31 agosto 2014

Quando a política não atende a todos


Estamos no ano de 2014. É o momento de reavaliar nossos políticos, ao passo que nos preparamos para escolher os novos, que nos representarão por mais quatro anos. Essa rotina civil se encontra cada vez mais complexa, visto que a cada eleição as nossas dúvidas sobre quem deve ou não estar no poder aumentam. Tal inquietação se dá ainda por causa da inescrupulosa conduta de alguns políticos, geralmente ligados a falcatruas corruptas e outros escândalos com o dinheiro público. Ou, se refere ao não cumprimento das propostas de campanha. Esta última, infelizmente, é a que mais se destaca no currículo daqueles que deveriam fazer valer o voto recebido. Dentre os muitos, os grupos minoritários penam para ter os seus direitos reconhecidos e/ou legislados por nossas autoridades. Mas, parece que dar voz às minorias é posto em segundo plano em todas as eleições.

A histórica herança de exclusão do Brasil tem feito do país um berçário de desigualdade e desrespeito para com o seu semelhante. A primeira delas, talvez a principal, se apresenta na desigualdade sócio econômica, que separa pobres e ricos numa imensa barreira social. Nesse abismo, todos os anos eleitoreiros, nossos políticos se aventuram nele e oferecem propostas para aqueles que se encontram afundados na pobreza e na miséria. Surge, então, as clássicas carreatas, passeios em favelas e, claro, muitas fotos e poses com pessoas carentes e desassistidas de tudo, inclusive de senso crítico. Passado esse período de marketing, ao conseguir os votos necessários para a sua candidatura, muitos políticos esquecem do que viram naqueles ambientes e, simplesmente, não cumprem com o que foi prometido por eles em época de campanha. Por essa razão, também, que a disparidade social não diminui, porque falta tudo, inclusive apoio governamental.

Entretanto, não é só a pobreza que é esquecida. Numa nação onde o preconceito é tão secular quanto a desigualdade social, não é de se espantar com a formação de grupos em busca de visibilidade e, ao mesmo tempo, aceitação político-social. Entre elas, o negro busca a cada nova eleição projetos que propiciem maior respeito à causa deles, bem como toda a ancestralidade cultural desse grupo. Embora haja teoricamente medidas afirmativas, como as polêmicas cotas, ser afrodescendente no Brasil não é fácil, visto que o estigma da marginalidade, bem como a informalidade fazem dos negros seres invisíveis. Na verdade, eles só são vistos quando cometem delitos, graves ou não, como forma de manter a perigosa ordem social de que negro é bandido, mas branco não. Tudo isso porque, além de tudo, falta apoio político antes, durante e pós período eleitoral.

Ausência esta que também é sentida por muitas mulheres. Elas que, mesmo conseguindo o direito ao voto na era Vargas; conquistado o direito a utilizar anticoncepcionais; ousar com o uso da minissaia e conseguirem se divorciar, mesmo com o estigma em torno disso; ainda assim, elas penam muito no cenário político brasileiro. A presença da primeira mulher a assumir a presidência, de um país patriarcal como o nosso, não foi o bastante para mudar a triste realidade da mulher no Brasil. Ganhando menos do que muitos homens e com pouquíssima representação governamental, elas continuam a carregar o rótulo de “sexo frágil”, são violentadas e mortas aos montes, sem contar com todos os tabus culturais que carregam em torno de temas como aborto, sexo, corpo, contracepção os quais não são assegurados a elas pelo Estado. Desamparadas, muitas, a cada eleição, veem suas esperanças se esvaírem em promessas vãs, que não foca nos dilemas vividos por elas.

Nessa mesma linha de raciocínio, mas com outro objeto de discussão, se encontram os homossexuais. Em busca por uma aceitação no meio político há tempos, os gays do Brasil têm pouquíssimo apoio legal. Isto se dá por inúmeras formas. A primeira delas é a ausência de representações LGBTs capazes de representar bem essa massa. O segundo ponto diz respeito ao conservadorismo que tem ganhado espaço em bancadas políticas ao longo da história do Brasil. Entre elas, a de maior representação sem dívidas é a evangélica cristã. Não precisa ser nenhum estudioso para saber que tais grupos repudiam a homossexualidade, baseados em argumentos distantes do laicismo e, por isso, indo de encontro com as políticas mundiais de inclusão voltadas aos direitos humanos. Por essa razão, também, as causas gays são abandonadas, arquivadas e esquecidas por muitos, pois, semelhante aos outros pontos levantados, a política brasileira tem cor, sexo e orientação sexual.

Devido a esses favoritismos, cada vez mais claros em nosso cotidiano, eleição após eleição, novas propostas são lançadas, mas a desconfiança eleitoreira desacredita o cumprimento de inúmeras promessas de campanhas. A linha nada tênue, que divide ricos e pobres no Brasil aguarda há eleições ser, no mínimo, atenuada, mas o que se vê a cada ano é o inverso disso. É por isso que não dá mais para confiar que os negros terão um plano nacional voltado ao respeito a sua ancestralidade, que vai desde à culinária até a religiosidade desse grupo. Também não cremos que as mulheres conquistarão mais espaço na política, bem como a violência em torno dela será atenuada diminuirá, porque falta mais empenho governamental nesse sentido. Quanto aos gays, nem precisa dizer que carece de ações claras, promovendo políticas concretas em defesa desse grupo.

Portanto, o que falta no país é o cumprimento das promessas de campanha dos muitos políticos, que se oferecem de quatro em quatro anos. Na verdade, talvez a palavra promessa não seja a mais apropriada, visto que constantemente ela é quebrada desonrosamente por quem a promete. O ideal mesmo deveria ser a palavra compromisso. Se a cada ano os políticos se comprometessem de forma fidedigna com o seu propósito, que é representar honestamente o seu povo, talvez as irregularidades existentes seriam diminuídas. Mas, para que essa utopia seja realizada muitas e muitas eleições serão necessárias tanto para que o povo desperte desse sono secular do qual está adormecido, tanto para que o catálogo de políticos desonestos seja cada vez menor e, por isso, com mais chances do povo fazer, de fato, a escolha menos errada. 

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