59° lugar. Esta é a posição do Brasil no último PISA,
Programa Internacional de Avaliação dos Alunos, entre os 70 países
participantes. Para conseguir essa vergonhosa colocação, o país fez feio nos
quesitos matemática, ciências e leitura. Aliás, no que se refere a ler, a
pátria que tem exaltado as armas ao invés dos livros vai se aproximar ainda
mais do derradeiro lugar neste pódio. Antes, porém, é incontestável que em
sucessivos planos governamentais a educação não foi prioridade. Isto porque,
numa relação clara de adestramento, subserviência e tecnicismo, o foco é
mecanizar o saber transformando nossos estudantes em meros protótipos do
sistema.
Decerto, para alcançar este vexatório posto só um misto de
descompromisso e burrice regeram, e regem, esse (des)educado Brasil. Como tudo
que é ruim pode piorar, o cataclismático governo de Jair Bolsonaro assina a
ordem para permitir que pais possam educar seus rebentos em casa. A priori,
todavia, é preciso concatenar o porquê da educação ter se tornado o alvo dessa
nova política que acomete o país. Muito antes de ser empossado, a persona não
grata da figura Temer conseguiu modificar o ensino médio, permitindo aos
estudantes moldarem a sua grade de estudos ao seu belprazer. Entrementes, a
discussão da Escola sem Partido avançava a todo vapor também com os olhares
elogiosos de Bolsonaro.
Entre as metas do, na época presidenciável, estavam a
educação domiciliar e a proibição do tema educação sexual nas escolas. Ora,
apenas aqui há práticas claras de cerceamento da liberdade pedagógica, além da
negação às pesquisas científicas e silenciamento de discussões caras aos nossos
jovens. Entretanto, o bombardeamento na esfera educacional têm propósitos mais
nefastos. Após a empobrecimento cognitivo transmitido pelas fake news, que
levaram aquele cidadão ao poder, o governo resolveu esculhambar de vez o que já
era uma balbúrdia. Agora, com aval legislativo, diversos projetos pretendem
emburrecer a sociedade por meio de uma (des)educação sem respaldo científico,
eivada pela interferência perigosíssima de setores religiosos e descomprometida
com o que há de mais vanguardista na formação intelectual da sociedade. É
educar para doutrinar.
Trata-se de marionetes cuja função é perpetuar na política
uma esfera de governo tirano e claramente inexperiente. A prática do Homeschooling é uma prova disso. Conhecido como educação
domiciliar, tal modalidade é aceita em grandes nações espalhadas pelo mundo. No
entanto, em muitas delas educa-se seus entes em casa porque há toda uma
estrutura sócio-cultural efetiva, capaz de oferecer aos responsáveis o mínimo
de arcabouço para orientar seus alunos-familiares. Porém, diferente deles, o
Brasil possui diversos entraves que antecedem o colégio de um lado e, do outro,
adentram os muros escolares atrapalhando a aprendizagem.
Diante de um projeto de ensino deveras avacalhado, estamos
permitindo que diversos professores formados, detentores de anos de experiência
em sala de aula - e das dificuldades que cercam está atividade - sejam
desmoralizados por um governo que permite pessoas sem qualquer noção pedagógica
de ensinar a nossa juventude. É evidente o desconhecimento político das teorias
de Paulo Freire acerca da pedagogia, sobretudo aquelas que veem a opressão em
torno daquilo que há nos moldes clássicos de ensino. Contudo, as contribuições
freirianas, aceitas e respeitadas em diversas universidades do mundo, são
ridicularizadas na vala que se tornou o Brasil de Bolsonaro. Submergindo na
lama da ignorância, estamos atolados até o pescoço com as medidas insanas desse
governo despreparado, o qual tem conseguido a proeza de deteriorar o que já
está em ruínas. Não falta muito para o pouco fôlego restante extinguir-se de
nossos pulmões. Até lá, o ar continua mais rarefeito todas as vezes que o
presidente de muitos brasileiros, não o meu, pronuncia alguma barbaridade com
ares benfazejos na mídia.
Enquanto desdenham dessa maneira da nossa Educação, não irá
tardar para que outros rankings, além do PISA, mostrem a defasada realidade
conhecida por todos nós. O Enem está chegando e com ele a visão rasa da
religiosidade fotoshopada de Bolsonaro. Será mais um tiro certeiro na morte
iminente da intelectualidade do Brasil. Caso o Homeschooling se concretize,
veremos a robotização juvenil em cadeia. Será o maior atentado ao conhecimento
da história desse país. O efeito kamikaze de uma educação domiciliar em lares
sem educação vai ser o nosso regresso a idade das cavernas. Pena que não
teremos mais os dinossauros para nos entreter.
Nenhum comentário:
Postar um comentário