07 janeiro 2014

A dualidade dos valores - por Alexandre Spinelli



             Não é de hoje que o homem enfrenta o antagonismo causado pelos conflitos de valores. Apesar de haver a falsa impressão de que esse é mais um problema oriundo da modernidade, ele já coexiste com a humanidade há milênios e, recentemente, transformou-se na tônica dos debates entre as relações comportamentais.  Essa inversão de valores tem gerado uma dicotomia, trazendo dois novos desafios para a psicologia moderna: o desvio de conduta moral e a anástrofe social.

            É bem verdade que a ética está se tornando um termo recorrente entre os meios de comunicação, ainda que ela venha de encontro à prática promovida por eles.  Nesse meio, o desvio de conduta moral parece ter maior valor: Luciana Gimenez, modelo fotográfico, ganhou programação em horário nobre por engravidar em um caso extraconjugal com mega-astro Mick Jagger. Corroborando essa corrente, a imprensa patenteia o repórter Pedro Bial, autorizando-o chamar de heróis os Big Brothers que, para vencer, trapaceiam, mentem, manipulam e até traem os seus cônjuges.  Mas, se por um lado, esse modelo de comportamento deturpa a moralidade, afrontando as famílias e os bons costumes, por outro, traz recursos e números positivos para quem o promove.  A indústria do entretenimento, ávida por audiência, tem o poder até mesmo de regenerar bandidos, transformando-os em mocinhos: aqui, Ronald Biggs, ladrão inglês, ostentava status de celebridade!

            Além disso, também não é menos verdadeiro que a corrupção tem sido escárnio da mídia e da opinião pública, que, descontente com o atual estado de coisas, recentemente foi às ruas. Entretanto, o contrassenso social é flagrante quando aqueles que deveriam representar a voz dessa massa zombam da inteligência dela. Apostando inverter os papéis com gestos à guisa bolchevique, José Genoino, José Dirceu e Delúbio Soares achincalharam a ação do Poder Judiciário, tentando transformar suas prisões em ato heroico. No entanto, essa distorção social não se limita apenas ao Espaço Nacional; ela transgride as fronteiras continentais. Nos Estados Unidos, esse efeito é inverso: o herói torna-se vilão. Edward Snowden, analista de sistemas que denunciou as espionagens realizadas pela Agência de Segurança Nacional americana, recebeu indicação ao prêmio Nobel da paz na Noruega, contrariando as leis de seu país pátrio que o condenam por roubo de propriedade do governo.

            Assim, a página que contém o pensamento de que “hoje em dia conhecemos o preço de tudo e o valor de nada”, escrito há dois séculos por Oscar Wilde, urge ser virada. Não é só necessário desenvolver maior senso crítico, mas, sobretudo amadurecer essa percepção, habilitando-nos a melhor discernir e eleger os nossos padrões comportamentais. Do contrário, correremos o risco de repetir os mesmos erros do passado, cometidos há dois mil anos quando libertamos o vilão e crucificamos o Herói.

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