“O-M-G! Eles estão em toda parte, como um exército multicor envergonhando nossa causa! Pintosas, travestis, transexuais… gente espalhafatosa, que escolheu ser assim e alimenta essa Ditadura Gay, tentando fazer com que nós, os pobres homossexuais normais, façamos parte dessa vergonha!”
Bee, você é machista, e não é pouco não!
Há um discurso infeliz cada vez mais comum aos gays. Uma nota cinza em meio ao arco-íris. Parece um “tirar o corpo fora”, na tentativa de ser MACHO, que só resulta em covardia. É um papo tenso, que prova que nossas lutas ainda estão longe do fim, já que as vitórias do lado inimigo são mais do que concretas, quando o campo de batalha é o que há de mais íntimo em cada um de nós.
Bem, como esse tema é recorrente aqui na coluna, deixa eu esclarecer logo que este não é um tratado sobre como é maravilhoso ser “pintosa” e como é horrível ser “discreto”. Aliás, na semana passada, propus uma celebração do dar pinta simplesmente porque acharia lindo que todo mundo fosse livre para rir dessas convenções ridículas que regulamentam nossa masculinidade, como se a gente precisasse de um “Manual do Homem com H”. Particularmente, não tenho nada contra quem é discreto, macho, masculino ou hétero, adoro homem do jeito que for. A questão é que no momento atual, com todas as dicussões sobre o tema, me espanta perceber que dentro da comunidade gay ainda exista um papinho de que “esse assunto está demais” ou “essa bicha é muito escandalosa”. Não é hora disso. Não ainda.
Pode ser que no futuro a gente conquiste uma sociedade igualitária onde sexualidade e identidade não serão problemas para ninguém, e todos possam exercê-las com liberdade. É difícil, mas vai que… Só que isso ainda não aconteceu, então é cedo para que a sensação de segurança (da qual poucos de nós gozam) permita a dissolução do nosso senso de comunidade. Vejam, eu sequer acho que acabar com essa “irmandade” seja necessário, mas se há quem acha, beleza… Só que, historicamente, aComunidade Gay é uma invenção recente, que ainda não cumpriu seu papel como movimento civil. Há muito o que conquistar, e quando rejeitamos as coisas que são parte da nossa cultura, simplesmente por valorizar mais o que é tido como “normal”, estamos agindo da mesma forma que quem nos agride.
Então bee, se liga, néam? Se você acha que “dar pinta” é uma escolha e que por isso o escárnio se justifica, você é machista. Se acha que um cara é mais gostoso apenas por ser mais masculino (e não falo de gosto pessoal não, falo de atribuir valor, como se a virilidade em si fosse um mérito), você é machista. Se você acha que “orgulho gay” é uma manobra separatista, você é machista AND homofóbico. Se acha que o “Ativo” é o pegador e que o “Passivo” é a quá-quá, também. Se bate palmas quando os colegas do trabalho fazem piadinhas homofóbicas, porque você não é bichinha (Thank God!), é machista e otário; e se acha que falar “brother” te faz mais homem, vê se cresce! Se você pensa que para conquistar respeito e sermos aceitos nós precisamos “maneirar nos trejeitos”, você é machista pra caralho e o pior, nem sabe!
Não somos culpados do nosso machismo. Fomos criados nele e é difícil abandonar certos hábitos. Mas somos culpados de continuar a propagá-lo, especialmente depois de percebermos que ele existe. Não tem essa de “assim está muito gay”. O que é uma viadagem, no pior sentido, é esse medo de celebrar a diversidade, na crença de uma inclusão falsa, que nunca virá. Se você acha que alguém está certo de nos punir por nosso comportamento ou orientação sexual, bee… Parabéns, você é machista!
Permita-se. Seja livre. Seja fabuloso.
Visto no: Os Entendidos
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