11 maio 2014

Cultura de estupro: a culpa não é da mulher


       Recentemente uma pesquisa realizada pelo IPEA (Instituto de Pesquisas Econômicas e Aplicadas) gerou enorme polêmica em todo país. Ela mostrou que 65% dos brasileiros acham que mulheres que usam roupa curta “merecem” ser estupradas. Isso causou revolta em muitas feministas que protestaram na internet com o incentivo inicial da jornalista e ativista Nana Queiroz. Protesto este que mobilizou várias famosas inclusive a presidente do Brasil via redes sociais numa luta contra uma sociedade moralista e patriarcal.

        Embora tenha havido uma suposta troca de gráficos e o novo resultado divulgado pelo IPEA tenha sido de 26% da população que concorda com a afirmação em questão (Mulheres “merecem” ser estupradas por usar roupa curta), ainda assim a porcentagem é altíssima levando em consideração todos os direitos já alcançados pelas mulheres em nosso país. Fazendo uma analogia com as mulheres muçulmanas, por exemplo, que usam burca, se o problema realmente fossem as roupas, os países muçulmanos deveriam ter índice de estupro 0%.

       O resultado alarmante divulgado por essa pesquisa só demonstra o quão pré-histórica é a sociedade em que vivemos, onde um grande número de pessoas ainda associa roupas longas à “decência”, roupas curtas à “vulgaridade”, e onde o fato de as mulheres usarem shorts ou saias curtos justifica uma agressão sexual bárbara como o estupro, como se por usarem esse tipo de roupa “pedissem” para serem agredidas. Como se fossem culpadas por atiçar o “extinto animal e selvagem” de estupradores em potencial.

       Também não podemos culpar as mulheres por outro simples motivo: nosso país está acostumado a tratar o estupro como uma “brincadeira”. Isso é perceptível nas propagandas, nos filmes, nas novelas, nos programas de humor. Então, cria-se a ideia de que isso é “normal”. Portanto, não se pode culpar a mulher por usar roupa curta, deve-se culpar a mídia por propagar a ideia de que estupro é engraçado, deve-se culpar o governo pela falta de punidade severa ou pela impunidade para essa epidemia que se tornou o estupro.

       Um blogueiro, em relação à pesquisa, se pronunciou afirmando: “A culpa não é da mulher, mas tenho certeza que ‘moças de respeito’ correm menos risco de serem estupradas”. Como se define “moças de respeito”? O que se entende por vulgaridade? É por causa de pensamentos como esses que nosso país não evolui quando se trata desse tema. Sendo assim, a culpa definitivamente não é da mulher, pois ela tem a liberdade de usar a roupa que quiser, ainda mais em um país tropical como o nosso, mas a culpa é sim de uma sociedade inteira, machista e contraditória.

  
Aluna: Larissa Cassiano
Professor: Diogo Didier

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