23 junho 2011

A Luta Sangrenta do Preconceito


Segregar indivíduos da sociedade por razões desconhecidas ou pouco fundamentadas sempre foram os principais ingredientes da discriminação. Durante anos os negros foram excluídos por causa da cor de sua pele, sendo obrigados a uma vida de servidão e tortura. As mulheres, nesse percurso, também eram limitadas a exercer funções específicas e por muito tempo sofreram com o rótulo de sexo frágil e incapazes de se igualarem aos homens em várias tarefas. Os índios, acusados pelos nossos colonizadores como selvagens e irracionais, foram forçados a se adequarem a um modelo de vida desconhecido o qual acabou destruindo para sempre a sua identidade cultural. Todos esses eventos tinham alguma coisa peculiar que tentava justificar o preconceito atribuído a essas minorias. No entanto, quando o assunto é homossexualidade, o que a sociedade usa como argumento para sustentar a sua visão aversiva são citações religiosas interpretadas de forma valorativa por aqueles que preferem excluir a ter que compreender a problemática vivida pelos gays.

É incontestável a visão de fé nutrida por muitas igrejas sobre a homossexualidade, pois elas acreditam que essa prática não está em conformidade com as leis divinas. Tal posicionamento é respeitável, porque não se devem confrontar as crenças religiosas das pessoas, mesmo que elas perpassem para a irracionalidade. Entretanto, quando o discurso religioso ultrapassa a linha dos dogmas e começa a interferir na aquisição dos direitos que cada indivíduo possui, ele acaba se tornando uma arma de alienação e, principalmente de propagação da violência. Quando a religião Católica, bem como as derivações que dela surgiram, usa a Bíblia, seu principal instrumento de adoração, como se este fosse um livro de regulamentos pronto e inabalável o reflexo é o desrespeito aos direitos humanos.

Isso é o que está acontecendo com o Brasil na atualidade. Mesmo com as inegáveis conquistas, a comunidade LGBTT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais), luta ainda para derrubar algumas barreiras aparentemente intransponíveis da sociedade. Uma delas, a principal, é a muralha construída pelos evangélicos que insistem em utilizar o discurso bíblico para violar a garantia dos direitos aos homossexuais. A união homoafetiva já foi aprovada, mas o casamento ainda encontra resistência, uma vez que muitos desses fundamentalistas dizem que esse mérito é restrito aos casais heterossexuais. A adoção de crianças também ainda não foi concedida, pois, baseado em conceitos extremistas muitos religiosos insistem em afirmar que um casal do mesmo sexo poderia interferir na formação psicológica das crianças. Entre tantos outros julgamentos feitos para barrar a dignidade dos gays, enquanto seres humanos dotados de direitos como quaisquer outros.

O projeto de lei PLC122/06 que criminaliza a homofobia no país ainda não saiu do papel porque estes evangélicos, que se acham donos da moral e dos bons costumes, fazem de tudo para impedir que os direitos a comunidade gay não sejam garantidos. Enquanto essa lei não é aprovada muitos homossexuais são constrangidos em locais públicos, humilhados, xingados e muitas vezes mortos por assumirem publicamente a sua sexualidade. Ora, nessa constatação é relevante questionar se vale mesmo à pena tirar a vida de alguém só pelo simples fato de ter uma prática sexual diferente das demais e, além disso, será que Deus aprova esse discurso violento nutrido por esses fundamentalistas que acabam alimentando as mentes de uma sociedade cercada pela violência?

O resultado de tal posicionamento resvala na incidência cada vez maior dos atos de violência contra os homossexuais. O país passa por um crescimento nesse sentido que vai desde os lares, chegando às escolas e por fim retornando para a sociedade. Mais e mais casos de agressões, bullying e, principalmente assassinatos aumentam no Brasil por que uma parcela da população prefere se prender a trechos da bíblia como justificativa para a intolerância e prática de violência. Se Deus é contra a homossexualidade ele é a favor de algo muito maior, o amor, sentimento este que anda ausente dos corações das pessoas.

É indiscutível que as palavras divinas impregnadas nas escrituras sagradas são de extrema importância para a formação religiosa, intelectual e humanística dos seres humanos. Porém, os evangélicos não podem e nem têm o direito de distorcer as palavras da bíblia para beneficiar o orgulho e as convicções particulares, furtando de uma parcela da sociedade o direito inalienável de ser feliz em plenitude. Ser gay ou hétero, branco ou preto, mulher ou homem não classifica o indivíduo como bom ou ruim, como pecador ou não. O que realmente importa são as virtudes que cada pessoa vai acumulando ao longo da vida e, sobretudo pelas boas obras que são feitas em vida. Se a homossexualidade é pecado não cabe ao homem terreno fazer os seus julgamentos e sim para Aquele que realmente tem o poder para isso.

4 comentários:

  1. muito legal seu texto :) realmente a homossexualidade causa muitas estranhezas em nossa sociedade, principalmente por não estar ligada aos preceitos divinos e ir contra as "leis da natureza", e infelizmente parte significativa da sociedade não consegue compreender o amor gay

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  2. Passarei com mais calma por aqui. O blog é bem interessante. Já estou divulgando e favoritando no meu. Abraço!

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  3. Perfeita a sua contextualização sobre o tema ... inteligente, crítica e pertinente ...

    bjão querido

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