07 maio 2011

CUT faz 1º de Maio para pregar pelo fim do racismo no Brasil


Por: Redação
Fonte: Afropress: Foto - Vilma Amaro/Assessoria de Comunicação da CUT/SP - 18/4/2011


S. Paulo
- A CUT (Central Única dos Trabalhadores), a principal central sindical do país, transformará o 1º deste ano numa celebração à influência africana no Brasil e escolheu o tema “Brasil-África: fortalecendo a luta dos trabalhadores”, como mote de um movimento mais amplo que pretende incorporar de uma vez a luta contra o racismo no mundo do trabalho.

As comemorações que começam no dia 25 de abril e terminam no dia 1º de maio, incluem atividades como seminário internacional, cursos de capacitação, oficinas culturais, exposição de livros, obras de arte, mostra de filmes brasileiros e africanos, manifestações culturais afro-brasileiras, gastronomia, shows e ato interreligioso privilegiando as religiões de matriz africana.

A programação será encerrada com uma grande manifestação no 1ª de maio no Parque da Independência, no Ipiranga, em S. Paulo, onde deverão ser homenageados os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Nelson Mandela.

“A proposta é dar um primeiro passo para refletirmos sobre nossa condição de país afro-descendente e aprofundarmos nossos intercâmbios internacionais a partir de nossas lutas e conquistas. Somamos, hoje, mais de 90 milhões de afrodescendentes e essa consciência ainda não está presente na totalidade de nossa população. Além disso, os países africanos, que estão na raiz de nossa origem, são pouco conhecidos em sua dimensão histórica, institucional, econômica, social e cultural”, afirmou o presidente da CUT/SP, Adi dos Santos Lima (foto), o único negro a presidir uma central sindical, em S. Paulo, e um dos poucos dirigentes sindicais negros em posto de comando no Brasil.

Adi coordena a programação com a ajuda da ex-ministra da SEPPIR, Matilde Ribeiro, que presta consultoria ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e foi cedida desde fevereiro para ajudar nos preparativos.

Reconhecer a identidade

Segundo ele, “as centrais sindicais brasileiras tem que inverter a lógica criada pelo racismo e mostrar para a classe trabalhadora brasileira que, ao reconhecer sua identidade, ela se fortalecerá”.

“Nós teremos mais espaço no mercado de trabalho, nós teremos mais espaço na educação, nós teremos mais espaço na sociedade como um todo. Então, nós temos que inverter essa lógica e mostrar a sociedade brasileira que ao acabar com o racismo nós estaremos construindo uma sociedade mais justa, mais igualitária. É esse o nosso objetivo”, afirmou.

Na entrevista que concedeu durante o ato de lançamento do 1º de Maio, no Sindicato dos Bancários, na última terça-feira, o dirigente da CUT, reconheceu que a grande dificuldade é fazer com que a sociedade reconheça sua verdadeira identidade.

“Nós somos de origem africana, nós temos uma população negra que hoje, tirando a África nós somos o segundo maior país de cor negra no mundo. Ou seja, nós temos todas as características de uma identidade negra”, acrescentou.

Veja, na íntegra, a entrevista do presidente da CUT em S. Paulo, ao editor de Afropress, jornalista Dojival Vieira..

Afropress – Como é que o movimento sindical hoje e a CUT vê a questão racial brasileira?

Adi – O movimento sindical brasileiro foi educado prá reivindicar. Se você olhar a estrutura sindical brasileira, são poucos os sindicatos no Brasil que tem preocupação com a questão da cidadania. Mas, isso vem mudando e vem mudando em face de que o mundo está mudando. O mundo do trabalho não é mais o mundo do trabalho de 20, 30 anos atrás. E aquele sindicato que não entrou na questão da cidadania, está fadado a morrer, porque o trabalhador de hoje quer discutir questões inerentes ao seu dia a dia.

A CUT nasceu em 1.983 defendendo esse tipo de concepção. Mesmo assim, nós ainda temos dificuldades de colocar como uma bandeira essa questão da integração dos movimentos sociais, no que tange a questão do racismo, a questão da mulher trabalhadora, a questão da inserção do negro no mercado de trabalho, ou seja: são temas que estão surgindo na pauta do movimento sindical.

E esse encontro agora, através desse evento, ele faz um gesto nessa direção. Nós não podemos ficar só olhando para o nosso umbigo, precisamos resgatar a nossa história. Precisamos olhar o que significa a nossa identidade e nossa identididade ela é intimamente ligada a identidade da África.

Afropress – O racismo é uma realidade no mundo do trabalho? Você tem essa percepção? Você como negro, como dirigente sindical, tem essa percepção?

Adi - Eu digo prá você que não é só no mundo do trabalho. Se você sair fora do mundo do trabalho, se você tiver aposentado e for negro, você certamente será tratado de forma diferenciada. Então, o mercado de trabalho discrimina, mas a sociedade também discrimina. E pior que isso: muita gente não se sente racista, muita gente não aceita ser chamado de racista e, portanto, a grande dificuldade que nós temos é a sociedade reconhecer a sua verdadeira identidade.

Nós somos de origem africana, nós temos uma população negra que hoje, tirando a África, nós somos o segundo maior país de cor negra no mundo. Ou seja: nós temos todas as características de uma identidade negra.

Agora, o que nós temos é o preconceito, que muitas pessoas fogem dessa realidade, dessa identidade porque tem medo. Porque se ele se identificar ele é discriminado, ele é expulso, ele é excluído, mas nós temos que fazer o contrário. As centrais sindicais tem que inverter essa lógica, mostrar para a classe trabalhadora brasileira que ao reconhecer sua identidade, ela se fortalecerá. Nós teremos mais espaço no mercado de trabalho, nós teremos mais espaço na educação, nós teremos mais espaço na sociedade como um todo. Então, nós temos que inverter essa lógica e mostrar a sociedade brasileira que ao acabar com o racismo nós estaremos construindo uma sociedade mais justa, mais igualitária. É esse o nosso objetivo.

Afropress - Você sente que as coisas estão mudando?

Adi – Está mudando. Nós vimos recentemente o Estatuto da Igualdade Racial. Foi um avanço, para quem não tinha nada foi um avanço. E nós temos ainda que continuar avançando. Nós temos a Lei 10.639, que foi sancionada mas não saiu do papel porque o preconceito é muito grande no meio estudantil, no meio educacional, nós precisamos tirar do papel essa lei e fazer valer na prática a implementação da cultura africana nas escolas. Ou seja: está mudando.

Nós temos hoje uma Secretaria com status de Ministério, a Seppir, isso é um avanço, mas nós temos que avançar mais, nós temos que ter mais políticas públicas voltadas para a questão racial no Brasil.

Afropress – Você é um dos poucos dirigentes sindicais negros no Estado de S. Paulo e no Brasil. Não são muitos os dirigentes sindicais negros...

Adi - Não. Porque se você olhar o mercado de trabalho, nós somos maioria no mercado de trabalho, mas quando a gente olha pra questão da opção, eu fiz um opção na minha vida e não me arrependo e acho que fui no caminho certo, que foi ir numa vertente de defender os trabalhadores, defender as trabalhadoras, mas isso não é uma realidade no Brasil, porque se todos os negros e negras reconhecessem essa identidade, possivelmente, não precisaríamos estarmos todos no mesmo movimento mas, poderíamos estar na mesma sociedade e hoje agente não está. Agente vê nas escolas, nos bancos, nas fábricas, quem é que tem ascenção aos cargos de chefia, de secretaria, quem é que tem emprego em bancos públicos, ou mesmo em bancos privados.

Ou seja: está mudando, mas precisamos mudar muito mais, mas nós estamos no caminho certo, que é fazer eventos como esses.

Afropress – A CUT está completamente comprometida com essa bandeira da inclusão da população negra aos direitos básicos da cidadania, com o combate ao racismo e à desigualdade? A CUT está ganha para essa batalha?

Adi - Nossa direção hoje ela está muito voltada para as questões sociais. Nós estamos hoje com uma agenda de inclusão social. Estamos com uma agenda de lutar pelos direitos da igualdade, não só na questão racial, mas na questão da mulher.

Nós estamos hoje com uma agenda voltada para a inclusão social como um todo, mas principalmente, olhando o mercado de trabalho que é onde nós atuamos. Então, nós queremos no mercado de trabalho ter direitos iguais para funções iguais, salários iguais para funções iguais, independente de ser homem ou mulher, independente de ser branco ou negro. Ou seja: a pauta da CUT ela é uma pauta voltada para a questão da igualdade.

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