23 junho 2010

Quadrilha Junina Tradição 2010 - Sinopse: Hoje é o Meu Dia de Sorte (PARTE 1)


By Anderson Gomes
Correção Textual: Diogo Didier

Fundamentação teórica

A fundamentação teoria que vocês irão conferir a seguir, assume aqui, apenas um caráter funcional de localizar geograficamente, politicamente, historicamente e cientificamente vocês leitores neste universo de significados e símbolos que, antecedem os desejos humanos, do qual, serão levantados no recorte para o tema mais à frente. A fundamentação não é o tema em si, mas a memória cognitiva que guia e dá razão para os desejos e ações que vocês irão conferir logo mais no recorte temático.
Boa leitura!

QUADRILHA JUNINA

Manifestação aristocrata originária das antigas danças populares das áreas rurais da Normandia e da Inglaterra. No Brasil a quadrilha chega com a corte Portuguesa e Francesa no período da colonização, vinda com os mestres franceses Milliet e Cavalier, traduz uma dança de salão da nobreza do século XVIII e XIX. Vestida de luxo e riqueza, essa mesma quadrilha se modernizou, agregando novos símbolos e conceitos para agora festeja São João Batista nos países católicos.

A data desta manifestação no Brasil possivelmente ocorreu em 1820, quando sua presença era notada em festas palacianas em várias comemorações. Os grupos da elite imperial procuravam acompanhar o gosto europeu em termos de moda, leitura, danças, e até comida, trouxeram também este costume para o continente que, se popularizou de tal forma até abandonar a pose burguesa sendo absorvida pelos clubes e salões populares. Na atualidade, esta séria brincadeira é compartilhada por jovens de todos os sexos e idades que, encontram na quadrilha um espaço de expressão por onde eles podem falar a sociedade àquilo que pensam do mundo e de si mesmos.
Conforme explica Roberto Benjamin,

a quadrilha, hoje associada ao casamento nem tão matuto assim vai se transformando em um folguedo de natureza complexa. O casamento é a representação onde os jovens debocham com muita liberdade e malícia da instituição do casamento, de problemas políticos, de ordem religiosa, do machismo, etc. Tal representação crítica acaba por reforçar os papéis sociais deste brinquedo e os valores da moral tradicional. (Benjamin.1995)

A quadrilha assume um papel inteiramente político nos anos 2000, pois hoje ela aborda temáticas que discutem a fome, o meio ambiente, a relação entre homem e sua religião, a orientação sexual, o mundo das drogas entre outros. Isso porque esses temas dialogam com a dança e com a festa do casamento derivada de uma cerimônia religiosa. A sociedade assume esse novo modelo de celebração quando, lotam os arraiais e as arquibancadas de clubes e ginásios á procura de assistir verdadeiros espetáculos juninos. Até neste ponto a quadrilha procurou se atualizar para não cair no senso comum da população.

O Antropologo e pesquisador Hugo Menezes diz que “O que chamamos de quadrilha tradicional é uma caricatura do homem rural e da vida no campo (...) em contraste com a vida da cidade.” A quadrilha matuta nunca existiu na realidade, ela é um produto da mídia para as massas, um modo de exibir o pobre para rir dele e reforçar o nosso sentimento de culpa. Em contra ponto, o homem do campo no período da colheita do milho vive um período de fartura, de muito dinheiro no bolso e, para comemorar essa “boa fase” veste a sua melhor roupa para cair na festança. O mesmo ocorre com as quadrilhas da atualidade, que sempre buscam elaborar a melhor roupa para se sentirem reis e rainhas da festa. Esses figurinos ainda remetem aos trajes da quadrilha na época da corte, agora transformados para a realidade econômica e/ou temática.

Na história das quadrilhas no Brasil, percebemos que foram inseridos no contexto sociocultural alguns personagens a essa festa. Figuras dramáticas que tem íntima relação com a região na qual está a quadrilha. No nordeste, a única presença obrigatória na atualidade é o casal de noivos e a figura religiosa para celebrar a cerimônia, a partir deles, desenvolve-se toda a festa do casamento. Os demais variam de quadrilha para quadrilha ou de tema para tema, como: Rei e Rainha do milho; Príncipe e Princesa do Milho; Sinhô e Sinha; Casal de Cangaceiros; Lampião e Maria Bonita; Bacamarteiros; Casal de Ciganos entre outros.






VIDA CIGANA

No caminho da vida cigana, vive um mundo de segredos e perseguições.
Os ciganos são povos nômades originários do norte da Índia e que hoje estão espalhados pelo mundo inteiro. As razões que os fizeram migrar do seu país de origem ainda é um mistério. Desembarcaram no Brasil a partir do século XVI e estão presentes em todo o território nacional, inclusive nos estados nordestinos. Pelo mundo carregam seus sonhos, seu modo de vida e sua cultura pouco compreendida. Mas como vivem o que fazem a língua que falam e quem são os ciganos?

O termo “cigano” é utilizado para segmentar o povo que se define como rom, sinti e calon que são castas que classificam o poder econômico (classe social) na Índia. O nomadismo, as roupas coloridas e bem acabadas além do costume de prever o destino deram destaque a este povo diante do restante da população. Eles têm língua própria apesar de se adaptarem a língua da região onde se situam, seguem leis específicas do grupo e não brigam por terra alguma, vivendo nas trilhas da própria liberdade. Porém existem muitas famílias ciganas que ocupam casas sem abandonarem suas tradições seculares. “cigano não gosta de muitos móveis e não me acostumo dentro de casa, durmo do lado de fora. Na rua me sinto mais segura”. Garante Quitéria Alves, 48 anos moradora de Juazeiro da Bahia.

A língua cigana (o romani) é uma língua da família indo – européia fazendo parte do grupo lingüístico neo-indiano. No entanto, eles assimilaram outros vocabulários pelos países por onde passaram.

Glossário cigano:


Calom – Cigano.
Calim – Cigana.
Prá – Irmão ou Irmã.
Runim – Mulher, Esposa.
Rom – Marido, Homem.
Paim – Água.
Chimbira – Cachaça.
Jurom – Brasileiro.
Jurim – Brasileira.
Jugulim – Feia.
Gulom – Açucar.
Bato – Pai.
Daí – Mãe.
Naca – Não.
Ua – Sim.
Quê – Casa.
Chucá – Bonito.
Baridei – Rico.

O medo, o preconceito, o mistério e a sedução sempre rondaram a trajetória dos ciganos. Esses estigmas passaram das ruas para a literatura de cronistas, viajantes e escritores que, em suas obras apresentam os ciganos como um povo ladrão, trapaceiro, sujo – não faltam atributos negativos.

O escritor Machado de Assis, no clássico Dom Casmurro, publicado em 1899 usa a expressão “olhos de cigana oblíqua e dissimulada” para um personagem masculino definir os olhos da jovem Capitu. Já no livro Grande sertão: veredas, escrito por Guimarães Rosa em 1956 o jagunço Diadorim chama de “bruxa feiticeira” a personagem Ana Duzuza, “falada de ser filha de ciganos, e dona adivinhadora da boa ou má sorte da gente”. A mulher tinha revelado ao jagunço Riobaldo, sem autorização, os planos de Medeiros.

No entanto, nas artes plásticas, bem como na música, pincelaram os ciganos numa idéia romântica, de um povo livre, colorido dançado em volta de uma fogueira. Debret (1768-1848) autor de Viagem pitoresca e histórica ao Brasil, registrou mulheres ciganas ricas e sensuais, coloridas com joias emoldurando uma cena de comércio de escravos. Mais realista, o paulista Cândido Portinari (1903-1962) revela ciganos de traços marcantes em obras como o desenho cabeça de ciganos.

Comparados com os índios e com os negros, a minoria cigana foi pouco estudada, pois sempre houve uma espécie de invisibilidade em torno dos ciganos, como se estivessem fora da história, situados num tempo mítico, das carroças. Eles não foram por muito tempo vistos como estrangeiros ou portadores de identidade cultural diferenciada, sendo sempre marcados, sobre tudo, pela ausência de uma pátria, lei ou religião. Mas qual a razão para este grupo levar uma vida nômade? Segundo o antropólogo Frans Moonen,

a motivação econômica. No passado eles trabalhavam na colheita de batata, beterraba, cereja ou maçã, na Europa. Mudavam-se de um lugar para o outro em função disso. Ninguém fica o ano inteiro lendo mão numa cidade pequena. Nem vai vender cestos e colheres de pau por muito tempo no mesmo lugar. A atividade econômica deles é rotativa, exige mudanças constantes. Sem contar com a perseguição e expulsões promovidas pela cidade do qual residiam. (MOONEN.maio/2010)

Na Europa esta etnia foi também vitima do massacre do Holocausto para eliminar toda cultura diferente daquele continente. Onde, de acordo com a Fundação Anne Frank, da Alemanha, entre 200 mil a 500 mil ciganos de todas as partes da Europa foram levados para campos de concentração e assassinados por nazistas na Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Um ato legal para a época, um crime incontestável para o mundo de hoje.

Quando avaliamos a cultura do diferente, somos reféns de nossa própria memória cultural, pois esta prática natural de avaliar o outro mediante padrões de certo e errado acarreta no estranhamento. O do outro tem o direito de ser diferente de nós e, é bom que seja para favorecer a troca, a evolução da espécie. Porém, ao analisarmos o outro esquecemos que nós também somos o outro da vida de alguém, e que, também somos vitimas desta avaliação. É intrínseco ao olhar do homem analisar o comportamento do outro com base em sua vida particular, no entanto, esta conduta etnocêntrica separa os povos ao invés de unir nações. Além disso, toda relação cultural não pode ser comparada umas com as outras, mas compreendida, pois não existe uma cultura superior ou inferior, todas têm uma razão intima para existir, não devendo ser controlada ou congelada por padrões social estabelecidos. O homem é um ser livre e sua cultura é a resposta que garante esta liberdade.

Em todos os povos, o comportamento cultural presente no mundo, ao entrar em contato com outra cultura, cria estratégias de resistências para preservar sua intima cultura, sua religião, seu modo de vida, seus direitos e sua essência biológica de existir. Na história viva, a vida cigana, bem como, outras culturas sofre diretamente influências para se adequarem a parâmetros comportamentais, principalmente modelos religiosos. O povo cigano foi e ainda é acusado de ser um povo feiticeiro, detentor de poderes sobrenaturais, de ladrões do destino, sendo sempre deixada a margem da sociedade para cair no esquecimento. E é a partir dessa comparação religiosa que nasce a visão preconceituosa e distorcida contra esse povo, formando uma opinião irresponsável para sociedade, do qual, muitos desses ideais foram e são guiados por leis católicas que condenam práticas ligadas ao sobrenatural, como a cartomancia e a leitura das mãos exercidas por eles. Registro de da memória cultural presente na formação cultural do povo brasileiro desde o período colonial.

Entretanto, no nordeste do brasileiro (não mais nômades) mora uma ampla população de calons ciganos, do qual, encontram-se na maioria de suas residências as paredes repletas de imagens de santos católicas organizados entre as fotos de família. Os santos mais comuns entre eles são Padre Cícero, Frei Damião, a virgem Maria e Jesus Cristo – sim, as maiorias dos ciganos no nordeste se consideram católicos, apesar de não freqüentarem igrejas. A explicação segundo Flávio Oliveira, Mestrando em Educação a UFRN, é que “os ciganos no mundo tendem a aceitar a religião dos países em que vivem durante muito tempo”. O IBGE demonstra que atualmente 85% dos brasileiros se declaram católicos no país. Esse número ainda é maior no nordeste.
A cultura cigana vem, de fato, perdendo espaço para as novas gerações, para a mídia e para as oportunidades tecnológicas a exemplo da internet. Hoje você pode consultar seu mapa astral, seu signo... Sua sorte diariamente de modo on-line em casa pela rede mundial de computadores.
Essa é uma cultura que a cada dia está sucumbindo às práticas do diferente, deixando-se ser absorvida para o esquecimento das suas tradições. Uma sorte que o destino lhes revela a cada dia. Os ciganos pertencem ao mundo, como eles mesmos dizem: “minha terra é o planeta, meu teto é o universo, minha religião é a liberdade”.





SORTE E DESTINO

O conceito em torno da sorte é um quase-sinônimo de destino, exibindo como principal diferença a divisão entre "boa sorte" e "má sorte". Quando se fala em destino, essa divisão inesiste, na qual aceita-se que a sorte pode ser controlada por forças sobrenaturais e divinas. No entanto, imaginar que existe sorte é supor que existe a possibilidade de alteração do destino. As forças que dão origem às várias situações em torno da sorte derivam de realidades ou imaginários.
A concepção de sorte é profundamente enraizada no imaginário popular, interferindo na conduta dos que nela acreditam, conforme a forma em questão. Em muitas culturas, imagina-se que a sorte possa ser obtida através de artifícios mágicos, como ferraduras de cavalo, trevos de quatro folhas, amuletos ou forças do além-vida. Culturas nômades como os ciganos utilizam-se de diversos métodos de leitura do futuro ou da sorte em troca de algum valor em dinheiro.

Para a ciência, não há meios de se provar que a sorte existe realmente, mas também ela não pode negar sua possibilidade. Uma pequena brecha entre a ciência e o imaginário surgiu novamente quando da descoberta de que a presença do observador interfere na energia quantica dos experimentos cientificos antes “controlados". Porém, apesar da possível contiguidade entre a sorte e a realidade subatômica, a ciência não teve a sorte de chegar ainda a nenhuma nova conclusão.

Tirar a sorte grande é conquistar aquilo que muito se sonha, sejá no amor, na vida profissional, na vida familiar, a casa própria, o emprego que você merece, em fim. A sorte sempre esta aliada a situações positivas da vida, o próprio ato de desejar “boa sorte” a um filho, um parente, um amigo na hora de fazer um vestibular ou participar de uma competição... Todos nós reforçamos seu sentido. As pessoas creem em um destino flutuante que pode ser alterado a qualquer momento.

Ganhar na loteria e mudar de vida para melhor, quem tal? Talvez sua projeção de sorte sejá outra e por que não? Se a sorte bater a sua porta estejá lá pronto para abrí-la imeditamente, toda via, a sorte não é puramente um produto do acaso ou do destino sem uma ação coordenada sua, é preciso ter iniciativa para materializar a “sorte” dos seus sonhos.

MAS... DINHEIRO É FELICIDADE?

O homem dorme e acorda todos os dias na eterna busca pela felicidade!
Falando assim, até parece que a felicidade se esconde de nós. Dá para entender que ela nunca quer chegar ou que vive fugindo do nosso caminho... Mas isso não é bem verdade. A felicidade esta em todas as coisas que sonhamos. Está aqui nos meus pensamentos e dedos quando escrevo e digito este texto para vocês, pois neste momento me sinto muito feliz em fazê-lo.

Nessa perspectiva a humanidade, historicamente em todas as civilizações, sempre depositou muito valor ao dinheiro, fez-se refém dos seus próprios sonhos e desejos, criando para si medos, tornando-se refém da vontade e da alegria de ter uma vida feliz apenas se o dinheiro estiver presente. No final das contas, o homem ainda se sente a grande vitima do brinquedinho que criou. Esta fatalidade ainda é mais agravante, quando variamos de cultura para cultura ou da oportunidade no campo da educação. Quanto à classificação social então... Quanta ironia! Qual o sentido do dinheiro mesmo? Já até esqueci.
O Brasil colônia é resultado desta grande exploração por riquezas, passado que afeta o presente e dificilmente se diluirá tão facilmente para as gerações futuras. O sonho de encontrar o Eldourado, a febre do ouro, diamantes, tesouros pedidos, pedras preciosas. A história da moeda brasileira não é dourada – tem a cor verde, amarela e vermelha do Pau Brasil, folha, flores e madeira carmim. Essa foi à primeira riqueza avistada no grito “terra a vista”. A coroa portuguesa logo tratou de monopolizar este bem natural transformando-o em comércio para lhes render muito dinheiro.

No caminho por desvendar outras especiarias da nova terra de Santa Cruz, a agricultura viu brotar a Cana de Açúcar, fato que, lhe rendeu grande lucro por um determinado período, no entanto, à volta a caça ao tesouro recomeça com sucesso. Moedas de Ouro, Prata e Bronze foram cunhadas no país, dividindo o cenário nacional com o papel moeda (cédulas) até os dias atuais.
Esta nação foi explorada de todas as maneiras possíveis, tanto nas riquezas naturais, mas principalmente refém de si mesma, refém do sonho, da cobiça herdada dos portugueses em não saber o que o amanhã lhe reserva, deixando que a sorte tome conta do futuro.


Um comentário: