Parabéns a todas as
putas, messalinas, meretrizes, vadias, concubinas, vacas, piranhas, perdidas,
rameiras, garotas de programa, prostitutas. Parabéns a todas vocês por fazerem
do sexo uma cultura de entretenimento. Por enfrentarem tantos preconceitos
apenas para saciar a fome de uma sociedade carente, e porque não doente, no
tocante ao sexo.
Vocês que vendem
prazeres momentâneos para quem prefere a ilusão do sexo irreal a ter que se
regozijar com ele em sua naturalidade. Parabéns por darem a cara a tapa nas
ruas e avenidas expondo a real face da prostituição. Muitas de vocês nasceram
da miséria, da exclusão, da total falta de oportunidade. Outras poucas da
curiosidade, do oportunismo, algumas até do mais puro fetiche. Mas, a ideia é a
mesma: subverter o sexo, oferecendo-o como moeda de troca.
Parabéns por
confrontarem o machismo, pondo-o em segundo plano. No quarto, são vocês que dão
as cartas. Eles podem negociar, mas são vocês que dão a palavra final. Em meio
a uma sociedade vulgarizada, banalizada quanto ao sexo, e ao mesmo tempo
despreparada para fazê-lo, a prostituta continua ilhada de fantasia despertando
os sensos comuns mais absurdos daqueles que não compreendem a sua função
social.
Sim, vocês prestam
um serviço de emergente utilidade pública. Proporcionam prazer àqueles cujos
desejos foram negados ao longo da vida. Permitem que o gozo seja a sensação
mais visceral do ser humano. Fingem, teatralizando orgasmos revestidos de
cifrões. Mentem para o outro e, assim, conseguem desvendar seus temores mais
profundos. Do outro lado, há um indivíduo que muitas vezes se engana para fazer
parte desse espetáculo efêmero do prazer.
Na meia luz de um
quarto, verdades e mentiras perdem seus reais significados. Só a satisfação
importa. Não há medos nem ressentimentos. O risco de se contrair algo venéreo
existe, mas não atemoriza esses atores. Esses personagens não carregam o
estigma da morte como antes. No passado, sua presença era motivo de doença.
Despertava temor, repulsa e condenação por parte dos mais puritanos. Hoje essa
áurea não se desfez por completo, porém há muito mais saúde em vocês do que em
seus clientes engravatados e bem casados. Na verdade, quem se prostitui são
eles, vocês apenas lhes fazem um favor.
Prestação de
serviço rápida, barata e eficiente, um verdadeiro fast food do prazer. Vocês
são guerreiras. Vivem vidas duplas, triplas. Trabalham, estudam, sustentam
famílias inteiras. A noite, além de usarem o corpo para satisfazer a lasciva
mentalidade do outro, ainda são psicólogas, terapeutas, conselheiras, mesmo sem
formações para isso. Tudo é feito para agradar o cliente e garantir o pão de
cada dia. Na pior das hipóteses, a noite mostra a suas garras. Por isso são
perseguidas, roubadas, até mortas e esquecidas pelas autoridades.
Para se proteger,
criam uma couraça sob si mesmas que beira à marginalidade. Há quem não entenda,
mas na selva de pedra da madrugada, é preciso estar a espreita dos grandes
predadores. Por essa razão, muitas de vocês saíram do gueto, onde ruas e avenidas
escuras serviam-lhes de refúgio. A preferência agora é estar mais perto do
alvo, mesmo que de forma silenciosa, obscura. Não se pode revelar o sexo por
completo, pois isso pode estragar o script da sedução.
De tão talentosas,
já se tornaram temas de músicas, filmes, novelas e seriados. Estão no mais alto
escalão das sociedades modernas. Muitas passam despercebidas pela multidão.
Falam bem, são refinadas, formadas e fisicamente desenhadas para despertar as
mais abstratas reações. São chamadas de acompanhantes, eufemismo que suaviza o
peso do pecado da palavra puta, porém carrega os mesmos mistérios de seus
sinônimos.
Isso aquelas que
brotaram nesse ramo por opção, as outras, oriundas das mazelas sociais, se
viram com podem. A maioria já são vendidas desde novas e se veem encarceradas
em um mundo onde a prostituição é a sua única rota de fuga. Crianças são
prostituídas a partir disso. Como também as travestis, que infelizmente
encontram nessa vida sua única fonte de renda. Porém, não podemos culpa-la por
isso, já que há outras razões para estas demandas lamentavelmente ocorrerem.
Parabéns a vocês
por encorajar as mulheres casadas a se libertarem em seus quartos, inovarem na
cama, se permitirem a serem putas por um breve instante. Graças a vocês
prostitutas, as relações conjugais ganharam a chance de reinventar o sexo, este
que muitas vezes é limitado por questões morais, sociais e religiosas, as quais
ignoram a importância do prazer dentro de uma relação.
Parabéns a vocês mulheres, sofredoras e mágicas. Essa dualidade que lhes
foi atribuída é fruto de uma cultura mal resolvida sexualmente. Não se
penalizem por causa disso. Nem muito menos se culpem. Sentimento de vergonha
quem deve ter são todos nós, hipócritas bordeleiros, que buscamos
sorrateiramente seus serviços na calada da noite, no escuro pecaminoso de ruas,
clubes e bordéis. Parabéns por jogar na cara da sociedade essa dualidade e,
ainda assim, estarem sempre lindas, maquiadas e dispostas a nos prestar esse
favor. Não importam seus nomes nem seus rótulos, o importante é ter ciência que
ser puta nunca foi o principal problema da prostituição. A prostituta é o
termômetro do nosso fracasso quanto ao sexo e suas vertentes. É o puxadinho que
falta em muitos de nossos latifúndios.
eu sou put
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