25 julho 2010

Estupor


Autor: Amon de Assis - Graduado em Letras (UNICAP)

A propaganda nos estupra o ano todo, mas o prazer maior é mesmo no 25. A história toda começa assim: sem qualquer preliminar a primeira entrada ocorre em fevereiro. Ali, o carnaval dita o ritmo do entra e sai: Aumenta a demanda por entorpecentes, tudo pra sustentar as máscaras da torpe prática econômica na festa da carne. E quando os usuários, lícitos e ilícitos, pensam em lamentar sobre o cinzeiro a quarta-feira, a páscoa nos empurra os ovos com tudo. O coelhinho pula em cima da gente sem dó: sai ovo, entra ovo... porém a troca beneficia, sempre, um lado só. “Você desconhece o pai dos filhos bastardos de seu trabalho?”

E se uma semana comendo peixe parecer muito, sem pausa troca-se de posição – muda-se o enfoque – e a mídia lembra-nos da nossa mãe prostituída. Aí, lá vamos nós (nos) dar de novo. E temos de dar com alegria, sem perder a compostura. Somos usados, e exaustos nos entregamos ao dia dos namorados – "só pra extravasar...". Quer relação mais íntima que o Amor e a Usurpação?

Aí, já viu: tome milho, tome fogueira (CO2 e queimaduras...), tome fogo, tome fumaça, tome festa, tome forró – que a Arte (?) também sabe ser cafetona - “Pra sobreviver...”. Ah! Tome também o que tiver pra beber, porque lá vêm as férias, e o dia do amigo, e o dia da vovó, e o dia dos pais, e aquela comemoração Imperiosa do 7 de Setembro, e o dia das crianças (que é de lei), e o Halloween – você sabia que é escrito assim? Tem até o dia dos finados...

Mas o dezembro é sagrado: Guirlanda, luzinha, neve de mentira, árvore de plástico, sino sem som, um velho de encher (ou que dance, ou que cante, ou um “mulambo” qualquer), uma galinha gigante, vinho com água e açúcar, farofa à vontade e pronto: Nasceu o menino Jesus! É aquela explosão de luz: vem tudo num jorro, de dentro do saco do Papai Noel, que abastece, sacia e emprenha o imaginário do povo, para a chegada de mais um ano novo. Réveillon.

Venda-mo-nos, então, às compras, porque em terras tupiniquins a Tradição se traveste em publicidade...


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