Escrevo na ânsia
de enjaular as palavras na arena onde luto comigo mesmo. Deliro sobre tornar-me
escritor. Penso que as palavras podem cativar o vento. A inspiração que precede
a escrita me engana. Procuro cravar pensamentos diáfanos. Anseio por narrar o
inenarrável. Grafo sentimentos mas o inexprimível de minha alma me escapa.
Redijo para ninguém.
No texto, sou
leitor tentando expelir o engasgo preso no peito. Enquanto suo a
página, caço um jeito de desentranhar o que lateja em meu espírito.
Escrevo por
divagação. Minhas linhas não passam de estradas por onde fantasio desejos
escondidos. Inicio o texto e logo, feito navio à deriva, me perco. Nada como um
ensaio para desprender antigas convicções das âncoras da certeza. Minha
redação me deixa ébrio, serpenteando nas ideias. Sinto o impulso de
expressar o que não passa de intuição. Apanho da escrita. Como transformar em
letra as lágrimas malcriadas?
Escrevo em
estado de pura nostalgia. Vestígios trágicos de anos mal vividos clamam por
vingança. Na prosa, luto para resgatar o que nunca vivi, e na poesia, celebrar
a beleza que me privei de contemplar. Rabisco para ressuscitar risos
esquecidos. Quero retornar a lugares deixados para trás.
Escrevo com o
coração estilhaçado. Quando redijo, tento remediar decepções, debelar
desesperos, sarar feridas. No refúgio da palavra, unto com o bálsamo da
divagação o calcanhar que rachei nas pedras do caminho. Na angústia de
corrigir, revisar, apagar, re-escrever, talvez encontre terapia. Ao tentar
fazer literatura vislumbro como a excelência se distancia de mim. No desafio de
cinzelar algumas frases, noto o absoluto além do meu alcance.
Escrever
significa abraçar o desafio de superar-me, consciente da minha própria
mediocridade – a palavra ameaça mania de grandeza. Crônicas, ensaios, poemas,
novelas, romances, me afastam do falso deus que imaginei ser para aproximar-me
do Verbo que se fez gente.
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