02 novembro 2012

Olá, eu Sou o Vestibular - Por Marcela Costa



“Olá, eu sou o Vestibular”.

Se é sangue brasileiro que corre em suas veias, você já ouviu falar de mim. Não carrego armas ou munição, não porto vírus incuráveis mortíferos e não sou capaz de destruir um ser humano. Mas, as pessoas têm medo de mim, por motivos que eu nego compreender. Mas, a realidade é que todos compreendem. Eu, o Vestibular, sou capaz de muito mais do que pareço. Não sou um inocente papel, minhas verdades não estão confinadas a planos puramente acadêmicos. Não, eu não sou assunto para ser resolvido entre alunos, professores e reitores.

Eu envolvo deputados, governadores, ministros e presidentes. Não sou para os fracos. Sou para os fortes de mente e de alma. E para os fortes de corpo, capazes de aguentar a maratona de estudos à qual obrigo-os a perdurar. Não sou para aqueles que não acreditam na majestade de seus sonhos. Eu sou implacável. Eu alimento a confiança de alguns e destruo as esperanças de outros. Devo admitir que alguns são capazes de caminhar por cima de mim, e ao passar por mim, alegam que não sou tão duro quanto pareço. Não sou eu. São eles.

Eu permito que alguns passem por meus portões, e vou fechando-os lentamente, permitindo que outros derradeiros possam arrastar-se por entre eles. Mas, quando os fecho, sou inexorável. Só os abro novamente ano que vem. Não considero minha obrigação mudar. Eu mudo quando quero, e a sociedade tem que aceitar calada. Calada ela não fica, mas eu sofro de surdez seletiva. Só ouço aquilo que me favorece e, por conseguinte, prejudica você. Claro, sou o Vestibular, e você depende de mim. Eu não dependo de você. Cada vez mais profissões dependem de mim e só de mim para serem exercidas. E a sociedade continua se submetendo a mim, deixando em minhas mãos os destinos de milhares de pessoas, para que eu os resolva a meu bel-prazer. E que leve cinco, dez, quinze anos, mas, poucos desistem de passar por mim. E os que desistem sempre se arrependem de tê-lo feito. Eu sou o Vestibular.

Não carrego culpa. Não há vagas para todos por trás de meus portões. São tantos fora querendo entrar e tão pouco espaço dentro que tenho que recorrer aos mais duvidosos métodos para manter meu equilíbrio. Minha injustiça é despida de peso na consciência. Considero vital manter a permeabilidade das minhas portas assustadoramente baixa. Mas, uma vez que você atravessa minhas portas, abrem-se outras muitas. Uns livram-se dos cabelos, uns pintam o rosto, uns fazem festas, uns comemoram em silêncio, mas, todos admitem que valeu a pena.

Quando eu saio de sua vida, você enxerga o mundo inteiro com outros olhos. Dá valor a cada minuto de seu dia. Momentos outrora prosaicos mostram-se extraordinários uma vez que você tem a recém-adquirida maturidade para apreciá-los. Você pode ter certeza que vai me odiar com cada molécula do seu ser mais tarde, mas, lá no fundo, você admitirá que eu ajudei-o a ver a verdade. Quando eu estava presente, eu despertei partes de você que nem você mesmo conhecia. E daqui a vários anos, quando você for um profissional de sucesso, talvez você tenha um filho que passará por mim. E eu direi: Lembra de mim? Eu sou o Vestibular. Eu fui à causa e seu sucesso foi o efeito.

Você foi o esforço e seu sucesso foi o resultado. Diga a seus filhos que não se revoltem comigo. Esteja ao lado deles. Lute por eles. Diga a eles que sou duro, mas, passo, e uma vez passado, só trago alegrias. Diga a eles que esse período é pequeno, mas, vai contribuir para a formação de seu caráter. É um rito de passagem moderno. Eu não quero seu mal. Eu não quero fazê-lo sofrer. Se for para vê-lo chorar, que sejam lágrimas de alegria. Eu só quero que a vitória não seja fácil. Eu quero que ela valha muito. Conte comigo como porta de entrada para seu sucesso, mas, não espere que eu faça todo o trabalho. Poucos carregam nas costas tanto suor e lágrimas quanto eu. Mas, poucos são capazes de levá-lo tão longe. Sou eu, o Vestibular.

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