05 abril 2015

BICHA: 8 razões para (ter orgulho de) ser uma!


Visto no Os Entendidos do Portal Fórum
Por Fabrício Longo

Ao ofender um efemin… Ok, não vamos falar disso hoje, ao menos não exclusivamente. Se você é gay e menospreza seus iguais, é um idiota. Se você é hétero e oprime o diferente, está de parabéns – só que não – por seguir o roteiro do mundo. Nos dois casos, é tudo bastante normal.  Não existe coisa mais corriqueira do que inferiorizar alguém, reforçando isso através de ataque para se afirmar como melhor a cada soco dado ou a cada palavra dita. Como é bom ser normal, não?
Diariamente, agradeço por ser bicha. Apesar do choque em descobrir que minha “anormalidade” pela boca dos outros, quanto mais observava a – sagrada – “normalidade”, mais maravilhado com minha estranheza ficava. Hoje essa estranheza é motivo de ORGULHO, pelas 8 razões que seguem:
1. Se eu lavo ou se eu cozinho, ninguém tem nada com isso!
Papéis de gênero. Obviamente que ainda sou cobrado a me comportar “feito homem”, seguindo a cartilha social de doutrinação que começa com carrinhos e roupas azuis. Entretanto, ao assumir a identidade gay, parece que recebi uma “carta cinza” para transitar um pouquinho. Não chega a ser carta branca porque ainda existirão vários problemas a enfrentar, mas depois que você transa com outro cara fica sendo “viado” para sempre, então não interessa se gosta de balé ou de moda.
2. Tudo é muito gozado!
Quando sua identidade social é definida por uma prática sexual, fica fácil ser considerado promíscuo. É uma pena que os estigmas ligados ao sexo e à sexualidade te acompanhem, mas sexo é ótimo e quem tem que julgar minha quantidade de parceiros e experiências sou eu e mais ninguém. Não me sai da cabeça – de cima -  que a homofobia esconde um certo recalque disso, já que o “sexo normal” vem carregado de moralismo.
3. Sou o que sou.
Sou bicha desde que me entendo por gente. Não que tivesse perguntado, mas as pessoas faziam questão de me dizer. Isso pode não ter sido muito legal a princípio, mas quando chegou a hora de definir minha identidade, ela já me pertencia. Uma bicha simplesmente é, ao mesmo tempo que um hétero tem que provar o tempo todo se merece o título e corre o risco de perder o título se escorregar no quiabo. E isso conduz ao próximo item…
4. Eu posso, eles não.
Posso sair com mulheres, posso ter filhos, posso ser religioso, posso me casar com uma mulher ou – que bom – com outro homem. Não há nada que o modelo heterossexual exija que eu efetivamente não POSSA  fazer, já se vou querer ou não, é outra questão. Porém um hétero, coitado… Se virar a mão ou olhar para o lado errado no banheiro, corre o risco de ser chamado de bicha e ser expulso do clubinho. Contudo, isso não é o pior. A sociedade é tão cruel que homens heterossexuais não podem dançar imitando a Beyoncé… Que morte horrível!
 5. A homossexualidade é uma oportunidade de ser diferente.
Ser colocado à margem é doloroso. Vivemos em sociedade e é impossível escapar completamente de nossos conceitos formadores, então é compreensível que tantos LGBT reproduzam moralismo, machismo ehomolesbotransfobia, talvez em uma última tentativa desesperada de inclusão. É compreensível, mas não aceitável. Viver “pedindo desculpas” por existir não é viver, e no fim das contas não adianta. Esse “perdão” nunca virá.
Por outro lado, a vivência dessa diferença nos dá a chance de ser melhores. Por que reproduzir o que há de pior em uma maioria burra, quando ser “bicha” nos permite quebrar preconceitos e regras? Para completar, não precisamos viver uma vida entediante definida pelos outros. Ser anormal dói, mas ser normal também e ainda por cima é chato!
6. Os xingamentos perdem a força.
Bicha, boiola, viado… Uma ofensa é uma ofensa, especialmente quando é gritada por um estranho que sabe que pode agredir alguém dessa forma, já que é apoiado por toda sociedade. Todavia, chega um momento em que essas palavras perdem força e podem até ganhar novos significados. Me chamaram de bicha para dizer o quê? Pra dizer que faço sexo com homens? Obrigado, eu já sabia. E se o objetivo era  comprovar minha inferioridade, é melhor tentar de novo outro dia. Sou bicha mesmo, lacradora, destruidora e fechadora do tempo. A necessidade hétero de se colocar como superior só comprova a insegurança dessa afirmação.
7. O progre$$o é inevitável!
É uma pena que a nossa política esteja cada vez mais refém do fundamentalismo religioso. É de chorar. Mas não é preciso ter medo disso, porque tanto a política quanto a religião rezam para um único Deus, que é o dinheiro. Como a identidade gay considerada aceitável tem um fortíssimo recorte social, reforçando o estereótipo da “bicha refinada” para nos validar através do consumo, é questão de tempo até o Pink Moneyfalar mais alto. Não há moral – ainda mais cristã – que recuse um novo mercado.
8. Tenho um corpo político.
Enquanto um “beijo gay” for tratado como escândalo nacional, sem ser visto apenas como um beijo, será um ato político. Pode ser na novela ou no meio da rua, mas qualquer afirmação da nossa identidade é válida como discurso político em prol da diversidade, e isso é MUITO poderoso.
***
Ser uma bicha anormal é muito bom. A única “doença” revelada por tanto ódio é justamente de quem agride, de forma que os “degenerados” acabam se mostrando muito mais sãos do que os que vociferam a própria normalidade. De quebra, a gente ainda se diverte e goza – literalmente – a vida fabulosamente.
Permita-se. Seja livre. Tenha orgulho. Sempre vai existir alguém para te colocar para baixo, o que não pode acontecer é você levar à sério!
Dando Pinta é publicado todas quartas no Os Entendidos.

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