Ao pensar no armário,
lembra-se instantaneamente de um local onde se guarda coisas. Fugindo dessa
óbvia conceituação, metaforicamente o armário também serve de lugar para se
esconder os mais periculosos segredos. Aqueles que podem denegrir a imagem do
indivíduo, caso seja revelado. Durante anos, e até nos dias de hoje, é lá que
se guarda um dos maiores tabus da humanidade, a sexualidade. Esta que, quando
foge do padrão, deve ser guardada a sete chaves. Se possível com trincas bem
fortes, cadeados, correntes e, caso haja modernidade, vale também um sistema de
monitoramento computadorizado e com uma senha indecifrável.
E porque esconder a própria
sexualidade? Quando se trata da homossexualidade, os motivos são infinitos.
Esconde-se por causa do preconceito familiar, da rejeição. Esconde-se para
manter o cargo tão desejado. Esconde-se para continuar indo ao futebol, a
igreja, as reuniões com os amigos héteros nas mesas de bar. Esconde-se,
portanto, para se manter uma rotina social nesse universo dominado pela
heteronormatividade. Então, revelar-se gay é o mesmo que perder tudo isso, para
um indivíduo comum. Mas, quando ele é famoso, parece que as perdas são maiores.
Vai da falta do tão sonhado prestígio ao tão cobiçado, mas pouco vivido,
respeito.
Sempre que surgi uma
polêmica em torno da sexualidade de alguém, isso acaba sendo manchete de
jornais e virais nas redes sociais. Parece que o simples fato de não seguir a
risca os padrões heteronormativos sentencia o indivíduo ao cárcere social,
servindo de alvo para chacotas e especulações alheias. O pior de tudo é quando
a pessoa em questão tem uma imagem pública. Para estas, por exemplo, assumir
uma talvez homossexualidade resulta na auto exclusão e/ou redução a grupos
específicos. Reduzir, nesse sentido, significa polarizar os artistas entre
aqueles que correspondem ao grupo dos héteros e os do não héteros, ou de
sexualidade “duvidosa”. Sem contar que, quando há incerteza nesse tocante por
parte de uma determinada celebridade, o público instantaneamente revela seus
preconceitos que pareciam embalsamados.
Há poucos dias, o
cantor sertanejo e ídolo de muitas adolescentes, Luan Santana, teve sua
integridade posta à prova nas redes sociais. A questão envolvia o cantor e o seu personal trainer, que segundo as más línguas, estariam tendo um caso. Semelhante
a isso, outros artistas tiveram sua sexualidade na berlinda. O cantor Júnior,
que fazia par com a sua irmã Sandy, já foi alvo de comentários desse tipo. Outra
cantora, dessa vez Luiza Possi, foi questionada se estaria tendo um Love affair
com a cantora, assumidamente gay, Maria Gadú. E não faltam exemplos: Ivete Sangalo
com Xuxa. Ray com Zeca Camargo. Marlene Matos mais uma vez com Xuxa. São tantas
as suspeitas, mas tão poucas as evidências que só resta um questionamento: e se
eles fossem gays mudaria alguma coisa?
A resposta infelizmente
é sim, mudaria. A mudança reside no velho preconceito que existe em torno da
homossexualidade. Mesmo sabendo que no meio artístico a homossexualidade, bem
como a homoafetividade, rolam soltas, ninguém está disposto a aceitar a
orientação sexual do seu artista como de fato ela é. Quando a aceitação acontece
acaba aparecendo os guetos, onde pequenos grupos que são diferenciados dos demais
gêneros musicais se encontram para curtir sua celebridade favorita. Ouve-se,
então, que os fãs da Ana Carolina são predominantemente gays. Enquanto os do
Marcelo D2, por exemplo, são héteros. Será que ninguém se perguntou o porquê
dessa polarização? Simples, porque o preconceito da sociedade infiltra-se no
seio artístico de uma forma que mesmo admirando um determinado ídolo, muitos
temem ser identificados como alguém próximo da homossexualidade porque ouve,
canta e gosta de um determinado cantor, o qual é assumidamente gay ou no mínimo
bissexual.
Com isso, muitos
artistas preferem esconder sua própria condição sexual a ter que fragmentar seu
público. Porém, nem sempre o armário consegue conter a homossexualidade contida
em cada um deles. Sempre há uma perna fora do lugar. Um braço que escapole. Uma
pluma que voa sem querer. Seja como for, não há escapatória. E o público “fiel”
não perdoa. Ataca nas redes sociais assim que alguma dúvida surgi. Manda emails
ora reclamando ora pedindo explicações. Deixa de ir aos shows e de comprar os CDs
e DVDs do seu “artista favorito”. Quando não, segue seu ídolo, programa ataques
verbais na rua e até agride se for o caso, pois a mente psicótica de algumas
pessoas, o seu artista não pode ser gay. Tudo por causa de uma suspeita
infundada, a qual nada vai interferir no talento que determinada celebridade
possua.
Nesse ínterim,
percebe-se que a polêmica ganha maiores proporções quando direcionada a
celebridades masculinas. Tanto faz ser ator, apresentador, cantor, jogador de
futebol, ou modelo, o ideal é que seja hétero. O discurso ignorante e implícito
diz que os gays não pertencem a essa atmosfera. E, se caso pertençam, devem ser
feios ou no mínimo engraçados para compensar. Artista masculino bonito tem que
ser macho, pois neste caso a beleza também é reduzida a questão de gênero. Por isso
que o cantor Luan Santana vem sendo alvo de críticas por causa de uma possível
homossexualidade. Ele que é famoso, rico e bonito, não pode ter acrescido a
essa lista o adjetivo gay, pois isso seria um descrédito a tudo o que ele lutou
para conquistar até hoje.
Nesse tocante, ser gay
parece anular os talentos do ídolo, pois para ser símbolo midiático não pode
ser homossexual. Tem que ser hétero, viril, pegador e com cara de cafajeste,
feito o ator Caio Castro. Ou, se for mulher, bonita, inteligente, comportada,
boa dona de casa, como a apresentadora Angélica. Não que essas últimos papéis
nãos ejam importantes, mas isso não significa ofuscar os tangenciar os outros. Na
história brasileira, muitas foram às celebridades que assumiram sua
homossexualidade e que deixaram um grande legado para sua e outras gerações. Nomes
como Cazuza, Cássia Eller, Renato Russo, são alguns exemplos pontuais. Em vida,
nomes como Maria Gadú, Ana Carolina, Daniela Mercury, Adriana Calcanhotto, são
outros. Mesmo essa listagem sendo predominantemente feminina por causa do
machismo operante, sabe-se que muitos são os artistas que vivem no limbo, seja
na música ou na teledramaturgia. Seja como for, o fato de serem gays,
bissexuais ou héteros não é argumento suficiente para reduzir seus talentos e
seus legados. Contrariamente a isso, muitas dessas e outras celebridades que
virão estão cheias de talentos, capazes de clarear o obscuro preconceito que
neblina as mentes desses falsos fãs.
Fãs esses que fazem jus
ao fanatismo, etimologia da palavra que lhe deus origem. Cegos por um ideal
idólatra, eles não conseguem enxergar seu amado ídolo como um ser humano
qualquer: que sofre, sente desejos. Que é hétero ou gay, ou pode ter dúvida
nesse sentido (Por que não?!). Contrário a isso, pois hipnotizados pela
indústria midiática, a qual vende muitas vezes produtos irreais, eles, os fãs,
não aceitam que seus ídolos mudem “de repente” sua sexualidade e,
impiedosamente guilhotinam o seu artista favorito para que ele sirva de exemplo
para os outros. Intimidados, muitas celebridades guardam sua real sexualidade,
e outras coisas humanas, no armário, pois sabem, ou foram abruptamente avisados
que caso fujam do padrão perderão tudo o que conquistaram: a fama, a riqueza e
o amor dos seus amados e compreensíveis “fãs”. Sem ter para onde fugir, só
resta a essas pessoas viver uma vida de aparências o mundo imaginário de
ilusões de indivíduos que foram criados e replicados para apenas gostar do que
é padronizado. Felizmente, alguns artistas conseguem enfrentar toda essa
barreira de preconceito e viver como de fato a vida deve ser vivida: livre e
feliz. Por mais que essa liberdade e felicidade não façam parte daquilo que se
convencionou chamar de “normal”.
Muito triste mesmo ... ainda não compreendo muito quem ainda se prende a isto nos dias de hoje ... mas enfim ...
ResponderExcluirbeijão
Diogo:
ResponderExcluirInfelizmente o Brasil sendo o país machista e preconceituoso que é destina aos gays famosos unicamente o armários, poucos saem e estes são sempre ridicularizados e viram alvo de chacota nacional.
Excelente texto.
Otima semana.
Abraços querido.