10 março 2013

Eu odeio gente velha - Pollyanna Cristina Quadros de Souza


           
Eu odeio gente velha. Sim, eu odeio. Como muitos, você deve estar imaginando “que pessoa insensível, preconceituosa, mal-educada”. Sincera seria a palavra mais adequada.
            Vejo pessoas deste tipo todos os dias. São jovens, adultos ou como queira classificá-los conforme a sua respectiva faixa etária. Para mim, não passam de pessoas velhas.
            São pessoas que vivem um dia e envelhecem cem. Pessoas que se cansam demais, que reclamam demais, que esperam demais, que querem demais e que vivem de menos.
            Cansam-se da vida, reclamam da vida, esperam da vida, querem da vida e não a vivem. Deixam-na passar.
            Nós nascemos. Temos o fôlego de quem quer descobrir o mundo antes que ele acabe. Ninguém pode conosco. Corremos, brincamos, descobrimos e reinventamos.
            Com o tempo, tudo fica vazio e sem graça. Já descobrimos demais. Já perdemos a paciência. Já perdemos o desejo de saber. Temos pressa novamente. Mas não da caminhada, e sim da chegada.
Queremos chegar logo ao fim das aulas, do trabalho, em casa. No outro dia, queremos chegar logo à escola, ao trabalho. E depois queremos sair de lá. Quem entende isso? Cadê o meio disto tudo? Cadê o aqui e o agora? Queremos chegar logo, mas aonde? Alguém se lembra qual o começo de tudo isto?
Enxergo pessoas que falam demais, se incomodam demais, se irritam demais e fazem de menos.
Falam do que há de ruim, se incomodam com isto, se irritam com isto e ficam de braços cruzados.
Pessoas omissas. Não vivem a vida, passam por ela. São figurantes. Não que eles não tenham sua importância. Longe disto. Mas se têm potencial pra ser o melhor, por que se contentar com tão pouco? Muitos têm ambição, têm fome, têm desejo.
Ambição de dinheiro, fome de poder, desejo de enriquecer. Onde está o âmbito de crescer na vida, amadurecer, a fome do saber?
Uma idade não pode ser medida pelo ano que se nasce. Há tantos jovens e adultos que carregam consigo tanta velhice.
Admiro os idosos. Eles, diferentemente destes, já fizeram demais. Tiveram sua vez, fizeram sua parte. Hoje descansam, colhem o fruto de uma vida.
Existem pessoas que só fazem reclamar. Esquecem-se de que há tanta vida pra viver ainda.
Pra mim, existem quatro tipos de pessoas: crianças, jovens, adultas e velhas.
Pessoas crianças são aquelas que ainda não amadureceram o suficiente pra discernir sonhos de utopias. Acreditam em tudo. São felizes como são, embora ainda estejam longe de se completarem como pessoas.
Pessoas jovens são aquelas que já sabem discernir as coisas, só não sabem ainda como usar. Ainda erram bastante. Mas desejam o mundo. Sabe que é a sua vez, que o mundo em breve estará em suas mãos. Acham que podem tudo. E estão quase certas. Elas lutam, elas querem, elas desejam. Têm sonhos, vontades, ambições.
Pessoas adultas são aquelas que sabem que têm responsabilidades. Mais do que sonhos, elas vão em busca de concretizações. Sim, elas podem. É a vez delas. Erram menos, mas ainda erram. E às vezes esquecem-se disso.
Pessoas velhas são aquelas que perderam o gosto de tudo. Não encontram sentido em quase nada, embora queira explicar quase tudo. Querem definir a vida e não vivê-la.
Essas são minhas definições de pessoas. Não são por faixa etária, e sim por amadurecimento. O amadurecimento é relativo e varia de pessoa pra pessoa. Quantos “jovens” não são crianças, adultos ou velhos? Quantos adultos não são “jovens”, “velhos” ou até mesmo crianças? Idade é o tempo de vida. Se você não vive a vida, e sim passa por ela, quantos anos você, de fato, tem? Pense nisso e veja em qual dessas definições você se encaixa ou em qual queira se encaixar.
É hora de mudar. Nunca é tarde demais. Nunca se é velho demais. Não quando ainda se carrega os sonhos de uma criança, o desejo de um jovem e a responsabilidade de um adulto.

3 comentários:

  1. Melhor texto que eu já li em toda a minha vida, me identifiquei muito e concordo plenamente. Parabéns!

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  2. É Digo o seu nome? Estou com 28 anos Diogo e estou passando por uma crise emocional das mais difíceis que já passei na minha vida. Estou confuso e apavorado, com uma sensação de que não vivi a minha vida plenamente. Lendo o seu texto eu me vi nele, como sendo uma pessoa que já desperdiçou muito tempo questionando, reclamando e não aproveitando a jornada. Recentemente, numa tentativa de aliviar essa tensão emocional eu busquei a meditação Vipassana, e um dos princípios tem tudo a ver com esse trecho que você escreveu:

    "Queremos chegar logo ao fim das aulas, do trabalho, em casa. No outro dia, queremos chegar logo à escola, ao trabalho. E depois queremos sair de lá. Quem entende isso? Cadê o meio disto tudo? Cadê o aqui e o agora? Queremos chegar logo, mas aonde? Alguém se lembra qual o começo de tudo isto?"

    Obrigado, muito obrigado mesmo por este texto. Numa segunda-feira de manhã é uma das coisas mais maravilhosas que eu poderia ter lido.

    Obrigado mesmo. Grande abraço.

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