Com a chegada do mês de
outubro, um novo cenário surge no Brasil. Carreatas, bandeiras, panfletos e uma
infinidade de enfeites adornam as manifestações políticas nos quatro cantos do
país. Essa espetacularização não é à toa. Na verdade, ela é criada
propositadamente para chamar a atenção dos eleitores, seja para que este tenha
mais opções na hora de escolher seu candidato, seja para ludibriá-lo com um
festival panfletário do qual o desperdício, a poluição sonora e visual, bem
como outros elementos desse período, sirvam de instrumentos a favor dos
políticos. De fato, tudo isso se configura como a carnavalização da democracia,
a qual os candidatos, muitas vezes, não estão preocupados com os problemas
vividos pelo povo, mas sim com a quantidade de votos que poderão angariar para
si e, assim, conquistar o cobiçado cargo público.
Expostos como verdadeiras celebridades pelos meios midiáticos, os candidatos surgem nas suas megalomaníacas campanhas, similares aos destaques dos carros alegóricos que desfilam nas escolas de samba, enquanto o povo, infeliz e lamentavelmente, vem em alas de adoração, alienando-se. Numa acepção mais histórica, percebe-se que essa manobra de desviar os olhares críticos da população, para as questões políticas, não é algo novo. A política de pão e circo, por exemplo, praticada no império Romano, é análoga às práticas vistas hoje no Brasil. O resultado disso é a quase que completa alienação popular, da qual resulta na escolha equivocada de certos políticos descomprometidos com as causas daqueles que neles votaram.
Tal conduta é facilmente exemplificada, não só com as promessas clichês feitas pelos futuros regentes do país, mas também pela desesperada construção de obras que aparecem, como que num passe de mágica, nesse período. São escolas construídas e/ou reformadas, postos de saúde e hospitais novos, estradas reformadas, saneamento básico sendo solucionado, e uma lista enorme de outros problemas que são “sanados” neste período. Nesse momento, é pertinente questionar onde estavam esses mesmos candidatos que não viram que todos esses problemas esperavam uma solução muito antes do período eleitoral. Não há resposta, porém, que possa justificar esse descaso, mas há uma palavra que pode englobar a atitude deles: descompromisso.
Não há, ou talvez nunca houve, na história do país pessoas realmente comprometidas em fazer uma mudança significativa para o povo. O que há na verdade são discursos paliativos usados para afagar as dores da população a qual sofre com a desumana desigualdade social de um país rico, mas que não tem as suas riquezas igualmente divididas nas mãos de todos. Para provar isso não é necessário se basear nas constantes pesquisas nacionais e internacionais que são feitas para comparar o andamento da qualidade de vida dos brasileiros. Basta apenas um breve passeio nos grandes centros urbanos do país para deflagrar tal discrepância. Crianças sem escolas públicas de qualidade; hospitais superlotados e sem condições estruturais para atender a população carente; ruas sujas, ora pela falta de civilidade do povo, no que tange a carência educacional, ora por falta de lixeiros e pessoal para manter a higienização ambiental; sem contar a segurança pública que também não é das melhores.
Tudo isso serve de palco para que políticos mal intencionados se tornem estrelas no período eleitoral, quando na verdade, eles deveriam buscar holofotes durante todos os anos em que estivessem nos seus respectivos cargos. E, paradoxalmente a essa realidade, estão uma minoria elitizada que desfruta das regalias que o dinheiro pode comprar. Dentre estas pessoas estão os próprios políticos que “conquistaram” seus cargos, utilizando-se de promessas vãs e, em alguns casos, indo além da mera apropriação da confiança pública, pois, uma vez eleitos, alguns deles usurpa também o dinheiro do próprio eleitorado, postura já conhecida e esperada pelos brasileiros. Deste comportamento surge a corrupção, fenômeno que não é novo e que, lamentavelmente corrobora para denegrir a imagem da política brasileira dentro e fora do seu território.
A festa continua, diriam aqueles mais conformados. A copa do mundo está chegando e com certeza muitos problemas do país serão esquecidos nesse momento, bem como muitos candidatos desonestos garantirão seu espaço no rol da massa já corrupta que vaga pelo país. Porém, isto não tem muita importância para alguns, já que a meta do Brasil é trazer a taça de ouro e conquistar mais um título mundial. O que ninguém percebe, ou prefere não ver, é que eventos deste porte, estimulados e divulgados pelos chefões do poder público, é uma ferramenta de alienação usada para desfocalizar o que ainda existe de crítico no pensamento do povo. Ou seja, enquanto a população torce por jogadores semianalfabetos e milionários, esquece em votar devidamente nos políticos que mudarão a sua realidade e de muitas pessoas pobres que, sem direito a uma educação digna e, consequentemente sem a menor chance de mudança, vagam pela sociedade em busca da própria sobrevivência, pois existir não é mais possível.
A cada novo discurso proferido, a cada papel entregue, comícios e carreatas, parece que uma nova chama se acende no íntimo social. Mesmo desacreditado com a postura política do país, a qual durante décadas teve, e ainda tem, a corrupção como válvula propulsora, a população busca nas alegóricas manifestações políticas o fio de esperança para que as mazelas que os assolam sejam, de uma vez por todas, sanadas. Para que isso aconteça é importante que os próprios políticos se desnudem dos enfeites que encobrem suas verdadeiras identidades e se mostrem para o povo, não como entidades celestes que irão salvar a pátria repentinamente, mas sim como humanos comprometidos com os problemas sociais e dispostos a resolvê-los sem pretensões subliminares. E o povo, neste sentido, deve amadurecer, deixando de esperar por um herói sebastianista, não se deixando levar pela pirotecnia que o período eleitoral insiste em proporcionar. Talvez, assim, alguns dos inúmeros males que assolam o povo possam ser paulatinamente solucionados.