10 março 2013

Em alto e “ruim” som*


A cacofonia com a qual me deparo, pelas ruas por onde ando, causa-me total estranheza. Inicialmente, estou convicta de que se trata de um caso epidêmico de poluição sonora. No entanto, conforme venho a perceber depois é apenas música, ainda que me questione acerca do seu conceito.

Essa é a nova tendência musical que se alastrou pelo Brasil e que hoje pode ser ouvida em alto e “ruim” som pelas ruas pernambucanas, em um estilo que faria Beethoven se revirar na tumba.

No ano do centenário do rei do baião, Luiz Gonzaga, ficou claro que a música popular pernambucana atingiu um reconhecimento de níveis nacional e internacional, tal como visto na homenagem prestada pelo Galo da Madrugada, maior bloco carnavalesco do mundo, e até mesmo em ares mais distantes, mais precisamente na Sapucaí. Lá, a homenagem ficou a cargo da Unidos da Tijuca, escola de samba carioca vencedora deste ano.

Porém, é no mínimo questionável que a beleza de manifestações culturais, como o forró, o frevo, o xote o baião, venha cedendo espaço para músicas de pouco conteúdo e que, em sua grande maioria, fundamentam-se no fato dos jovens de hoje ousarem de seus estilos e esbanjarem sua sexualidade mais precocemente, a fim de serem vistos como adultos e "donos de si".

O caso já atingiu maiores proporções, deixando de ser somente uma crítica de uma reles aspirante à escritora. Houve abertura de inquéritos por parte da Polícia Civil de Pernambuco e pela GPCA (Gerência de Polícia da Criança e do Adolescente), ambos alegando que atuais músicas dos MCS Boco, Cego, Metal e Sheldon contêm versos com duplo sentido e, portanto, poderiam ir contra o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) ao fazer apologia à pedofilia. A investigação partiu de um pedido do MPPE (Ministério Público de Pernambuco), após várias reportagens publicadas no jornal Diário de Pernambuco.

É sabido que os ídolos são frutos da escolha que a sociedade faz e que ela é, portanto, a unidade de medida do sucesso deles. Então, por que ela tem sido demasiadamente tolerante acerca dessa situação?

A resposta é simples. Estamos lidando com seres humanos, não com máquinas. Cada um de nós constitui uma parte única e especial de todo um conjunto. Pensamos diferentes, sentimos diferentes. E então, buscamos a arte a fim de nos identificar com nossa realidade - ou para fugir dela.

A partir desse momento, surge um novo elemento na questão. A Indústria. Ela não está se importando com as novas visões da sociedade, nem tampouco com as dores que a menina está sentindo ao ouvir uma música “corta-pulsos”. O que entrou em jogo é o dinheiro que isso renderá, ao lançar as músicas que terão seus “quinze minutos de fama” (sim, porque a repercussão de uma música na mídia é tamanha que raramente o sucesso consegue perdurar).

Meu apelo não se atém a muito mais do que: olhemos para tudo que tentam nos impor de maneira crítica e só aceitemos aquilo que nos faz bem, não permitindo que as novas tendências apaguem de nossa memória a cultura tão bela que Pernambuco ostenta.

Que a nossa arte não deixe de falar dos altos coqueiros, das ladeiras olindenses, do teatro de Nova Jerusalém (o maior teatro ao livre do mundo). Ah, e da feira de Caruaru! Como não falar dela se “tudo que há no mundo nela tem pra vender”? E de tantas outras coisas que não me comprometo a continuar, pois correria o risco de não saber mais como findar.

Como conseguir equilibrar o que gostamos, sem permitir que roubem nossa essência? Instruamo-nos antes e todo o mal sucumbirá.

(Pollyanna Cristina Quadros de Souza)*

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