amante das
ideologias de Bolsonaro, nas quais muitas delas atacam inclusive o que esse
rapaz carrega na pele e na essência.
Tamanha inadequação soa
irracional, a priori, mas, se analisada cautelosamente, encontra alicerces que
possam justificar tais desarmonias entre os públicos que defendem a linha de
raciocínio tortuosa de Bolsonaro. Como um bom populista que se tornou,
semelhante a Vargas e Lula, este seu ferrenho opositor, ele mexe nas feridas
sociais mais complexas e de aparente difícil resolução. É a segurança que não
protege; a saúde que não melhora; a educação que não conscientiza. São as lutas
feministas, sexuais e de etnia que se rebelam contra o Estado. São as redes
sociais difundindo mais violência que conhecimento. Tudo isso é pano de fundo
para o perfil político conservador deste cidadão. Em Como Conversar Com um
Fascista, a Filósofa e Escritora Márcia Tiburi se derrama em páginas para
tentar decifrar a complexa barreira que há entre esses neo-fascistas, que se
utilizam do não diálogo para impor suas ideias. Além disso, por se saber do
caos corruptível que assola a sociedade brasileira, eis que surge o perfil
messiânico perfeito para pôr ordem na casa: homem, hétero, casado, na família
comercial de margarina, claro, e carregado de “inovações” terroristas
travestidas de revolucionárias, para trazer uma ordem que pode afundar ainda
mais o país.
No entanto, o que se vê
é o silenciamento da mídia, da sociedade e de vários setores civis às
calamitosas manifestações desse indivíduo em rede nacional. Há um temor em se
declarar contrário aos pensamentos dele ou há muitos indivíduos, sobretudo
famosos que coadunam com ele, mas preferem não se manifestar para não ter suas
imagens maculadas. Facínora, Bolsonaro já deferiu agressões contra os Deputados
Federais Jean Wyllys e Maria do Rosário. Com ela, foi machista e misógino. Com
Jean, fez questão de não esconder sua homofobia. Em ambos os casos não houve
maiores sanções contra o Deputado. Da mesma forma que quando ele ataca negros,
quilombolas, índios, ongs, mulheres, entre outros, ninguém se mobiliza para
pedir uma retratação social, como ocorreu há poucos dias com o ator global José
Mayer. Esperei ver hastags furiosas, difundindo protestos contra tantas
manifestações de ódio disfarçadas de opinião. Torci para que a mídia fizesse
uma cobertura digna das atrocidades, para criar um levante de discussões na
sociedade. Queria que o STF, a Câmara dos Deputados, o Presidente da República,
os artistas, os anônimos, alguém tão inconformado quanto eu, expusesse seu
repúdio contra aquele senhor. Nada. Nem uma palavra. Apenas o emudecimento
resignado do conformismo, que insiste em manter as coisas como estão.
Precisamos falar sobre
Bolsonaro, suas intenções e o contexto em que ele protagoniza. Nenhum desses
elementos estão aí por acaso. A ascensão de Donald Trump, nos EUA, bem como o
da extrema Direita em várias partes da Europa, são cenários análogos à
realidade brasileira. Também precisamos analisar os discursos imbrincados nas
falas daquele cidadão. Silvana Duboc vai dizer que as palavras sempre ficam.
Disso, infere-se o quanto pronunciamentos discriminatórios podem ser nefastos
para uma sociedade que convive com isso em suas bases culturais e, sobretudo,
histórica há séculos. Mais lamentável ainda é quando reverberações
preconceituosas são ditas por pessoas de grande influência social, como é o
caso de Bolsonaro. Os reflexos de tais declarações, sustentadas por um povo sofrido
e fragilizado pelo esquecimento social, fortalecem as violências simbólicas e
explícitas que diversas pessoas como eu tentam combater paulatinamente. Além
disso, não podemos nos emudecer diante de tanta tagarelice perversa, nem nos
intimidar com posturas autoritárias, ditatoriais que preferem os extremos ao
diálogo, à transformação social pacífica e abalizada pelos preceitos da
Constituição Federal. Precisamos olhar para Bolsonaro como uma tentativa
abrupta de um povo, que negligenciado por todos os lados, fincou-se na imagem
de um anti-heroi, tipo Macunaíma, para que num passe de mágica solucione nossos
problemas na base da selvageria. Nenhum imediatismo pode sustentar a esperança
de um país melhor, quando o escolhido para nos representar, não reproduz o
desejo de todos. Então, precisamos de um novo Messias, porque Bolsonaro não é o
que eu esperava para o Brasil. Não é o que nós merecemos para o país.
Nenhum comentário:
Postar um comentário