17 novembro 2016


Desde o primeiro momento, senti algo de especial por você. As palavras não conseguiram expressar isso do jeito certo naquele momento. Na confusão de sentimentos, pensei que fosse só atração, carnes que se encontravam para se satisfazer. Depois imaginei que fosse um breve gostar, talvez fruto de uma paixão incontrolável que estava surgindo. Cheguei até a cogitar amor, mas percebi a tempo que não era pra tanto. Na verdade, você foi o responsável por tudo isso ao não firmar nada sério comigo, dizendo "que não estava afim de compromisso". De início eu respeitei a sua vontade. Entendi que era cedo para algo mais complexo entre nós. Porém, as circunstâncias em que nos relacionávamos não era coisa de meros ficantes e sim de verdadeiros casais. Você pode não querer admitir, mas as suas atitudes deixaram a entender a incoerência das suas palavras.
Quem não quer nada sério com ninguém não fica falando no zap o tempo inteiro cobrando atenção, dizendo que gosta e que não consegue me esquecer. Não fica puto quando eu visualizo as mensagens mas ignoro-as, respondendo quando eu quero, fazendo com que sua raiva só aumente. Quem não gosta não briga feito adolescente pelas redes sociais, afinal "não somos apenas ficantes". Não fica no Facebook colocando indiretas, frases românticas, músicas idem, para expressar o que sente. Muito menos liga de instante e instante para saber como eu estou, com quem, onde e quando, fazendo todo um interrogatório. Também não fica curtindo todas as fotos do Instagram numa clara mensagem do tipo: "olha, eu estou aqui". Parece que curtir é a sua palavra de ordem, pois onde quer que eu post algo, lá está você como uma sentinela. Se não me quer, pra que cobrar ciúmes. Não entendi!
Quem não gosta de nada sério não fica perguntando aos meus amigos onde eu estou, quando resolvo ignorar suas ligações. Ir ao meu trabalho perguntar por mim a quem trabalha lá não parece coisa de gente descompromissada. Muito menos pedir que estranhos me entreguem recados/bilhetes seus, pois falta coragem suficiente na sua cara para fazer isso. Se não quer nada sério comigo, então não deveria se incomodar com a minha roupa, muito menos maquiagem e cabelo, como se a minha vaidade fosse atrativo para sofrer assédio por ai. E se sofresse, teria algum problema? Se alguém me desse uma cantada na rua, um assobio e me chamasse para sair, isso te magoaria? Se alguém perto de você elogiasse meu corpo isso te incomodaria Ou ao menos pontuasse as minhas qualidades? Acredito que não, pois foi você mesmo que disse com todas as letras que não temos nada demais "somos apenas amigos".
Quem não gosta de nada sério não manda presentes em dias comuns. Nem me oferece dinheiro como moeda de troca de um beijo. Já que disse que não me queria de verdade, deveria pelo menos parar de me desejar nas suas conversas entre amigos. Quem não gosta não dá bandeira. Mas você não, você diz para todo mundo que gosta de mim, menos para mim. Todos sabem que estamos juntos. Todos sabem que nos gostamos. Só você que não quer admitir isso a si mesmo. Essa sua falta de coragem me custou caro. Passei tempo de mais da minha vida a sua espera, torcendo para que você dissesse/assumisse que, pelo menos, gostava de mim. Mas não, servi apenas de distração quando era conveniente. Nas horas de prazer e entrega meu corpo servia, mas para estar ao seu lado na frente de todos não. Sabe de uma coisa, agora eu é que não te quero mais. Cansei de implorar por míseros carinhos.
Nessa história de gosta e não gostar, quem mais perdeu fui eu. Foi você que se apaixonou por alguém indeciso? Não, fui eu. Foi você que apostou todas as fichas em alguém que não compartilhava do mesmo sentimento? Não, fui eu. Foi você que perdeu tempo à espera de alguém que nunca esteva presente na sua vida? Não, fui eu. Foi você que arriscou o próprio emprego para dividir momentos felizes ao seu lado? Não, fui eu. Foi você que ficou longe dos seus amigos porque isso foi imposto dentro da relação? Não, fui eu. Foi você que brigou com a própria família para te defender? Não, fui eu. Foi você que deixou de sair para se divertir para dedicar cada instante a sua presença? Não, fui eu? Foi você que passou noites chorando, sofrendo por alguém que não sabe o que quer da vida? Não, não, fui eu. Foi você que apostou tudo o que podia numa relação, mesmo sabendo que havia grandes chances de perder? Não, fui eu. Eu perdi, eu me iludi, eu me enganei, eu me fudi. Fiz tudo isso por acreditar que teríamos alguma esperança juntos, porém agora sei que tudo o que fiz foi em vão.
Demorasse muito para ver o meu valor. Se é que viu. Agora você me quer? Me liga? Me manda mensagem? Me procura? NÃO QUERO, ops, NÃO TE QUERO. Eu vou repetir. NÃO TE QUERO! A minha cota se esgotou, o meu saco já estourou e a minha paciência acabou. Cansei das suas indecisões, perseguições e desse seu joguinho do qual só você dita as regras. Agora eu tomei as rédeas da minha vida. Quer jogar? Quer algo sério? Quer me assumir publicamente? Só se eu quiser. Desta vez eu decido a hora, quando e como. Serão os meus termos. Não quer? N-Ã-O T-E-M P-R-O-B-L-E-M-A-! As minhas reservas de lágrimas por ti estão iguais aos do Sertão Nordestino. E nem se preocupe, pois a sua recusa não vai me fazer mal. Pelo contrário, voltarei a ser eu. Vou sair, me divertir, conhecer pessoas, quem sabe até encontrar um novo amor ;) Quem sabe eu leia mais livros, escreva um sobre nós/você/eu. Talvez faça uma viagem, mude de endereço, faça uma tatuagem... Ainda não me decidi. O que lhe asseguro é que com você agora sou eu que dito as cartas. A sua demora fez a fila dobrar o quarteirão. Se quiser tentar ficar comigo outra vez, pegue a senha e vá para o final dela. Espere a sua vez sem furar fila, tá?
Próximo?!

Por Beatriz García
O post de Facebook mais popular do verão europeu é uma carta a uma desconhecida. A espanhola Jessica Gómez se dirige a uma “garota do maiô verde” sentada a seu lado na praia para explicar a ela, de forma eloquente, como milhões de mulheres em todo mundo se envergonham de seu corpo, que no entanto é “belo simplesmente por estar vivo”.
O post, publicado no dia 5 de julho e que fala sobre a importância de gostar do si do jeito que se é, recebeu mais de 100.000 likes e 5.000 comentários em apenas dois dias e foi compartilhado 125.000 vezes. Abaixo, a versão traduzida da carta:
Querida garota do maiô verde:
Sou a mulher da toalha ao lado. A que veio com um menino e uma menina.
Antes de mais nada, quero te dizer que estou me divertindo muito perto de você e de seus amigos, neste pedacinho de tempo em que nossos espaços se tocam e suas risadas, sua conversa ‘transcendental’ e a música de sua turma me invadem o ar.
Fiquei meio atordoada ao perceber que não sei em que momento de minha vida deixei de estar aí para estar aqui: deixei de ser a menina para ser “a senhora do lado”, deixei de ser a que vai com os amigos para ser a que vai com as crianças.
Mas não te escrevo por nada disso. Escrevo porque gostaria de te dizer que prestei atenção em você. Não pude evitar.
Vi que você foi a última a ficar só em traje de banho.
Vi você se sentar na toalha em uma postura cuidadosa, tapando o ventre com os braços.
Vi você colocar o cabelo atrás da orelha inclinando a cabeça para alcançá-la, talvez para não tirar os braços de sua estudadíssima posição casual.
Vi você se levantar para ir dar um mergulho e engolir em seco, nervosa por ter de esperar assim, de pé, exposta, por sua amiga, e usar uma vez mais seus braços para encobrir as estrias, a flacidez, a celulite.
Vi você agoniada por não conseguir tapar tudo ao mesmo tempo enquanto ia se afastando do grupo tão discretamente como tinha feito antes para tirar a camiseta.
Não sei se tinha algo a ver, em sua insatisfação consigo mesma, o fato de a amiga por quem você esperava soltar a longuíssimo cabeleira sobre umas costas em que só faltavam as asas da Victoria’s Secret. E enquanto isso você ali, olhando para o chão. Procurando um esconderijo em si mesma, de si mesma.
E eu gostaria de poder te dizer tantas coisas, querida garota do maiô verde… Talvez porque eu, antes de ser a mulher que vem com as crianças, já estive aí, na sua toalha.
Eu gostaria de poder te dizer que, na verdade, estive na sua toalha e na de sua amiga. Fui você e fui ela. E agora não sou nenhuma das duas – ou talvez ainda seja ambas – assim, se pudesse voltar atrás, escolheria simplesmente curtir a vida em vez de me preocupar – ou me vangloriar – por coisas como em qual das duas toalhas, a dela ou a sua, prefiro estar.
Queria poder te dizer que vi que carrega um livro na bolsa, e que qualquer ventre que agora tenha seus dezesseis anos provavelmente perderá a firmeza muito antes de você perder o juízo.
Eu gostaria de poder te dizer que você tem um sorriso lindo e que é uma pena estar tão ocupada em se esconder que não te sobre tempo para sorrir mais vezes.
Eu gostaria de poder te dizer que esse corpo do qual você parece se envergonhar é belo simplesmente por ser jovem. É belo só por estar vivo. Por ser invólucro e transporte de quem você realmente é e poder te acompanhar em tudo que você faz.
Eu adoraria te dizer que gostaria que você se visse com os olhos de uma mulher de trinta e tantos porque talvez então percebesse o muito que merece ser amada, inclusive por você mesma.
Eu gostaria de poder te dizer que a pessoa que um dia te amar de verdade não amará a pessoa que você é apesar de seu corpo e sim adorará seu corpo: cada curva, cada buraquinho, cada linha, cada pinta. Adorará o mapa, único e precioso, que se desenha em seu corpo e, se não o fizer, se não te amar desse jeito, então não merece seu amor.
Eu gostaria de poder te dizer – e acredite, mas acredite mesmo – que você é perfeita do jeito que é: sublime em sua imperfeição.
O que posso te dizer eu, que sou só a mulher do lado?
Mas – sabe de uma coisa? – estou aqui com minha filha. É aquela do maiô rosa, a que está brincando no rio e se sujando de areia. Sua única preocupação hoje foi se a água estava muito fria.
Não posso te dizer nada, querida garota do maiô verde…
Mas vou dizer tudo, TUDO, a ela.
E direi tudo, TUDO, ao meu filho também.
Porque é assim que todos merecemos ser amados.
E é assim que todos deveríamos amar.
TEXTO ORIGINAL DE EL PAÍS
Dizem que quando tudo passa, fica o que é realmente importante: a família. Maior ou menor, com problemas ou sem eles, todas as pessoas recorrem a alguém da sua família quando realmente precisam de intimidade, cura e um pouco de refúgio. Neste artigo vamos falar sobre o luxo de ter sobrinhos.
Esta é uma sorte que nem todas as pessoas podem aproveitar por diversas razões, mas é preciso apontar que nem todas as famílias são de sangue e muita gente faz de pessoas chegadas e amigos a sua própria família, porque encontraram neles o respeito e a compreensão que a sua família biológica lhes negou.
Tenha você a família que tiver, vê-la crescer é uma das coisas mais fascinantesque você pode experimentar nesta vida. Ver como uma nova geração vai colocando tudo de pernas para o ar com a sua alegria e inocência é algo contagiante para pais, tios e avós.
Muitas vezes o papel dos tios não é bem apontado e reconhecido, mas o fato é que entre sobrinhos e tios estabelece-se uma relação especial, com características que merecem ser explicadas. Porque ter sobrinhos é um super luxo que poucas vezes a vida lhe dará com tanta generosidade.

Você aprende o que significa cuidar de uma criança

As primeiras fraldas, os primeiros choros incontroláveis e os primeiros sintomas de pânico ao achar que fez algo errado. A tensão de pegar nos seus braços o que para o seu irmão ou irmã é o maior tesouro do mundo. Para você, tudo isso é um grande aprendizado.
A primeira vez que você pega o seu sobrinho nos braços sente como toda a força e o carinho que provêm da sua família se materializaram nesse pequeno ser que não poderia ser mais perfeito
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Sempre com responsabilidade, cada vez você assume mais tempo de cuidado do seu sobrinho e percebe que o pânico e o medo não são bons conselheiros. Você vai pegando prática na arte de proteger, de dar carinho, e de sentir amor sem esperar nada em troca, porque só a sua presença já supre tudo: sono, exigências e a sua roupa manchada de diversas substâncias multicoloridas.

Proporciona um alívio aos seus irmãos

Quando você se dá conta da responsabilidade tão grande que é passar uma horas com seu sobrinho, automaticamente você começa a sentir empatia por tudo o que seu irmão ou irmã deve estar passando .
No caso de ser a sua irmã a que tenha passado por uma gravidez e parto com tudo o que isso implica, você verá como a prudência e a compreensão são as melhores formas de estabelecer uma boa relação entre todos.

Com a sua presença você presenteia horas de sono, banhos tranquilos e momentos de casal, em troca de passar mais tempo com esse pequeno ser que está revolucionando a vida de todo mundo.No fim das contas, levá-lo para passear no seu carrinho, mostrar-lhe as suas compras sempre com uma aprovação no seu rosto e ver como brinca e se surpreende com os pombos, não parece um favor tão pesado.

Eles crescem em estatura e você em grandiosidade

A posição de toda “titia ou titio” é bastante confortável. Você desfruta de todas as vantagens do seu sobrinho sem ser você o responsável principal da sua criação.Mas isso nunca é censurável, todos sabem disso e você também, de modo que normalmente desfrutar dessa situação de vantagem é o melhor que você pode fazer.
Só uma tia pode abraçar como uma mãe, aconselhar como uma amiga, mimar como uma avó e guardar segredos como uma irmã.
É aí que você aprecia quão importantes vocês podem ser um para o outro, quando se estabelece uma relação de cuidado que segue as normas dos pais, mas criando um novo vínculo entre vocês.

Você volta à sua infância

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Os pais se preocupam em inculcar certos valores e disciplina a seus filhos que toda a família deve respeitar, para assim reforçar a sua autoridade e por sua vez reforçar o sistema de regras da própria criança.
Quando você se ocupa do seu sobrinho, é consciente de que tem que seguir essas indicações educativas, mas estando já estabelecidas, você tem muito mais tempo para brincar e “explorar novos mundos”.
Estar em dia com as novidades de desenhos animados e os raciocínios curiosos que seus sobrinhos tiram deles, inventar novas coreografias de dança e brincadeiras nas quais você pode acabar sendo o gato, o cachorro ou o vampiro, é um treinamento rápido e eficaz para perder todo senso do ridículo frente aos seus pares.

Você é o seu apoio para suas primeiras lágrimas e angústias

Embora o seu peculiar método de dedução para entender o mundo seja “fofo” e seus dilemas vitais “nos pareçam coisas de criança”, eles vivem as suas angústias com muita contradição e intensidade.
Para o bem ou para o mal, o filtro do conhecimento e do entendimento de certas coisas ainda não está totalmente moldado neles, o que faz com que qualquer chamada de atenção dos adultos ou o desprezo dos seus amigos seja vivido como um autêntico drama. E aí está você, para sustentá-lo, apoiá-lo e secar as suas primeiras lágrimas.
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O seu mundo está cheio de simbologia, de amigos invisíveis, de sonhos relacionados com trabalhar como magos do mundo e salvadores de todo pequeno animal. A natureza é para eles uma forma de brincadeira e expressão, os seus sentidos estão vinculados à realidade em que vivem.
Sentem a chuva, as árvores e a terra molhada como uma extensão da sua imaginação. É por isso que a sua sensibilidade é especial, e você precisa lhes explicar as coisas com carinho e certa magia, para que entendam coisas que são realmente sérias sem trair o seu poço de ternura e inocência. Esta etapa é o melhor momento para ser humano… portanto devemos contribuir para não quebrar o encanto.

Guardar o seu encanto mais puro e mostrá-lo novamente

Guarde todas as lembranças que você puder dos seus sobrinhos. Às vezes pais e avós estão tão sobrecarregados com a sua criação que não têm tempo para guardar tantos detalhes deles.
Peça que desenhem, que escrevam, faça um vídeo onde contem o que sonham ser quando crescerem,o que é o mais importante para eles e porque gostam de viver. Tire muitas fotos e anote em um caderno coisas que tenham feito juntos. Diga que juntos estão “fabricando um tesouro do tempo” que só será revelado quando chegar o momento.
Faça com que o seu sobrinho participe da magia que você sente por ele. Cada um de nós sonhou alguma vez em ter algo assim na nossa infância. Agora você pode criá-lo para você e para ele. É por isso que ter sobrinhos é um super luxo.

” Há uma quebra na história familiar onde as idades se acumulam e se sobrepõem e a ordem natural não tem sentido: é quando o filho se torna pai de seu pai.
É quando o pai envelhece e começa a trotear como se estivesse dentro de uma névoa. Lento, devagar, impreciso.
É quando aquele pai que segurava com força nossa mão já não tem como se levantar sozinho. É quando aquele pai, outrora firme e intransponível, enfraquece de vez e demora o dobro da respiração para sair de seu lugar.
É quando aquele pai, que antigamente mandava e ordenava, hoje só suspira, só geme, só procura onde é a porta e onde é a janela – tudo é corredor, tudo é longe.
É quando aquele pai, antes disposto e trabalhador, fracassa ao tirar sua própria roupa e não lembrará de seus remédios.
E nós, como filhos, não faremos outra coisa senão trocar de papel e aceitar que somos responsáveis por aquela vida. Aquela vida que nos gerou depende de nossa vida para morrer em paz.
Todo filho é pai da morte de seu pai.
Ou, quem sabe, a velhice do pai e da mãe seja curiosamente nossa última gravidez. Nosso último ensinamento. Fase para devolver os cuidados que nos foram confiados ao longo de décadas, de retribuir o amor com a amizade da escolta.
E assim como mudamos a casa para atender nossos bebês, tapando tomadas e colocando cercadinhos, vamos alterar a rotina dos móveis para criar os nossos pais.
Uma das primeiras transformações acontece no banheiro.
Seremos pais de nossos pais na hora de pôr uma barra no box do chuveiro.
A barra é emblemática. A barra é simbólica. A barra é inaugurar um cotovelo das águas.
Porque o chuveiro, simples e refrescante, agora é um temporal para os pés idosos de nossos protetores. Não podemos abandoná-los em nenhum momento, inventaremos nossos braços nas paredes.
A casa de quem cuida dos pais tem braços dos filhos pelas paredes. Nossos braços estarão espalhados, sob a forma de corrimões.
Pois envelhecer é andar de mãos dadas com os objetos, envelhecer é subir escada mesmo sem degraus.
Seremos estranhos em nossa residência. Observaremos cada detalhe com pavor e desconhecimento, com dúvida e preocupação. Seremos arquitetos, decoradores, engenheiros frustrados. Como não previmos que os pais adoecem e precisariam da gente?
Nos arrependeremos dos sofás, das estátuas e do acesso caracol, nos arrependeremos de cada obstáculo e tapete.
E feliz do filho que é pai de seu pai antes da morte, e triste do filho que aparece somente no enterro e não se despede um pouco por dia.
Meu amigo José Klein acompanhou o pai até seus derradeiros minutos.
No hospital, a enfermeira fazia a manobra da cama para a maca, buscando repor os lençóis, quando Zé gritou de sua cadeira: e
— Deixa que eu ajudo.
Reuniu suas forças e pegou pela primeira vez seu pai no colo.
Colocou o rosto de seu pai contra seu peito.
Ajeitou em seus ombros o pai consumido pelo câncer: pequeno, enrugado, frágil, tremendo.
Ficou segurando um bom tempo, um tempo equivalente à sua infância, um tempo equivalente à sua adolescência, um bom tempo, um tempo interminável.
Embalou o pai de um lado para o outro.
Aninhou o pai.
Acalmou o pai.
E apenas dizia, sussurrado:
— Estou aqui, estou aqui, pai!
O que um pai quer apenas ouvir no fim de sua vida é que seu filho está ali. ”
-Autor desconhecido

Tendemos a passar pela vida como se fôssemos protagonistas e os demais meros figurantes de uma única história. O atendente nos fez uma grosseria para nos testar a paciência, a vizinha não nos cumprimentou porque é mal educada, o motorista do ônibus não parou no ponto para nos prejudicar. Tudo é sempre avaliado sob a perspectiva de como a atitude do outro nos afeta. Mas existem várias história e somente na nossa somos o centro.
Esquecemos que cada pessoa tem dores que desconhecemos, que somos todos vasos de porcelana prontos a sermos quebrados por uma notícia ruim, uma crítica cruel, um julgamento equivocado. Ao final do dia, cada um é responsável pela própria reconstrução do ego, dos sonhos, do corpo. Alguns se refazem com habilidade, juntam as peças de maneira cuidadosa e as colam de volta com sabedoria. Outros, juntam os cacos apressadamente e de qualquer jeito, deixando o conjunto ainda mais frágil e desarmônico. Mas uma coisa não muda: somos todos montagens do que já se quebrou várias vezes.
Se lembrássemos disso todos os dias, deixaríamos de avaliar o outro pelos atos e nós mesmos pelas intenções. Explico: quando agimos mal, sempre temos uma justificativa para o nosso comportamento, que nos “absolve” da nossa conduta, como uma briga em casa, o término de um relacionamento, problemas no trabalho. Cremos que nossos atos não são tão condenáveis, pois não tínhamos a intenção de machucar o outro, apenas estávamos passando por um momento difícil.
O outro, por sua vez, não merece a interpretação condescendente de seus atos: se ele fez algo condenável, é porque lhe falta caráter, honestidade, maturidade, dignidade, educação, competência. Jamais ganha o benefício da dúvida sobre um sofrimento que esteja vivendo e que tenha sido determinante para sua conduta.
Ninguém está disposto a ouvir uma resposta sincera para um “tudo bem?”, o que torna a dor praticamente invisível. A sensação é de que, se ninguém fala nela, ninguém sente. Mas se fosse possível ser franco diante da pergunta acima, quantos de nós não teríamos nenhum assunto incômodo para relatar?
Desde crianças, somos desestimulados a mostrar a dor, com expressões como “não foi nada”, “engula o choro”, “não faça tolice”, “você já é um rapaz/moça”. Quando uma criança começa a chorar em um ambiente público, a principal preocupação dos pais é não incomodar as demais pessoas presentes, ao invés de descobrir a causa do choro. Talvez por isso, quando adultos, pedimos desculpas ao chorar na presença de alguém. O pedido de desculpas pelo choro diz muito sobre nós: o sofrimento do outro incomoda, é inconveniente, deveria ser algo privado. A verdade é que só há sentido em pedir desculpas pelo próprio sofrimento a um terceiro em uma sociedade em que não estar feliz é quase pecado.
Por ironia, a felicidade escancarada também ofende, sendo logo rotulada de exibicionista ou forjada nas redes sociais. Aparentemente, também deve ser algo a ser mantido na privacidade, restando ao espaço público um ambiente asséptico, sem emoções fortes.
E nesse sufocar de sentimentos – não mostrar felicidade para não parecer exibicionista e não transparecer tristeza para não passar a ideia de fraqueza -, acabamos vestindo máscaras a maior parte do dia, até perdermos o hábito de sermos nós mesmos, o que é um fator desencadeador para todo tipo de transtornos emocionais, tais como angústia, ansiedade e depressão.
Em quadros crônicos dessas doenças, é comum que as pessoas se calem, por se sentirem totalmente incompreendidas ao tentarem explicar sua condição. Abandonam-se por não poderem expor suas dores. E alguém que abandonou a si mesmo não se sente confortável em lugar algum, potencializando a sensação de ser invisível aos outros.
Preocupado com este contexto, o CVV – Centro de Valorização da Vida oferece a quem o procura um ambiente para se despir da máscara da adequação social e expressar seus conflitos em uma conversa anônima e sigilosa. A entidade tem como missão valorizar a vida, contribuindo para que as pessoas tenham uma vida plena e, consequentemente, prevenindo o suicídio. Por uma vida plena só é possível entender aquela em que somos livres para vivenciar todos os nossos sentimentos, não condicionando a expressão deles ao julgamento do outro.
Luiza
CVV Belém – PA
TEXTO ORIGINAL DE CVV144

Por Contardo Calligaris/Folha de S.Paulo
“É mais importante notar que a depressão se tornou uma doença tão relevante (pelo número de doentes e pela gravidade do sofrimento) porque ela é um pecado contra o espírito do tempo.”
No texto O direito à tristeza, o psicanalista Contardo Calligaris analisa a obrigação contemporânea de ser feliz constantemente e lastima que pais transfiram para seus filhos esta ilusória tarefa: “Será que vamos conseguir transformar também a tristeza infantil num pecado?” Confira abaixo:
As crianças têm dois deveres. Um, salutar, é o dever de crescer e parar de ser crianças. O outro, mais complicado, é o de ser felizes, ou melhor, de encenar a felicidade para os adultos.
Esses dois deveres são um pouco contraditórios, pois, crescendo e saindo da infância, a gente descobre, por exemplo, que os picolés não são de graça. Portanto, torna-se mais difícil saltitar sorrindo pelos parques à espera de que a máquina fotográfica do papai imortalize o momento. Em suma, se obedeço ao dever de crescer, desobedeço ao dever de ser feliz.
A descoberta dessa contradição pode levar uma criança a desistir de crescer. E pode fazer a tristeza (às vezes o desespero) de outra criança, incomodada pela tarefa de ser, para a família inteira, a representante da felicidade que os adultos perderam (por serem adultos, porque a vida é dura, porque doem as costas, porque o casamento é tenso, porque não sabemos direito o que desejamos).
A ideia da infância como um tempo específico, bem distinto da vida adulta, sem as atrapalhações dos desejos sexuais, sem os apertos da necessidade de ganhar a vida, é recente. Tem pouco mais de 200 anos. Idealizar a infância como tempo feliz é uma peça central do sentimento e da ideologia da modernidade.
É crucial lembrar-se disso na hora em que somos convidados a espreitar índices e sinais de depressão nas nossas crianças.
O convite é irresistível, pois a criança deprimida contraria nossa vontade de vê-la feliz. Um menino ou uma menina tristes nos privam de um espetáculo ao qual achamos que temos direito: o espetáculo da felicidade à qual aspiramos, da qual somos frustrados e que sobra para as crianças como uma tarefa. “Meu filho, minha filha, seja feliz por mim.”
É só escutar os adultos falando de suas crianças tristes para constatar que a vida da criança é sistematicamente desconhecida por aqueles que parecem se preocupar com a felicidade do rebento. “Como pode, com tudo que fazemos e fizemos por ela?” ou “Como pode, ele que não tem preocupação nenhuma, ele que é criança?”. A criança triste é uma espécie de desertor; abandonou seu lugar na peça da vida dos adultos, tirou sua fantasia de palhaço.
Conselho aos adultos (pais, terapeutas etc.): quando uma criança parece estar deprimida, o mais urgente não é reconhecer os “sinais” de uma doença e inventar jeitos de lhe devolver uma caricatura de sorriso. O mais urgente, para seu bem, é reconhecer que uma criança tem o DIREITO de estar triste, porque ela não é apenas um boneco cuja euforia deve nos consolar das perdas e danos de nossa existência; ela tem vida própria.
Mais uma observação para evitar a precipitação. Aparentemente, nas últimas décadas, a depressão se tornou uma doença muito comum. Será que somos mais tristes que nossos pais e antepassados próximos? Acredito que não. As más línguas dizem que a depressão foi promovida como doença pelas indústrias farmacêuticas, quando encontraram um remédio que podiam comercializar para “curá-la”. Mas isso seria o de menos. É mais importante notar que a depressão se tornou uma doença tão relevante (pelo número de doentes e pela gravidade do sofrimento) porque ela é um pecado contra o espírito do tempo. Quem se deprime não pega peixes e ainda menos sobe no bonde andando.
Será que vamos conseguir transformar também a tristeza infantil num pecado?
Claro que sim. Aliás, amanhã, quando seu filho voltar da escola, além de verificar se ele não está com frieiras, veja também se ele não pegou uma deprê. E, se for o caso, dê um castigo, pois, afinal, como é que ele ousa fazer cara feia quando acabamos de lhe comprar um gameboy? Ora! E, se o castigo não bastar, pílulas e terapia nele. Qualquer coisa para evitar de admitir que a infância não é nenhum paraíso.
Leia O direito à tristeza no site da Folha

Por Emanuel Rivero
A vida é feita de escolhas. Na maioria das vezes não percebemos, mas sempre estamos escolhendo algo, até quando optamos por não escolher, escolhemos.
Deixar a janela aberta ou fechada. Lavar ou não o carro. Cursar ou não uma faculdade. O curso que eu gosto ou que dá dinheiro. Estudar ou não. Trabalhar no emprego que me traz mais satisfação ou no que paga melhor. Falar com aquele menino (a) ou não. Namorar ou ficar solteiro. Ir andando ao trabalho ou de carro. Dar bom dia ao porteiro ou passar reto. Cumprimentar uma pessoa com um beijo ou um aperto de mão. Pegar esse metrô ou o próximo. Crer em algo ou ser cético. Acordar na hora ou dormir mais 5 minutinhos. Discutir agora ou depois. Ser preconceituoso ou respeitar. Ser honesto ou passar a perna. Furar um farol vermelho ou aguardar. Resolver uma questão agora ou deixar para depois.
São muitas as escolhas que fazemos durante o dia, algumas parecem ser bem superficiais, mas que podem ter um impacto grande em sua vida. Já pensou se deixo a janela do meu quarto aberta antes de sair para o trabalho, o tempo mudar, chover muito, e alagar meu quarto, com meu notebook, videogame e televisão, com certeza isso terá um impacto em minha vida e não será dos melhores!
Escolher pode ser muito fácil ou muito difícil. Existem vezes que escolhemos algo e depois de um tempo nós arrependemos, e vezes que deixamos de escolher algo e também nos arrependemos. Parar, refletir, visualizar ambas as opções nos permitirá ter uma ideia mais clara da situação e diminuindo a chance de fazermos escolhas erradas.
Escolher é apostar em algo, é muitas vezes sair de nossa zona de conforto, e como é difícil sair desse lugar.
Nossa zona de conforto é caracterizada como uma série de comportamentos, pensamentos e ações que estamos acostumados a fazer, ou seja, não nos geram medo, ansiedade, pânico. Sair dessa zona de conforto significa desbravar uma mata que não conhecemos, velejar em um mar nunca antes velejado, não por nós.
A zona de conforto é uma lugar calmo, sem muita ação, adrenalina ou aventura, é uma realidade que dominamos, que tiramos de letra, mas que muitas vezes nos deixa estagnados, sem perspectiva de evolução, de transformação.
O ser humano é movido por novidades, por conquistas, por desafios. Desde um iphone novo que sai e move milhões de pessoas até as lojas para compra-lo até a resolução de um problema doméstico, como a pintura das paredes, ambos são motivos de orgulho para quem o realizou. Eu, por exemplo, se tivesse um iphone 20 dividiria a experiência com meus amigos, mas seria mais realizador ver meus amigos elogiando a super parede que eu pintei em casa.
Voltando, a zona de conforto, para conseguir sair dela é necessário arriscar e para arriscar precisamos de coragem. Arriscar largar nosso emprego monótono para abrir nosso negócio, arriscar fazer a faculdade que tanto sonhamos, arriscar a seguir nosso coração, a terminar aquele relacionamento de anos que nos tem feito mal, a ter aquela conversa difícil com nossos pais, a assumir responsabilidades e por ai vai.
É difícil, eu sei disso! Mas, uma coisa eu posso te garantir, é gratificante. Poder fazer algo que sua alma pede, que seu coração implora, que sua intuição manda. O resultado, pode ser positivo ou negativo, mas a sensação de arriscar, de apostar em si mesmo é maravilhosa. Quantas vezes deixamos de fazer algo que queremos muito por ter medo de arriscar?
Não estou dizendo que você deve sair arriscando em tudo, mas estou dizendo que é importante você refletir e se você estiver preparado, se dar ao direito de mudar o rumo de uma vida monótona para uma vida com mais aventura, com mais felicidade, com mais satisfação. Não aceite a infelicidade, transforme-a.
Permita-se viver a vida da melhor forma possível dentro da sua realidade, do seu contexto. Arrisque quando possível, saia da sua zona de conforte, experimente o mundo que te espera aqui fora. É maravilhoso, é emocionante, é gratificante.
Reflita sobre as coisas que você tem feito sem vontade, sem ânimo e procure perceber se há alguma outra possibilidade, algum outro caminho. Permita-se.
“A vida é feita de escolhas. Quando você dá um passo à frente, inevitavelmente alguma coisa fica para trás.” 
―Caio Fernando Abreu

O tema do Enem 2016, a princípio, parece óbvio pela sua conjuntura social envolvida, já que a onda de intolerância religiosa no país não é um assunto recente, mas que tem ganhado proporções maiores na atualidade. Entretanto, a banca da prova não queria apenas que o aluno falasse rasamente de tal fenômeno, mas que além disso mostrasse rotas possíveis para resolver o problema, algo típico do perfil do Enem. Por essa razão, a proposta deste ano, similar a muitas outras, questiona as lacunas que fazem daquele tema algo emergencial de ser discutido no texto. Para os brasileiros, religiosos ou não, porém com um nível básico de conhecimento, não é difícil destrinchar tal problemática.
Falar de Religião no país não é nada difícil. Há barreiras maculadas que impedem brasileiros de adentrarem nesse tema sem acabar em discussões desnecessárias e infindáveis. Isso não seria diferente com a intolerância. Num país abertamente Católico, Protestante, Pentecostal e Neopentecostal, dentre outros seguimentos religiosos majoritários, sofrem algum tipo de preconceito. A própria história de Jesus é uma prova disso. Mesmo com tal constatação, no panteão de religiões existentes no Brasil, aquelas que fogem do padrão Católico/Cristão são, evidentemente, as mais perseguidas.
De cara, o Candomblé é lembrado, por ser uma das religiões mais perseguidas historicamente. Por ser considerada uma "religião de negros", por muito tempo ela foi/é demonizada,sofrendo batidas policiais, fechamento de terreiros, motivos ainda de piadas pejorativas na mídia e usada como esteriótipo para tudo o que é do mal: "chuta que é macumba". Evidentemente que todo esse senso comum foi plantado pelo Catolicismo que durante anos renegou o Candomblé ao gueto. Hoje, muitos protestantes de diversos seguimentos continuam a satanizar os ritos daquele grupo, espalhando injúrias perante uma sociedade que não lê e é facilmente alienável.
Além dos negros, há outras ramificações religiosas tão invisibilizadas quanto. Compartilham disso a Umbanda e o Espiritismo, que por desconhecimento de causa, fruto da mesma ignorância vivenciada pelo Candomblé, vivem às escuras, às escondidas, mesmo tendo posturas comuns a muitas outras religiões. Com base nisso, o aluno ainda poderia ter falado sobre o silenciamento daqueles que vivenciam tais seguimentos. Há um temor de expor que tal pessoa faz parte da religião de matriz africana, ou que é adepta dos ensinamentos de Allan Kardec, ou mesmo que é Cristã ou Católico, fã de Bolsonaro ou do Papa Francisco, sob pena de represália e discriminações diversas.
Por conta disso que a intolerância religiosa ganhou como aliada a maior plataforma da atualidade: a Internet. Nela, preconceitos dos mais diversos encontram terreno fértil nos discursos de ódio de pessoas que anonimamente ou não expõe bravatas absurdas contra aqueles que não são de segmentos religiosos preponderantes. Sofrem dos mais fervorosos aos ateus, que são alvos da intolerância às avessas. As outras maiores vítimas sempre são aquelas que exibem suas identidades religiosas na rede através de turbantes, roupas, mensagens, ou quaisquer manifestações de fé. Utensílios estes que são responsáveis por perseguições na ruas, perdas nas vagas de emprego, quando não até assassinatos.
Por se tratar da intolerância religiosa, evidentemente que Católicos e Cristãos também são vítimas disso, como diz minha vizinha: "desde a época de Nero". Para esses, fazer parte de grupos religiosos majoritários também é motivo de perseguição, principalmente quando há representantes religiosos na política que não representam a todos. Neste ínterim, também, o aluno poderia fazer uma crítica sutil a dominação de alguns religiosos na nossa política pseudolaica, uma vez que esses cidadãos não contemplam a sociedade como o todo, muitos são desrespeitosos e verdadeiros déspotas, criam iniciativas/projetos tendenciosos e muitas vezes estão envolvidos em falcatruas/corrupção.
Fora do país, a intolerância religiosa é um dos principais motivos para a onda de terrorismo no mundo. Segundo editorial publicado pelo Jornal o Globo em 26/01/2016 " O mundo se chocou no primeiro mês do ano com o atentado ao “Charlie Hebdo”, em Paris; a execução de reféns do Estado Islâmico; e a destruição da cidade de Baga, na Nigéria — mais uma ação do Boko Haram, na qual teriam morrido duas mil pessoas. São casos de extrema violência que brasileiros repudiam da mesma forma que americanos e europeus." Essas ações parecem distantes daqui já que gozamos da fama de sermos unidos na diversidade, porém a realidade é outra e, muitas vezes, pouco evidenciada em dados.
Talvez seja por isso que no Brasil ignoramos a questão indígena também nesse tocante. Esse povo, por assim dizer, foi a primeira vítima da intolerância religiosa dos nossos Colonos, ao não entender o modo de vida selvagem vivido pelos índios, impondo-os o Catolicismo, evidentemente que guardadas as devidas proporções temporais. Entretanto, engana-se quem pensa que nossos nativos estão a salvo. Novas práticas catequéticas ainda acontecem no país, desta vez regidas por seguimentos protestantes. Além disso, a devastação das matas e rios (vide Belo Monte), expansão da agropecuária e a metropolização das tribos indígenas têm feito com que a fé desse povo perca o pouco de identidade que ainda resta.
Com base nisso, o alunado poderia ter escolhido vários caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil. Um deles é a difusão, e acompanhamento, de ensino religioso, de fato, no país e não apenas Católico/Cristão como acontece normalmente. A mídia contribuiria para isso difundindo respeitosamente outras religiões, socialmente estigmatizadas, à rotina da população brasileira, a qual passaria a ter um leque mais plural nesse sentido. Líderes religiosos diversos, sobretudo os de maior espaço social, devem difundir discursos contrários ao repúdio que há por outras religiões, como muitos ainda o fazem; da mesma forma que a sociedade civil precisa ser reeducada nesse sentido.
O apoio governamental é imprescindível, fazendo valer o que há na Constituição, nos parâmetros de cidadania e nos PCN´s. Assim, num prazo determinado, haverá maior representatividade política para outras religiões que atualmente não desfrutam desse privilégio. Tudo isso pode construir caminhos salutares para novas rotas religiosas no país. Porém, o Enem deu um largo passo rumo ao tão sonhado respeito às diferenças. Infelizmente, haverá muitos alunos hipnotizados por textos padrões que os impedirão de discursar com maturidade neste tema. A estes o tempo e a educação juntos se encarregarão de, talvez, transformá-los. Aos demais, abertos a diversidade, entendam hoje que não basta respeitar as religiões existentes no Brasil, mas também legitimá-las na sacralidade que compõe os diversos lares nacionais.

"A fé não precisa ser a mesma para ser autêntica" - Diogo Didier
Guia prático para não queimar mais o filme em provas, e-mails, redes sociais e vida profissional
Como qualquer outra disciplina, o português pode ser fácil para uns e difícil para outros. Além disso, a língua é viva, se altera com o passar dos anos, recebe influências do meio e, claro, conta com um amplo conjunto de regras que inegavelmente podem confundir.
— É certo dizer que o tempo presente, o grau de escolaridade e a classe social impactam em como produzo meu texto. Mas também é fato que o domínio da língua é diretamente proporcional ao volume de leitura. A dica é ler jornais, livros de bons autores e não ter vergonha de procurar o significado de uma palavra que não conhece —, recomenda o professor Caco Penna, do CPV Educacional.
Segundo Caco, as mudanças dos últimos anos no Enem resultaram em provas mais focadas no caráter sociolinguístico do que propriamente na gramática. Mesmo assim, essas são questões ainda relevantes na redação e muito presentes nos vestibulares. Indo muito além dos testes, vale lembrar que em toda a vida você vai lidar com as artimanhas do português. Nada mais queima o filme do que falar errado em uma entrevista de emprego ou enviar um e-mail profissional cheio de deslizes, por exemplo.
Para evitar essas derrapadas, listamos as 50 dúvidas gramaticais que mais costumam gerar erros. A lista foi elaborada com ajuda dos professores Simone Motta, coordenadora de Português do Grupo Etapa, Eduardo Calbucci, supervisor de Português do Anglo, e do próprio Caco.
50 DÚVIDAS DO PORTUGUÊS ESCLARECIDAS

1. Por que/Porque

Para começar, uma confusão que acompanha gerações:
Usa-se “por que” para perguntas, mesmo que implícitas. Exemplos: “Por que ela ainda não chegou?” e “Ele não sabe por que está aqui”.
Usa-se “porque” para respostas. Se consegue substituir por “pois”, essa é a forma correta: “Não foi trabalhar porque estava doente”.

2. Por quê/Porquê

No final de uma frase, seguido de pontuação (exclamação, interrogação, reticências), o correto é “por quê”, como em: “Estou chateado. Sabe por quê?”.
Já o “porquê” tem exatamente o mesmo sentido de motivo ou razão, por exemplo: “Não sabia o porquê de tanta pressa”.

3. De segunda a sexta (certo)/De segunda à sexta (errado)

Outro elemento de confusão frequente, a crase pode ser explicada como a junção de duas letras em uma só: a preposição “a” e o artigo feminino “a”. Então, se você tenta ler uma sentença com “a a” e não faz sentido, provavelmente não há crase. Logo, o correto é “de segunda a sexta”.

4. A prazo (certo)/À prazo (errado)

Como no caso anterior, a leitura com “a” duplicado não faz sentido. Além disso, não se aplica a crase antes de substantivos masculinos, como é o caso de “prazo”.

5. A você (certo)/À você (errado)

Não há crase antes de pronomes pessoais (eu, você, ele, ela, nós, vocês, eles, elas).

6. Das 9h às 18h (certo)/Das 9h as 18h (errado)

No caso de horas expressas, há crase quando a preposição “de” aparece combinada com artigo (de + as), mesmo que implícito como em “horário da prova: 8h às 11h”. Sendo assim, o correto é “das 9h às 18h”.

7. Mal/Mau

“Mal” é substantivo quando precedido de artigo, como em “o mal do mundo”, e advérbio quando acompanha verbo ou adjetivo. Resumidamente, é o contrário de “bem”.
“Mau” é adjetivo quando vem antes de substantivos, com os quais concorda. É o oposto de “bom”.

8. Mas/Mais

“Mas” é conjunção adversativa e tem o mesmo valor de “porém”, “contudo” ou “entretanto”.
“Mais” é advérbio de intensidade ou conjunção aditiva, indicando adição ou acréscimo. É também o oposto de “menos”.

9. Haver/A ver

“A confusão entre as expressões se dá porque a pronúncia é a mesma”, explica o professor Eduardo Calbucci. “Haver” é verbo e significa “existir”. “Ter a ver” é “ter ligação”.

10. Traz/Trás/Atrás

Segundo a professora Simone Motta, é bem comum se deparar com trocas de letra entre as palavras – erroneamente ‘tras’ e ‘atráz’ – por conta da sonoridade semelhante entre elas. Apesar disso, é fácil diferenciar: “traz” vem do verbo “trazer” (com Z, portanto); “trás” e “atrás” são advérbios e indicam posição (“ficará para trás”, “atrás da porta”).

11. Haja/Aja

Novamente a semelhança sonora induzindo ao erro. Para esclarecer: “haja” é conjugação do verbo “haver”, de existir. “Aja” vem do verbo “agir”: “Aja com cuidado”.

12. Interveio (certo)/Interviu (errado)

Esse é um verbo que se conjuga como “vir”, de que é derivado, sendo “interveio” a forma correta: “A polícia interveio na briga”.

13. Vêm/Têm

Os verbos “ter” e “vir” devem ser acentuados quando estiverem na 3ª pessoa do plural: “Eles sempre vêm de táxi, porque eles não têm carro”.

14. Em vez de/Ao invés de

Para indicar apenas uma coisa no lugar de outra, usa-se “em vez de”. Para mostrar opostos, vá de “ao invés de”, como no exemplo: “Ao invés de ser o primeiro, ele foi o último”.

15. Onde/Aonde

“Onde” é o lugar em que alguém ou alguma coisa está. “Aonde” está relacionado a movimento. Por isso, quem vai, vai “a” algum lugar: “vai aonde”.

16. Demais/De mais

Na maior parte dos casos, emprega-se o advérbio “demais”, que significa excessivamente, muito. Já a locução “de mais” é comparável à expressão “a mais”, como em “nem sal de mais, nem de menos”. “De mais” também é associada a estranheza: “Não vejo nada de mais naquilo”.

17. Em princípio/A princípio

“Em princípio” assemelha-se a “em tese”. “A princípio” é como “no início”.

18. Uso do hífen

O prefixo terminado por vogal é separado por hífen se a palavra seguinte começar com a mesma vogal ou H. Caso contrário, sem hífen. Exemplos: autoescola, micro-ondas, semianalfabeto, autoestima.

19. Tachar/Taxar

“Tachar” significa “denominar, chamar de, considerar”. Já “taxar” é impor uma taxa ou imposto. Portanto, contextos diferentes.

20. Através de/Por meio de

Expressões com significados distintos. “Através de” expressa a ideia de atravessar, indica um movimento físico. “Por meio de” é semelhante a “por intermédio de” e se relaciona a “instrumento para a realização de algo”. Portanto, ao começar um e-mail, por exemplo, o correto é “Venho por meio deste”, e não “Venho através deste”.

21. Vírgula entre sentenças

Quando as duas frases possuírem sujeitos diferentes, usa-se a vírgula antes da conjunção “e”.
Errado: A mãe demorou para chegar e o filho ficou desesperado.
Certo: A mãe demorou para chegar, e o filho ficou desesperado.

22. Eu/Mim

O pronome reto “eu” é utilizado apenas na posição de sujeito do verbo. Nas demais situações, usa-se o pronome oblíquo “mim”.
Errado: Não há mais nada entre eu e você.
Certo: Não há mais nada entre mim e você.

23. Haver/Fazer

Ambos os verbos, quando indicam passagem de tempo, não ganham plural: “Não conversávamos havia três anos” e ” Faz três anos que não nos vemos”.

24. Haver/Existir

No sentido de “existir”, o verbo “haver” não vai para o plural. O verbo “existir” pluraliza normalmente: “Na reunião, existiam cerca de 60 pessoas”.
Errado: Na reunião, haviam cerca de 60 pessoas.
Certo: Na reunião, havia cerca de 60 pessoas.

25. Assistir ao/Assistir o

Quando usado no sentido de “ver”, o verbo “assistir” rege a preposição “a”: “Assistiu ao programa”. Já no sentido de “ajudar” ou “prestar auxílio”, o verbo vem sem a preposição: “O técnico assistiu o cliente durante a instalação do equipamento”.

26. Afim/A fim de

“Afim” pode ser adjetivo ou substantivo e, nos dois casos, é associado a “parecido”, “similar” e “semelhante”. “A fim de” é locução prepositiva e está ligada à ideia de intenção ou finalidade, como em “aceitei ir à festa a fim de conhecê-lo melhor”.

27. Obrigado/Obrigada

Essa regra é muito simples. Homens dizem “obrigado”. Mulheres dizem “obrigada”. Pronto!

28. Bem-vindo (certo)/Benvindo (errado)

O Novo Acordo Ortográfico não alterou a escrita da palavra “bem-vindo”. Apesar de novas regras gramaticais em relação ao uso do hífen, ela continua como antes.

29. Beneficente (certo)/Beneficiente (errado)

A forma correta é “beneficente”. “Beneficiente” não existe na Língua Portuguesa.

30. Menos (certo)/Menas (errado)

Apesar de memes como “miga, seja menas”, a palavra “menas” não existe na nossa gramática. Escolha sempre “menos” em suas redações e e-mails formais.

31. Deixa eu escrever/Deixa-me escrever

Quando os verbos “deixar”, “fazer”, “ver” e “mandar” vêm seguidos de infinitivo, usam-se os pronomes oblíquos no padrão culto da língua: “Deixa-me escrever”. Aqui, porém, um adendo. “Esse tipo de construção com pronomes retos (‘deixa eu estudar’, ‘deixa ele estudar’) está se tornando cada vez mais comum, fundamentalmente na linguagem oral”, destaca o professor Eduardo Calbucci, em uma ressalva de que o certo e o errado podem não ser absolutos se levarmos em consideração a evolução da língua.

32. Seguem anexos os documentos (certo)/Seguem os documentos em anexo (errado)

Expressões bem comuns em e-mails. Se funciona como adjetivo, indicando que algo está ligado, a palavra “anexo” não exige o uso de “em” e deve concordar em gênero e número com o substantivo a que se refere – no caso, “documentos”. De outra forma, se o interlocutor quer dizer o modo pelo qual algo está sendo enviado, é preferível dizer “no anexo” em vez de “em anexo”.

33. Proibida a entrada (certo)/Proibido a entrada (errada)

O sujeito da oração é “a entrada”, feminino e acompanhado de artigo, por isso “proibido” concorda com “entrada”: “Proibida a entrada”.

34. Vamos nos ver amanhã? (certo)/ Vamos se ver amanhã? (errado)

O sujeito do verbo “vamos” é de primeira pessoa do plural (nós), por isso a forma correta é “vamos nos ver”.

35. Senão/Se não

A escolha depende bastante do que você quer expressar. “Senão” é “caso contrário” ou “a não ser”. “Se não” mostra uma condição, como em “se não sabe como fazer, não faça”.

36. Dia a dia/Frente a frente/Cara a cara

Nenhuma das expressões tem acento no “a”. O acento grave não deve ser utilizado em termos com palavras repetidas.

37. Meio-dia e meia (certo)/ Meio-dia e meio (errado)

Quando a palavra “hora”, aqui implícita, é fracionada, sempre utiliza-se “meia” – portanto, “meio-dia e meia”. “Meia” é numeral fracionário e deve concordar em gênero com a unidade fracionada. Outra coisa: “meio-dia” permanece com hífen, mesmo após o Novo Acordo Ortográfico.

38. Eminente/Iminente

Formas parecidíssimas, significados diferentes e grande chance de confusão. Para memorizar: “eminente” está relacionado a qualidade, excelência, como em “é um profissional eminente”; já “iminente” indica que “vai acontecer em breve”.

39. Descrição/Discrição

Mais um caso de grafia e pronúncia semelhantes e significados distintos. “Descrição” está relacionada ao ato de detalhar algo, reunir características. Entre seus sinônimos, dependendo do contexto, estão palavras como “exposição” e “apresentação”. Já “discrição” é a qualidade de alguém ou algo discreto, que não chama muita atenção.

40. Sessão/Seção

A forma com S, “sessão”, é o intervalo de tempo em que alguma coisa acontece, por isso sessão de cinema, sessão fotográfica, sessão da tarde… Já “seção” é como divisão, uma parte de um todo, daí seção eleitoral, seção feminina e seção do jornal, por exemplo.

41. Admitem-se vendedores (certo)/ Admite-se vendedores (errado)

No exemplo, o verbo “admitir” é transitivo direto. Como tal, não exige preposição entre ele e o objeto da frase e concorda em número com o sujeito. Portanto, o correto é dizer “admitem-se vendedores”.

42. Precisa-se de vendedores (certo)/ Precisam-se de vendedores (errado)

Já nesse exemplo, a maneira correta é “precisa-se de vendedores”. Quem precisa, precisa “de” algo, daí a necessidade da preposição. Como verbo transitivo indireto, portanto, “precisar” permanece no singular.

43. Supor/Transpor

Os verbos derivados do verbo “pôr” serão conjugados como o verbo primitivo.
Errado: Se você supor que o seu plano dará certo, nós poderemos executá-lo.
Certo: Se você supuser que o seu plano dará certo, nós poderemos executá-lo.

44. Manter/Conter

Os verbos derivados do verbo “ter” serão conjugados como o verbo primitivo.
Errado: Se você manter a rotina de treinos, alcançará excelentes resultados.
Certo: Se você mantiver a rotina de treinos, alcançará excelentes resultados.

45. Tinha chego/Tinha chegado

Existem alguns verbos, chamados de abundantes, que admitem duas formas de particípio passado, entre eles “aceitar” (aceitado e aceito), “imprimir” (imprimido e impresso) e “eleger” (elegido e eleito). “Por analogia, obtêm-se formas como ‘chego’, ainda não acolhidas pela norma culta”, explica o professor Eduardo Calbucci. Ou seja, vá de “tinha chegado”.

46. Na minha opinião (certo)/ Na minha opinião pessoal (errado)

“Na minha opinião pessoal” é um pleonasmo, ou seja, a repetição desnecessária de uma informação, uma redundância: sua opinião já é pessoal. Por isso, diz-se apenas “na minha opinião”.

47. Anos atrás (certo)/ Há anos atrás (errado)

“Há anos atrás” também é um pleonasmo, pois o verbo “há”, nesse sentido, já indica passagem do tempo. Diga apenas “há anos” ou “anos atrás”.

48. De encontro a/Ao encontro de

Aqui temos praticamente opostos em termos de sentido. “De encontro a” expressa conflito, como em “sua opinião foi de encontro ao que ele acreditava”. Já “ao encontro de” expressa satisfação, “estar de acordo com”, ir “em direção a”: “Uma lei que vem ao encontro dos menos favorecidos”.

49. Por hora/Por ora

As duas expressões existem, mas dependem do contexto. “Por hora” está relacionada a um intervalo de 60 minutos: “Pedala 20 km por hora”. “Por ora” significa, simplesmente, “por enquanto”.

50. Ratificar/Retificar

Verbos com sentidos bem diferentes: “ratificar” é confirmar; “retificar” é corrigir.