Todos nós somos leigos num assunto até entendê-lo, e uma lista dessas ajuda a compreender um pouco mais o universo da arte. Não tenho a ilusão de encontrar um consenso, apesar de adotar um critério razoável. O mais “importante” nem sempre é o mais “famoso”, muito menos o mais “bonito”. “Importante” é sinônimo de originalidade; uma obra capaz de influenciar gerações e até mesmo mudar os rumos da história. Estou bastante seguro quanto à metade dessas obras. A outra metade certamente rivaliza com qualquer outra não mencionada.
VÊNUS DE MILO (século II a.C., autor desconhecido)A arte grega clássica é tida por muitos como a mais perfeita realização estética de todos os tempos. E nenhuma delas é mais simbólica do que esta escultura, atribuída por alguns a Alexandros de Antioquia. Temos aqui o padrão de excelência da arte helênica, imitado por toda parte até reduzir-se a adorno kitsch. (Onde: Museu do Louvre) |
MONALISA (1503-06), de Leonardo da VinciEmbora seja admirada pela fama, temos outro motivo para cultivar a Monalisa: a técnica inovadora do chiaroscuro, uma sobreposição de camadas de mesmo tom até alcançar efeitos de luz e sombra (o sorriso da dama deriva desta ilusão). O grau de virtuosismo e perícia pictórica de Da Vinci alcança aqui os limites da arte, em qualquer época. (Onde: Museu do Louvre) |
O JUÍZO FINAL (1535-41), de MichelangeloCom o aparecimento deste afresco a arte renascentista foi definitivamente condenada. Todos os elementos de “O juízo final” opõem-se de maneira consciente e vigorosa contra os ideais vigentes. Por isso a obra é considerada o marco de superação do classicismo, na Itália. De quebra, inaugura o maneirismo e abre caminho para o barroco. (Onde: Capela Sistina, Vaticano) |
A RONDA NOTURNA (1642), de Rembrandt
A arte de Rembrandt é originalíssima, sendo esta tela considerada a mais perfeita de sua produção de retratos e cenas religiosas. Como a música de Bach, é uma manifestação sublime do gênio protestante. A técnica utilizada é uma verdadeira escola de composição e iluminação, antecipando a sensibilidade fotográfica. (Onde: Rijksmuseum, Amsterdã)
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A LIBERDADE GUIANDO O POVO (1830), de DelacroixAs principais referências do realismo é a pintura de Gericault e depois, Courbet. Eugène Delacroix situa-se entre os dois mestres: contudo, supera o passadismo do primeiro e abre caminho para o segundo. Com esta tela (retrato da revolução francesa) a arte passa a representar o tempo presente e seus próprios mitos. (Onde: Museu d’Orsay, Paris) |
ALMOÇO NA RELVA (1863), de ManetObra inaugural do impressionismo, esta tela foi exposta e ridicularizada no famoso Salão de Paris. Em contraste com a arte oficial e acadêmica (representada por David e seus discípulos), enxergamos aqui o que, na época, julgavam ser uma pintura inacabada, um mero esboço. Além, é claro, de representar um tema afrontoso. (Onde: Museu d’Orsay, Paris) |
A CASA DO ENFORCADO (1873), de CézanneUm dos germes da pintura como a conhecemos a partir do século 20 — isto é, como um problema de composição numa superfície plana, bidimensional — é esta modesta pintura. Podemos citar outras telas de Cézanne (“Jogadores de Cartas” e o “Monte Sainte-Victoire” são imprescindíveis para o cubismo), mas é a esta que cabe a precedência cronológica (Onde: Museu d’Orsay, Paris) |
SENHORAS DE AVIGNON (1907), de PicassoEsta obra, que mais parece uma caricatura, viola as convenções clássicas e acadêmicas ainda prevalecentes, da arte figurativa. Picasso havia sido influenciado por Cézanne e pelas máscaras negras africanas. “Senhoras de Avignon” abre caminho para a revolução cubista, sendo um passo fundamental (e intermediário) entre dois extremos: o impressionismo e o abstracionismo. (Onde: Museu de Arte Moderna de Nova York) |
PRIMEIRA AQUARELA ABSTRATA (1910), de KandinskyJá esta pequena aquarela divide a história da arte em dois períodos: antes e depois da arte abstrata. Antes dela tem-se a impressão de que a pintura retrata o mundo exterior (é mimética, figurativa, mesmo com Picasso). A partir dela, contudo, adquire autonomia absoluta, tornando-se um universo intuitivo de sensações. É o nascimento da pintura em estado puro. (Onde: Paris, coleção particular) |
FONTE (1917), de DuchampTípica da era industrial, esta obra traduz a impessoalidade que caracteriza a vida moderna. Quintessência do dadaísmo, ela questiona o que é arte e não é, dando origem à chamada arte conceitual. Paradoxalmente é a mais radical afirmação da subjetividade. O sentido de uma obra passa a ser uma “atribuição” (pessoal, crítica e institucional) e não um dado que lhe supostamente imanente. (Onde: Museu de Arte da Filadélfia) |
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