09 janeiro 2012

Pelo fim da homofobia, pelo fim da violência


Passear pela calçada de uma rua, em plena luz do dia, pode ser muito perigoso, pois a qualquer momento alguém é capaz de deferir um ataque surpresa, mesmo sem razões aparentes. Demonstrar afeto entre pai e filho também é muito arriscado, uma vez que a orelha de um deles pode ser cortada. Andar de mãos dadas pelas ruas não é um ato tão singelo como parece, porque, dependendo da reação das pessoas, o casal que ousar cometer esta “infração” pode ser severamente penalizado. Essas eufêmicas representações do nosso cotidiano dizem respeito aos ataques sofridos pelos gays durante a ascensão da homofobia no cenário brasileiro. De dia, de noite ou de madrugada, vários homossexuais sofreram, e ainda sofrem, com a fúria do preconceito de uma sociedade que ainda finge aceitar a homossexualidade. Fingimento porque há uma visão pormenorizada desse grupo que vai desde o caricato das novelas, com arquétipos afeminados e com pouco ou nenhuma carga ideológica. Passando até ao perfil transgressor das travestis e transexuais, repudiados, sobretudo pelas camadas mais conservadoras.

Xingamentos, tapas, socos, facadas, tiros, mortes, estas foram às palavras bordadas a sangue no manto da intolerância, vestido forçosamente pelos gays do Brasil durante o ano de 2011. Em tal período, a comunidade LGBTT presenciou seus iguais serem brutalmente feridos em várias partes desse país, mesmo sem saberem ao certo a razão para tamanha selvageria. De braços amarrados pela falta de políticas combativas, no que se refere principalmente a este cenário de horror, os homossexuais até tentaram impelir uma possível posição em defesa das suas causas, com a aplicação do aclamado, mas infame PLC 122, projeto do qual criminalizaria a homofobia por aqui. No entanto, depois de várias idas e vindas, tal projeto vagueia entre os políticos brasileiros, sofrendo inúmeras mudanças depreciativas para os gays, e favorecendo, por outro lado, grupos hipócritas e de ideologias duvidosas que preferem segregar a ter que ampliar os direitos de todos os cidadãos, independente da orientação sexual destes.


Parte integrante do comportamento de todas as sociedades, a homossexualidade amarga a rejeição de um povo que tem como padrão a heterossexualidade revestida de heteronormatividade, ou seja, de regra a ser cumprida à risca, sob pena de sofrer na pele, literalmente falando, o dissabor de tal transgressão. Essa educação sexista é a principal culpada pela propagação da violência contra os gays aqui no Brasil. Isto porque, o modelo educacional da nação, neste sentido, é falho, no que tange a um método que vá além das questões meramente fisiológicas, já que desde cedo se aprende que há meninos e meninas, cada um com modelos estáticos a serem seguidos, da infância até o fim da vida. Essa visão limitada acaba deixando de lado toda a pluralidade da sexualidade humana, a qual não está estagnada às genitálias. Este erro faz com que o diferente não seja visto com naturalidade, o que ocasiona a rejeição, da qual lentamente forma uma feroz avalanche de preconceitos. Dito de outra maneira, estamos produzindo, nas escolas e dentro de casa, futuras maquinas de matar.


Outro culpado disso tudo é um personagem que costuma levar a fama de bom samaritano, por ser responsável pela divulgação massiça da homossexualidade em rede nacional, a mídia televisiva. Sejam em programas de auditório, com quadros específicos sobre a causa LGBTT, sejam nos alegres programas de humor, com seus personagens muitas vezes caricaturados, os gays se fizeram presentes na TV durante o último ano. Sem contar as inúmeras interpretações de homossexuais nas telenovelas, o que deveria ser o inicio de um progresso para esse grupo tão hostilizado socialmente. Entretanto, lamentavelmente as abordagens dadas à homossexualidade pecam por não trazerem a tona subsídios concretos em defesa da causa deles. Contraditoriamente, num país onde o dinheiro público é desviado escancaradamente e a educação pública fingi ser de qualidade, o vergonhoso mesmo é mostrar um casal gay se beijando. O que deveria ser uma pouca vergonha é a falta de caráter de alguns políticos e não uma singela demonstração de afeto. Por causa destas distorções a violência continua a avançar contra o segmento gay do país.


Na verdade, muitos tentam justificar a violência contra os homossexuais, partindo daquele fadado conceito do qual diz que a prática sexual entre iguais contraria as leis naturais do homem, indo de encontro às leis divinas. Esse argumento é muito proferido pelas camadas mais conservadoras, sobretudo as evangélicas, uma vez que elas acreditam que a homossexualidade seja uma abominação e que deve ser contida para que a naturalidade da vida não sofra uma possível interrupção. De forma velada, os adoradores de Cristo acabam contribuindo para a disseminação da homofobia. Em seus discursos palavras como pecado, inferno e anormal soam, para a nossa sociedade iletrada e cognitivamente desfavorecida, como verdadeiras armas de matar. Ou seja, ao invés de espalhar a união entre as pessoas, baseado no amor de Deus, eles, os evangélicos, estão paulatinamente, espero que inconscientes, germinando a violência contra os homossexuais. Tudo porque os gays, para eles, infringem o sagrado, o divino.

Divinal mesmo é o amor em sua total plenitude. Também é o respeito pelo próximo, a tolerância entre aqueles que por alguma razão são diferenciados. Divinal é o sentimento de companheirismo entre os seres humanos, independente se são iguais ou diferentes. É ser aberto a compreender que na vida não se escolhe ser gay ou hétero, magro ou gordo, branco ou negro, homem ou mulher, apenas se é o que é, numa continua construção de caráter e identidade. Ser divinal, neste contexto, não quer dizer ser imoral, porque se amar e querer bem são sinônimos de imoralidade, então esta palavra está sendo erroneamente utilizada. O que é realmente imoral é a violência velada, é o preconceito infundado que fomenta as discriminações mais insólitas. É a nossa falta de compaixão em entender os problemas dos excluídos no intuído de melhorá-los. Isso sim é vergonhoso, pois fere a principal condição humana, o amor. Portanto, para este ano, considerado por muitos como cabalístico e divisor de uma nova era, vamos exterminar qualquer manifestação de violência, sobretudo aquelas ligadas à sexualidade. Todo mundo tem o direito de ser feliz da maneira que lhe foi predestinado e ninguém tem o direito de intervir nisso. O amor, a igualdade e o respeito devem prevalecer daqui para frente.

10 comentários:

  1. Como sempre um belo texto, e como em outros tantos textos sobre esse assunto o conservadorismo e a religião são os grandes culpados pelas intolerâncias contra os homoafetivos.
    Abraços :)

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  2. Postagem altamente esclarecedora para os que não conhecem o assunto. Infelizmente essa é a nossa realidade. Um país atrasado como esse deve esperar mais uns 200 anos para que se respeitem os gays.

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  3. Adorei o post.São palavras esclarecedoras e que deveriam permear as mentes dessas pessoas cruéis e tão egoístas em não aceitar a diversidade de pessoas. Parabéns.
    Grata pela visita, volte sempre. Adoro conhecer os blogueiros pernambucanos.
    UMa incrível semana, bjossss
    Sheyla.

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  4. Diogo,seu texto está excelente,completo,disse tudo!Uma covardia o que estão fazendo com os homossexuais.Já tive amigos que foram atacados e fico revoltada com tamanha crueldade!De fato, não dá pra entender o ser humano!Bjs e meu carinho,

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  5. É sua amizade que desejo lembrar para sempre e estará sempre em meu coração,
    mantendo-nos aquecidos, fortalecidos e segura de que nunca estarei sozinha.
    E é assim que eu guardo você
    Minha linda Amizade.
    E é assim que eu quero guardar...
    Como alguém que estará longe, mas sempre lembrará de mim.
    Obrigada pelo carinho nesse um ano de Viagem comigo.
    Obrigada por estar do meu lado sempre sem notar meus defeitos
    me aceitando como sou.
    Sei que deixo muito a desejar em responder a sua visita
    mais tenho cada amigo e amiga no coração.
    Me perdoe por levar uma unica mensagem para visita
    infelizmente minhas mãos não ajuda .
    Porem me sinto feliz e recompensada por quase todos entender minha situação embora infelizmente
    existe aqueles que não entende e me critica através de email sem a menor noção da minha situação.
    Já fiz varias postagens o porque ..Ao receber esse comentário
    se não souber por favor me informe no meu blog ,pois
    recebi 3 email maldosos de hontem para hoje.
    Me sinto triste e humilhada quando isso acontece isso ainda dara motivo para mim
    tirar do ar todos os meus blogs.
    Desculpa o longo comentário mais foi necesario....
    Na postagem tem uma presente desse dia que deveria ser tão feliz para mim
    ficarei feliz em encontra-lo no seu blog.
    Obrigada ,Deus esteja com todos nos nessa jornada
    que Deus me permita estar contigo por mais algum tempo ainda.
    Beijos e carinhos.
    Evanir
    Querido seu texto é chocante realmente é triste ver a covardia de a falta de amor .
    O caráter de um ser humano não se mede por sua sexualidade.Eu me envergonho de gente sem caráter e enrustido que não assume o que na verdade pratica.
    E lindo viver mais viver bem e feliz ao lado do ser amada.

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  6. Diogo, adorei o seu texto.
    Ele traduz o que muito de nós pensamos, mas, muitas vezes, ficamos fartos de falar, de escrever, enfim, de não entendermos esse caminho tortuoso pelo qual a homossexualidade caminha nesse país, quiçá no mundo.
    Quanto a sua pergunta no IdG, se se refere ao blog banco de dados, qualquer blogueiro poderia se cadastrar (se disponibilizando). Quando um de nós precisássemos de férias, ou parar por outro motivo, enviaríamos uma postagem solicitando interessados.

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  7. Fiquei chocado, a maldade nesse mundo esta se superando!


    :::FER:::

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  8. Imagens fortes, mas necessárias.
    Texto profundo, dolorido e verdadeiro.
    Ah meu amigo, quiçá esse respeito, esse amor tão necessário brotasse nos corações, e a vida fosse vivida em plenitude de bons sentimentos...

    Aplaudo-te sempre meu querido Diogo!!!

    Carinhos...
    Beijos

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  9. Iiiiiiiiiiiiiiiiii nem te conto, já apanhei na rua , na chuva e na casinah de sapê. Lembro uma vez que estavamos vindo da boate andando eu minha irmã e uma amiga nossa grávida, parou um carro nos cercou e entrou todo mundo na tunda , minha irmã foi trabalhar no outro dia com o olho roxo, eu desmaiei com tantos chutes na barriga ainda bem que não teve nada grave por dentro e a gravida coitada DEUS olhou por ela , depois de muitos gritos: ela ta gravida , ela ta gravida é que os "extraterrestres" nos deixaram..

    bjnhos fervendo do Sol

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