Não é de hoje que o homem enfrenta
o antagonismo causado pelos conflitos de valores. Apesar de haver a falsa
impressão de que esse é mais um problema oriundo da modernidade, ele já
coexiste com a humanidade há milênios e, recentemente, transformou-se na tônica
dos debates entre as relações comportamentais. Essa inversão de valores
tem gerado uma dicotomia, trazendo dois novos desafios para a psicologia
moderna: o desvio de conduta moral e a anástrofe social.
É bem verdade que a ética está se tornando um termo
recorrente entre os meios de comunicação, ainda que ela venha de encontro à
prática promovida por eles. Nesse meio, o desvio de conduta moral parece
ter maior valor: Luciana Gimenez, modelo fotográfico, ganhou programação em
horário nobre por engravidar em um caso extraconjugal com mega-astro Mick
Jagger. Corroborando essa corrente, a imprensa patenteia o repórter Pedro Bial,
autorizando-o chamar de heróis os Big Brothers que, para vencer, trapaceiam,
mentem, manipulam e até traem os seus cônjuges. Mas, se por um lado, esse
modelo de comportamento deturpa a moralidade, afrontando as famílias e os bons
costumes, por outro, traz recursos e números positivos para quem o
promove. A indústria do entretenimento, ávida por audiência, tem o poder
até mesmo de regenerar bandidos, transformando-os em mocinhos: aqui, Ronald
Biggs, ladrão inglês, ostentava status de celebridade!
Além disso, também não é menos verdadeiro que a corrupção
tem sido escárnio da mídia e da opinião pública, que, descontente com o atual
estado de coisas, recentemente foi às ruas. Entretanto, o contrassenso social é
flagrante quando aqueles que deveriam representar a voz dessa massa zombam da
inteligência dela. Apostando inverter os papéis com gestos à guisa bolchevique,
José Genoino, José Dirceu e Delúbio Soares achincalharam a ação do Poder
Judiciário, tentando transformar suas prisões em ato heroico. No entanto, essa
distorção social não se limita apenas ao Espaço Nacional; ela transgride as
fronteiras continentais. Nos Estados Unidos, esse efeito é inverso: o herói
torna-se vilão. Edward Snowden, analista de sistemas que denunciou as
espionagens realizadas pela Agência de Segurança Nacional americana, recebeu
indicação ao prêmio Nobel da paz na Noruega, contrariando as leis de seu país
pátrio que o condenam por roubo de propriedade do governo.
Assim, a página que contém o pensamento de que “hoje em dia
conhecemos o preço de tudo e o valor de nada”, escrito há dois séculos por
Oscar Wilde, urge ser virada. Não é só necessário desenvolver maior senso
crítico, mas, sobretudo amadurecer essa percepção, habilitando-nos a melhor
discernir e eleger os nossos padrões comportamentais. Do contrário, correremos
o risco de repetir os mesmos erros do passado, cometidos há dois mil anos
quando libertamos o vilão e crucificamos o Herói.
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