Eu não sou da paz. Não sou mesmo não. Não sou.
Paz é coisa de rico. Não visto camiseta nenhuma, não, senhor. Não solto pomba
nenhuma, não, senhor. Não venha me pedir para eu chorar mais. Secou. A paz é
uma desgraça. Uma desgraça. Carregar essa rosa. Boba na mão. Nada a ver. Vou
não. Não vou fazer essa cara. Chapada. Não vou rezar. Eu é que não vou tomar a
praça. Nessa multidão.
A paz não resolve nada. A paz marcha. Para onde
marcha? A paz fica bonita na televisão. Viu aquele ator? Se quiser, vá você,
diacho. Eu é que não vou. Atirar uma lágrima. A paz é muito organizada. Muito
certinha, tadinha. A paz tem hora marcada. Vem governador participar. E
prefeito. E senador. E até jogador. Vou não. Não vou.
A paz é perda de tempo. E o tanto que eu tenho
para fazer hoje. Arroz e feijão. Arroz e feijão. Sem contar a costura. Meu
juízo não está bom. A paz me deixa doente. Sabe como é? Sem disposição. Sinto
muito. Sinto. A paz não vai estragar o meu domingo. A paz nunca vem aqui, no
pedaço. Reparou? Fica lá. Está vendo? Um bando de gente. Dentro dessa fila
demente.
A paz é muito chata. A paz é uma bosta. Não fede
nem cheira. A paz parece brincadeira. A paz é coisa de criança. Tá uma coisa
que eu não gosto: esperança. A paz é muito falsa. A paz é uma senhora. Que
nunca olhou na minha cara. Sabe a madame? A paz não mora no meu tanque. A paz é
muito branca. A paz é pálida. A paz precisa de sangue. Já disse. Não quero.
Não vou a nenhum passeio. A nenhuma passeata. Não
saio. Não movo uma palha. Nem morta. Nem que a paz venha aqui bater na minha
porta. Eu não abro. Eu não deixo entrar. A paz está proibida. A paz só aparece
nessas horas. Em que a guerra é transferida. Viu? Agora é que a cidade se
organiza. Para salvar a pele de quem? A minha é que não é.
Rezar nesse inferno eu já rezo. Amém. Eu é que
não vou acompanhar andor de ninguém. Não vou. Não vou. Sabe de uma coisa: eles
que se lasquem. É. Eles que caminhem. A tarde inteira. Porque eu já cansei. Eu
não tenho mais paciência. Não tenho. A paz parece que está rindo de mim. Reparou?
Com todos os terços. Com todos os nervos. Dentes estridentes. Reparou? Vou
fazer mais o quê, hein? Hein?
Quem vai ressuscitar meu filho, o Joaquim? Eu é
que não vou levar a foto do menino para ficar exibindo lá embaixo. Carregando
na avenida a minha ferida. Marchar não vou, ao lado de polícia. Toda vez que
vejo a foto do Joaquim, dá um nó. Uma saudade. Sabe? Uma dor na vista. Um cisco
no peito. Sem fim. Ai que dor! Dor. Dor. Dor. A minha vontade é sair gritando.
Urrando. Soltando tiro. Juro. Meu Jesus! Matando todo mundo. É. Todo mundo. Eu
matava, pode ter certeza. A paz é que é culpada. Sabe, não sabe? A paz é que
não deixa.
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