A palavra estupro, no seu
sentido dicionarizado, significa coito forçado, penetração não consensual, ou
ainda violação do corpo alheio. Este último conceito é interessante, pois carrega
um todo de significantes que vão muito além do que a sociedade entende por tal
verbete. Na verdade, há um entendimento tacanho sobre esta temática, no qual
reduz a discussão apenas para o âmbito da violência física. Entretanto, numa
sociedade amplamente sensorial em torno do sexo, onde tudo é convidativo para o
ato sexual em si, há outras formas de estuprar o outrem sem às vezes ter nenhum
contato corporal. Isso acontece de diversas formas, a maioria delas veiculadas
e naturalizadas pelos meios de comunicação, dos mais atuais aos mais modernos. Comercializar,
expor, erotizar, sensualizar e vulgarizar corpos são apenas alguns dos muitos
outros verbos destinados a essa realidade. É a banalização do sexo na música,
na mídia, no cinema, nas redes sociais, entre outras esferas comunicativas,
expondo crianças, jovens a adultos a situações e violências sexuais
indescritíveis. Do outro lado da moeda está o povo acreditando que o estupro ainda
se limita a seguinte narrativa:
“Uma
garota indefesa, caminhando por uma rua esquisita, erma, em horário impróprio.
De repente, surge um homem, geralmente mais velho. Ele enxerga ao longe a
garota. Ela percebe o olhar. Rapidamente seu corpo fica retesado de medo. Ele
percebe esse medo, mas não desvia o olhar. A cada passo, ele está mais perto da
presa. Ela, a garota, se vê encurralada. Os olhos daquele estranho desnudam o
seu corpo mesmo sem tocá-lo. Ele se aproxima. Agora ele está perto dela. Ela
sente a sua respiração. Num solavanco seu braço foi puxado em direção ao corpo
dele. A respiração de ambos está ofegante. Ela sente aquela mão estranha
tateando o seu corpo. Lágrimas descem de seus olhos. Ela quer gritar, mas o
temor silencia sua voz. Não há para quem bradar, nem a quem recorrer. Apenas
fechar os olhos e apelar para todas as divindades disponíveis. Alguém há de
socorrer aquela jovem. Mas, a ajuda espiritual não vem. Sua roupa é rasgada.
Ela soluça de medo. Ele, impiedoso, abaixa o zíper. Está pronto para o ataque.
De repente, o golpe é desferido. Sangue puro é derramado. Mais uma garota foi
violentada”.
Mesmo tendo largas doses
de realidade, o relato acima é fictício. Ele foi produzido apenas para
exemplificar a ideia defendida pelo senso comum de que o estupro só ocorre em
circunstâncias dignas das atmosferas cinematográficas. Também não foi acrescido
a ele o perfil da vítima, que seguindo essa linha de raciocínio, deveria estar
vestida de forma “inapropriada” para ter despertado o interesse de um
desconhecido. São estes pensamentos infundados que fazem parte do imaginário
daqueles que idealizam o estupro. No entanto, poucos percebem que antes de tudo
isso há outras violências que ocorrem silenciosamente, retirando a pureza das
pessoas. Entre elas, a falta de diálogo sobre sexo, que não é tema natural em
casa, nas escolas e nem na religião, e que leva muitos jovens a serem
coisificados sexualmente e adentrar nessa vida de forma precoce, irresponsável,
muitas vezes com riscos enormes à saúde ou a integridade moral destes indivíduos.
Certamente também, muitos
desconhecem, ou ignoram, o papel exercido pela cultura de massa na banalização
do estupro. Músicas que incitam o acasalamento são bons exemplos para isso.
Nelas, as palavras imperativas não são escritas à toa. Desce, sobe, senta,
rebola, remexe, balança, sacode, são expressões semanticamente calculadas, que dão
ordens expressas aos seus ouvintes: é preciso aprender a sensualizar. Porém, nestas
canções não há mensagens claras sobre as consequências de tais movimentos, os
quais podem levar seus entusiastas ao estupro real. Enquanto isso, pessoas de
várias faixas etárias e classes são estupradas imperceptivelmente pelo Funk,
pelo Brega, Arrocha ou Swingueira dentre outros. Tudo isso disseminado pela
mídia televisiva, como se não houvesse prejuízo algum para quem está do outro
lado da tela.
A mídia é, ainda, uma das
principais responsáveis pelo estupro social, e posteriormente o real, que
ocorre na sociedade. Ao legitimar o discurso machista dominante nos comerciais
de bebidas alcoólicas, por exemplo, ela reforça os tantos abusos que acontecem
contra as mulheres no país. Sem contar a omissão midiática ao tratar de temas
ligados ao estupro, ou a sua prevenção. Falta aberturas para se debater as
vertentes deste assunto em cadeia nacional, mostrando todas as faces dele,
desde aquele que ocorre dentro do seio parental, passando pelo externo, o das
ruas, até o que é disseminado pela banalização do sexo dentro da própria
cultura de massa e da mídia em si. Ao invés disso, novelas, filmes, seriados,
tem cenas de violência sexual difundidas sem uma prévia conscientização da sociedade.
A polêmica sobre a cena de estupro que ocorreu no maior seriado de todos os
tempos “Game of Thrones” é um bom exemplo disso. Fãs do folhetim expuseram sua
indignação contra a série nas redes sociais, onde internautas resolveram
repudiar a violência sexual protagonizadas pelos personagens.
Caso aqueles indivíduos
tivessem um maior contato com a temática do estupro, talvez não houvesse
tamanha repercussão daquela cena. As discussões virtuais brotam geralmente do
desconhecimento que há nos indivíduos que se expõem contra ou a favor de alguma
questão. Nesse ínterim, tal atitude se assemelha a polêmica em torno da Mc
Melody no Brasil, que depois de ter seus vídeos viralizados na internet, virou
assunto durante dias, sobretudo porque a garota, de apenas 8 anos de idade, era
sensualizada pelo pai. Tanto lá quanto aqui, percebe-se quanto a internet se
tornou ora aliada na luta contra o estupro, ora propulsora de tal violação.
Muito antes da mini funkeira ser polemizada na rede, outros MCs, de idade
semelhante, bombavam na rede com seus Hits. Longe dos holofotes, diversas
outras crianças país à fora reproduziam esses discursos, quando na verdade não
deveriam nem ter acesso a eles. Ou seja, ao passo que a rede tem o papel de
denunciar a erotização juvenil, ela dantes continua a disseminar esses, dentre
outros discursos. O anonimato, somado ao conformismo de alguns indivíduos, faz
com que a internet seja o terreno propício a prática do estupro em suas
múltiplas vertentes.
Com isso, o público
violado aumenta e com ele o desrespeito para com as suas individualidades.
Crianças não mais vivenciam a infância como tem que ser, já que são desde a
tenra idade sensualizadas. Jovens, que mal descobrem o que é ó sexo, por falta
de orientação já se enveredam em práticas sexuais perigosas, por falta de um
diálogo aberto sobre sexo. Adultos continuam sendo reprimidos pela religião,
moral, entre outros valores anacrônicos, e mesmo de posse de uma vida sexual
ativa, não conseguem concretizar todos os seus desejos, encontrando nos
estupros uma válvula de escape. Nesse momento, as principais vítimas recebem
nome e grupo. São crianças, geralmente meninas, e adolescentes também do sexo
feminino. Longe disso beirar a uma estatística sobre estupro, mas a herança
patriarcal brasileira, comprovada historicamente, ratifica quem são as
principais vítimas desta agressão sexual. É nessa sociedade doentia e
desinformada no tocante ao sexo e a sexualidade em si, que o estupro ganha
formas distintas, e não só aquela idealizada pelos sites pornográficos.
Portanto, o estupro vai
muito além do que sua limitada palavra. Ele representa uma cadeia de problemas,
sócio- históricos, culturais, religiosos e midiáticos, em torno de práticas
sexuais forçadas, das quais muitos indivíduos são obrigados a se submeter. Ele
também é a erotização errônea da sociedade quanto ao sexo e suas variáveis. É a
ausência de diálogo em casa, na rua, nas escolas e em todos os lugares, sobre a
importância do sexo, que vai muito além da procriação. Passa pelo prazer,
autoconhecimento do corpo, pela autonomia sexual e, sobretudo, pelo respeito
aos limites sexuais do outro. Estupro é confundir naturalização sexual com
vulgarização. É banalizar esse tema através de músicas chulas, de múltiplos
sentidos, que incitam o sexo desmedido. É a mídia ignorar os milhares de
pessoas, principalmente mulheres, que são violentadas a cada ano no país.
texto destruidorrr!!!!! adoreeei
ResponderExcluirOlá Diogo tudo bem com você? espero que sim.
ResponderExcluirEu nem li texto porque eu estou com muita pressa agora, desculpe ta.
Mudando um pouquinho de assunto.
Eu não sei se você viu, mas criaram um blog nojento chamado tio Astolfo, que defende abertamente o estupro de mulheres e a pedofilia.
E ainda me colocaram como autor do blog, só imagina o constrangimento que e para mim isso, por isso te peço que denuncie o blog
http:// tioastolfo. com
(Emende na barra do navegador a URL
Eu coloquei assim a URL assim para diminuir o risco deste comentário ir direto parar na caixa de spam.)
Para a policia federal por e-mail (crime.internet @dpf. gov .br) e/ou depois denuncie o para a http:// safernet. org .br/
Ai talvez a PF de um jeito de tirar esta imundice de blog do ar e punir o dono.
Se possível peça a outras pessoas que denunciem também, Conto com a sua ajuda.
Você não precisa publicar este comentário, eu só fiz ele porque não achei nenhum formulário para contato aqui, pede apaga o este comentário depois de ler.
Um abraço
Que texto destruidor! Saudades das suas aulas Diogo <3
ResponderExcluirnice blog
ResponderExcluirbiet thu dep
biet thu dep 3 tang
bang bao gia thiet ke quan cafe