Ao ter contato pela primeira vez com os índios,
Pero Vaz Caminha escreveu a carta abaixo:
"Andam nus, sem coberta alguma. Não fazem o
menor caso de encobrir ou mostrar suas vergonhas; e nisso tem tanta inocência,
como em mostrar o rosto. Até que um dia alguém viu maldade naqueles corpos nus,
e os obrigaram a vestir suas vergonhas!
Triste é quem vê pecado em um corpo nu. Assim como
quem tem tesão ao ver uma mãe amamentando. Onde está a mente que realmente é
doente? Nossa mente já foi tão bombardeada de erotismo barato estampada nas
capas de revistas ou mesmo nas tiras de jornais, que já não conseguimos ver
pureza e beleza natural em um corpo nu.
É hora de despir a mente das impurezas... quem
consegue?"
Contextualização: a arte faz perguntas, aponta
respostas, dirime dúvidas, escancara as realidades e revira as verdades...;
sobretudo, a arte mostra as imagens das feridas em carne aberta. Doa em quem
doer; e se não for assim, não é cultura artística. A arte em troca das verdades
não faz média com quem é de diplomacias veladas e democracias sigilosas;
afinal, a arte não se prende ao que as sociedades "impõem como regras e
procedimentos corretos". Ao contrário, são as regras e os procedimentos corretos
impostos pelas sociedades que inspiram as artes.
Breve explanação sobre
Ideias, Artes, Ideário e Sociedade:
Por Ideias, entende-se o que é formulado no campo
imaginário, uma verve em forma de projeto espacial e muito provável, daquilo
que se pretende executar. No meio social, um profissional que milita
constantemente com essa teoria é o arquiteto, pois, primeiramente pensa a
criação espacial, para em seguida, traçar a geometria do imaginado no papel.
Como disse Einstein: "A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará
a seu tamanho original". O físico disse isso por que, pelo fato dos
humanos terem a faculdade de pensar, ainda que não concretize, constantemente
estão formulando ideias e alargando os horizontes racionais da mente, investindo
na valorização do corpo e buscando, incessantemente, a elevação da alma.
A arte por sua vez, a grosso modo, é a maneira
artística dos humanos expressarem suas emoções, sentimentos, história, beleza
estética, a harmonia, a cultura e o equilíbrio da "peça" a partir das
ideias. As artes são representadas pelas imagens, fotografias, signos e o
objeto materializado, propriamente dito. A primeira lei do Direito pontua que
as leis emanam do povo, em defesa do povo e para o povo. Analogamente, as artes
emanam da sociedade, para uma profunda reflexão social sobre a mesma sociedade,
a qual emanou a arte.
Em linhas gerais, ideário pode ser entendido como o
conjunto de ideias e a implantação das mesmas, em forma de arte. Portanto,
ideário é a arte finalizada e posta em prática. Por exemplo, uma exposição é o
ideário do propositor, juntamente com o organizador e curador da obra
artisticamente idealizada.
Basicamente, no reino animal, impossível é o
vivente sobreviver isoladamente; motivo dos ocupantes de determinado espaço geográfico
unirem-se gregariamente em grupos e bandos, formando as populações de espécies.
No caso dos humanos, a população é formada pelo agrupamento de indivíduos, cuja
"finalidade é usufruir socialmente do bem comum". Dotadas de
discernimento, sabedoria e racionalidade, assim posto, as sociedades humanas
são "organizações supostamente civilizadas" que se unem em prol do
trabalho e uso do bem comum; e primando pela harmonia grupal, a igualdade e
justiça é regida por um conjunto de leis e regras. Será mesmo que essa ideia é
aplicável ao meio social brasileiro?
Sobre a exposição:
No início do ano o banco Santander Cultural
garimpou várias obras de artistas renomados e após ordená-las em ideias
artísticas, concretizou-as na Exposição Queermuseu: Cartografias da Diferença
na Arte Brasileira. Os trabalhos ficaram expostos aproximadamente um mês,
quando uma enxurrada de reclamações e queixas nas redes sociais contra os
temas, pôs fim ao projeto. Como as Ciências Humanas sofrem com o (pré)conceito
interpretativo e cada pensante associa o que os olhos veem ao que é latente e
oculto, os motivos das reclamações variaram de supostos ataques às crenças
sagradas, ao incentivo à zoofilia, pedofilia e erotização de crianças.
Inicialmente, em defesa da arte e dos artistas, o banco
emitiu uma nota, a qual referia-se ao evento, dizendo que a exposição é
"justamente para nos fazer refletir sobre os desafios que devemos
enfrentar em relação a questões de gênero, diversidade, violência entre
outros". Por fim, o dinheiro falou mais alto e sob alegação que poderia
haver uma retaliação por parte dos clientes e diante dos severos ataques
impostos pelo povo, repercussão negativa causada e das tempestades de
reclamações, o que poderia resultar em uma provável perda de investimentos e diminuição
nas contas do banco, o Santander Cultural deu cabo à exposição que ficaria
aberta ao público até 8 de outubro.
Os diversos olhares sobre
o entrevero causado:
Segundo o curador que já fez duas bienais do
Mercosul e nunca tinha visto algo parecido. As manifestações foram muito
organizadas e se debruçaram sobre algumas obras muito específicas, que não dão
a verdadeira dimensão da exposição. Esses grupos [de críticos] mostraram uma
rapidez em distorcer o conteúdo, que não é ofensivo", disse Gaudêncio Fidelis
ao jornal O Globo.
Já Antonio Grassi, ex-presidente da Fundação
Nacional de Artes e atual diretor executivo do Inhotim, classificou a "A
arte como o melhor lugar para debater. Eu vejo como preocupante esse tipo de
movimento que impulsiona esse tipo de intransigência com o debate. Essas ideias
de intolerância são incompatíveis com a arte. É uma censura", disse ao EL
PAÍS.
O crítico de arte Moacir Dos Anjos, que já foi
curador da Bienal de São Paulo, também criticou a decisão. "Rumo ao
passado. E que vergonhosa a nota do Santander, querendo justificar, valendo-se
de hipócrita retórica corporativa, o ato de censura que cometeu. Viva a
diversidade!", escreveu no seu Facebook.
Para Kim Kataguiri, um dos líderes do MBL, -
Movimento Brasil Livre - : "Isso é um boicote que deu certo, não uma
censura", escreveu.
Como escritor deste, faço a seguinte pergunta sobre
a justificativa de Kim: qual a diferença entre o AI, (Ato institucional)
censura, cerceamento de linguagem e boicote? O leitor que interprete a pergunta
e responda como, e o que quiser sobre a mesma.
Recorrendo ao conceito de que "sociedades são "organizações
supostamente civilizadas" que se unem em prol do trabalho e uso do bem
comum. Primando pela harmonia grupal, a igualdade e justiça é regida por um conjunto
de leis e regras"; o viés é que se ainda necessitamos de
exposições, como foi a criação artística proposta pelo banco, é porque não
atingimos o estágio elementar do civilismo, não sabemos o que é cidadania e em
troca do "os tempos mudaram", desprezamos o respeito mútuo, perdemos
o senso de bom senso, dispensamos o discernimento de brasileiros construtivos e
operantes para o todo; fato e virtudes que facultariam, inclusive, a arte do
trabalho de retratar-nos através de uma exposição.
Bye, bye arte brasileira; bye, bye Brasil; porque o
brasileiro de modo geral não merece o imenso e sublime país ofertado a ele
gratuitamente e o pouco de ideias artísticas que ainda perduram em certas
mentes lúcidas e esclarecedoras! Afinal de contas, pelos campos minados por
onde uma população de serpentes peçonhentas se arrasta, ainda que tente
desvencilhar do cordão, fuja como o diabo foge da cruz, a invisível sombra da
hipocrisia segue milimetricamente o rastejar das víboras.
A conclusão do artigo,
traduzida em um sub-artigo:
O dia que um povo arredio se rebelou contra a arte,
se rebelou contra si; sobretudo, porque não há nada mais revelador dos costumes
e atitudes de um povo, do que a arte. Mais: rebelou-se contra as verdades de um trabalho artístico sério e
honesto, porém, no entanto, jamais tornarão a exposição e os artistas
mentirosos.
Como povo é povo e dificilmente chegará ao ápice de
ser uma nação, os prosélitos seguirão dividindo seus podres poderes, dividindo
o país em segmentos raciais, políticos, econômicos, educacionais, feministas,
machistas, religiosos, em opções sexuais, ...istas, egoístas, etc; e o pior,
hipocritamente, silenciando a arte denunciadora; que pode muito bem ser
limitada à faixa-etária do público espectador. Através da proposta de livre entendimento
e expressão interpretativa, perde tempo conferindo uma exposição artística quem
quer...ou, quem é de arte. Sobretudo, quer forma de arte mais pura, tenra e
inocente, do que corpos nus sem ser molestados pela maldade dos olhos e mentes
débeis numa praia de nudismo?
E diante de tantos rachas de sensibilidade; de
tantos acontecimentos canhestros omitidos; de tantos melindres emotivos; diante
de tantos querubins corruptos com duas pernas pulando com uma; de tantos clubes
de troca de casais; de tanta divisão de poder; diante de tantas leis
pacificadoras; de tantos egos gritados; de tanto falso moralismo; diante de
tantos capôs de carros e gargalos de garrafas deflorados pela dança escandalosa
do funk em praça pública; diante de tantos lençóis inflados nas camas dos
programas de reality show às 20 horas. Se em nome do dinheiro e de gritos
infundados do povo, tolheram a exposição, segue o escancaramento do não
revelado... segue a catarse social que nas CNTP, dificilmente, se purificará.
Diante de tantos enquadramentos ao politicamente
correto; diante de tantas famílias que, com a desculpa que "é melhor
fazerem perto de nós, do que longe", liberam a casa e o quarto de casal
para os filhos fazerem um auê, (o chamado bundalelê, que foi musicado e aplaudido
com glória) fumar um baseado, - maconha, por baixo - e transar à luz dos raios
de sol ardente do meio dia; pode-se afirmar que em sentido amplo e extensivo a
"sociedade" brasileira é um grupo de sócios que trabalham e operam,
para no fim, todos usufruírem do bem comum; que é a potência de recursos,
chamada Brasil? Após 500 anos e mais uns rolos de fumaça na atmosfera, esse é o
provinciano, ingênuo, (ana)crônico e realizável pensar dos nativos brasileiros?
P.S.: Invertendo o processo e dando razão às ideias
e ao que o povo pensa, a arte é contra as "verdades dos bons pensadores
sociais" e por manifestar-se assim, torna-se mentirosa. Não obstante, a
arte é, antes de tudo, uma antítese caluniadora e por vezes, inverte os valores
do exposto. Em nome da paz e para alegria geral, abaixo a arte esclarecedora de
visões míopes, estrábicas e turvas!
Passou da hora de despir a mente das impurezas,
exonerar a fuligem da hipocrisia dos óculos e extirpar a autocorrupção do
coração...; mas como fez Cristo, quem se habilita em pôr a cara para bater?
Mesmo porque, um tapinha artístico bem leve com luva de pelica, faz um tremendo
estrago na cara...; óbvio que faz um tremendo estrago na cara de quem tem brio
na cara!
Visto no: Obvious
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