Publicado pela Folha
Na verdade eu tenho dezenas de amigos gays.
Muitos destes meus amigos gays me causam sincero e imenso orgulho. Orgulho pelo brilhantismo intelectual que ostentam, pelo talento artístico, pela capacidade de vencer materialmente na vida, pela dedicação a causas justas e humanitárias, pela maneira como sustentam sua família, pela amizade que me dedicam, pelo caráter.
Tenho particular admiração por um amigo gay que comanda uma empresa com centenas de funcionários; neste caso não sei se ele é bom ou mau patrão, mas certamente há os que o considerem bom, outros nem tanto, como sói acontecer...
Outro amigo gay é muito jovem e foi difícil para a família aceitar sua orientação, quando revelada. Mas todos fizeram de tudo para suplantar preconceitos e traumas e ficar ao lado daquele jovem bom, honesto, trabalhador.
Tenho também um outro, nem tanto amigo assim, mais conhecido, e este não é lá flor que se cheire. Ambicioso demais, carreirista demais, intriguento demais, já tem dinheiro o bastante, mas quer ficar mais rico e espera que todos à sua volta se comportem como súditos.
E quando digo amigos quero dizer amigas também, evidentemente, porque não costumo classificar as pessoas por gênero.
Muito menos costumo classificar as pessoas por conta de suas orientações sexuais: estas pessoas às quais me referi até agora, exceto o último, merecem meu respeito pela maneira como se comportam no mundo em que vivem, ponto.
Se são gays ou não, trata-se de uma questão de foro íntimo, que só diz respeito à sua individualidade, garantida pela Constituição deste país.
Adoto a retórica de desfiar suas características e referir-me à sua sexualidade apenas para argumentar em favor do meu incômodo com o slogan que está circulando muito por aí, que diz assim: "Tenho um amigo gay e ele não precisa de cura, precisa de respeito".
Discordo.
Claro que dizer que alguém merece respeito por conta de sua sexualidade não chega aos pés em termos de absurdo, de ofensivo, de ridículo, atrasado, risível que é dizer que alguém precisa de tratamento pelo mesmo motivo. Mas também creio que não seja o caso, estigmatiza tanto quanto.
Esta decisão tomada em Brasília por pressão de religiosos, estes sim doentios, não deve ser apequenada com slogans. Por sua nocividade e pela vergonha que representa, precisa ser combatida com energia e eficiência, na esfera em que ocorre, que é a política.
*
Não há como deixar de falar sobre as manifestações, e comento por dois ângulos.
Primeiro para dizer que se alguém afirma que sabe exatamente o que está acontecendo no Brasil hoje este alguém é equivocado ou mente.
As teorias são muitas, as certezas mínimas e há ainda muita coisa para se definir, apesar de todas as boas intenções.
Enquanto tantas agendas e demandas estiverem assim misturadas, além de tudo eivadas de destrambelhamentos como atear fogo no Itamaraty ou agredir um jornalista acima de qualquer suspeita como o Caco Barcellos, ainda estaremos no campo da catarse.
Não que isso, a catarse em si, seja completamente ruim, mas é insuficiente para mudar "tudo isso que está aí", portanto é cedo para conclusões.
Outro ponto é o seguinte: cobrei aqui na coluna anterior que o Movimento Passe livre tinha a obrigação de condenar os atos de violência surgidos em meio ao movimento que eles detonaram.
Para minha satisfação, a garotada do MPL não apenas condenou com veemência os excessos, como retirou-se deste cenário tão conturbado. Porque eles têm uma pauta muito bem definida e pretendem continuar lutando e de fato mudar a realidade.
É isso aí, apoiado, dão exemplo que deveria ser seguido por muitos: maturidade, discernimento e foco.
*Luiz Caversan é jornalista e consultor na área de comunicação corporativa. Foi repórter especial, diretor da sucursal do Rio da Folha, editor dos cadernos "Cotidiano", "Ilustrada" e "Dinheiro", entre outras funções. Escreve aos sábados no site da Folha.
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