Nunca ouvi tanto essa frase como
agora. Só que se todo mundo só fizer o que é de vontade própria, ninguém mais
ajuda o outro, considera o outro, trabalha a preocupação de se tirar de cena
para fazer algo em prol do sorriso alheio.
Quem só faz o que quer está
preparado para receber alguém que possa lhe dedicar os mais nobres sentimentos?
A vida não vai nos tratar bem em todas as ocasiões, nem com as princesas da
Disney é assim, e note que no lúdico tudo é possível.
Não cuidar das coisas dos outros
como se fossem nossas, não ter paciência para fazer tentativas, enaltecer os
defeitos, esquecer de fazer elogios (ou pior – achar que isso não é preciso).
Que capítulo da responsabilidade com os sentimentos alheios nós perdemos? Como
vamos fazer para adquirir destreza com as adversidades da vida?
As pessoas não se amam mais, elas
se consomem. Um erro e está decretado o afastamento. Ela usa estampa selvagem.
Ele não come japonês. Ele não tem carro. Ela mora com os pais. Ela não gosta de
Game of Thrones. Não quero mais. Volto para o Tinder, o catálogo digital das
relações sexo-afetivas efêmeras.
Eu preciso do outro para alguns
momentos, não para todos.
Não pedimos mais desculpas, não
sentimos a necessidade de dar uma satisfação. Dormimos juntos. Acordamos
separados. Nunca mais vamos nos encontrar. Postamos no Instagram a frase “mais
amor por favor”, mas não exercemos essa condição.
O egoísmo condiciona nossas
fraquezas. Os sentimentos negativos existem para nos treinar. Precisamos todos
sair do centro do nosso bem-estar. Não tome uma pílula para diminuir a
tristeza, experimente colocá-la pra fora. Não engula seu luto, não sofra a
conta-gotas. Experimente viver com decência e coragem todas as sensações da
falta de alegria. Nada é tão ruim quanto parece. Os desapontamentos têm função
decretada em nossas vidas.
São múltiplas as exigências para
atender o ego. Como seria se você dedicasse sua vaidade ao exercício da sua
inteligência, da sua simpatia? Nosso orgulho não pode durar uma encarnação e
meia, mas nossa capacidade de nos tornarmos pessoas melhores pode ser eterna. A
barreira narcisista com passagem só de ida é um desrespeito com a felicidade.
Com a dos outros e com a sua. Não se iluda!
As pessoas malham, ingerem
orgânicos, vestem grifes, aplicam botox, viajam de primeira classe em 10 x no
cartão, mas o sedentarismo intelectual é notável. Gritante. Desesperador.
Seu consumo cultural e emocional é
você mesmo? Volte dez casas no tabuleiro e vamos começar tudo de novo,
precisamos de gente de verdade.
(Denise Molinaro, jornalista)
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