
Parece polêmico de
início, mas poderia ser possível sim, principalmente entre adolescentes do
ensino médio das escolas públicas e privadas do país. Por não tratar com
naturalidade sobre esse tema, os jovens cada vez mais se aventuram nos terrenos
movediços do sexo de forma imatura e irresponsável. Isto ainda se dá na
atualidade porque os pedagogismos em torno desse assunto não focam no X da questão,
beirando apenas pontos superficiais em torno da camisinha e do uso ou não desta.
Por isso que as estatísticas em torno de Infecções Sexualmente Transmissíveis –
IST, não param de crescer. Mesmo na era da informação, da camisinha acessível e
de tantos outros métodos contraceptivos, a quantidade de jovens com doenças venéreas
e AIDS continua a crescer. Além de tudo isso, gravidezes indesejadas encurtam as
vidas de mentes incipientes, obrigando-os muitas vezes a passar por uma
maturidade precoce. Tudo isso é o reflexo de uma educação evasiva quanto ao
sexo, a qual ainda não direciona esforços mais contextuais em torno dessa
questão.
Tal conduta, porém, soa
contraditória. Num país conhecido internacionalmente pela sua postura
libertária, onde mulheres desfilam seminuas, ou mesmo nuas, em pleno carnaval;
que estampam capas de revistas eróticas (aliás, homens também o fazem); onde a
erotização está presente na mídia, na música, na publicidade e em tantos outros
veículos informacionais, parece controverso, até antagônico, negar o direito
dos jovens de discutir a sexualidade deles de forma mais plural. No entanto, a
contradição se dá porque o Brasil, mesmo com o rótulo de “país onde tudo pode”, na realidade é um dos mais conservadores
nesse sentido. Não aprendemos a lidar com os nossos desejos e ainda os tratamos
de maneira sacralizada, penitenciando as nossas vontades ao ponto de não nos
permitir sentir o que deveria ser naturalmente sentido: prazer. Talvez, a herança
religiosa herdada dos nossos colonos portugueses tenha sido o principal entrave
neste âmbito, causando bloqueios que se fazem presentes até hoje sobre as
questões ligadas a sexo.


Quando
vemos essas prostitutas, michês e travestis na rua, não conseguimos entender o
que leva tantos indivíduos a buscar nesse ramo um mecanismo de sobrevivência. Explicamos
a nossos jovens que tal prática é errada, mas não dizemos a razão disso. Se há
um mercado de prostituição tão diversificado é óbvio que há uma intensa demanda
da pessoas/clientes carentes e ansiosos para realizar suas fantasias sem os
tabus hipócritas impelidos pela sociedade. Elas, então, buscam nesses profissionais
a chance de interromper as próprias fronteiras morais para se aventurar naquilo
que todo ser humano deveria ter direito, sem necessariamente pagar: o prazer. E
esse refúgio só acontece porque não há uma educação que prime pela liberdade
sexual de homens e mulheres desde a sua tenra idade. É evidente que a juventude
deve aprender desde cedo a se proteger de doenças sexualmente transmissíveis, a
não engravidar indevidamente, mas ela também tem o direito de ser orientada
quanto aos prazeres que deve sentir e da forma que achar conveniente. A educação
não pode ser provinciana ao ponto de impor um modelo sexual apenas focado na
procriação e esquecendo-se de que gozar, literalmente falando, é um ato
benéfico que merece ser sentido por todos, sem preconceitos e tabus.


Tudo isso ainda
acontece em pleno século XXI, porque não aprendemos e falar, discutir e ensinar
o sexo naturalmente aos nossos jovens. Presos a cegonhas e limitados a heteronormatividade,
nossa juventude cresce, “vive” e morre muitas vezes sem a oportunidade de sentir
um bom orgasmo, e isso só mudará com uma educação subversiva que transgrida
esse sistema e apresente novas rotas nesse sentido. Imagine, então, entrar numa
sala de aula e encontrar uma professora ensinando técnicas prazerosas de como
fazer sexo oral e, numa outra sala, o professor se debruça sobre as técnicas do
sexo anal e de como ele pode ser realizado entre os parceiros sem tabus? Imagine
também que, ao virar o corredor, outros alunos assistiriam aulas, no pátio do
colégio, sobre as zonas erógenas de homens e mulheres e entenderiam que a
vagina e o pênis podem e devem ser desvendados além da estratificada questão da
concepção da vida que gira em torno deles? A naturalização do sexo, sem
eufemismos e psicopedagogismos, ajudaria meninos e meninas a descobrirem
mecanismos individuais capazes de construir a própria sexualidade e encontrar
nela os prazeres necessários para serem realizados nesse sentido. Complicado?
Talvez! Impossível? Jamais! Se as escolas se empenhassem mais nisso, talvez
muitos dos “males” causados pela falta de orientação sexual diminuiriam
significativamente, e a juventude cresceria com menos complexos desnecessários.
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