A cacofonia com a qual me deparo, pelas ruas
por onde ando, causa-me total estranheza. Inicialmente, estou convicta de que
se trata de um caso epidêmico de poluição sonora. No entanto, conforme venho a
perceber depois é apenas música, ainda que me questione acerca do seu conceito.
Essa é a nova tendência musical que se alastrou
pelo Brasil e que hoje pode ser ouvida em alto e “ruim” som pelas ruas
pernambucanas, em um estilo que faria Beethoven se revirar na tumba.
No ano do centenário do rei do baião, Luiz
Gonzaga, ficou claro que a música popular pernambucana atingiu um
reconhecimento de níveis nacional e internacional, tal como visto na homenagem
prestada pelo Galo da Madrugada, maior bloco carnavalesco do mundo, e até mesmo
em ares mais distantes, mais precisamente na Sapucaí. Lá, a homenagem ficou a
cargo da Unidos da Tijuca, escola de samba carioca vencedora deste ano.
Porém, é no mínimo questionável que a beleza de
manifestações culturais, como o forró, o frevo, o xote o baião, venha cedendo
espaço para músicas de pouco conteúdo e que, em sua grande maioria,
fundamentam-se no fato dos jovens de hoje ousarem de seus estilos e esbanjarem
sua sexualidade mais precocemente, a fim de serem vistos como adultos e
"donos de si".
O caso já atingiu maiores proporções, deixando
de ser somente uma crítica de uma reles aspirante à escritora. Houve abertura
de inquéritos por parte da Polícia Civil de Pernambuco e pela GPCA (Gerência de
Polícia da Criança e do Adolescente), ambos alegando que atuais músicas dos MCS
Boco, Cego, Metal e Sheldon contêm versos com duplo sentido e, portanto,
poderiam ir contra o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) ao fazer
apologia à pedofilia. A investigação partiu de um pedido do MPPE (Ministério
Público de Pernambuco), após várias reportagens publicadas no jornal Diário de
Pernambuco.
É sabido que os ídolos são frutos da escolha
que a sociedade faz e que ela é, portanto, a unidade de medida do sucesso
deles. Então, por que ela tem sido demasiadamente tolerante acerca dessa
situação?
A resposta é simples. Estamos lidando com seres
humanos, não com máquinas. Cada um de nós constitui uma parte única e especial
de todo um conjunto. Pensamos diferentes, sentimos diferentes. E então,
buscamos a arte a fim de nos identificar com nossa realidade - ou para fugir
dela.
A partir desse momento, surge um novo elemento
na questão. A Indústria. Ela não está se importando com as novas visões da
sociedade, nem tampouco com as dores que a menina está sentindo ao ouvir uma
música “corta-pulsos”. O que entrou em jogo é o dinheiro que isso renderá, ao
lançar as músicas que terão seus “quinze minutos de fama” (sim, porque a
repercussão de uma música na mídia é tamanha que raramente o sucesso consegue
perdurar).
Meu apelo não se atém a muito mais do que:
olhemos para tudo que tentam nos impor de maneira crítica e só aceitemos aquilo
que nos faz bem, não permitindo que as novas tendências apaguem de nossa
memória a cultura tão bela que Pernambuco ostenta.
Que a nossa arte não deixe de falar dos altos
coqueiros, das ladeiras olindenses, do teatro de Nova Jerusalém (o maior teatro
ao livre do mundo). Ah, e da feira de Caruaru! Como não falar dela se “tudo que
há no mundo nela tem pra vender”? E de tantas outras coisas que não me comprometo
a continuar, pois correria o risco de não saber mais como findar.
Como conseguir equilibrar o que gostamos, sem
permitir que roubem nossa essência? Instruamo-nos antes e todo o mal sucumbirá.
(Pollyanna Cristina Quadros de Souza)*
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