31 julho 2011


"A educação benevolente e frouxa que hoje predomina nas casas e escolas é mais nociva do que uma sala de aula com teto e chão furados e livros aos frangalhos"


Educação é algo bem mais amplo do que escola. Começa em casa, onde precisam ser dadas as primeiras informações sobre o mundo (com criança também se conversa!), noções de postura e compostura, respeito, limites. Continua na vida pública, nem sempre um espetáculo muito edificante, na qual vemos políticos concedendo-se um bom aumento em cima dos seus já polpudos ganhos, enquanto professores recebem salários escrachadamente humilhantes, e artistas fazendo propaganda de bebida num momento em que médicos, pais e responsáveis lutam com a dependência química de milhares de jovens. Quem é público, mesmo que não queira, é modelo: artistas, líderes, autoridades. Não precisa ser hipócrita nem bancar o santarrão, mas precisa ter consciência de que seus atos repercutem, e muito.

Estamos tristemente carentes de bons modelos, e o sucesso da visita do papa também fala disso: além do fator religião, milhares foram em busca de uma figura paternal admirável, que lhes desse esperança de que retidão, dignidade, incorruptibilidade, ainda existem.

Mas vamos à educação nas escolas: o que é educar? Como deveria ser uma boa escola? Como se forma e se mantém um professor eficiente, como se preparam crianças e adolescentes para este mundo competitivo onde todos têm direito de construir sua vida e desenvolver sua personalidade?

É bem mais simples do que todas as teorias confusas e projetos inúteis que se nos apresentam. Não sou contra colocarem um computador em cada sala de aula neste reino das utopias, desde que, muito mais e acima disso, saibamos ensinar aos alunos o mais elementar, que independe de computadores: nasce dos professores, seus métodos, sua autoridade, seu entusiasmo e seus objetivos claros. A educação benevolente e frouxa que hoje predomina nas casas e escolas prejudica mais do que uma sala de aula com teto e chão furados e livros aos frangalhos. Estudar não é brincar, é trabalho. Para brincar temos o pátio e o bar da escola, a casa.

Sair do primeiro grau tendo alguma consciência de si, dos outros, da comunidade onde se vive, conseguindo contar, ler, escrever e falar bem (não dá para esquecer isso, gente!) e com naturalidade, para se informar e expor seu pensamento, é um objetivo fantástico. As outras matérias, incluindo as artísticas, só terão valor se o aluno souber raciocinar, avaliar, escolher e se comunicar dentro dos limites de sua idade.

No segundo grau, que encaminha para a universidade ou para algum curso técnico superior, o leque de conhecimentos deve aumentar. Mas não adianta saber história ou geografia americana, africana ou chinesa sem conhecer bem a nossa, nem falar vários idiomas se nem sequer dominamos o nosso. Quer dizer, não conseguimos nem nos colocar como indivíduos em nosso grupo nem saber o que acontece, nem argumentar, aceitar ou recusar em nosso próprio benefício, realizando todas as coisas que constituem o termo tão em voga e tão mal aplicado: "cidadania".

O chamado terceiro grau, a universidade, incluindo conhecimentos especializados, tem seu fundamento eficaz nos dois primeiros. Ou tudo acabará no que vemos: universitários que não sabem ler e compreender um texto simples, muito menos escrever de forma coerente. Universitários, portanto, incapazes de ter um pensamento independente e de aprender qualquer matéria, sem sequer saber se conduzir. Profissionais competindo por trabalho, inseguros e atordoados, logo, frustrados.

Sou de uma família de professores universitários. Fui por dez anos titular de lingüística em uma faculdade particular. Meu desgosto pela profissão – que depois abandonei, embora gostasse do contato com os alunos – deveu-se em parte à minha dificuldade de me enquadrar (ah, as chatíssimas e inócuas reuniões de departamento, o caderno de chamada, o currículo, as notas...) e em parte ao desalento. Já nos anos 70 recebíamos na universidade jovens que mal conseguiam articular frases coerentes, muito menos escrevê-las. Jovens que não sabiam raciocinar nem argumentar, portanto incapazes de assimilar e discutir teorias. Não tinham cultura nem base alguma, e ainda assim faziam a faculdade, alguns com sacrifício, deixando-me culpada quando os tinha de reprovar.

Em tudo isso, estamos melancolicamente atrasados. Dizem que nossa economia floresce, mas a cultura, senhores, que inclui a educação (ou vice-versa, como queiram...), anda mirrada e murcha. Mais uma vez, corrigir isso pode ser muito simples. Basta vontade real. Infelizmente, isso depende dos políticos, depende dos governos. Depende de cada um de nós, que os escolhemos e sustentamos.

Fonte: Rev. Veja, Lya Luft, ed. 2009, 23/5/2007.


Tunel Russo by Mau Couti from Mau Hábito Filmes on Vimeo.




Disponível no site de compartilhamento “Vimeo”, o curta-metragem “Tunel Russo”, fala sobre a violência policial para lidar com a demonstração pública de afeto homossexual. Na trama, um casal gay é torturado e humilhado por estarem se beijando em público até a situação sair do controle. A história visita também problemas que muitos jovens sofrem na transição da adolescência para a vida adulta em casa e com os pais, além de tratar de uma relação amorosa entre pessoas de idades diferentes.

Visto no: Alonttra - MT

Fonte

Maria Bethânia

Composição: Saul Barbosa, Jorge Portugal

Não há nada mais bonito
Que o nosso amor
Ele é sonho, é som, é sol, é cor, é vida

Não há nada mais bonito
Que o nosso amor
Ele é sonho, é som, é sol, é cor, é vida

Quando a tristeza quer chegar
Penso na chama de nós dois
E me aqueço no calor
Que vem da luz do teu olhar
Pensando bem
Que força tem
O amor de quem sabe se dar
E transforma tudo
Em fonte de beleza

Pode o dia escurecer
E até o mundo se acabar
Eu invento a luz
Faço a vida nascer
De outro lugar
Quem ama de verdade
Tem o dom da criação
E pode até voar
Pelo infinito da paixão

Pode o sol escurecer
Até a noite desabar
Eu invento a luz
E faço a vida nascer de outro mar
Quem ama de verdade
Pode até mover o céu
Pois quem ama assim
É mesmo um Ddeus

solo

Pode o sol escurecer
Até a noite desabar
Eu invento a luz
E faço a vida nascer de outro mar
Quem ama de verdade
Pode até mover o céu
Pois quem ama assim
É mesmo um deus

Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta.

O amor não é chegado a fazer contas, não obedece à razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar.

Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são só referenciais.

Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca.

Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera.

Você ama aquela petulante. Você escreveu dúzias de cartas que ela não respondeu, você deu flores que ela deixou a seco.

Você gosta de rock e ela de chorinho, você gosta de praia e ela tem alergia a sol, você abomina Natal e ela detesta o Ano Novo, nem no ódio vocês combinam. Então?

Então, que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é mais viciante do que LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome.

Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai e não liga, ele veste o primeiro trapo que encontra no armário. Ele não emplaca uma semana nos empregos, está sempre duro, e é meio galinha. Ele não tem a menor vocação para príncipe encantado e ainda assim você não consegue despachá-lo.

Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Ele toca gaita na boca, adora animais e escreve poemas. Por que você ama este cara?

Não pergunte pra mim; você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. Gosta dos filmes dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia romântica também tem seu valor.

É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem loucura por computador e seu fettucine ao pesto é imbatível.

Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo. Com um currículo desse, criatura, por que está sem um amor?

Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemática: eu linda + você inteligente = dois apaixonados.

Não funciona assim.

Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o Amor tem de indefinível.

Honestos existem aos milhares, generosos têm às pencas, bons motoristas e bons pais de família, tá assim, ó!

Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é! Pense nisso. Pedir é a maneira mais eficaz de merecer. É a contingência maior de quem precisa.

(Arnaldo Jabor)



Casais com problemas de comunicação têm um antecedente antigo. Adão e Eva, segundo Genesis.

Pode-se imaginar o clima quando Adão acordou e levou dois sustos: estava sem uma costela e com uma mulher. Especula-se que os dois levaram dois dias para se falar. Para começar, não tinham sido formalmente apresentados. E que assunto poderiam ter, naquele primeiro encontro?

- Como foi seu dia?

- Nem me fale. Até a hora da sesta estava tudo normal. Depois eu sofri uma cirurgia e mudei de estado civil e a população da Terra duplicou, tudo em questão de horas.

- E eu? Há horas eu nem existia. Agora estou aqui, mulher feita, nua e falando aramaico.
Minha tese é que Adão e Eva só se falaram no terceiro dia, e assim mesmo porque Adão foi levado por uma necessidade premente.

- Me coça atrás?

E Eva coçou suas costas, e Adão finalmente compreendeu os desígnios do Senhor ao criar a mulher. Embora nos anos que se seguiram não fossem poucas as vezes em que pensou em dizer a Deus que preferia sua costela de volta.

Quando passaram a ter assunto, Adão e Eva despertaram o ciúme de Deus.

Porque tinham uma coisa em comum da qual Deus não compartilhava: a humanidade, suas glórias e suas misérias. Os banhos de riacho e o medo do escuro, o cafuné e o furúnculo. E Deus providenciou o pecado para ter um motivo nobre para expulsá-los do Paraíso, já que não podia só alegar tagarelice. E quando a prole de Adão e Eva deu sinais de entendimento, pois falavam a mesma língua e celebravam a mesma humanidade, Deus decretou a destruição de Babel e a confusão das línguas. E assim duas vezes usou Deus o demônio para criar a desarmonia entre os homens. Primeiro na forma da Serpente. Depois na forma do Mau Tradutor.

Mas tudo que é humano quer se comunicar. Sem a mulher, Adão arranjaria outro jeito de coçar as costas. Talvez encontrasse até uma maneira de se reproduzir sozinho. Afinal, anos depois, um descendente seu inventou o xerox. Quando Deus lhe deu a mulher não lhe deu uma fêmea, uma companheira ou alguém para cuidar das suas camisas. Deu o que ele precisava para progredir, a precondição para o autoconhecimento e a razão, sem falar na literatura.


COMUNICAÇÃO

Luís Fernando Veríssimo

É importante saber o nome das coisas. Ou, pelo menos, saber comunicar o que você quer. Imagine-se entrando numa loja para comprar um... um... como é mesmo o nome?
- Posso ajudá-lo, cavalheiro?
- Pode. Eu quero um daqueles, daqueles...
- Pois não?
- Um... como é mesmo o nome?- Sim?
- Pomba! Um... um... Que cabeça a minha. A palavra me escapou por completo. É uma coisa simples, conhecidíssima.
- Sim senhor.
- O senhor vai dar risada quando souber.
- Sim senhor.
- Olha, é pontuda, certo?
- O quê, cavalheiro?
- Isso que eu quero. Tem uma ponta assim, entende? Depois vem assim, assim, faz uma volta, aí vem reto de novo, e na outra ponta tem uma espécie de encaixe, entende? Na ponta tem outra volta, só que esta é mais fechada. E tem um, um... Uma espécie de, como é que se diz? De sulco. Um sulco onde encaixa a outra ponta, a pontuda, de sorte que o, a, o negócio, entende, fica fechado. É isso. Uma coisa pontuda que fecha. Entende?
- Infelizmente, cavalheiro...
- Ora, você sabe do que eu estou falando.
- Estou me esforçando, mas...
- Escuta. Acho que não podia ser mais claro. Pontudo numa ponta, certo?
- Se o senhor diz, cavalheiro.
- Como, se eu digo? Isso já é má vontade. Eu sei que é pontudo numa ponta. Posso não saber o nome da coisa, isso é um detalhe. Mas sei exatamente o que eu quero.
- Sim senhor. Pontudo numa ponta.
- Isso. Eu sabia que você compreenderia. Tem?
- Bom, eu preciso saber mais sobre o, a, essa coisa. Tente descrevê-la outra vez. Quem sabe o senhor desenha para nós?
- Não. Eu não sei desenhar nem casinha com fumaça saindo da chaminé. Sou uma negação em desenho.
- Sinto muito.
- Não precisa sentir. Sou técnico em contabilidade, estou muito bem de vida. Não sou um débil mental. Não sei desenhar, só isso. E hoje, por acaso, me esqueci do nome desse raio. Mas fora isso, tudo bem. O desenho não me faz falta. Lido com números. Tenho algum problema com os números mais complicados, claro. O oito, por exemplo. Tenho que fazer um rascunho antes. Mas não sou um débil mental, como você está pensando.
- Eu não estou pensando nada, cavalheiro.
- Chame o gerente.
- Não será preciso, cavalheiro. Tenho certeza de que chegaremos a um acordo. Essa coisa que o senhor quer, é feito do quê?
- É de, sei lá. De metal.
- Muito bem. De metal. Ela se move?
- Bem... É mais ou menos assim. Presta atenção nas minhas mãos. É assim, assim, dobra aqui e encaixa na ponta, assim.
- Tem mais de uma peça? Já vem montado?
- É inteiriço. Tenho quase certeza de que é inteiriço.
- Francamente...
- Mas é simples! Uma coisa simples. Olha: assim, assim, uma volta aqui, vem vindo, vem vindo, outra volta e clique, encaixa.
- Ah, tem clique. É elétrico.
- Não! Clique, que eu digo, é o barulho de encaixar.
- Já sei!
- Ótimo!
- O senhor quer uma antena externa de televisão.
- Não! Escuta aqui. Vamos tentar de novo...
- Tentemos por outro lado. Para o que serve?
- Serve assim para prender. Entende? Uma coisa pontuda que prende. Você enfia a ponta pontuda por aqui, encaixa a ponta no sulco e prende as duas partes de uma coisa.
- Certo. Esse instrumentos que o senhor procura funciona mais ou menos como um gigantesco alfinete de segurança e...
- Mas é isso! É isso! Um alfinete de segurança!
- Mas do jeito que o senhor descrevia parecia uma coisa enorme, cavalheiro!
- É que eu sou meio expansivo. Me vê aí um... um... Como é mesmo o nome?

19 julho 2011

Soneto do Amigo

Enfim, depois de tanto erro passado
Tantas retaliações, tanto perigo
Eis que ressurge noutro o velho amigo
Nunca perdido, sempre reencontrado.

É bom sentá-lo novamente ao lado
Com olhos que contêm o olhar antigo
Sempre comigo um pouco atribulado
E como sempre singular comigo.

Um bicho igual a mim, simples e humano
Sabendo se mover e comover
E a disfarçar com o meu próprio engano.

O amigo: um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver outro nascer
E o espelho de minha alma multiplica...

Vinicius de Moraes

Shutterstock

Visto na Revista Galileu

A tatuagem já foi usada para identificar bandidos e enfeitar poderosos; para juntar tribos e afugentar inimigos; para mostrar preferências e esconder imperfeições. O que não mudou quase nada foi a técnica de aplicação de tinta na pele. Passados mais de 4 mil anos, ela ainda é feita por meio de agulhas que perfuram a derme. Perseguida em vários momentos da história, a prática foi banida por decreto papal no século 8 e na Nova York do século 20. Apesar disso, é difícil encontrar quem nunca tenha pensado em fazer uma.


>> Entre 2160 a.C e 1994 a.C.
Múmias de mulheres egípcias, como a Amunet, possuem traços e inscrições na região do abdome

>>> Há mais de 2.400 anos
Múmias encontradas nas montanhas de Altais, na Sibéria, apresentam ombros tatuados com animais, reais e imaginários

>>> Entre 509 aC e 27 aC
Os imperadores romanos determinam que, para não serem confundidos com súditos mais bem afortunados, prisioneiros e escravos sejam tatuados

>>> 787
Sob a alegação de ser coisa do demônio, o papa Adriano I proíbe as pessoas de se tatuarem

>>> Entre os séculos 15 e 17
Durante a invasão da Bósnia e Herzegovina pelos turcos otomanos, os católicos tatuavam cruzes como forma de evitar ter de rezar para Alá

>>> 1600
Com o fim das guerras feudais no Japão, os serviços dos samurais tornaram-se desnecessários. Surge, então, a Yakuza, a máfia japonesa

>>> 1769
Em expedição à Polinésia, o navegador inglês James Cook nota a tradição local de marcar o corpo com tinta. Na língua local, chamam isso de "tatao"

>>> Entre 1831 a 1836
A bordo do HMS Beagle, Charles Darwin registra que a maioria dos povos do planeta conheciam ou utilizavam algum tipo de tatuagem

>>> 1891
O americano Samuel O’Reilly patenteia a máquina de tatuar. Trata-se de uma adaptação de uma invenção de Thomas Edison

>>> 1928
Em Chicago, um caminhão com peles tatuadas é roubado. A coleção pertencia a Masaichi Fukushi, médico japonês que estudava como a tatuagem ajudava a preservar a pele

>>> 1942
Durante a Segunda Guerra, os nazistas tatuavam um número no corpo dos judeus para identificá-los como prisioneiros nos campos de concentração

>>> 1959
Chega ao Brasil o dinamarquês Knud Gegersen, o primeiro tatuador profissional a atuar por aqui

>>> 1961
Depois de um surto de hepatite B, a Secretaria da Saúde de Nova York proíbe a realização de novas tatuagens na cidade

>>> 1999
A empresa de brinquedos Mattel lança a Barbie Butterfly Art, boneca que vinha com uma tatuagem lavável

>>> dezembro de 2009
Ao passar 52 horas tatuando o corpo de Nick Thunberg, o americano Jeremy Brown bateu o recorde mundial de sessão mais longa, que era de 43h50min, estabelecido em 2006


Olho de Lince

Maria Bethânia

Quem fala que eu sou esquisita hermética
É porque não dou sopa estou sempre elétrica
Nada que se aproxima nada me é estranho
Fulano sicrano beltrano
Seja pedra seja planta seja bicho seja humano
Quando quero saber o que ocorre a minha volta
Eu ligo a tomada abro a janela escancaro a porta
Experimento invento tudo nunca jamais me iludo
Quero crer no que vem por aí beco escuro
Me iludo passado presente futuro urro
Reviro balanço reviro na palma da mão o dado
Futuro presente passado
Tudo sentir total
É chave de ouro do meu jogo
É fósforo que acende o fogo
Da minha mais alta razão
E na seqüência de diferentes naipes

Quem fala de mim tem paixão.



Visto no site Vermelho
Por Nágyla Drumond

Assistindo as repercussões sobre o pronunciamento da deputada estadual e ex-atriz global Miriam Ryos é impossível não se sentir instigada a respondê-la, politicamente, sobre a perversa relação que os setores mais conservadores de nossa sociedade insistem em estabelecer entre orientação sexual e pedofilia. Fui procurar o que etimologicamente significava o termo pedofilia: nada mais, nada menos do que amor de adultos por crianças. No entanto, a contemporaneidade tratou de mudar os conteúdos do termo que passou a ser compreendido, do senso comum à sociedade médica internacional, como um transtorno de preferência sexual.

Relações entre adultos e crianças dilaceradas pelos novos tempos? Perda da chamada infância inocente? Foram rompidos os limites do bem e do mal? Do certo e do errado? Do normal e do anormal? Com o quê, de fato, esta visão mecanicista das relações sociais contribuem para compreender e enfrentar um fenômeno sócio-antropológico e sexual, nada recente; mas, com novos significados e conteúdos?

Muito poderia ser dito, mas, por desconhecimento teórico em discorrer sobre o tema, e por intolerância em relação a todas as formas de preconceito e violência, proponho-me a fazer um brevíssimo recorte que vem me chamando atenção: a tríade pedofilia, mercado e erotização dos corpos infantis. É inegável, embora poucas e honrosas vozes se levantem na sociedade e nas casas legislativas, que há um verdadeiro e potente mercado da pedofilia que se retroalimenta da exibição do corpo de crianças, vendidos como objetos de consumo e de prazer por (e para) adultos de todas as idades, gêneros, classes sociais, profissões, relações de parentesco e, inclusive, orientações sexuais. E que se alimenta, inclusive, do que o mercado já capturou: dos desejos do público infantil, ditado como exigente e conhecedor do que deve ser consumido!

O mesmo Estado, que corretamente, desenvolve campanhas, programas, projetos de enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes é o mesmo Estado que não consegue vencer a batalha da criação de um marco regulatório para os meios de comunicação em nosso país e nem mesmo consegue avançar de maneira efetiva em conteúdos e práticas educativas e jurídico-punitivas. Gostaria de ver a mesma veemência na relação entre pedofilia e homossexualidades, contra a mídia e a indústria de entretenimento. Por exemplo, na promoção de variadas e exaustivas bandas de forró que fazem alusão à infância e ao corpo de crianças, especialmente de meninas, desde suas letras musicais, até às imagens e perfomances de “dançarinas-meninas que de tão ingênuas se tornam sedutoras”.

Vejam como as questões são muito mais complexas do que dizer, absurdamente - na tribuna de uma casa legislativa, evocando a proteção do deus católico, num Estado supostamente laico - que a pedofilia é prerrogativa de homossexuais. Aqui, me parece que a questão está nos esteriótipos sexuais e morais construídos em torno das homossexualidades, como “detentoras do poder de quebrar os bons costumes e a harmonia familiar burguesa”. Aliado a isto, a interdição do Estado, das Igrejas, da Medicina conservadora, do capital em relação ao corpo, patrimônio primeiro de todo ser humano.

As mesmas vozes que se levantam contra a livre orientação sexual, contra a união civil entre homossexuais, são as que ainda acham que “em briga de marido e mulher não se mete a colher”, são as que ainda criminalizam as mulheres pela decisão do aborto, são as que acreditam no modelo da família burguesa como uma “célula-base” da harmonia social, com meninos-rapaizinhos, tendo que demonstrar virilidade desde muito cedo e meninas-mocinhas incentivadas a consumir um padrão de beleza encomendado para menores. A estas pessoas e, apenas a estas, interessa o atalho demagógico e preconceituoso de aliar, indubitavelmente, pedofilia a homossexualidades.

Por um Estado Laico! Pelo direito à infância e à felicidade de nossas meninas e meninos! Por uma sociedade justa, democrática e igualitária!

*Nágyla Drumond: Feminista. Mãe. Socióloga. Professora Substituta UECE. Secretária Estadual de Mulheres PCdoB/CE.

Não Identificado

Maria Bethânia

Composição: Caetano Veloso

Eu vou fazer uma canção pra ela
Uma canção singela, brasileira
Para lançar depois do carnaval
Eu vou fazer um iê-iê-iê romântico
Um anti-computador sentimental
Eu vou fazer uma canção de amor
Para gravar num disco voador
Uma canção dizendo tudo a ela
Que ainda estou sozinho, apaixonado
Para lançar no espaço sideral
Minha paixão há de brilhar na noite
No céu de uma cidade do interior
Como um objeto não identificado
Como um objeto não identificado
Que ainda estou sozinho, apaixonado
Como um objeto não identificado
Para gravar num disco voador
Eu vou fazer uma canção de amor
Como um objeto não identificado


10 julho 2011




Um dia, quando estava perambulando pelas ruas onde moro, um senhor me
parou do nada, mesmo sem conhecer-me, levantou a seguinte pergunta:

Você é feliz?

e ainda complementou: não precisa me responder, na hora
certa estarás com a reposta bem formulada, e me responderás.

Realmente, uma pergunta que parecesse um pouco simples e fácil, mas depois desse
dia fiquei bem pensante, o motivo da felicidade daquele sujeito e na
resposta.

Passou um bom tempo e numa noite de muita alegria encontrei o mesmo senhor, e ele me fez a mesma pergunta:

Você é feliz?

E com uma afirmação respondi que era feliz SIM, e no mesmo momento ele
perguntou o por que, e sem titubear responde-lhe tenho saúde, vida, esta que
muitas são tiradas antes mesmo da chegada ao mundo, no próprio ventre
das mães.

Tenho um verdadeiro tesouro, que são meus amigos, pois são eles que edificam parte da felicidade humana.

Tenho personalidade, vontade e esperança, creio na mudança, não só por parte de outros,
primeiramente creio em minha mudança e doarei ao mundo em seguida, pois o
diferencial começa em nós mesmos.

Depois daquele dia percebi que temos o mau costume de não dar valor ao que temos, e fazemos guerras por algo que nunca nos pertenceu.

A felicidade não só se alcança como também se constrói. Montemos conceitos e princípios que sempre estarão sujeitos a mutação e viva, pois não adianta buscar flores no jardim que
não cultivamos!

Por fim faço a seguinte pergunta:

Você é feliz?

09 julho 2011


Esconder, omitir, mascarar, dentre tantas outras palavras do mesmo campo semântico, sempre estiveram presentes nas atitudes humanas como recursos eufêmicos para justificar práticas, muitas vezes ilícitas. Na realidade, na essência de cada uma delas paira outra palavra da qual elas foram derivadas, a mentira. Esta, como se sabe, configura-se como a ausência da verdade, quando a pessoa que a propaga faz isso de forma maledicente, ou seja, com o intuito de prejudicar o outro, seja conscientemente ou não. Muito além dessa conceituação, as inverdades humanas chegam à contemporaneidade como armas de dissipação da violência, de veiculação de ideologias falsas e, principalmente de exclusão social, dividindo a humanidade entre seres superiores e inferiores.

Foi por causa dessa ampliação dada à mentira que muitas pessoas sofreram e ainda sofrem com o desamor dos outros integrantes da sociedade. Quando no passado da construção do povo brasileiro, os nossos colonos escravizaram, humilharam, torturaram e mataram os negros, justificando para isso que a cor negra da pele dos escravos era inferior a deles, eles estavam propagando falsas ideologias, baseado apenas na irracionalidade e na ausência de conhecimento de suas mentes primitivas. No presente isso culminou no preconceito velado que muitos nutrem contra a negritude de um povo marcado pela discriminação.

Muito tem se falado em longevidade, na qual pessoas vivem cada vez mais e melhor, com acesso a tudo o que possa propiciar uma vida longa e feliz. Entretanto, é muito difícil manter uma vida duradoura e com felicidade, quando os idosos desse país são desrespeitados nas filas dos bancos, ou nos assentos preferenciais dos ônibus. Ou ainda, quando algum deles procura um atendimento de qualidade na esfera pública de saúde e não encontram. Ou então, na luta para comprovar, numa idade certa, que já estão aptos a serem aposentados, e assim, terem seus direitos garantidos. Mesmo assim, é muito mais simples mentir dizendo que as pessoas estão vivendo mais, escondendo das estatísticas um modelo de vida marcado pelo sofrimento e pelo descaso.

Por um problema semelhante passa os deficientes físicos. Mesmo com os avanços tecnológicos, com equipamentos que ajudam muitos deles a levarem uma vida tão comum como as de outras pessoas, infelizmente nem todos têm condições de usufruir de tais avanços. Muitos não podem comprar certos equipamentos e acabam sendo privados de participar das atividades mais corriqueiras da sociedade. Além disso, ruas, avenidas, lojas, escolas e uma infinidade de lugares não são ajustados para atender devidamente essa parcela da população. Porém, para nós, é muito fácil excluir esses indivíduos, fingindo que eles vivem uma vida tranquila, a ter que promover uma revolução social para garantir uma mudança significativa na vida deles, descortinando mais essa mentira.

Nessa linha de mentiras e incertezas vive o sistema prisional do Brasil. Com selas lotadas de detentos vivendo em condições subumanas, os presídios do país seguem a sua rotina de aglomeração, com homens e mulheres à espera de julgamento, convivendo com estruturas deficientes e despreparadas, para realizar uma possível ressocialização, capaz de reenquadrar esses indivíduos no meio social. Porém, para os nossos governantes, criar leis que liberem esses prisioneiros, ou que dificultem o acesso deles aos presídios, serve de paliativo mentiroso para obscurecer o já negro quadro do sistema presidiário do Brasil.

O que falar então das mentiras que são veiculadas sobre as melhorias na educação de base aqui no Brasil. São índices mascarados, dados alterados, gráficos manipulados, tudo para tentar criar uma comprovação ilusória de que o ensino público melhora a cada dia. No entanto, na realidade, o que se vê nas escolas são os mesmos problemas de décadas atrás, professores mal remunerados, escolas com estruturas precárias, metodologias ultrapassadas de ensino, alunos desestimulados e o pior, descaso governamental para sanar essas moléstias da educação, tão antigas e fadadas a eternalidade.

O ser humano luta dia após dia para sobreviver nessa terra sem lei da qual são lançados no momento do nascimento. Numa corrida contra o tempo, cada indivíduo trava uma verdadeira batalha para permanecer vivo, escapando da fúria inconsequente dos membros de sua própria espécie. Quantas e quantas pessoas enfrentam grandes obstáculos, apenas para provarem que são dignas de respeito? Quantas outras passam anos de suas vidas lutando para serem aceitas pela sociedade? Sem contar aquelas que travam verdadeiras guerras contra a intolerância e o desrespeito alheio.

Por isso, em respeito a esses e outros problemas que assolam a nossa realidade, as inverdades proferidas por todos que compõe essa sociedade devem ser revistas e, sobretudo reavaliadas, no intuito de buscarmos formas consistentes que possam transformar de uma vez por todas essas mentiras que insistimos em disseminar. Minimizar a hipocrisia deve estar nas metas de cada cidadão, desde a formação educacional de uma criança até a reflexão dela na fase adulta. Seja como for, não podemos mais fechar os olhos para a realidade circundante. Temos sim, que ampliar o nosso campo de visão para converter essas mentiras em verdades verdadeiras.