28 agosto 2018

Ausência Presente - por Eduardo Henrique



Sinto algo correr dentro de casa. Algo robusto, com braços longos e uma cabeça deformada. Seu vulto remexe a casa inteira, bate no telhado, cai no chão com um som estrondoso, se arrasta entre as janelas. Depois para num canto, acuado. Não sabe mais para onde ir. Ele se deixa cair, enquanto escorre facilmente pela parede, até que seus braços compridos ocupem toda a quina da mesa e sua cabeça deformada penda debilmente sobre seu pescoço quase inexistente. Depois de um tempo, quando não mais o percebo, ele surge. Ele surge em várias maneiras e por vários motivos. Motivos os quais ainda não compreendo. Já quis e já o mandei embora de minha casa várias vezes. Mas é bom tê-lo, porque essa casa está quase sempre vazia. Na verdade, às vezes eu nem estou em casa e o vejo. Ele está nos braços de uma estátua, deitado, me fitando com olhos que eu não sei a cor. Me perco em outro pensamento e quando vejo, ele está lá. Numa luzinha branca que aparece no celular. Não me controlo e corro para vê-lo. Altivo, oculto, dissimulado. Não sei quem você é, não sei se sua presença é boa, não sei se quero que vá embora. Essa casa de carne e veias gostaria de te comportar. Mas nessa casa de sentimentos não tem espaço pra ti. Voa, disforme. Quem sabe um dia tu topes com a porta fechada. Quem sabe um dia baterás, em vão, nessa porta por que tu antes costumava entrar e fazer a festa. Quando esse dia chegar, o que você vai fazer? Bater mais forte na porta? ou dar meia volta-volver?

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