28 junho 2012


O Ser Feliz é Ser Livre tem a honra de apresentar para todo o Brasil uma artista que será o futuro expoente da música Nacional, Nanau Nascimento. Esta cantora, ainda desconhecida do grande público, está lançando um Cd solo, intitulado de Roda da Vida, trabalho este ritmado com o puro e autêntico samba brasileiro, incrementado, com pitorescas batidas da cultura pernambucana, terra natal da cantora. O título desse álbum faz jus ao seu propósito maior: criar um elo vívido entre todas as culturas por onde o samba introjetou suas mais sinuosas cadências.

Fruto de uma grande mistura musical, o samba é um dos mais reconhecidos ritmos da nossa cultura. Suas múltiplas facetas se manifestam de norte a sul do Brasil e não há por aqui alguém que não se identifique com os seus batuques, letras e melodias. Foi pensando nessa diversidade e na importância que o samba exerce em nossas vidas que Nanau Nascimento decidiu gravar esse Cd, unicamente dedicado a ele. Tamanha ousadia resultou no “Roda da Vida”, o seu primeiro trabalho solo. Nele, músicas que falam de amor, religiosidade, alegrias e tristezas retratam temas do cotidiano desse povo brasileiro que é intimamente ligado ao samba.

Nanau Nascimento é Pernambucana, nascida na cidade de Recife, e desde pequena tem a música como dádiva e, posteriormente como instrumento de trabalho. Ainda na adolescência, participou de várias bandas de gêneros musicais variados e pouco a pouco foi conquistando o carinho do público com a sua simpatia e o seu incontestável talento. Dona de uma voz doce e aveludada, ao mesmo tempo forte e profundamente melodiosa, Nanau é muito elogiada por onde passa por sua afinação e bom gosto musical. Cantores, compositores entre tantos outros artistas do estado de Pernambuco, que a conhecem, são unânimes em dizer que ela é uma grande promessa da nossa música popular brasileira, e o Roda da Vida é a prova máxima disso.

Cada canção que embala o repertório é digna dos tradicionais clássicos do gênero que se consagraram pelo país. É claro que, como legítima pernambucana, Nanau adicionou sutis, mas perceptíveis, influências musicais do seu estado. Nas melodias, a presença dos metais enriqueceu a cadência do samba, dando a ele uma ritmada desenvoltura. Em algumas canções, singularidades da cultura do seu estado se fazem presentes, engrandecendo ainda mais as letras dos sambas. Destaque especial para a última faixa do Cd, a qual o mais popular ritmo de Pernambuco, o frevo, se apresenta ao maior ritmo do Brasil, o samba.

Dessa união nasceu o “Roda da Vida”, uma vanguardista representação do samba, em toda a sua plenitude. Trabalho musical que mimetiza os grandes sambas que enaltecem a musicalidade do nosso país, enquanto, ao mesmo tempo, mescla o que há de mais autêntico da cultura de Pernambuco. Cd que não canta apenas o samba do nordeste, mas dialoga com todos os estados por onde o samba fincou suas raízes. Em outras palavras, uma coletânea das infinitas formas que o samba pode se apresentar. Tal mistura só confirma que o samba faz parte da identidade nacional e, por isso, merece ser cantado das variadas maneiras que o fizeram ser o ritmo mais difundido do Brasil.

Por isso, Nanau Nascimento convida você a navegar nas ondas do samba e se aventurar com ela nas suas profundas águas. Ela espera cantar, dançar, emocionar e encantar todos vocês com esse trabalho que foi idealizado com muito carinho e esmero, para proporcionar a todos o que há de mais genuíno na música brasileira. Louvação e romantismo são, portanto, temas dos quais as canções expressam sentimentos comuns da alma humana, sobretudo aqui no Brasil, onde o samba se configura como elemento simbólico da cultura do país. Pois ela, Nanau Nascimento, representa uma nação que é apaixonada por música e pelo samba. E como ela bem descreve em uma das suas faixas: Eu sou o samba, eu sou do samba. E mesmo sendo nordestina ela diz: “[...] o samba também é nosso, é Brasil. O samba de Pernambuco é Brasil [...]”.

Espero que gostem:








Por Michella Guijt para A Tribuna

Não bastasse o histórico marcado pela morte dos pais, abandono e até por maus-tratos, o futuro de uma criança que entra na lista de adoção depende de fatores imutáveis, como a cor da pele e sua idade.

Grande parte dos pretendentes a pais substitutivos procura crianças brancas: dos 28 mil casais incluídos no Cadastro Nacional de Adoção, 35,2% aceitam apenas bebês brancos, enquanto 52,95% das 5.125 crianças brasileiras disponíveis para adoção são negras.

Quanto maior a idade, menor será a chance de ser escolhido: 58,7% dos candidatos buscam crianças com até 3 anos de idade. Entretanto, nas instituições de acolhimento, mais de 75% dos abrigados têm entre 10 e 17 anos, faixa etária que apenas 1,31% dos pretendentes está disposto a aceitar.

Outros fatores inerentes são entraves para que uma criança ou adolescente seja adotado, entre eles a presença de algum tipo de deficiência ou doença grave, condição que atinge 22% dos incluídos no Cadastro Nacional de Adoção.

Santos

A mesma discrepância entre o perfil das crianças disponíveis para adoção e as expectativas das famílias cadastradas é latente na Cidade. E mais: o número de pretendentes a pais também supera o total de candidatos a filhos.

Segundo a Seção Técnica da Vara da Infância e Juventude do Município, 31 crianças e adolescentes estão aptos para adoção, sendo que 63 casais aguardam na fila.

Mais uma vez, os entraves são a idade e a raça. Das 31 crianças da lista, 5 têm de 8 a 12 anos. As 26 restantes têm entre 12 e 18 anos de idade.

“As meninas brancas, de 0 a 3 anos, ficam na fila no máximo 6 meses. Quando este perfil demora a aparecer, os meninos pequenos têm chance de ser escolhidos”, diz a chefe da Seção Técnica, Sandra Menezes.

Ela acrescenta outra cruel explicação para a faixa etária das crianças na fila que, na maioria dos casos, nunca acaba. “A maior parte das crianças com mais de 8 anos foi envelhecendo ao longo da espera. Entraram no cadastro com 4 ou 5 anos de idade".

Outro fator observado é a origem dos pequenos. “Se os pais biológicos são usuários de drogas, isso também acaba dificultando a adoção. O problema é que esta é a realidade de muitos que esperam por um novo lar”, destaca a presidente da Casa Vó Benedita, Elizabeth Rovai de Franca.

Localizada na Zona Noroeste de Santos, a entidade abriga crianças vítimas de maus-tratos que estejam em situação de risco ou estado de abandono.

Outras três entidades beneficentes abrigam crianças aptas para adoção no Município: Educandário Anália Franco, Lar Santo Expedito e Lar Espírita Mensageiros da Luz.

Sonho

A presidente da Casa Vó Benedita explica o porquê de tantas crianças irem para a fila de preteridos. “O ato da adoção está ligado ao desejo da maternidade. E sonho a gente não muda. É muito difícil para uma mulher que nunca foi mãe abrir mão da experiência de ter um bebê em seus braços”, diz Elizabeth.

Ajudar a mudar, nem que seja um pouquinho, o sonho acalentado pela maioria dos candidatos a pais é a missão do Grupo de Apoio à Adoção (GAA) de Santos.

Toda primeira quinta-feira de cada mês, o GAA reúne casais interessados em adotar uma criança e também os pares que já vivenciaram essa situação. “O foco é a troca de experiências, mas também tentamos sensibilizar os casais a mudar o perfil (da criança) pretendido”, frisa Elizabeth, que integra o grupo.

As reuniões acontecem no Educandário Anália Franco, na Avenida Ana Costa, 227, na Vila Mathias. Em julho, não haverá o encontro, devido ao período de férias. Os interessados podem obter mais informações pelo telefone 3299-5415.


Uma história triste com final feliz

Nem sempre o destino de irmãos aptos para adoção termina em separação. Bruno, de 9 anos, e Andrey, de 12 anos, foram adotados pelo casal Marcos Luiz de Almeida e Sara Maria Bispo Pinho.

A trajetória até a adoção dos dois meninos, filhos de usuários de drogas, que nasceram em um cortiço e viviam perambulando pelas ruas do Centro, foi contada na edição de 26 de fevereiro de A Tribuna.

“Não tivemos coragem de separá-los. É claro que criar os dois não é fácil. Mas ver o desenvolvimento dos dois enche o meu coração de felicidade”, conta Sara, de 23 anos.

Ela, que ainda não passou pela experiência da gravidez, explica o ato de amor. “Não adotamos bebês, como a maioria dos casais faz. Sempre digo que fomos escolhidos pelo Bruno e o Andrey. Quem quer adotar precisa entender que não é a gente que escolhe a criança. Nós somos os escolhidos”.

Irmãos

Apesar do final feliz, a vida de Bruno e Andrey não está completa. Suas duas irmãs – uma de 9 anos e a outra de 5 anos – voltaram para a Casa Vó Benedita, que também abriga o irmão caçula das 4 crianças (um bebê de apenas 1 mês).

Na segunda-feira, uma tia-avó das meninas abriu mão da guarda provisória. “As duas estão bem, assim como o bebê. Agora a Justiça vai definir se a guarda (provisória) dos três vai para outro familiar ou se eles vão para adoção”, explica a presidente da entidade, Elizabeth.

ECA

O artigo nº 18 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) define que irmãos devem ser colocados em grupo para adoção, tutela ou guarda da mesma família substituta.

“O ECA determina a não separação de irmãos. Por isso, durante um processo de adoção, esgotamos todas as possibilidades de formar arranjos, primeiro, com familiares. Se isto não for possível, procuramos casais que concordem em adorar grupos de irmãos”, afirma o juiz da Vara da Infância e Juventude de Santos, Evandro Renato Pereira.

Esperança

Os pais adotivos de Bruno e Andrey até pensaram em adotar as duas irmãs, mas não foi possível. “Infelizmente, não temos condições de ficar com os quatro e com o bebê também”, argumenta Sara.

A mãe dos meninos tem esperança de que os laços de amor entre os irmãos não seja quebrado. “Sempre trazíamos as meninas para visitar os irmãos. Temos a esperança de que o casal que fique com os irmãos dos meus filhos faça o mesmo”. 



Por Eduardo Szklarz


A ciência está cada vez mais próxima de explicar um dos maiores mistérios do comportamento humano.
Bar depois do expediente, cervejinha gelada, papo animado sobre colegas de trabalho. De repente, alguém faz a revelação bombástica: “Sabe o fulano? É gay!” Você provavelmente já participou de uma conversa como essa. Ela acontece todos os dias, nos melhores bares e também nas melhores famílias. Depois do silêncio, a mesa se divide entre os completamente surpresos e os que “sempre tiveram certeza, estava na cara que ele era”. Até que alguém finalmente pergunta: “Mas por quê? O que levou fulano a ser diferente da maioria?” E começa a rodada de especulações: “A culpa é da mãe repressora.” “Ele foi violentado pelo pai.” “Não gostava de futebol.” “É genético, desde pequeno tinha trejeitos afeminados.” “Só é gay porque está na moda.”

Pois as mesas de bar mais uma vez provam estar entre as entidades mais antenadas do planeta. O debate sobre a origem da orientação sexual é hoje um dos mais quentes da ciência – e também um daqueles em que os resultados parecem mais surpreendentes. Historicamente, as respostas se dividiam entre os que defendiam que uma pessoa nasce gay e as que sustentavam que nos tornamos gays, bi ou heterossexuais dependendo do ambiente em que vivemos.

Mas, nos últimos anos, pesquisadores começaram a apontar novos – e surpreendentes – caminhos. As maiores novidades vêm dos estudos biológicos. Eles indicam que a formação da sexualidade acontece antes do nascimento – em parte pelos genes, mas também por fatores que atuam no desenvolvimento do feto. Não há nada comprovado e ainda falta muito a ser desvendado, especialmente sobre a influência do ambiente onde a criança é criada em sua sexualidade. Mas as evidências estão causando uma revolução no pensamento científico. E se comprovadas, poderão subverter noções básicas que construímos ao redor dos gays.

Que importa?

Muita gente acredita que a ciência deveria deixar essa polêmica de lado. O argumento é que gays existem e pronto – não há nada além disso para entender. Para elas, perguntar sobre o que leva uma pessoa a ser gay é uma atitude preconceituosa que supõe que a heterossexualidade não precisa de explicação. Cientistas, no entanto, defendem a necessidade de pesquisa, argumentando que elas podem acabar – ou pelo menos diminuir – preconceitos. “Os homossexuais são muitas vezes acusados de exibir um comportamento não natural. A única maneira de refutar essa acusação é pesquisar as causas das diferentes orientações sexuais”, diz a bióloga transexual Joan Roughgard, professora da Universidade Stanford e autora do livro Evolution’s Rainbow (“Arco-Íris da Evolução”, sem tradução em português), em que analisa cerca de 300 casos de comportamento homossexual entre animais. Para o antropólogo Luiz Mott, presidente do Grupo Gay da Bahia, as pesquisas são importantes porque desconstroem a noção religiosa milenar de que homossexualidade é um comportamento diabólico e patológico. “Se comprovarem que há uma raiz genética, estará claro que a homossexualidade está nos próprios desígnios do Criador”, afirma.

Outro argumento pró-pesquisas diz que saber a origem do próprio comportamento aplaca um pouco a ansiedade. “Vemos a preocupação do homossexual em não ser discriminado, mas também a dos pais, que se sentem responsáveis e querem entender até que ponto esse sentimento procede”, diz Carmita Abdo, psiquiatra do Hospital das Clínicas de São Paulo e coordenadora do projeto Sexualidade, maior pesquisa já feita sobre os hábitos sexuais dos brasileiros.

As tentativas de explicar a origem da homossexualidade incluem teorias que vão da mitologia à sociologia. No século 19, psiquiatras concluíram que ser gay era um transtorno mental causado por equívocos na criação da criança – e essa idéia reinou na maior parte do século 20. Mas se essa teoria estivesse correta, então seria possível evitar e até reverter quadros homossexuais. Ao perceber o fracasso total das terapias de “cura”, em 1973, a Associação Psiquiátrica Americana achou melhor retirar de sua lista de distúrbios mentais a atração sexual por pessoas do mesmo sexo. Foi quando o termo mudou de nome: homossexualismo deu lugar a homossexualidade – porque o sufixo “ismo” denota doença. A essa altura, os cientistas já consideravam ser gay uma variação absolutamente natural do comportamento humano.

Até que em 1991 o neurocientista anglo-americano Simon LeVay, gay declarado, anunciou ter encontrado diferenças em cérebros de homens gays e héteros. LeVay examinou o hipotálamo, zona-chave da sexualidade no cérebro, e descobriu que a região chamada INAH-3 era entre 2 e 3 vezes menor nos gays. Era a primeira indicação da origem biológica da homossexualidade. Mas, como várias pesquisas da área, a de LeVay tinha limitações: os gays do estudo haviam morrido em decorrência da aids e talvez a doença fosse responsável pela diferença. E, mesmo que essa diferença não estivesse relacionada com a aids, era impossível determinar se ela era causa ou conseqüência da experiência gay. Apesar das dúvidas, a descoberta abriu caminho para estudos que reforçam a suspeita de que a homossexualidade vem do útero. “Minhas pesquisas sugerem que algo acontece muito cedo na vida dessas pessoas, provavelmente na vida pré-natal”, diz LeVay.

Mas o quê? Parte da resposta veio em 1993 com as pesquisas de Dean Hamer, do Instituto Nacional do Câncer, nos EUA. Hamer percebeu que dentro das famílias havia muito mais gays do lado materno. A descoberta atraiu sua atenção para o cromossomo X (mulheres têm dois cromossomos X, enquanto os homens têm um X e um Y). Em seguida, a descoberta: usando um escâner, Hamer viu que uma região do cromossomo X, a Xq28, era idêntica em muitos irmãos gays. O que ele descobriu não foi propriamente um único gene gay, mas uma tira de DNA transmitida por inteiro. A notícia provocou rebuliço, e não era para menos. Mesmo contestada por outros estudos, a conexão entre genes e orientação sexual sugere que as pessoas não escolhem ser homossexuais, mas nascem assim. A comunidade gay começou a ver na ciência a resposta contra a idéia de que seu comportamento era “antinatural”.

Resposta genética?

Patrick e Thomas são gêmeos, têm 7 anos, olhos azuis e cabelo ondulado. Cresceram na mesma casa, criados pelos mesmos pais. À primeira vista, é impossível distingui-los. Mas passe algum tempo com eles e você verá que Patrick é sociável, atento e pensativo, enquanto Thomas é espontâneo e adora brincar de luta. Quando tinham 2 anos, Patrick encontrou os sapatos da mãe e gostou de calçá-los. Aos 3, Thomas disse que o revólver de plástico era seu brinquedo favorito. Aos 5, Thomas se fantasiou de monstro no Halloween; Patrick quis se vestir de princesa. Ridicularizado pelas risadas do irmão, decidiu ser Batman. Patrick sempre brincou entre meninas, nunca meninos. Os pais deixaram que ele fosse ele mesmo em casa, mas mantiveram alguns limites em público com medo de que seu comportamento feminino o expusesse. Funcionou até o ano passado, quando o orientador da escola ligou dizendo que ele deixara os colegas incomodados: insistia que era uma menina.

A história de Patrick e Thomas foi revelada pelo jornal Boston Globe. Como os demais gêmeos univitelinos (gerados pelo mesmo óvulo), os garotos são clones genéticos. Se a homossexualidade fosse mesmo causada por um cromossomo, os dois deveriam ter a mesma orientação sexual. Segundo estudos recentes, como o do psiquiatra americano Richard Green, garotos como Patrick têm até 75% de possibilidade de ser homossexuais quando adultos. Thomas aparenta ser heterossexual.

O caso de gêmeos com orientação sexual diferente mostra que, sozinha, a genética não explica a homossexualidade. Mas isso não significa que a criação tem todas as respostas. Afinal, antes mesmo de falar, Patrick já exibia traços femininos. Há mais dicas nessa charada: os pesquisadores americanos Michael Bailey, da Universidade Northwestern, e Richard Pillard, da Universidade de Boston, analisaram gêmeos e viram que, entre bivitelinos, se um deles é gay, o outro tem 22% de possibilidade de também ser. Para os univitelinos, a probabilidade sobe para 52%.

São números bastante superiores à taxa de homossexualidade entre a população, que seria de 10% de acordo com o famoso e polêmico Relatório Kinsey, dos anos 40, e entre 2% e 5% segundo pesquisas mais recentes. Bailey e Pillard, portanto, praticamente provam a existência de um componente genético para a homossexualidade. Ao mesmo tempo, praticamente provam, também, que os genes não dão conta de tudo. “Os estudos com gêmeos feitos até agora nos permitem uma estimativa de que até 40% da orientação sexual venha dos genes”, diz o pesquisador Alan Sanders, da Universidade Northwestern, EUA. Para aprofundar suas pesquisas, Sanders está recrutando voluntários, inclusive brasileiros, para o maior estudo genético sobre homossexualidade já realizado. “A meta é selecionar 1 000 pares de irmãos gays bivitelinos”, afirma. “Em irmãos assim, espera-se uma variação genética de 50%. Vamos analisar todo o genoma para saber se a variação é maior.”

O que mais está em jogo?

Se os genes não explicam tudo, que outros elementos explicariam? Um deles parece ser o desenvolvimento biológico do feto ainda no útero. E é dessa área que vêm saindo as pesquisas mais promissoras. Uma delas é a teoria dos hormônios pré-natais. A idéia é que os hormônios sexuais masculinos (andrógenos) se conectam às partes responsáveis pelos desejos sexuais no cérebro e influenciam seu crescimento, tornando o cérebro mais tipicamente masculino ou feminino. A conexão dependeria das proteínas receptoras de andrógenos (AR, na sigla em inglês). Imagine que cada célula do cérebro seja uma casa. As ARs funcionariam como o portão dessas casas, que controla a entrada de pessoas. Sabe-se que a quantidade e a localização desses portões são diferente nos homens e nas mulheres. Cientistas já constataram, por exemplo, que o hipotálamo masculino tem mais ARs que o feminino.

Essa teoria supõe que a homossexualidade nos homens é causada por “portões” que restringem a entrada de andrógenos nas regiões responsáveis pela sexualidade, formando um cérebro submasculinizado. Nas mulheres, esses portões facilitariam entradas maiores, construindo uma estrutura supermasculinizada. Tudo conseqüência do número de ARs de cada feto – o que talvez se deva à carga genética.

Os cientistas advertem que esse processo é complexo. Em todo caso, as pistas da ação dos hormônios pré-natais estão por todo lado. Por exemplo, na nossa mão. Homens geralmente têm o dedo indicador um pouco menor que o anular, enquanto nas mulheres o comprimento costuma ser igual. Richard Lippa, da Universidade Estadual da Califórnia, notou que essa diferença no tamanho dos dedos tende a ser maior nos gays que nos héteros. Em outra pesquisa, Dennis McFadden, da Universidade do Texas, observou que lésbicas são menos sensíveis que as outras mulheres a sons baixos.

Mas é preciso cautela: correlações entre interesse sexual e traços físicos estão longe de ser provadas. Também vale lembrar que os hormônios importantes não são os que circulam no nosso sangue quando adultos – cujos níveis são iguais em homossexuais e héteros – mas os que atuaram no período de gestação.

O novo desafio dos pesquisadores é entender quais as origens de um fenômeno recém-descoberto: a existência de irmãos mais velhos parece afetar a sexualidade dos mais novos. É o chamado “efeito big brother”. O cientista canadense Ray Blanchard acompanhou 7 mil pessoas e viu que a maioria dos gays nasce depois de irmãos homens e heterossexuais. Blanchard e o colega Anthony Bogaert calcularam que cada irmão mais velho aumenta em 33% a possibilidade de o menor ser gay. Um garoto com 3 irmãos mais velhos tem o dobro de possibilidade de ser gay que outro sem irmão mais velho. Um garoto com 4 irmãos mais velhos tem o triplo. Ter irmãs mais velhas não altera a probabilidade de o menino ser gay.

Para alguns, a explicação está na convivência familiar: depois de dar à luz vários homens, a mãe trataria o caçula como a menina que ela não teve. Os irmãos mais velhos também tenderiam a “dominar” o mais novo, influindo em seus sentimentos sobre si e os demais. Outra hipótese vem da biologia. “Os fetos masculinos talvez acionem uma reação imunológica na mãe ao produzirem substâncias que ameaçam seu equilíbrio hormonal”, diz o cientista Qazi Rahman, da Universidade de East London. Segundo ele, o corpo da mãe acionaria um alarme para produção de anticorpos contra proteínas ou hormônios do bebê. Cada novo feto masculino intensifica a resposta, e o acúmulo de anticorpos redirecionaria a diferenciação tipicamente masculina para uma mais feminina, gerando orientação homossexual nos filhos seguintes.

Como os outros pesquisadores, Rahman não nega que fatores ambientais possam entrar na equação. O problema é que ninguém sabe exatamente quais são eles. Não há provas, por exemplo, de que o abuso sexual na infância causa homossexualidade. O número de gays não é maior em lares chefiados por mulheres nem entre filhos criados por casais gays. Tampouco há mais casos de homossexualidade após períodos de guerra, quando os pais se ausentam de casa, o que enfraquece as hipóteses sobre dinâmicas familiares. Nem mesmo a teoria de Sigmund Freud encontra sustentação científica. O pai da psicanálise dizia que mães superprotetoras e pais ausentes poderiam levar o filho a ser gay. Mas ao invés de encontrar a causa, Freud possivelmente enxergou a conseqüência: a superproteção da mãe não seria a origem da homossexualidade, mas um ato de defesa para um filho que é rejeitado pelo pai por se comportar, desde cedo, de maneira feminina. Antes que você deixe de lado as explicações psicológicas, é bom ler o que vem a seguir.

Do exótico ao erótico

“Fatores biológicos (como genes e hormônios) são certamente responsáveis por mais de 50% da orientação sexual”, diz Dean Hamer. Ou seja: até mesmo o pai do “gene gay” admite que há espaço para fatores psicológicos. É justamente por apostar na interação entre biologia e ambiente que a teoria “exótico se torna erótico” vem chamando a atenção dos estudiosos. Seu autor, o psicólogo Daryl Bem, da Universidade Cornell, no estado de Nova York, afirma que os indivíduos são atraídos por outros de quem se sentiram diferentes na infância. Daryl diz que fatores biológicos atuam na formação da sexualidade ao agir sobre o temperamento da criança, predispondo-a a realizar certas atividades mais do que outras.

Assim, um menino que gostar de luta, futebol e esportes competitivos tipicamente masculinos conviverá num grupo com o mesmo perfil. Outro garoto que preferir bonecas e socialização mais calma, tipicamente feminina, encontrará colegas que também preferem a Barbie. Para esse garoto que convive entre amiguinhas e brinca com bonecas, a figura exótica que despertará sua atenção sexual será um menino. No caso de meninas homossexuais, se inverteriam os papéis. “Isso ocorre porque nossa sociedade polariza as diferenças de gênero. Se não as polarizasse tanto, mais homens e mulheres escolheriam parceiros com base em outros atributos além do sexo biológico”, diz Daryl. Isso significa que, apesar de a ciência estar caminhando para a noção de que a homossexualidade é inata, a biologia não é completamente determinante. “Essa predisposição para a homossexualidade vai se manifestar ou não dependendo das experiências de vida da pessoa”, diz a psiquiatra Carmita Abdo. Tudo indica que a homossexualidade é mesmo o resultado da interação de 3 fatores: biológicos, psicológicos e sociais, mesmo que esses dois últimos ainda precisem de mais evidências. Enquanto elas não aparecem, é melhor você ser menos taxativo nas suas conversas de mesa de bar.

Terapia para gays?

Robert Spitzer é o psiquiatra que encorajou a Associação Psiquiátrica Americana a retirar a homossexualidade da lista de transtornos mentais. Graças a ele, não se pode dizer hoje que ser gay é doença. Por isso, Spitzer causou espanto ao afirmar, em 2001, que sessões de terapia podem mudar a orientação sexual de um gay. Ele chegou a essa conclusão ao entrevistar pessoas que diziam ter deixado a homossexualidade após o tratamento. “A medicina não trata apenas das doenças”, diz. A Super conversou com Ben Newman, diretor de um site que oferece apoio não religioso a pessoas que querem mudar de orientação sexual. “Com um terapeuta que entendia o que eu passava e respeitava meus valores descobri que não tinha desejo por sexo, mas uma necessidade de amizade e identidade masculinas”, diz Newman. Mas é preciso extrema cautela nesse assunto.

Muitos psicólogos dizem que a pesquisa de Spitzer tem problemas metodológicos. “Terapias de conversão não funcionam e só causam mais sofrimento”, diz a psicóloga Adriana Nunan, da PUC-RJ. O Conselho Regional de Psicologia desaconselha tratar a homossexualidade. “O que se trata é o desconforto de ter essa condição”, diz a psiquiatra Carmita Abdo.

O gene gay e a evolução

O desafio dos que apóiam uma base genética para a orientação sexual é explicar a permanência e adaptação dos genes gays ao longo da evolução. “Ser atraído pelo sexo oposto é útil porque leva o indivíduo a gerar filhos – por isso os genes da heterossexualidade dominam o planeta. Mas como os genes da homossexualidade também parecem existir, é provável que sirvam ou tenham servido a algum valor reprodutivo ao longo da evolução”, diz o cientista inglês Qazi Rahman. Talvez os animais possam dar a resposta. O biólogo americano Bruce Bagemihl analisou 450 espécies e constatou que elas não fazem sexo só para produzir filhotes. Mais de 70 tipos de aves e 30 de mamíferos “casam-se” com indivíduos do mesmo sexo. Muitas vezes, para ter prazer. Para a bióloga Joan Roughgarden, a homossexualidade é um traço natural que mantém indivíduos unidos através do contato. Para ela, não há diferença entre jogadores de futebol que se tocam para funcionar melhor como equipe e duas pessoas que se acariciam intimamente. “Estamos muito preocupados com o contato genital, mas tudo não passa de intimidade física”, diz.

Para saber mais
Born Gay - Glenn Wilson e Qazi Rahman, Peter Owen, Londres, 2005 www.ingentaconnect.com/content/klu/aseb - Archives of Sexual Behaviour (Arquivos de comportamento sexual) www.gaybros.com - Site da pesquisa genética que vai contar com 1 000 pares de irmãos gays e busca participantes do Brasil. 

Publicado pela SuperInteressante

Espelhos D'Agua

Patricia Marx


Os seus olhos são
Espelhos d'água
Brilhando você
Prá qualquer um
Por, por onde
Esse amor andava
Que não quis você
De jeito algum...


Ah! Que vontade de ter você
Que vontade de perguntar
Se ainda é cedo
Hum! Que vontade de merecer
Um cantinho do seu olhar
Mas tenho medo...


Hum! Hum!
Que vontade de ter você
Que vontade de perguntar
Se ainda é cedo
Hun! Hum! Hum!
Que vontade de merecer
Um cantinho do seu olhar
Mas tenho medo...


Os seus olhos são
Espelhos d'água
Brilhando você
Prá qualquer um....





Tema: Brasil: um país de todos?


De todos, conotativamente falando

A expressão “Brasil: um país de todos” é o “slogan” do Governo Federal. O termo “de todos” é impactante e indica um sentido denotativo, que a sociedade em geral está satisfeita com os serviços que lhe são oferecidos. No entanto, isso não acontece. O que há, na verdade, é uma disparidade de realidades que atinge considerável parcela da população, em todas as regiões, do Oiapoque ao Chuí. A partir dessa análise, observa-se que há uma realidade mascarada na expressão, e para por fim a essa situação e torná-la válida, muita coisa deve mudar.
Os mais afetados são aqueles que pertencem aos grupos minoritários, tais como pobres, negros, índios e deficientes físicos. A saúde não atende a todos, a educação, a segurança e o saneamento básico idem. O que comprova isso são os hospitais públicos superlotados, pois a capacidade não atende à demanda; as escolas mal conversadas e com defasagem no quadro de docentes; as ruas sem policiamento, deixando a população insegura e à mercê de bandidos; e o esgoto a céu aberto em diversos bairros, sobretudo os periféricos, pondo a saúde em risco.
É importante destacar também as formas de desigualdade para com os outros grupos. O negro, historicamente inferiorizado, ainda sofre: é vítima de preconceito, pré-julgamentos e, normalmente, ocupa cargos inferiorizados. Também não há respeito com a cultura e preservação da população indígena. Percebe-se isso através da construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, à revelia dessas comunidades. Outro fator é a falta de acessibilidade em locais públicos, pois a presença de rampas e elevadores para atender aos cadeirantes ainda é escassa.
Faz-se fundamental perceber, ainda, que a maioria dos shoppings brasileiros é rodeada por comunidades carentes, as favelas. Tal disparidade corrobora com a ideia da dicotomia brasileira de que o país é “de todos”, pois os moradores daquelas áreas, vizinhos dos megalomaníacos centros de compras, sequer assistem a uma sessão de cinema ali exibida. Assim como a existência de edifícios de alto luxo ao lado das favelas forma uma imagem extremamente paradoxal: de um lado do muro, luxo e fartura; do outro, dentro dos barracos, o básico ou nem isso.
Diante disso, fica claro que ainda há muito a se fazer para tornar o país uma nação que contemple a todos de forma plural e equitativa. O Governo, defensor do “slogan”, deve mobilizar-se para por fim a essa realidade, e a sociedade, diante e ciente de tais casos, deve pressioná-lo a realizar as mudanças. Somente assim, com a sociedade satisfeita, a expressão deixará seu sentido conotativo e o Brasil passará a ser, de fato, de todos.



Aluno: Rossini Gomes
Professor: Diogo Didier




por Ramon Szermeta



É raro encontrar no debate na imprensa tradicional discussões sobre ou com os principais personagens que, ao fim e ao cabo, são os últimos responsáveis pela realização da Copa no Brasil: os trabalhadores das diversas categorias profissionais que se esforçarão dia após dia para que tudo realmente aconteça.

Faltando pouco menos de três anos para o chute inicial que abrirá o maior evento futebolístico do mundo, a sensação que temos no Brasil é que ele já começou. Se não nos gramados, ao menos fora deles. A grande imprensa nos farta diariamente com as mais diferentes manchetes: atraso nas obras dos estádios e de infraestrutura urbana, aeroportos sem capacidade de suportar a demanda, transparência − ou falta dela − na utilização dos recursos, Ricardo Teixeira e seus incontáveis escândalos, queda de braço entre governo federal e Fifa. Ainda tivemos a mais recente crise no Ministério dos Esportes, que culminou com a queda do titular da pasta, coincidentemente ou não, surgida no meio da discussão da Lei Geral da Copa, que tramita no Congresso Nacional sob os atentos olhos da Fifa e de seus parceiros econômicos.

Ainda que intenso, controverso e muitas vezes espetacularizado, raramente encontramos nesse debate discussões sobre ou com os principais personagens que, ao fim e ao cabo, são os últimos responsáveis pela realização da Copa no Brasil ou em qualquer parte do globo: os trabalhadores das diversas categorias profissionais que se esforçarão dia após dia para que tudo realmente aconteça. Em um ambiente dominado por terceirizações, quarteirizações, pouco respeito às leis trabalhistas e que dificulta a livre organização sindical, cada grito de atraso intensifica o ritmo de produção e aumenta na ponta a pressão sobre o lado mais fraco dessa corda. 

A Copa será erguida por milhares de trabalhadores que, para cumprir os curtíssimos prazos de obras − que são cobrados diariamente no noticiário nacional −, realizarão jornadas noturnas, duplas e muitas vezes em condições de trabalho fora das regras e leis estabelecidas pela legislação brasileira, como já pudemos ver nas mobilizações que ocorreram este ano em diversas construções de estádios país afora. Em alguns casos, as empresas nem sequer conseguiram atender as exigências básicas, como refeitórios em condições de higiene, assistência médica e alojamentos adequados. O contraste entre o montante gasto com as arenas, incluindo parte de empréstimos públicos, e as condições de trabalho, salário e direitos dos trabalhadores é de afrontar qualquer sentimento patriótico ou de paixão pelo futebol.

A pressão para atender à demanda no transporte aéreo levou o governo, usando o argumento da incapacidade e da falta de agilidade do investimento público, a apresentar proposta de abertura para o capital privado no setor. A ideia é rechaçada pelos trabalhadores aeroportuários, que denunciam a medida como retomada do processo de privatização. Por isso, mantêm mobilização permanente, inclusive com paralisações. O temor é que, além das demissões previstas com a aplicação do novo regime, deteriorem-se as condições de trabalho e aumente o número de acidentes.

Trabalho escravo e infantil
A indústria têxtil vinculada à confecção de material esportivo, e geralmente impactada pela realização dos grandes eventos, também apresenta problemas. Os recentes casos de utilização de mão de obra escrava em confecções de São Paulo elevam o alerta sobre o tipo de incidência negativa que o incremento dessa produção pode ter nas condições de um grande número de trabalhadores brasileiros e imigrantes. No entanto, não há por parte da Fifa e de seus parceiros dessa área nenhum compromisso para manter transparência sobre as origens de seus fornecedores e as condições de trabalho nesse tipo de produção, apesar do histórico de envolvimento desses mesmos atores em casos de confecções de bolas e materiais esportivos provenientes de trabalho escravo e infantil, principalmente na Ásia. 

Neste ano, sindicatos da Indonésia conseguiram – após divulgação de uma longa investigação sobre as condições de trabalho nas fábricas têxteis do país – forçar acordo histórico com grandes marcas, como Adidas, Nike e Puma, para garantir as condições de liberdade de organização sindical até então desrespeitada, acarretando frequente perseguição aos trabalhadores que buscavam reivindicar seus direitos. Não é por acaso que muitas empresas do setor noBrasil mantêm chantagem incessante para a redução de impostos, ameaçando a transferência de fábricas para a Índia e outros países asiáticos. Enquanto isso, trabalhadores e sindicatos de vestuários e calçados travam uma briga para, ao mesmo tempo, manter a produção no país e garantir condições decentes de trabalho nas confecções brasileiras.

Ucrânia e Polônia, que sediarão a Eurocopa 2012, também estão tendo problemas com os preparativos. Cinco trabalhadores já morreram nas obras dos estádios que estão sendo erguidos para os jogos. Muitas vezes, os empregados são obrigados a assinar contratos que os responsabilizam por suas próprias condições de segurança, e a perseguição àqueles que buscam se organizar é constante, não sendo respeitado o direito à greve e a outras manifestações.

É sintomático que, das nove câmaras temáticas criadas pelo governo federal para acompanhar o desenvolvimento da Copa do Mundo nos estados (entre elas Segurança, Sustentabilidade, Turismo e Saúde), nenhuma inclua centralmente o tema do trabalho, ainda que ele se faça presente em todo o esforço empreendido para garantir a realização do evento e essa seja uma reivindicação do movimento sindical brasileiro. Não há, ainda, nenhuma mesa permanente de diálogo entre sindicatos, governos e o comitê organizador da Copa e das Olimpíadas.

Em encontro recente com a presidente Dilma Rousseff, a secretária-geral da Confederação Sindical Internacional, Sharaw Barrow, em conjunto com a Central Sindical das Américas (CSA) e centrais sindicais brasileiras − CUT, Força Sindical e UGT −, entregou ao governo brasileiro um documento chamando a atenção para os seguintes temas: 1) garantia de diálogo social entre trabalhadores, governo e organizadores (Fifa e Comitê Olímpico Internacional) para discutir a preparação e os impactos dos eventos esportivos; 2) que os recursos provenientes de bancos públicos, como o BNDES, tenham cláusulas que vinculem a liberação de dinheiro em respeito aos direitos trabalhistas; e 3) respeito às leis trabalhistas em todos os ramos de produção e serviços envolvidos na realização dos eventos.


Direitos e deveres

Enquanto o governo brasileiro se compromete, como prevê a Lei Geral da Copa, em resguardar os interesses comerciais da Fifa e de seus parceiros, não há previsão de nenhuma obrigação da entidade máxima do futebol e de seus sócios com cláusulas sociais ou códigos de conduta que delimitem a atuação da entidade no país. Na prática, é um contrato em que um lado carrega apenas deveres, e o outro, apenas direitos. Isso porque o mercado dos jogos esportivos, apesar do cenário de instabilidade no centro do mundo, mantém a força econômica e consequentemente o poder de atração e pressão dos cartolas internacionais sobre os governos, atuando como verdadeiros cães de guarda das transnacionais.

Particularmente, a Copa se direcionou no último período para áreas do globo mais afastadas do epicentro da crise mundial: Brasil 2014, Rússia 2018, Catar 2022. Apesar de distante, o evento já começa também a alterar leis por lá e a agitar os setores que lucrarão com os eventos nesses países. A Lei Geral da Copa já foi praticamente selada na Rússia, atendendo quase que na íntegra as exigências da Fifa. O Catar é um país onde mal existe organização sindical e boa parte da mão de obra concentrada na construção civil é composta de imigrantes indianos e paquistaneses.

Além dos já conhecidos parceiros da Fifa − como Adidas, McDonald’s, Nike, Budweiser, Sony, Oi, Editora Abril, entre outros –, por onde passa, a entidade presidida por Joseph Blatter carrega um conjunto de empresas que, apesar de não serem conhecidas pelo grande público, não deixam de ganhar menos por isso. Um bom exemplo são as companhias de engenharia alemãs. Especializadas nas construções de estádios, algumas particularmente em suas estruturas e coberturas complexas, elas têm acompanhado fielmente as últimas copas do mundo por onde aportam. Apenas a Schlaich Bergermann und Partners, de Stuttgart, entre projetos de estrutura e cobertura, é responsável por cinco estádios brasileiros escalados para o Mundial de 2014. Depois de passar por estádios da Copa alemã, da África do Sul e da Eurocopa de 2012, a empresa especialista em estruturas tensionadas também deixará sua marca e levará uma parte dos investimentos em estádios do país.

O desafio dos movimentos sociais brasileiros será construir uma atuação comum e um conjunto de exigências aos organizadores e governos que não permitam transformar a Copa do Mundo e as Olímpiadas apenas em arenas de negócios para empresas estrangeiras e nacionais potencializarem seus lucros. A Lei Geral da Copa ainda passará por processos de audiências públicas, e a pressão para limitar os excessos a favor da Fifa deve ser intensificada. Ainda há tempo de somar as diversas mobilizações e reivindicações que giram em torno dos eventos. A exigência por respeito às condições dignas de trabalho e à soberania do país pode somar trabalhadores da construção civil, aeroportuários, comerciários, trabalhadores do turismo e vendedores ambulantes − estes últimos ameaçados pelas zonas de exclusão para comércio destinado exclusivamente aos “parceiros” oficiais da Fifa. 

A conferência nacional de trabalho decente que acontecerá no próximo ano também será um espaço para avançar nessa pauta. Além desses grupos, há movimentos populares que vêm denunciando as remoções abusivas de moradores para as obras, sem diálogo e sem indenização justa; os idosos, estudantes e professores que exigem mais que meia-entrada, mas também respeito às leis brasileiras; assim como os movimentos de mulheres que já estão chamando a atenção para evitarmos o famigerado turismo sexual no período dos jogos.

Todas essas pautas ainda podem se articular com o objetivo de exigir um código de conduta para a Fifa e seus parceiros e cobrar do governo brasileiro o diálogo e a defesa dos interesses nacionais. A unificação dessas lutas é que irá garantir a realização de uma Copa que beneficie realmente o país e que deixe um legado social à altura dos investimentos que estão sendo feitos, respeitando os trabalhadores e o povo que tanto ama o futebol. Ainda estamos no meio do jogo. E queremos que ele seja limpo.

Ramon Szermeta
Coordenador da Campanha Play-Fair Brasil - "Para que os trabalhadores saiam ganhando".


Ilustração: Renato Alarcão



03 junho 2012



A valorização de uma pátria está intimamente ligada à ideia de exaltação das riquezas que esta possui. Esses bens podem variar muito de um país a outro, mas sempre são elementos simbólicos que caracterizam uma dada cultura. Por exemplo, na Espanha temos as touradas, Nos Estados Unidos o Beisebol, Na Argentina o tango, no Egito as Pirâmides, dentre tantas outras estruturas iconoclásticas espalhadas pelo mundo, que servem de instrumento para identificar uma determinada nação. Não diferente desses países, aqui no Brasil também temos os nossos ícones culturais que são impostos a cada cidadão como forma de nacionalizar a identidade destes. O problema é que quando há uma possível rejeição ao modelo vigente logo surgem os questionamentos sobre o que é realmente ser brasileiro, numa terra que tem como sobrenome a palavra pluralidade.

Cores, paladares, ritmos, ritos, tribos, diante de tanta diversidade o nosso país foi construído e hoje esse mar de culturas forma o Brasil que conhecemos. Mesmo assim, desde crianças “aprendemos” a gostar de certos símbolos nacionais, pois isso faz com que estejamos incluídos no que a sociedade espera de nós. O samba, nesse sentido, pode exemplificar um pouco toda essa discussão. Considerado como o ritmo nacional, a beleza musical dele é inegável e tem servido de referência para projetar a cultura musical do país para o resto do mundo. No entanto, visto de outro ângulo, a exaltação sulista desse gênero musical fez com que outros estilos não recebessem o mesmo reconhecimento da nação. Na verdade, gira em torno do samba uma áurea elitista que se estende a outros gêneros musicais, a qual tenta enquadrar o gosto do brasileiro naquilo que é considerado como “boa música”, ignorando outros estilos espalhados pelo país.

Gostar de futebol também está na lista dos pré-requisitos para ser brasileiro. Isto porque somos o único país pentacampeão mundial nesse esporte e por causa desse título devemos sempre estar unidos para torcer pelo time que irá nos representar. Isso não é uma tarefa simples, já que não é fácil nascer numa terra onde desde pequenos somos impelidos a torcer por jogadores semialfabetizados – ou quiçá pseudoalfabetizados – os quais recebem salários colossais, enquanto o resto da nação – os torcedores – se contenta com as migalhas ofertadas pelo governo. Na realidade, o futebol se configura como símbolo do patriotismo as avessas. Enquanto a copa do mundo de 2014 se aproxima, como maior evento esportivo do mundo, o qual receberá gigantescas quantias de dinheiro para estruturar, ou porque não maquiar o Brasil para copa, muitos dos nossos problemas básicos continuarão pulsantes, mesmo quando esse campeonato terminar. Porém, o povo prefere dar às mãos numa hipnose coletiva, da qual negros e brancos, pobres e ricos, homens e mulheres, religiosos e ateus, gays e héteros, são todos iguais, pelo menos até o final desse evento quando tudo voltar a ser como antes.

Ter uma religião é outro fator importantíssimo para a caracterização da nossa identidade como brasileiro. Num país onde a fé é multifacetada, devido, sobretudo a inserção de inúmeras culturas que aqui vieram, é inadmissível saber que um indivíduo não faça parte de algum segmento religioso, principalmente aqueles ligados ao dogmatismo Cristão, o qual nos foi herdado ironicamente pelos nossos colonizadores lusitanos. Isto é, ser ateu, ou seguir outras doutrinas que não estejam em total afinidade com o Catolicismo, pode ser um ato de heresia, sob pena de ser rechaçado preconceituosamente pela sociedade. Preconceito que não se limita apenas a religião. Num país onde a visão machista ainda é operante, não é de se surpreender que a mulher seja também um dos símbolos do nosso país. Cultuada de várias formas, algumas pejorativas, a mulher, no sentido hétero da palavra, é usada muitas vezes para justificar o preconceito contra os grupos que têm uma predisposição sexual diferenciada dos padrões. Ou seja, ser gay numa nação predominantemente feminina é quase como ser um estrangeiro vivendo de forma ilegal dentro de um país.

Esses são os principais símbolos da nossa cultura hipnótica, ou pelo menos alguns deles, mas não são os únicos. Desde pequenos somos obrigados inconscientemente a gostar de coca cola, de novela. Aprendemos também que a beleza não é interior, mas sim um rótulo de corpos malhados e rostos fotoshopados pelos programas de televisão. Entre tantos outros símbolos alienatórios que nos induzem a cultuar um modelo “perfeito” de existência e nem ao menos conseguimos nos dar conta dos perigos que isso acarreta para a nossas vidas. De fato, tudo isso faz de cada um de nós um pouco brasileiro, mas não é, e nem deveria ser os critérios principais para ser cidadão desse país. O que nos faz ser brasileiro é a nossa riqueza natural, desde a verdejante Amazônia até aridez do nosso nordeste. É a união de forças em prol da diminuição da desigualdade social a qual se configura como a uma das principais vilãs das nossas mazelas sociais. É cobrar dos representantes políticos escolhidos por nós um real comprometimento em solucionar os problemas vividos por nós, sobretudo aqueles ligados à educação.

Logo, ser brasileiro vai muito além do que torcer por um time, ser sambista, ter uma religião ou gostar de mulher. É, antes de tudo, um exercício de cidadania do qual cada um enxerga a nossa realidade e tentar de alguma forma mudá-la qualitativamente em benéfico do povo. Ser brasileiro é, ainda, exaltar o que realmente temos de melhor e não coisas supérfluas que não trazem benefício algum para a coletividade social, mas sim pequenos paliativos que com o tempo serão esquecidos. É também valorizar os grandes brasileiros, os anônimos e os notáveis, que fazem algo honrado por esse país. Mas, para isso, temos que começar a deixar o palco das marionetes, onde os grandes dominam os pequenos, e passarmos a ser agentes transformadores de nossas vidas. Só assim essas discrepâncias deixarão de existir e o que, ou quem, realmente vale a pena será valorizado.


Descriminalizar a maconha, segundo o bom senso, o direito, a medicina, a psiquiatria, as neurociências, a psicologia comportamental e a realidade da prática policial, é uma ação extremamente danosa à saúde e à segurança pública.

Deixar de reprimir o usuário ou viciado em maconha é muita ingenuidade ou é uma atitude pré-meditada e organizada por certos indivíduos e grupos que querem leis mais brandas para seus parentes e amigos que são usuários ou é um objetivo de certas pessoas físicas e jurídicas que desejam aumentar seus lucros com este segmento de mercado, através da legalização da indústria e comércio deste produto e seus derivados ou são todas estas alternativas somadas e outras mais não-citadas.

Infelizmente, muitos defendem a descriminalização das drogas, no todo ou em parte, como uma forma entre outras de se diferenciar e separar os usuários de drogas e os traficantes, minimizando a responsabilidade e a culpa dos usuários em relação ao crime de financiar, direta e indiretamente, o tráfico de drogas e a criminalidade, em geral.

Creio que a ignorância, a parcialidade, a passionalidade, o subjetivismo e o desconhecimento de uma visão mais realista, ampla e profunda destas questões que são inter e transdiciplinares, ou seja, uma questão que envolve todos os tipos de conhecimento e tecnologias possíveis, levaram muitos a serem a favor da descriminalização das drogas.

Discordo desta posição por não levar em conta de forma mais aprofundada questões biológicas, no geral, e médicas, no particular, como as neurológicas, psicológicas e psiquiátricas relacionadas ao uso, eventual ou constante, da maconha, aumentando o número de dependentes químicos e de outros diversos tipos de doentes mentais, tais como todas as variantes da Esquizofrenia, da Depressão, dos Transtornos de Ansiedade, do Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), da Síndrome do Pânico, entre outras psicopatologias, além de outras patologias relacionadas a outras especialidades médicas, tais como, os cânceres na boca, laringe, faringe, estômago, pulmão, etc.

Todos os aspectos trans e interdisciplinares devem ser considerados, em qualquer análise mais aprofundada e ao mesmo tempo mais ampla. Discutir o problema das drogas, sem levar em consideração aspectos médicos, principalmente, psicológicos e psiquiátricos é de uma indicação extrema de inteligência limitada.

Todos os defensores da discriminalização e/ou legalização das drogas, no geral, e da maconha, no particular deveriam estudar muito mais sobre psicologia, psiquiatria, neurociências, bioquímica do sistema nervoso humano, neurofarmacologia, psicofarmacologia e outras ciências relacionadas.

Muitos enunciados e muitas pessoas parecem considerar somente certas Filosofias e teses favoráveis a legalização das drogas presentes em partes da Sociologia, Antropologia, Direito e outras ciências humanas e sociais como os únicos fundamentos de muitas crenças defensoras das drogas. Considero estas ciências necessárias, mas insuficientes para o entendimento e a resolução desta complexa questão. As ciências biológicas e outras relacionadas, direta e indiretamente, jamais podem ser desvalorizadas e descartadas de qualquer estudo mais sério sobre os malefícios das drogas tóxicas e ilícitas para a sociedade, à segurança e à saúde pública, como um todo.

Conheço e convivo de perto com pessoas portadoras de doenças mentais que foram causadas, em parte, pelo consumo de maconha, álcool, cigarro e outras drogas lícitas e ilícitas. Conheço muitos hospitais e clínicas psiquiátricas e tenho parentes que trabalham na área da saúde.

Além disto, hoje (08/02/2011) no rádio e no Blog do Jornalista especializado em Saúde da Rádio CBN do Sistema Globo de Comunicação, o senhor Luís Fernando Correia, foi postado uma reportagem sobre uma revisão de 83 pesquisas científicas de muitos cientistas dos Estados Unidos e Austrália estabelecendo uma relação do surgimento de psicoses com o uso das drogas lícitas e não-lícitas, como o álcool, a maconha, cocaína, crack, etc. O trabalho está publicado na edição online da revista Archives of General Psychiatry.

Visto no: JD



Impossivel Acreditar Que Perdi Você

Márcio Greyck


Não, eu não consigo
Acreditar
No que aconteceu
É um sonho meu
Nada se acabou...



Não, é impossível
Eu não consigo
Viver sem você
Volte e venha ver
Tudo em mim mudou...



Eu já não consigo
Mais viver dentro de mim
E, e viver assim
É quase morrer
Venha me dizer sorrindo
Que você brincou
E que ainda é meu
Só meu, o seu amor...



Hoje mais um dia
De tristeza
Para mim passou
Nem o meu olhar
Nada se alegrou...



Sinto-me perdido
No vazio
Que você deixou
Nada quero ser
Já nem seu quem sou...



Eu já não consigo
Mais viver dentro de mim
E, e viver assim
É quase morrer
Venha me dizer sorrindo
Que você brincou
E que ainda é meu
Só meu, o seu amor...(2x)




Homem que é Homem não usa camiseta sem manga, a não ser para jogar basquete. Homem que é Homem não gosta de canapés, de cebolinhas em conserva ou de qualquer outra coisa que leve menos de 30 segundos para mastigar e engolir. Homem que é Homem não come suflê. Homem que é Homem — de agora em diante chamado HQEH — não deixa sua mulher mostrar a bunda para ninguém, nem em baile de carnaval. HQEH não mostra a sua bunda para ninguém. Só no vestiário, para outros homens, e assim mesmo, se olhar por mais de 30 segundos, dá briga.

HQEH só vai ao cinema ver filme do Franco Zeffirelli quando a mulher insiste muito, e passa todo o tempo tentando ver as horas no escuro. HQEH não gosta de musical, filme com a Jill Clayburgh ou do Ingmar Bergman. Prefere filmes com o Lee Marvin e Charles Bronson. Diz que ator mesmo era o Spencer Tracy, e que dos novos, tirando o Clint Eastwood, é tudo veado.

HQEH não vai mais a teatro porque também não gosta que mostrem a bunda à sua mulher. Se você quer um HQEH no momento mais baixo de sua vida, precisa vê-lo no balé. Na saída ele diz que até o porteiro é veado e que se enxergar mais alguém de malha justa, mata.

E o HQEH tem razão. Confesse, você está com ele. Você não quer que pensem que você é um primitivo, um retrógrado e um machista, mas lá no fundo você torce pelo HQEH. Claro, não concorda com tudo o que ele diz. Quando ele conta tudo o que vai fazer com a Feiticeira no dia em que a pegar, você sacode a cabeça e reflete sobre o componente de misoginia patológica inerente à jactância sexual do homem latino. Depois começa a pensar no que faria com a Feiticeira se a pegasse.

Existe um HQEH dentro de cada brasileiro, sepultado sob camadas de civilização, de falsa sofisticação, de propaganda feminina e de acomodação. Sim, de acomodação. Quantas vezes, atirado na frente de um aparelho de TV vendo a novela das 8 — uma história invariavelmente de humilhação, renúncia e superação femininas — você não se perguntou o que estava fazendo que não dava um salto, vencia a resistência da família a pontapés e procurava uma reprise do Manix em outro canal? HQEH só vê futebol na TV. Bebendo cerveja. E nada de cebolinhas em conserva! HQEH arrota e não pede desculpas.