23 junho 2010

Quadrilha Junina Tradição 2010 - Sinopse: Hoje é o Meu Dia de Sorte (PARTE 4)


By Anderson Gomes
Correção Textual: Diogo Didier


FIGURINO

A arte de vestir os seres humanos, misto de pecado e vergonha para cobrir o corpo após o homem e a mulher serem expulsos do paraíso de Deus, diz a bíblia. O homem pré-histórico, objeto de estudo, fruto dos resultados cientifico adquiridos pela ciência, já usava sua habilidade para proteger-se do frio da noite – peles de animais. “o vestuário é a comunicação além de cobrir o corpo da nudez, ela tem outras finalidades". Umberto Eco. Ela é mais que uma simples veste, mais que uma roupa, pois ele possui uma carga, um depoimento, uma lista de mensagens implícitas visíveis e subliminares sobre todo o panorama do espetáculo e possui funções específicas dentro do contexto e perante o público, em grau maior e menor.

Para este espetáculo junino, o figurino é o ator principal da obra, ele dá vida ao sonho dos noivos de se casarem na igreja, a sorte bateu a porta deles! Com o encontro cigano, a fortuna que eles tanto sonhavam se fez realidade – as cédulas de dinheiro surgem de uma árvore encantada, a árvore de dinheiro para pagar o altos gastos que derivam de um casamento.

Processo digital: Utilizando a arte digital de impressões em tecido, solicitamos a uma gráfita de Recife para imprimir este sonho, criando uma estampa exclusiva e original, nunca antes realizada nos festejos juninos do Brasil. Um processo que nos rendeu um orçamento elevado, até irônico diria, pois pagar com dinheiro as impressões de cédulas de dinheiro nos divertiu bastante.

Associação das cores das cédulas para cada personagem: Um fato que nos pegou de surpreza, foi a associação natural construída para cada personagem com as cores do dinheiro real brasileiro em seus figurinos.

Grande grupo (Quadrilha ou matutos): Cédulas de R$ 1,00 real – Dentro do contexto que criamos para o espetáculo, o sonho de consumo dos noivos era simples: um casamento feliz para celebrar o amor na igreja. Essa sorte chegou com a mágia cigana. Na busca por moedas doadas pelas pessoas mais ricas e influentes da cidade, este casal ao plantar essas moedas, logo virá nascer uma árvore de dinheiro, elemento mágico que financiaria os gastos com o casamento. As folhas (verdes) e flores (amarelas) desta árvore vestem a grande sorte e esperança do casal de apaixonados, sentimentos que também estão associados a estas cores e seus significados: O verde representa esperança, perseverança, calma, vigor e juventude. Já a cor amarela desperta e traz leveza, descontração, otimismo. Simbolizando criatividade, juventude e alegria.

Um dos tecidos juninos mais utilizados neste período sem dúvida é o xadrez. Tendo como base esta referência, brincamos com as cédulas para formar uma estampa xadrez de dinheiro colorido, unindo todas as notas multicoloridas como o São João do nordeste. Moedas douradas e pedras preciosas dão acabamento aos trajes, pois também valem dinheiro. No verso da saia de armação das damas, há o mesmo colorido característico pela variação do papel moeda em circulação atualmente. As meias femininas em tonalidade vermelha, simboliza o amor dos noivos, e também, a sedução cigana que deu origem ao referido encantamento.

A volante: Tipicamente, o grupo da volante, uma forma de polícia militar especializada da época, foi constituído para caçar Lampião e seus cangaços (as). Era composta pelo capitão, por soldados (homens) e mulheres que atuavam como “bode expiatório” visitando casas de famílias. Na caatinga ou no sertão dividido em sete estados nordestinos, vivia a procura de qualquer pista que denunciasse o bando de Virgulino. Sua vestimenta em Pernambuco tinha a cor azul, que representa segurança e lealdade. Logo, aproveitamos aqui para elencá-los com a cédula de R$ 2,00 reais.

Casal de Ciganos: Os ciganos, descendentes diretos dos povos indianos, vestiam trajes ricamente coloridos, ornados com muitas moedas douradas, pulseiras de diversos tamanhos e modelos, anéis em pedrarias, lenços e pandeiros, luxo e riqueza para um grupo de retirantes que, tinha como oficio adivinhar o destino utilizando técnicas de leitura das mãos, tarô e baralho cigano, bem como, um intrigante horóscopo. É o casal que concentra dois tons derivados das notas de dinheiro: o roxo lilás da cédula de R$ 5,00 reais e o vermelho com rosa da cédula de R$ 10,00 reais. Tons que simbolizam romance, sensualidade e beleza.

Rei e Rainha do Milho: Na cultura nordestina, a realeza pede passagem para um casal que tem pose de majestade do milho. Se tornar os reis da festa é um ritual que dá trabalho. Naturalmente, o fato de assumir um status elitista, busca nas nossas memórias uma intima relação dessa dupla com o dinheiro, tendo eles, o titulo máximo de uma nação com este perfil aristocrata, possuidores de sublime riqueza – nobres. Na festa junina, o Rei nem tanto, mas a Rainha vende rifas e brindes para assumir o posto de patriota do milho, mesmo aqui no nordeste, se faz necessário aproximar-se do dinheiro se desejar deter este posto tão disputado. Na celebração, possuem a indumentária que os remete ao milho, cor amarela. Já nas cédulas deste rico dinheirinho lhes cabe a nota de R$ 20,00 reais. O amarelo expressa felicidade, riqueza, ouro, beleza, imponência e garbo. Qualidades que são sinônimos desta corte.

Cangaceiros (as): A imagem construída com inteligência e charme ajudou os cangaceiros na comunicação com o outro. Suas estéticas alegóricas dentro do sertão lhes incorporaram confiança, não sendo simplesmente uma questão de vaidade, mas de sobrevivência, pois antes mesmo de se assustar com o bando, o povo se encantava com sua aparência. A força da identidade visual na história deste bando fez deles mitos em todo o nordeste brasileiro ao misturar riqueza, extravagância e barbárie, lançando no país o banditismo de ostentação, em que, o enfeite e o ornamento dão destaque particular aos crimes. Para esta versão inovadora, apresentaremos o bando de lampião exibindo o fruto de sua ostentação, todo o roubo de anos vividos no sertão: os anéis, o ouro, as pedras preciosas, os brincos de brilhantes, os colares, etc. Associado a estes elementos, complementaremos as vestimentas com símbolos religiosos, referência a devoção católica do grupo: fitas de santinhos, imagens de padre Cícero, São Francisco, Nossa senhora e a Virgem Maria. Tipicamente, o grupo usava a cor marrom e azul no figurino padrão, escolhemos então explorar as tonalidades da terra, o marrom presente na cédula de R$ 50,00 reais. Essa cor manifesta estabilidade, constância, responsabilidade e maturidade. Uma espécie de camuflava social, para esconder sentimentos de cidadãos que lutavam pelos seus ideais.

Lampião e Maria Bonita: Vestir-se bem para Lampião era essencial para triunfar. Ele foi o primeiro cangaceiro a cuidar da sua imagem, aí reside sua originalidade, estava sempre vestido de maneira extravagante juntamente com Maria Bonita. Utilizava chapéus grandes, enfeitados com medalhas, acessórios brilhantes e muitos anéis, colares e broches. Lampião e seus cangaceiros lançaram sua própria moda, criando um dos visuais brasileiros de maior expressão e autenticidade. A partir do estilo adotado eram reconhecíveis entre todos. Sabia bordar a maquina com perfeição – e soube fazer dele um personagem singular, utilizando efeitos visuais para valorizar a vida que levava com seu grupo e transmitir a imagem de um bandido rico e poderoso, exercendo fascínio no sertão. Os motivos e as estrelas dos chapéus variavam de um cangaceiro para outro e permitiam reconhecer a sua importância dentro do grupo. O lenço vermelho do cangaceiro era estampado, ornado com anéis, e símbolos religiosos, ele sempre muito devocional. Para o Rei e a Rainha do cangaço, além de também exibir toda a riqueza que roubaram por 18 anos, um dinheiro chamado de sujo, nós valorizamos a cor azul do seu traje e, também presente na cédula de R$ 100,00 reais sendo eles as figuras mais caras deste espetáculo.

Os noivos: Simbolizam a pureza, a paz, o corpo e a mente em equilíbrio, assumindo um sentimento de pessoas em estado de graça por terem conseguido realizar seu sonho. Vestiram-se em branco total, com um toque de bordados nos tons dourado e prata. Representa o lírio branco em homenagem a Santo Antônio, padroeiro dos casamentos.

Marcador: Simboliza um cordelista, personagem que esccreve as histórias contidas nos cordeis – dele nasce em verso e rimas toda a história do causo nordestino Hoje é meu dia de Sorte contido no livreto de cordel para o casamento. Sua indumetária obedece as cores preta e branca, caracteristica da xilografia tradicional – arte realizada em madeira que propociona alto e baixo relevo, onde em contato com o papel pré-desenha as formas gravadas. Seu traje, nas costas compõem a capa do cordel, já na frente do palitó temos as páginas contendo o texto do causo que ele narrará na cena do casamento.

ORIGAMI – A ARTE DE DOBRAR PAPEL VIROU FIGURINO

Origami e, de forma simples, a arte de dobradura de papel. É uma arte milenar japodesa cujo o nome de origem orikami, significa dobrar papel. O origami tem suas regras: folha de papel quadrangular, quase sem cortes, traz simplicidade e desafio para a criação dos modelos.

Ori = Dobrar
Kami = Papel

Assim, como a arte de dobrar papel traduz o sentido do Origami, as cédulas de dinheiro são dobradas por todos nós cotidianamente. Quando ganhamos o dinheiro, qual é o primeiro ato que execultamos? Dobramos as cédulas para guardar no bolso, na carteira ou até mesmo, assim pegamos a quantia em mãos ela já é dobrada para caber na nossa palma. Quando práticamos este ato estamos fazendo um “origami” dobrando papel, oferecendo a ele outra forma.

Nosso figurino adotou a forma do origami padronizando a flor do lírio, clara homenagem ao casamento – santo Antônio. As pétalas tadicionais feitas na arte japonesa estão distribuidas nas saias, nas blusas e flores das damas, bem como, no corte do palitó dos cavalheiros.





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