07 dezembro 2010

Drauzio Varela Fala Sobre a Homossexualidade


Se eu já era fã do médico Dráuzio Varela, depois da matéria abaixo, eu me tornei mais ainda. Isto porque, sem prolixidade, ele desconstrói e, ao mesmo tempo esclarece os leitores sobre o desconhecimento da sociedade sobre a homossexualidade. Além disso ele dá um ligeiro panorama histórico de tudo o que envolve a sexualidade humana. VALE A PENA LER:



A HOMOSSEXUALIDADE é uma ilha cercada de ignorância por todos os lados. Nesse sentido, não existe aspecto do comportamento humano que se lhe compare. Não há descrição de civilização alguma, de qualquer época, que não faça referência a mulheres e a homens homossexuais. Apesar de tal constatação, esse comportamento ainda é chamado de antinatural. Os que assim o julgam partem do princípio de que a natureza (leia-se Deus) criou os órgãos sexuais para a procriação; portanto, qualquer relacionamento que não envolva pênis e vagina vai contra ela (ou Ele).

Se partirmos de princípio tão frágil, como justificar a prática de sexo anal entre heterossexuais? E o sexo oral? E o beijo na boca? Deus não teria criado a boca para comer e a língua para articular palavras? Se a homossexualidade fosse apenas uma perversão humana, não seria encontrada em outros animais. Desde o início do século 20, no entanto, ela tem sido descrita em grande variedade de invertebrados e em vertebrados, como répteis, pássaros e mamíferos.

Em alguma fase da vida de virtualmente todas as espécies de pássaros, ocorrem interações homossexuais que, pelo menos entre os machos, ocasionalmente terminam em orgasmo e ejaculação. Comportamento homossexual foi documentado em fêmeas e machos de ao menos 71 espécies de mamíferos, incluindo ratos, camundongos, hamsters, cobaias, coelhos, porcos-espinhos, cães, gatos, cabritos, gado, porcos, antílopes, carneiros, macacos e até leões, os reis da selva.

A homossexualidade entre primatas não humanos está fartamente documentada na literatura científica. Já em 1914, Hamilton publicou no "Journal of Animal Behaviour" um estudo sobre as tendências sexuais em macacos e babuínos, no qual descreveu intercursos com contato vaginal entre as fêmeas e penetração anal entre os machos dessas espécies. Em 1917, Kempf relatou observações semelhantes. Masturbação mútua e penetração anal estão no repertório sexual de todos os primatas já estudados, inclusive bonobos e chimpanzés, nossos parentes mais próximos.

Considerar contra a natureza as práticas homossexuais da espécie humana é ignorar todo o conhecimento adquirido pelos etologistas em mais de um século de pesquisas. Os que se sentem pessoalmente ofendidos pela existência de homossexuais talvez imaginem que eles escolheram pertencer a essa minoria por mero capricho. Quer dizer, num belo dia, pensaram: eu poderia ser heterossexual, mas, como sou sem-vergonha, prefiro me relacionar com pessoas do mesmo sexo.

Não sejamos ridículos; quem escolheria a homossexualidade se pudesse ser como a maioria dominante? Se a vida já é dura para os heterossexuais, imagine para os outros. A sexualidade não admite opções, simplesmente se impõe. Podemos controlar nosso comportamento; o desejo, jamais. O desejo brota da alma humana, indomável como a água que despenca da cachoeira.

Mais antiga do que a roda, a homossexualidade é tão legítima e inevitável quanto à heterossexualidade. Reprimi-la é ato de violência que deve ser punido de forma exemplar, como alguns países o fazem com o racismo. Os que se sentem ultrajados pela presença de homossexuais que procurem no âmago das próprias inclinações sexuais as razões para justificar o ultraje. Ao contrário dos conturbados e inseguros, mulheres e homens em paz com a sexualidade pessoal aceitam a alheia com respeito e naturalidade.

Negar a pessoas do mesmo sexo permissão para viverem em uniões estáveis com os mesmos direitos das uniões heterossexuais é uma imposição abusiva que vai contra os princípios mais elementares de justiça social. Os pastores de almas que se opõem ao casamento entre homossexuais têm o direito de recomendar a seus rebanhos que não o façam, mas não podem ser nazistas a ponto de pretender impor sua vontade aos mais esclarecidos.

Afinal, caro leitor, a menos que suas noites sejam atormentadas por fantasias sexuais inconfessáveis, que diferença faz se a colega de escritório é apaixonada por uma mulher? Se o vizinho dorme com outro homem? Se, ao morrer, o apartamento dele será herdado por um sobrinho ou pelo companheiro com quem viveu por 30 anos?

7 comentários:

  1. Olá Diogo
    Um texto desse deveria ser lido e publicado por todos, inclusive nas escolas e igrejas. Adorei.
    Bjão

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  2. Diogo, fico feliz por ter lido essa matéria. Hoje eu estava buscando respostas para algumas coisas da minha vida e me deparo com um texto tão singelo como esse. Obrigado, amigo. Você tocou em mim. Digo vc, pq divulgou esse texto.Às vezes, devido as dificuldades,a gente enfraquece e fica em dúvida. Se é que vc me entende?! Obrigado, mil vezes obrigado. Abreijos!!!

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  3. Compreendo sim amigo e fico muito feliz em ter amenizade, de alguma forma o seu sofrimento...bjoxxxxxxxxx e feliz 2011!

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  4. Era tudo que precisava ler hoje, já era fã do Dr Drauzio, agora só o fã número 01, vou fazer o possível pra que mais pessoas tenham acesso a este conteúdo, obrigado.

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  5. Texto perfeito!
    Parabéns mais uma vez... ;)

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  6. muito bom o texto,vou compartilhar no face e recomendar pra muita gente...deveria ser mais divulgado e a reportagem veiculada na mídia,seria interessante no quadro do fantástico da rede globo que eventualmente tem o autor(Drauzio ) como apresentador,imagina o alcance dessa explanação à população,seria bom demais.

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