Quando a palavra “educação” é tema de discussão, rapidamente remete a outras inferências que estarão ligadas aos problemas sociais que estão intimamente ligados a essa temática. Sobretudo porque, no Brasil, os alicerces em torno da educação sofrem com o descaso de instituições mal preparadas, profissionais mal remunerados e o estilo de ensino que se baseia em apenas cumprir o calendário escolar, sem levar em consideração as inovações na área do ensino. Por tudo isso, falar, ou sequer investigar o ensino na sala de aula, principalmente o ensino de língua portuguesa, tornou-se uma tarefa de Sisifo, já que, muitas vezes, os problemas enfrentados pelas escolas estão sendo mascarados para passar uma imagem psedopositiva do ensino.
Depois dos atuais avanços para uma democratização no ensino é notório perceber que o déficit de crianças que ainda não compõem o quadro educacional do país é gritante. Além disso, os estereótipos linguísticos que permeiam a nossa sociedade transferiram para as escolas um modelo taxativo e preconceituoso de ensino, no qual é desconsiderada a vivencia deste aluno antes de ingressar na atmosfera escolar. Linguisticamente falando, os que não se adequarem aos moldes pregados pela escola, não estarão aptos a fazer parte da sociedade, pois, infelizmente, existe uma cultura do medo, na qual o aluno é obrigado a aprender os fundamentos sustentados pela escola para assim conseguir o seu lugar na sociedade.
E é justamente sobre esses fundamentos que o livro Linguagem e Escola, de Magda Soares, irão discutir. Dividindo o livro em seis capítulos, a autora busca esmiuçar os estudos em torno dessa temática para elucidar os problemas que envolvem o ensino de língua. Seu livro, além de muito informativo, evidencia temas atemporais que podem ser aplicados na atual realidade de muitas escolas. A ideia da autora é questionar o papel da escola como formadora de conhecimento, e se esta está exercendo bem esse papel. As teorias e conceitos utilizados servem para dar verossimilhança aos argumentos apresentados em cada novo capitulo.
Após a introdução, que por sinal nos dá um panorama completo da obra que será lida, temos o capitulo referente ao fracasso da/na escola. Ela começa a fazer nesse capitulo um percurso histórico sobre a questão do ensino no Brasil, passando por Rui Barbosa, a época do Estado Novo até a atualidade. Nesse curso histórico a autora enfatiza que as tentativas de criar um ensino de qualidade é algo antigo, pois muitas propostas foram formuladas, mas ate agora a real democratização não ocorreu de fato. Em meio a isso, o livro começa a exibir as teorias que tentam justificar os declives educacionais no ambiente escolar. A primeira, a ideologia do dom, afirma que o problema está na dificuldade de aptidão de alguns alunos para absorver certos conhecimentos. A segunda, a ideologia da deficiência cultural, afirma que a falta de cultura ou o excesso dela pode moldar a inteligência do indivíduo. A terceira e ultima a ideologia das diferenças culturais, afirma que existem culturas que são superiores as outras e por isso, teriam maior propensão social que refletiria significativamente no aprendizado do aluno. Evidentemente essas teorias foram contestadas, já que seus fundamentos não levam em conta que a língua é algo vivo e como tal está em crescente evolução.
No terceiro capitulo do livro, intitulado de Deficiência linguística, a autora lança um questionamento acerca dessas deficiências ao longo de cada parágrafo. No primeiro tópico, aparecesse a pobreza como fator predominante na aquisição de uma linguagem errônea. Segundo essa patologia, o individuo pobre teria maior propensão em ter problemas com a aprendizagem de determinados conteúdos passados pela escola. Não muito diferente desse teria, o déficit linguístico também se ancora nas camadas mais populares para explicar sua teoria, no qual o aluno vem para a escola repleto de deficiências linguísticas que impedem o seu avanço. Em seguida, a autora fundamenta a discussão trazendo à tona a colaboração de Bernstein, no que diz respeito à teoria da deficiência linguística.
No quarto capitulo, no entanto, a autora começa a desconstruir o mito referente à deficiência linguística. Nas palavras da autora, existe uma impropriedade que revela certa ignorância por parte de alguns profissionais da ciência da linguagem, em desconhecer os trabalhos exercidos pela sociolinguística. Alguns estudiosos acreditam que exista uma variedade superior e outra inferior, indo de encontro com os preceitos antropológicos e sociolinguísticos. O determinismo pregado por esses estudiosos acabam contrapondo toda uma visão social da linguagem, que por sua vez, é responsável por fundamentar as discussões em torno da evolução da língua.
A questão da deficiência também está presente no âmbito escolar. No quinto capitulo, a autora lança uma afirmação: na escola, diferença é deficiência. Sabemos que, na realidade, essa afirmação é verídica. Isto por que, na escola, muitas vezes são desconsiderados todos os conhecimentos linguístico adquiridos pelo aluno antes de ingressar na escola. Há uma necessidade de transformar esse aluno, como se ele fosse uma pedra bruta que precisasse ser rapidamente lapidada, para em seguida ser comercializada. Mais ou menos assim ocorre nas escolas, já que ainda existe uma visão taxativa de que o aluno, antes de frequentar q escola, apresenta uma deficiência na linguagem, pois ainda não teve o devido contato com a norma padrão, aquela que rege os moldes sociais até então conhecidos.
No sexto e ultimo capitulo, a autora lança uma pergunta, até um tanto perturbadora: que pode fazer a escola? As teorias para responder a essa pergunta são inúmeras, mas, parafraseando os conceitos impregnados nesse livro, fica evidente que um modelo de escola transformadora, que agregue o aluno a realidade em que ele vive seria o caminho salutar na lutar para reverter os pensamentos nefastos em torno do ensino de língua. Uma escola que respeita as diferenças, que está por dentro da variabilidade da língua e que, posteriormente, trás essa maleabilidade para dentre da sala de aula, com certeza colherá bons resultados.
No entanto, para que tudo isso ocorra, ainda há um longo caminho a ser percorrido. Muitas barreiras sociais que impedem o progresso do ensino devem ser demolidas para que haja uma verdadeira democratização do ensino e, consequentemente do conhecimento. Acredito que este livro, além de trazer significativas teorias para reverter à realidade das escolas, pode mostrar que essa barreira não é tão intransponível. Basta que a sociedade encare o problema da educação com mais pertinência e maturidade, buscando soluções plausíveis e deixando de lado os moldes ultrapassados que só fazem dificultar o aprendizado em sala de aula.
eu tive que fazer a leitura deste livro para um seminário na faculdade, e Adorei demais o conteúdo que tem nele.
ResponderExcluireu fiz uma pequena resenha em meu blog também http://www.incriativos.blogspot.com.br/2013/06/linguagem-e-escola.html