12 maio 2013

O forró e o plástico - por Onaldo Queiroga



              Luiz Gonzaga foi o mais significativo divulgador do forró e costumava dizer que o Baião era pai do xote, do xaxado e do forró. Através desses ritmos ele levou ao mundo nossas tradições, mostrando a saga dos retirantes, o vaqueiro, os repentistas, as nossas riquezas, como as feiras, as praias, os nossos pássaros, a vegetação da caatinga, além de cantar com a voz do protesto, denunciando irregularidades e cobrando providências.

            O forró é essência da nossa cultura. Agora, vem um ritmo denominado “plástico” querendo fazer guerra. Primeiro, é preciso dizer que esse “plástico” é tudo, menos forró. Segundo, isso é mais um modismo que como tantos outros passará. Terceiro, é preciso que as autoridades, a exemplo do Ministério Público, investiguem o que há por trás desse “plástico”, porque estamos presenciando órgãos públicos despejarem rios de dinheiro da rubrica cultura para financiar esse lixo, a tocar em praça pública, levando à nossa juventude apenas e simplesmente o fomento à prostituição, à bebedeira, e, finalmente, à degradação e desmoralização da mulher e da família.

            No palco, bailarinas seminuas a dançar, como diz Pinto do Acordeon, sob o tom da bateria que toca: “pra escapar, pra escapar, pra escapar”. O repertório é único, todas as bandas tocam as mesmas músicas, o que implica dizer que é preciso sempre o vocalista anunciar o nome daquela que está no palco. As letras? Sem comentários. Mas, para termos uma idéia, vejamos: na música “Sou Raparigueiro” as bandas, “cantam”: “...De segunda a segunda é viver de bar em bar, / Cachaça e cabaré, raparigando sem parar / Segunda-feira bebo pra curar a ressaca / Minha mulher já me mandou morar num bar.... / Na terça-feira os amigos de cachaça / E tendo festa pra gente "bebermorar" / Na quarta-feira, pega fogo cabaré e eu lá / Dentro bebendo, cheio de mulher, na quinta-feira / Sexta-feira ia pra casa gerando, desmantelado / Amando e tomando mé....”. Já na música “Cano de Ferro”, o povo escuta: “...Oh, gostosa, tá a fim de relaxar / tá eu e meu amigo / / e aí? vai encarar? / Não fique assustada, ele fica pra depois!/ O que é que você diz? / Um não, só quero os dois!! / vem gostosa, que é isso que eu quero! / Vamos te pegar de jeito e dá-lhe de cano de ferro! / vem gostosa, que é isso que eu quero! / Vamos te pegar de jeito e dá-lhe de cano de ferro! / Relaxa! Vou dá-lhe de cano de ferro! / Relaxa! Vou dá-lhe de cano de ferro!...”

            Indago: Isso é cultura? Devemos continuar aceitando que o dinheiro público seja destinado a financiar esse tipo de mensagem? Temos certeza de que não. A praça é do povo e, estranhamente, estão negando-lhe a cultura. Esse plástico domina a programação da mídia, cujas rádios e canais televisivos são concessões públicas, mas, ao invés da divulgação da verdadeira cultura, estão, sim, espalhando lixo sonoro. Estão eles a serviço de alguém? O que há por trás de tudo isso? Só sei que gastam-se cem mil reais com a banda “x”, mais setenta mil reais para a banda “y”, e a praça fica repleta de jovens ingerindo cachaça, consumindo drogas, meninas e meninos desmaiando e por aí vai.

            É preciso dar um basta nisso. Falácia dizer que o povo não gosta do legítimo forró. São João é tradição. Nunca ouvi que em Barretos ou mesmo no carnaval de Salvador haja espaço para o forró. Temos nossos valores que precisam ser reconhecidos. Parabéns, Chico César! 

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