Maioria dos jovens católicos discorda da igreja em questões como união
entre pessoas do mesmo sexo, aborto, uso da pílula do dia seguinte e proibição
do sacerdócio para mulheres
Segundo pesquisa divulgada hoje (22) pela ONG Católicas pelo Direito de
Decidir, 56% dos jovens católicos (de 16 a 29 anos) e 43% dos que têm mais de
30 anos apoiariam se a igreja decidisse ser favorável à união entre
pessoas do mesmo sexo. O estudo foi encomendado ao Ibope Inteligência para
analisar o perfil dos brasileiros a respeito de questões como aborto, união
entre pessoas do mesmo sexo, uso da pílula do dia seguinte, proibição do
sacerdócio para mulheres, celibato e punição para religiosos envolvidos com
pedofilia ou corrupção.
Considerando a pesquisa globalmente, incluindo católicos, evangélicos, outras
religiões, agnósticos e ateus, os números são inferiores: 51% dos jovens e 41%
dos que já passaram dos 30 apoiariam a uniãohomossexual.
Nesse recorte, o perfil mais conservador é dos que se declaram
evangélicos, entre os quais apenas 34% dos jovens até 29 anos e 28% dos que
têm mais de 30 apoia total ou parcialmente.
Entre os pesquisados católicos, 62% dos jovens discordam total ou
parcialmente da prisão de uma mulher que precisou recorrer ao aborto e,
entre os que têm mais de 30 anos, o índice cai para 59% (no geral, incluindo
todas as religiões, os dados são muito próximos: 63% e 58%, respectivamente). O
estudo mostra que 82% dos jovens católicos e 76% dos mais velhos acham que a
igreja deveria “permitir” que as mulheres católicas usassem a pílula do dia
seguinte.
Quando o
Ibope perguntou aos católicos sobre a punição rigorosa aos religiosos
envolvidos em pedofilia, assédio sexual ou corrupção, 90% dos jovens e 88% dos
mais velhos apoiariam totalmente ou em parte.
Para a
coordenadora da ONG, Regina Soares Jurkewicz, nas questões relativas à moral e
à sexualidade, a pesquisa mostra distanciamento entre a realidade social e a
política da igreja. “Há uma tendência de dissonância entre o que a igreja prega
e a prática das pessoas.” Segundo ela, o levantamento revela a grande
insatisfação dos católicos em relação “à política do silêncio” com a qual o
Vaticano tenta impedir o aprofundamento das investigações sobre pedofilia e
corrupção na igreja. “São católicos, mas não praticam o que a igreja diz”,
afirma Regina, não só em relação à pedofilia, mas em relação às questões morais
e sexuais em geral.
Estratificado
por escolaridade, o estudo do Ibope demonstra que, quanto menos a pessoa
estudou, mais conservadoras são suas opiniões. Por exemplo, 52% dos que têm até
a 4ª série discordam total ou parcialmente da prisão da mulher que recorrer ao
aborto por necessidade, número que sobe para 59% da 5ª à 8ª série e entre os
que têm ensino médio e para 67% com nível superior. “A pesquisa mostra a
influência do acesso à educação na sociedade. Quanto mais as pessoas estudam,
mais têm condições de refletir e ter acesso à informação”, diz Regina.
Sobre o
papa Francisco, em visita ao Brasil esta semana, a coordenadora do Católicas
pelo Direito de Decidir considera que o novo pontífice, pelo menos até o
momento, tem um aspecto positivo e outro negativo ou ainda por esclarecer. “Ele
tem posturas muito simpáticas ao focar sua atenção mais nos pobres, não
ostentar nada muito rico. Mas no que tem a ver com moral sexual não tivemos
nenhum sinal positivo”, lembra. “Enquanto bispo, aliás, ele se mostrou contra o
casamento entre pessoas do mesmo sexo.”
Para
Regina Soares Jurkewicz, “não é só o papa, mas a cúria como um todo precisa
olhar com mais atenção para essa e outras questões”.
A
pesquisa foi realizada entre maio e junho de 2013. O Ibope Inteligência ouviu a
opinião de 4.004 brasileiros, entre os quais 62% (2.496) se declaram católicos,
23% evangélicos e 15% são adeptos de outras religiões, agnósticos ou ateus.
Cerca de 31% do total (1.224) tinham entre 16 a 29 anos de idade e 2.780 mais
de 30 anos.
Parabéns, ótima redação.
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