A perda de Michael Jackson para a música pop mundial foi um choque. De família humilde, negro, ele alcançou o sucesso ainda garoto e aos poucos começou a trilhar seu caminho para o estrelato solo. Dono de inúmeras polêmicas, com destaque a mudança da tonalidade da pele e a sua duvidosa relação com menores de idade, ele se consagrou como o maior nome da música, com um estilo único e inconfundível de dançar e cantar. Caminho similar teve também a maior diva da musica internacional Whitney Houston que nos deixou recentemente. Negra e de família humilde, ela conseguiu, com sua voz forte e perfeitamente afinada, um espaço eterno entre os maiores nomes do cenário musical do mundo. Sua forma única e comovente de cantar embalaram grandes sucessos como o do hit do filme “O Guarda Costas”, seu maior sucesso. Estes monstros dos palcos partem e deixam na terra, além de um indubitável caminho de sucesso, tristeza, dúvidas e um mar de questionamentos sobre o tipo de artista que a sociedade está criando e que paulatinamente vem destruindo.
Michael Jackson, Amy Winehouse e a mais recente Whitney Houston, dentre tantas outras celebridades que tiveram em comum o talento, uma carreira de sucesso, fama, dinheiro e, ao mesmo tempo, uma vida dilacerada por bebidas, drogas pesadas e polêmicas familiares. Precocemente eles deixam fãs ao redor do mundo estarrecidos e se perguntando como pessoas que conseguiram tudo na vida, pelo menos tudo aquilo que a nossa sociedade capitalista e voltada a superficialidade preza, morrem tão cedo e de causas até então “desconhecidas”. A resposta pode parecer complexa, porém numa análise mais racional, uma única expressão pode solucionar o “x” da questão que envolve essa dicotomia: equilíbrio. Na nossa sociedade de consumo, pautada unicamente no ter, no possuir e principalmente no ostentar, não há mais espaço para equilibrar sucesso profissional com o emocional e, sobretudo mental. Não temos tempo para cuidar das feridas da mente, esta repleta de inquietações que lotam os consultórios terapêuticos, já fadados de teorias e conceitos, alguns até ultrapassados.
De um lado, para alguns, a vida efêmera desses artistas pode ser justificada pela intensidade na qual ela é vivida. Ícones de uma geração, eles carregaram nas costas a responsabilidade de fazer parte da vida de milhões de pessoas em todo o mundo. Formando legiões de fãs por onde passam, suas músicas são cantadas e eternizadas, seus comportamentos são copiados e difundidos por culturas diversas, ou seja, tudo o que fazem é absolvido e multiplicado, visto que eles não são mais meros mortais, mas sim estrelas, entidades tomadas como exemplo de perfeição. Entretanto, por outro lado, o que se vê são artistas mergulhados nas drogas, entrando e saindo de clinicas de reabilitação. Carreiras de sucesso destruídas por famílias que não se entendem, ora pela falta de diálogo, ora pela nociva relação que o dinheiro, ou excesso dele, resulta. Ou seja, por mais que se tente, poucas são as explicações capazes de definir o porquê de trajetórias brilhantes acabarem tão cedo e sem uma causa aparente.
Na verdade, uma das causas dessa autoaniquilação é o modelo de vida do qual a nossa sociedade nos impele seguir. Para pessoas não famosas, já é determinado certos padrões a serem seguidos, como a conquista de um bom emprego, a compra de uma casa, de um carro e o investimento do dinheiro em bens que possam render ainda mais lucros futuros. Tudo isso não estaria errado se aliado a essa cobiça estivesse também à busca pelo equilíbrio interno, pelo respeito ao ser humano e a autoaceitação das próprias falhas no intuito de corrigi-las. Se entre nós, meros mortais, isso não acontece, imagine então com as celebridades. Elas são obrigadas a viverem escondidas, numa vida blindada que acaba trancafiando-as, além dos bens, sua personalidade, aprisionando assim tormentos como ansiedade, angustia, frustração, sentimentos ruins que quando eclodem são tão destrutivos como a erupção de um vulcão fossilizado. O resultado são suicídios, overdoses e mortes inexplicáveis no auge da carreira destes.
Preponderante a essa análise, mas não menos importante, está à ociosidade. Muitos artistas se preocupam tanto em acumular riquezas que se esquecem de fazer algo em prol das outras pessoas. Poucos são aqueles que investem o seu dinheiro em causas humanitárias, as quais além de acalantar a alma e melhorar a vida de indivíduos mais necessitados, ajudariam muitos deles a sanar suas próprias carências. Contudo, o que ocorre é o isolamento. Muito dinheiro no caixa, mas pouca utilidade para ele, o que resulta em desorientação, falta de foco e ampliação dos tormentos já mencionados há pouco. Logo, investir passaria pelo crivo de deixar um legado, este muito além do artístico, mas um legado humanístico, o qual se não resolvesse, pelo menos traria um pouco mais de paz aos corações e mentes desolados de muitos famosos que vivem paradoxalmente: à luz dos grandes palcos e na escuridão dos seus sofrimentos.
Esse é o preço a ser pago por tanto sucesso: viver entre a luz e a escuridão. Muitos artistas internacionais como Elvis Presley, Marilyn Monroe, outros nacionais como Cazuza, Elis Regina, Raul Seixas e Renato Russo, conheceram os dois lados da fama, mas acabaram sucumbindo ao que era mais perigoso, que na maioria das vezes é intenso, porém passageiro. Talentos inquestionáveis se perdem, seja por uma vida de inconformidades, seja por que conquistaram tudo o que queriam: fãs, dinheiro e estrelato, despertando as mais singelas emoções no público. Em contrapartida, esqueceram-se de dominar os próprios sentimentos e entraram no mundo insólito da solidão, numa luta egoísta contra si mesmo. Estes artistas devem ser lembrados, não apenas pelo seu indiscutível talento e legado, mas como modelos de resistência e, principalmente de referência, para que futuros artistas possam se espelhar, não nas suas fragilidades, mas na força da qual eles emanaram para serem felizes e semear a felicidades, através das artes, nos corações dos seus fãs.