Estamos no ano de 2014.
É o momento de reavaliar nossos políticos, ao passo que nos preparamos para
escolher os novos, que nos representarão por mais quatro anos. Essa rotina
civil se encontra cada vez mais complexa, visto que a cada eleição as nossas
dúvidas sobre quem deve ou não estar no poder aumentam. Tal inquietação se dá
ainda por causa da inescrupulosa conduta de alguns políticos, geralmente
ligados a falcatruas corruptas e outros escândalos com o dinheiro público. Ou,
se refere ao não cumprimento das propostas de campanha. Esta última,
infelizmente, é a que mais se destaca no currículo daqueles que deveriam fazer
valer o voto recebido. Dentre os muitos, os grupos minoritários penam para ter
os seus direitos reconhecidos e/ou legislados por nossas autoridades. Mas,
parece que dar voz às minorias é posto em segundo plano em todas as eleições.
A histórica herança de
exclusão do Brasil tem feito do país um berçário de desigualdade e desrespeito
para com o seu semelhante. A primeira delas, talvez a principal, se apresenta
na desigualdade sócio econômica, que separa pobres e ricos numa imensa barreira
social. Nesse abismo, todos os anos eleitoreiros, nossos políticos se aventuram
nele e oferecem propostas para aqueles que se encontram afundados na pobreza e
na miséria. Surge, então, as clássicas carreatas, passeios em favelas e, claro,
muitas fotos e poses com pessoas carentes e desassistidas de tudo, inclusive de
senso crítico. Passado esse período de marketing, ao conseguir os votos
necessários para a sua candidatura, muitos políticos esquecem do que viram
naqueles ambientes e, simplesmente, não cumprem com o que foi prometido por
eles em época de campanha. Por essa razão, também, que a disparidade social não
diminui, porque falta tudo, inclusive apoio governamental.
Entretanto, não é só a
pobreza que é esquecida. Numa nação onde o preconceito é tão secular quanto a
desigualdade social, não é de se espantar com a formação de grupos em busca de
visibilidade e, ao mesmo tempo, aceitação político-social. Entre elas, o negro
busca a cada nova eleição projetos que propiciem maior respeito à causa deles,
bem como toda a ancestralidade cultural desse grupo. Embora haja teoricamente
medidas afirmativas, como as polêmicas cotas, ser afrodescendente no Brasil não
é fácil, visto que o estigma da marginalidade, bem como a informalidade fazem
dos negros seres invisíveis. Na verdade, eles só são vistos quando cometem
delitos, graves ou não, como forma de manter a perigosa ordem social de que
negro é bandido, mas branco não. Tudo isso porque, além de tudo, falta apoio
político antes, durante e pós período eleitoral.
Ausência esta que
também é sentida por muitas mulheres. Elas que, mesmo conseguindo o direito ao
voto na era Vargas; conquistado o direito a utilizar anticoncepcionais; ousar
com o uso da minissaia e conseguirem se divorciar, mesmo com o estigma em torno
disso; ainda assim, elas penam muito no cenário político brasileiro. A presença
da primeira mulher a assumir a presidência, de um país patriarcal como o nosso,
não foi o bastante para mudar a triste realidade da mulher no Brasil. Ganhando
menos do que muitos homens e com pouquíssima representação governamental, elas
continuam a carregar o rótulo de “sexo frágil”, são violentadas e mortas aos
montes, sem contar com todos os tabus culturais que carregam em torno de temas
como aborto, sexo, corpo, contracepção os quais não são assegurados a elas pelo
Estado. Desamparadas, muitas, a cada eleição, veem suas esperanças se esvaírem
em promessas vãs, que não foca nos dilemas vividos por elas.
Nessa mesma linha de
raciocínio, mas com outro objeto de discussão, se encontram os homossexuais. Em
busca por uma aceitação no meio político há tempos, os gays do Brasil têm
pouquíssimo apoio legal. Isto se dá por inúmeras formas. A primeira delas é a
ausência de representações LGBTs capazes de representar bem essa massa. O
segundo ponto diz respeito ao conservadorismo que tem ganhado espaço em
bancadas políticas ao longo da história do Brasil. Entre elas, a de maior
representação sem dívidas é a evangélica cristã. Não precisa ser nenhum
estudioso para saber que tais grupos repudiam a homossexualidade, baseados em
argumentos distantes do laicismo e, por isso, indo de encontro com as políticas
mundiais de inclusão voltadas aos direitos humanos. Por essa razão, também, as
causas gays são abandonadas, arquivadas e esquecidas por muitos, pois,
semelhante aos outros pontos levantados, a política brasileira tem cor, sexo e
orientação sexual.
Devido a esses favoritismos,
cada vez mais claros em nosso cotidiano, eleição após eleição, novas propostas
são lançadas, mas a desconfiança eleitoreira desacredita o cumprimento de
inúmeras promessas de campanhas. A linha nada tênue, que divide ricos e pobres
no Brasil aguarda há eleições ser, no mínimo, atenuada, mas o que se vê a cada
ano é o inverso disso. É por isso que não dá mais para confiar que os negros
terão um plano nacional voltado ao respeito a sua ancestralidade, que vai desde
à culinária até a religiosidade desse grupo. Também não cremos que as mulheres
conquistarão mais espaço na política, bem como a violência em torno dela será
atenuada diminuirá, porque falta mais empenho governamental nesse sentido.
Quanto aos gays, nem precisa dizer que carece de ações claras, promovendo
políticas concretas em defesa desse grupo.
Portanto, o que falta
no país é o cumprimento das promessas de campanha dos muitos políticos, que se
oferecem de quatro em quatro anos. Na verdade, talvez a palavra promessa não
seja a mais apropriada, visto que constantemente ela é quebrada desonrosamente
por quem a promete. O ideal mesmo deveria ser a palavra compromisso. Se a cada
ano os políticos se comprometessem de forma fidedigna com o seu propósito, que
é representar honestamente o seu povo, talvez as irregularidades existentes
seriam diminuídas. Mas, para que essa utopia seja realizada muitas e muitas eleições
serão necessárias tanto para que o povo desperte desse sono secular do qual
está adormecido, tanto para que o catálogo de políticos desonestos seja cada
vez menor e, por isso, com mais chances do povo fazer, de fato, a escolha menos
errada.
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